INTRODUÇÃO
A proeminência nasal é a estrutura facial mais proeminente, e pode ser fraturada com
menos energia que qualquer outro osso da face1. Por esse motivo, as fraturas nasais são as fraturas de face mais
comuns1,2 e podem ser tratadas por redução fechada ou aberta.
A redução fechada é a mais comumente empregada quando não há fraturas de face
associadas ou fraturas graves do septo nasal. Quando a fratura é impactada, a
redução fechada se torna muito difícil, sendo preferível optar pela redução
aberta.
No entanto, a opção da abordagem por via aberta está associada a cicatrizes,
prolongamento do tempo cirúrgico e dificuldade na fixação do osso2. A taxa de deformidades pós-redução de
fraturas nasais, necessitando de rinoplastia ou rinosseptoplastia, varia de 14% a
50%1.
A fratura nasal que se apresenta com “nariz em sela” é associada a fratura septal.
Nesses casos, uma redução pobre ou instável é associada a deformidades secundárias.
A fratura da cartilagem septal nasal não pode ser confirmada com tomografia
computadorizada (TC), mas a fratura da lâmina perpendicular do etmoide abaixo do
dorso nasal, pode ser fixada com redução tradicional fechada. Contudo, se ocorrer
a
fratura da lâmina perpendicular posteriormente, longe do dorso nasal, é difícil
manter a projeção nasal pelo método convencional3.
OBJETIVO
Nesse trabalho, apresentamos a nossa abordagem rotineira dos casos de fratura nasal
com comprometimento do septo e consequente telescopagem nasal. Nesses quadros,
lançamos mão da fixação do septo nasal com fios de Kirschner.
MÉTODO
Avaliamos retrospectivamente os pacientes com fratura nasal e septal atendidos pelo
Serviço de Cirurgia Plástica e Reparadora do Hospital do Trabalhador, em Curitiba,
no Paraná. Os referidos pacientes foram tratados com redução fechada da fratura
nasal com pinça de Asch, sob anestesia geral. Tendo sido identificada fratura
septal, todos os casos aqui relatados foram submetidos a redução da fratura do septo
e a fixação com fio de Kirschner nº 1. Com o auxílio de um perfurador, o fio de
Kirschner foi passado perpendicularmente ao eixo septal, junto ao ramo montante da
maxila, de modo a manter a projeção do septo (Figuras 1 e 2), em dez casos e um caso
paralelo ao eixo do dorso nasal, no sentido cranial a partir da glabela. A redução
era confirmada pela palpação e inspeção do nariz. O excesso do fio de Kirschner era
cortado, e as suas extremidades recobertas pela pele, de modo a torná-lo inaparente.
A retirada do fio era procedida ambulatorialmente, com anestesia local.
Figura 1 - Desenho ilustrativo com fio de Kirschner perperdicular ao
septo.
Figura 1 - Desenho ilustrativo com fio de Kirschner perperdicular ao
septo.
Figura 2 - Fio de Kirschner intranasal.
Figura 2 - Fio de Kirschner intranasal.
RESULTADOS
Entre outubro de 2012 e setembro de 2018, 11 pacientes (Tabela 1) foram atendidos com fratura nasal associada a fratura
septal. Oito pacientes eram do sexo masculino e três do sexo feminino. A idade média
dos pacientes atendidos foi de 24,4 anos (variando de 8 a 39 anos). Em 63% das
vezes, o mecanismo da fratura foi agressão. O tempo transcorrido entre o trauma e
o
tratamento cirúrgico foi de 15,9 dias (variando de 13 a 21 dias). Em 72% das vezes,
apenas um fio de Kirschner foi usado para ficar a fratura septal. Em duas ocasiões
foram usados dois fios e em uma ocasião foram usados três fios. O tempo transcorrido
na média para a retirada dos fios foi de 39,9 dias (variando de 30 a 60 dias).
Tabela 1 - Dados dos pacientes submetidos ao procedimento.
Sexo |
Idade |
Mecanismo do trauma |
Tempo até cirurgia |
Número de fios |
Tempo até retirada do(s) fio(s) |
F |
12 |
Colisão auto-auto |
15 |
2 |
30 |
M |
19 |
atropelamento |
14 |
1 |
45 |
M |
34 |
Agressão |
21 |
3 |
45 |
M |
17 |
Agressão |
18 |
1 |
42 |
F |
24 |
Agressão |
13 |
1 |
30 |
M |
15 |
Agressão |
14 |
2 |
33 |
M |
37 |
Agressão |
20 |
1 |
30 |
M |
39 |
Agressão |
14 |
1 |
43 |
M |
8 |
Contusão por objeto |
14 |
1 |
60 |
M |
30 |
Agressão |
18 |
1 |
60 |
F |
32 |
Colisão moto - auto |
14 |
1 |
21 |
Tabela 1 - Dados dos pacientes submetidos ao procedimento.
O tempo de seguimento foi rotineiramente até a retirada dos fios de Kirschner,
ficando os pacientes com retorno em aberto ao nosso ambulatório. Não houve nenhum
paciente que tenha retornado após a retirada dos fios, e no período de seguimento
nenhum teve necessidade de reoperação.
Não houve nenhuma complicação pós-operatória (extrusão/migração do fio ou
infecção).
DISCUSSÃO
Burm e cols.4, Kim e cols.5, Nishihira e cols.6 e Yabe e cols3
descreveram casos de fixação de fraturas nasais traumáticas com fio de
Kirschner. Burm e cols.4 relataram a fixação
através de uma incisão intercartilaginosa. Kim e cols. reportaram casos de fixação
guiados por fluoroscopia. Yabe e cols.3
narraram a confirmação pós-operatória da adequada redução da fratura com tomografia
computadorizada. Na nossa casuística, a inspeção e a palpação foram os métodos
utilizados para confirmar uma redução satisfatória.
O tempo de manutenção do fio de Kirschner é bem variável na literatura. Nishihira
e
cols.6 reportaram um tempo médio de
permanência do fio de duas semanas. Yabe e cols.3 mantiveram a fixação por 2 meses a 2 meses e meio. Nos pacientes que
nosso grupo avaliou nesse trabalho, esse tempo médio foi de 39,9 dias.
O septo nasal é composto pela lâmina perpendicular do etmoide, pelo vômer, pela
cartilagem quadrangular e a membrana septal7.
Conhecer essa anatomia é essencial, haja vista que as fraturas septais devem ser
diagnosticadas e devidamente reparadas8. É
muito marcante nesses casos a depressão nasal, e a instabilidade dessas fraturas,
com perda da redução, caso não sejam devidamente fixadas5.
Infelizmente nesse trabalho não tivemos seguimento pós-operatório tardio desejável,
para avaliar em médio e longo prazo o resultado cirúrgico.
Também se caracterizou como um fator limitante dessa pesquisa a pequena casuística,
que limita em muito a validade externa dos nossos achados. De forma semelhante, em
se tratando da passagem de fios de Kirschner para tratamento de fraturas nasais
traumáticas, as casuísticas em geral reportadas em trabalhos anteriores são
pequenas, ou mesmo são relatos de casos.
Esse procedimento pode ser desafiador para o cirurgião craniofacial, e nesse âmbito,
a fixação axial do septo nasal com fios de Kirschner se caracteriza como uma
estratégia cirúrgica de execução simples e rápida, com baixo custo e baixa morbidade
e resultado pós-operatório satisfatório.
Planejamos prosseguir com o estudo prospectivamente, para que possamos avaliar os
resultados de médio e longo prazo dessa abordagem cirúrgica.
REFERÊNCIAS
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secondary nasal deformities. Plast Reconstr Surg. 2000; 106:266-73. DOI:
https://doi.org/10.1097/00006534-200008000-00003
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nasal bone fractures using a Kirschner wire and a C-arm. J Oro Maxillofac Surg.
2012; 70(6):1393-7. DOI: https://doi.org/10.1016/j.joms.2012.02.023
3. Yabe T, Muraoka M. Treatment of saddle type nasal fracture using
Kirschner wire fixation of nasal septum. Ann Plast Surg. 2004; 53(1):89-92. DOI:
https://doi.org/10.1097/01.SAP.0000102424.03318.a4
4. Burm JS, Oh SJ. Indirect open reduction through intercartilaginous
incision and intranasal Kirschner wire splinting of comminuted nasal fractures.
Plast Reconstr Surg. 1998; 102:342-9. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-199808000-00007
5. Kim SW, Hong PJ, Min WK, et al. Accurate, firm stabilization using
external pins: a proposal for closed reduction of unfavorable nasal bone
fractures and their simple classification. Plast Reconstr Surg. 2002;
110:1240-6. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-200210000-00004
6. Nishihara S, Yamauti H, Masaki M, et al. Correction of nasal bone
fracture using Kirschner wire fixation technique. Practica Otologica Kyoto.
1992; 57:84-92.
7. Anastassov GE, Payami A, Manji Z. External Fixation of Unstable,
"Flail" Nasal Fractures. Craniomaxillofac Trauma Reconstr. 2012; 5(2):99-106.
doi:10.1055/s-0032-1313359. DOI: https://doi.org/10.1055/s-0032-1313359
8. Gunter JP, Cochran CS. Management of intraoperative fractures of the
nasal septal "L-strut": percutaneous Kirschner wire fixation. Plast Reconstr
Surg. 2006; 117(2):395-402.
1. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR,
Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Paraná, PR, Brasil.
Endereço Autor: Silvia Helena Mandu Rua General
Carneiro, 181 - Alto da Glória, Curitiba, PR, Brasil CEP 80060-900. E-mail:
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