INTRODUÇÃO
O abdutor do dedo mínimo é um dos músculos descritos usados para transferência de
tendão (oponenplastia), com a finalidade de restauração da oponência do polegar, uma
função de grande importância. Essa cirurgia, também conhecida como cirurgia de Hube,
é mais utilizada em crianças com má formação do polegar (tipo 2 e tipo 3) e para
reconstrução após trauma, sendo que muito geralmente ela é combinada com uma
plástica em Z da ponta do polegar e reconstrução da articulação metacarpo falangeana
da região ulnar.
A realização da cirurgia de transferência de tendão deve ser um procedimento
considerado a partir do momento em que a microcirurgia reparadora de nervos
periféricos não alcançar a função satisfatória, podendo melhorar significativamente
ou até mesmo restaurar a função da mão, em casos de trauma.
Ótimos resultados dependem da seleção adequada do tendão do músculo a ser
transferido, alcançando o máximo possível de movimento e tensão adequada no músculo.
Cirurgia de estabilização como a artrodese deve ser considerada no planejamento da
transferência.
Levando em consideração todos os aspectos relacionados à cirurgia (a necessidade de
conhecimento anatômico da região devido ao grau de dificuldade da cirurgia, o
interesse pela área cirúrgica dos realizadores do estudo, e a necessidade de
atividades práticas), podemos considerar que é tendência atual que procedimentos
cirúrgicos como esse sejam treinados em modelos que possam preparar os residentes
para realizá-los em situações reais. O uso de cadáveres tem demonstrado ser uma
alternativa viável para a aquisição de competências em ambiente controlado e não
crítico.
OBJETIVO
O objetivo do trabalho é a experimentação cirúrgica para o aprendizado anatômico de
estruturas da mão, assim como treinamento para residentes de cirurgia plástica da
técnica cirúrgica do procedimento.
MÉTODO
Para a realização deste trabalho foi utilizado um membro superior de cadáver do
Laboratório de Anatomia da Universidade de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Uma incisão médio-lateral é realizada na borda ulnar da falange proximal do dedo
mínimo sendo estendida proximal e radialmente para a borda lateral da região palmar
(Figura 1). Após, a incisão é continuada na
borda radial da região hipotenar, fazendo uma curva em sentido ulnar até o início
do
pulso. Após a dissecação superficial, faz-se importante encontrar as estruturas
relacionadas ao ADM (Figura 2), no qual é
envolto por uma fáscia delicada. Tais estruturas são: músculo palmar curto, nervo
digital palmar, artéria digital palmar, artéria ulnar, ramo superficial do nervo
ulnar, abdutor do dedo mínimo, flexor do dedo mínimo e o ramo arterial e nervoso que
formam o pedículo para o ADM. Após a identificação dessas estruturas, o ADM é
desinserido (dois tendões), sendo mobilizado de forma proximal. A dissecação deve
preservar o feixe vásculo-nervoso do músculo (Figura 3). Em seguida o retalho muscular é rebatido para medir a extensão que
pode alcançar para analisar se não ocorrerá a ruptura do pedículo. O ADM é
transferido pelo subcutâneo para a articulação metacarpofalangeana do polegar (Figura 4).
Figura 1 - Incisão na região hipotenar.
Figura 1 - Incisão na região hipotenar.
Figura 2 - Identificação das estruturas do feixe vásculo-nervoso.
Figura 2 - Identificação das estruturas do feixe vásculo-nervoso.
Figura 3 - Realização do túnel em direção à região tenar
Figura 3 - Realização do túnel em direção à região tenar
Figura 4 - Exame físico pré-operatório. Ginecomastia Grau III.
Figura 4 - Exame físico pré-operatório. Ginecomastia Grau III.
Uma vez sendo transferido, é necessária a realização de um corte longitudinal no
tendão do músculo. O tendão dividido é suturado no tendão do extensor longo do
polegar e do abdutor curto do polegar na articulação metacarpofalangeano, dando
término ao procedimento, fazendo com que o paciente retorne a ter a função de
oponência do polegar.
RESULTADOS
Como resultado final, obtivemos uma peça anatômica na qual foram reproduzidos pelos
residentes, da maneira mais fiel possível, todos os passos do procedimento cirúrgico
proposto.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Acreditamos que a utilização de peças anatômicas na prática de técnicas cirúrgicas
durante a residência proporciona ao médico residente uma experiência muito positiva
de aprendizado. Esse tipo de simulação proporciona uma experiência realista, mas ao
mesmo tempo, livre de riscos, em que temos a possibilidade de revisar os conceitos
anatômicos mais relevantes em cada etapa do procedimento, além de aprimorar as suas
habilidades em técnica operatória.
REFERÊNCIAS
1. Latimer J, Shah M, Kay S. Abductor Digiti Minimi Transfer for the
restoration of opposition in children. J Hand Surg. 1994;
19B(5):653-8.
2. Upton J, Taghinia AH. Abductor Digiti Minimi Myocutaneous Flap for
Opponensplasty in Congenital Hypoplastic Thumbs. Plast Reconstr Surg. 2008;
122:1807. DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0b013e31818cc260
3. Cawrse NH, Sammut D. A modification in technique of abductor digiti
minimi (HUBER) opponensplasty. J Hand Surg. 2003; 28B(3):233-7.
4. Netter FH. Atlas de anatomia humana. Rio de Janeiro: Elsevier;
2008.
5. Pachlander S, Hussl H, Kerschbaumer F. Atlas of Hand Surgery. Nova
Iorque: Thieme Stuttgart; 2000.
6. Green's Operative Hand Surgery. 6 ed; 2011.
1. Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
Porto Alegre, RS, Brasil
3. Santa Casa de Porto Alegre, Porto Alegre, RS,
Brasil.
Endereço Autor: Thiago Melo de Souza
Avenida Chuí, nº 254 - Cristal, Porto Alegre, RS, Brasil CEP 90820-080 E-mail:
thiagosouza.md@gmail.com