INTRODUÇÃO
Os carcinomas de pele são as neoplasias mais comuns encontradas em seres humanos1. As neoplasias malignas de pele podem ser
divididas em melanoma e não melanoma. A forma mais incidente é a não melanoma que
engloba o carcinoma espinocelular (CEC) e o basocelular (CBC), que é o tipo de
câncer mais frequente na população brasileira em ambos os sexos2,3.
Embora apresentem baixos índices de mortalidade, esses tumores geram grande
morbidade, em decorrência da destruição tecidual adjacente com prejuízo estético
e/ou funcional ao paciente, podendo deixar mutilações2.
O principal fatores de risco para o desenvolvimento desses tumores CEC e CBC são a
exposição crônica aos raios solares sem proteção, fatores genéticos, ambientais,
faixa etária, raça, idade, gênero e as localizações anatômicas mais acometidas como
face, orelhas, couro cabeludo, pescoço, ombros e dorso, indivíduos com história
familiar ou com doenças cutâneas prévias2,4. Outros fatores de
risco para tumores não melanoma são a exposição a agentes químicos, radiações,
presença de papilomavírus humano e imunossupressão.
Segundo o Instituto do Câncer (INCA), o câncer de pele não melanoma CEC e o CBC são
os mais incidentes e com maior prevalência no Brasil, correspondendo a cerca de 30%
de todos os tumores malignos registrados no país. Apresenta altos percentuais de
cura, se for detectado e tratado precocemente4.
Mais comum em pessoas com mais de 40 anos, o câncer de pele é raro em crianças e
negros, com exceção daqueles já portadores de doenças cutâneas. Porém, com a
constante exposição de jovens aos raios solares, a média de idade dos pacientes vem
diminuindo. O INCA estima uma incidência 165.580 novos casos desses tipos de câncer
não melanoma, sendo 85.170 homens e 80.140 mulheres4. Já os números do Sistemas de Informação de Mortalidade (SIM)
confirmam que em 2015 houve 1.958 óbitos em decorrência desses tipos de câncer de
pele, sendo 1.137 homens e 821 mulheres4.
Apesar de ser a neoplasia mais incidente no Brasil, em ambos os sexos, é possível
que
esses dados estejam subestimados pelo fato de muitas lesões suspeitas serem
retiradas sem diagnóstico ou erroneamente por desconhecimento profissional1.
O tratamento tem por objetivo extirpar a lesão com deformidade mínima, pois a
extirpação da lesão com o mínimo de deformidade possível é um fator de grande
impacto na qualidade de vida dos pacientes com neoplasias cutâneas. A excisão
cirúrgica é a principal estratégia terapêutica, desde que as margens de segurança
sejam respeitadas. A excisão cirúrgica com margens seguras é a principal opção
terapêutica, com margens de segurança que medem de 3 a 10 mm da borda do tumor,
dependendo da localização; outras dependem do número de lesões, localização, tipo
histológico, estado geral e comorbidades clínicas2. Outras alternativas de tratamento dos tumores cutâneos são a
eletrocauterização, crioterapia, terapia fotodinâmica, laser, ablação química,
radioterapia e cirurgia microscópica ou de Möhs2.
OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo avaliar os resultados anatomopatológicos de cirurgias
plásticas ambulatoriais realizadas em um hospital público do litoral paulista.
MÉTODO
Trata-se de um estudo retrospectivo de 42 prontuários de pacientes atendidos no
ambulatório da cirurgia plástica do Hospital Santo Amaro de Guarujá no período de
maio a agosto de 2018 que realizaram ressecção cirúrgica de lesões, nas quais foi
colhido material e encaminhado para exame anatomopatológico.
Foram analisados os prontuários dos pacientes e verificadas as seguintes variáveis:
sexo, idade, cor, local da cirurgia e resultado do laudo de estudo
anatomopatológico.
RESULTADOS
Dos 42 ou 100% dos prontuários pesquisados, 15 ou 35,7% eram do sexo feminino e 27
ou
64,2% eram do sexo masculino com uma média de idade de 47 anos. Quanto a raça, 31
ou
73,8% eram brancos, 5 ou 11,9% eram negros e 6 ou 14,2% eram pardos (Tabelas 1 e 2).
Tabela 1 - Sexo dos pacientes do estudo.
Sexo do Pacientes |
|
Sexo |
Total |
F |
15 |
M |
27 |
Tabela 1 - Sexo dos pacientes do estudo.
Tabela 2 - Raça dos pacientes da pesquisa.
Cor dos Pacientes |
Cor |
Total |
B |
31 |
N |
5 |
P |
6 |
Tabela 2 - Raça dos pacientes da pesquisa.
Dos 42 procedimentos realizados no período pesquisado, 11 ou 26,1% eram CBC variados
e 5 ou 11,9% eram CEC variados; juntos, os dois tipos de tumores foram 16 ou 38,09%
dos procedimentos (Tabelas 3 e 4).
Tabela 3 - Principais lesões encontradas no laudo anatomopatológico no período
pesquisado.
Diagnóstico |
Total |
Ginecomastia |
5 |
Lipoma |
4 |
FIbroma |
2 |
CBC esclerodermiforme invasivo de derme profunda |
1 |
CBC infiltrativo de tedico muscular |
1 |
CBC livre de neoplasia |
1 |
CBC - margel lateral comprometida |
1 |
CBC - margel lateral comprometida - margem profunda livre |
1 |
CBC - margem livre |
1 |
CBC - margem profunda comprometida - margem lateral livre |
1 |
CBC - margens livres |
1 |
CBC superficial - margem livre |
1 |
CBC ulcerado - margens livres |
1 |
CBC ulerado - margem profunda livre - margem lateral
comprometida
|
1 |
CEC adenoescamoso - margem profunda comprometida - margem lateral
livre
|
1 |
CEC - margem comprometida |
1 |
CEC moderadamente diferenciado invasivo - margem lat livre -
margem prof exigua
|
1 |
CEC pouco diferenciado - margem profunda livre - margem lateral
comprometida
|
1 |
CEC pouco diferenciado, ulcerado, invasico - margem livre |
1 |
Cisto epidermico + fibrose dermica cicatricial |
1 |
Fibrolipoma |
1 |
Fibrose cicatricial dermica |
1 |
Foliculite cronica |
1 |
Granuloma piogenico |
1 |
Hidradenite supurativa fistulosa |
1 |
Hidrocistoma apocrino |
1 |
Hidrocistoma ecrino |
1 |
Lesao isquemica sem neoplasia |
1 |
Nevo nevocelular intradermico |
1 |
Pilomatrixoma (epitelioma calcificante de Malherbe) |
1 |
Queratose actinica + cisto epidermoide |
1 |
Tecido mamario extranumerario |
1 |
Tricoepitelioma |
1 |
Xantelasma |
1 |
Tabela 3 - Principais lesões encontradas no laudo anatomopatológico no período
pesquisado.
Tabela 4 - Locais de realização da ressecção do tumor.
Local do Tumor |
Total |
Tecido mamario bilateral |
3 |
Asa nasal esquerda |
2 |
Couro cabeludo |
2 |
Face |
2 |
Labio superior |
2 |
Ampliacao margem axila direita |
1 |
Asa nasal direita |
1 |
Axila direita |
1 |
Axila esquerda |
1 |
Bochehcas + supercilio |
1 |
Cervical |
1 |
Cervical direita + infaorbital D |
1 |
Dedo de pé direito |
1 |
Dorso |
1 |
Dorso do pé |
1 |
Dorso nasal |
1 |
Face interna braço esquerdo |
1 |
Fronto temporal direito |
1 |
Glandula axila esquerda |
1 |
Glandula mamaria direita |
1 |
Glandula mamaria esquerda |
1 |
Gluteo direito |
1 |
Infraorbital inferior |
1 |
Infraorbital profunda |
1 |
Infraorbital superior |
1 |
Lesao face |
1 |
Membro inferior direito |
1 |
Membro inferior esquerdo |
1 |
Nadega direita |
1 |
Orelha |
1 |
Palpebra inferior direita |
1 |
Palpebra inferior esquerda |
1 |
Palpebras |
1 |
Partes moles |
1 |
Tronco |
1 |
Tumor parietal esquerdo |
1 |
Tabela 4 - Locais de realização da ressecção do tumor.
DISCUSSÃO
Neste estudo foram encontrados maiores números de CEC e CBC, o que está de acordo
com
a literatura consultada. O CBC é proveniente de alterações neoplásicas de células
da
camada basal da pele e costuma ser menos agressivo e raramente evolui com metástase,
é localmente invasivo e pode causar destruição importante dos tecidos à sua volta,
atingindo cartilagens e ossos3.
Surgem com mais frequência em áreas com maior exposição ao sol, de modo que cerca
de
80% são diagnosticados na região de cabeça e pescoço.
Já o CEC acomete as células escamosas e, assim como o CBC, também costuma atingir
regiões mais expostas ao sol. Apresenta maior facilidade para disseminação local e
potencial para metástase3.
Neste estudo houve o maior predomínio de homens que de mulheres de acordo com os
prontuários consultados. Atribui-se ao sexo masculino um maior fator de risco5. O aumento da expectativa de vida e um maior
acesso à informação também contribuem para um aumento no número de diagnósticos
desse tipo de carcinoma2.
Pacientes brancos predominaram com os carcinomas CEC e CBC, o que está relacionado
à
pele e ao fato do Brasil estar mais próximo à linha do equador, onde naturalmente
a
camada de ozônio é mais delgada e a radiação solar mais intensa, o que faz com que
países como o Brasil detenham elevados índices de radiação ultravioleta3.
Portanto, as ações de prevenção primária por meio de proteção contra a radiação solar
são efetivas e de baixo custo, e devem fazer parte de programas educativos em
ambientes de trabalho, escolas e unidades de saúde, o que é fundamental. Além disso,
como a doença é caracterizada pelos efeitos cumulativos da exposição aos fatores de
risco, as campanhas devem ter seu enfoque em crianças, adolescentes e seus pais1.
A prevenção secundária deve ser realizada por meio de exame dermatológico cuidadoso
na pele, que é órgão de fácil acesso ao autoexame e à inspeção médica e permite o
diagnóstico de neoplasias nas fases iniciais. Como o risco de doença aumenta com a
idade, 80% de todos esses cânceres são diagnosticados a partir dos 55 anos1.
Os esforços devem ser concentrados na faixa etária a partir dos 40 anos para que o
diagnóstico seja feito em estágios precoces e que exijam tratamentos menos
complexos, o que refletirá em menor morbidade paciente1.
CONCLUSÃO
Dos 42 pacientes atendidos no ambulatório, foi possível se constatar que houve uma
maior prevalência dos carcinomas CEC e CBC em homens brancos, o que está de acordo
com a literatura consultada. Há a necessidade de um maior direcionamento na atenção
à prevenção primária e secundária com foco em homens, com o intuito de se evitar
agravamento do quadro.
REFERÊNCIAS
1. Bócoli KH, Veiga DF, Cabral IV, de Carvalho MP, Novo NF, Veiga Filho
J, et al. Tratamento cirúrgico de carcinomas cutâneos pelo Sistema Único de
Saúde: análise de custos. Rev Col Bras Cir. 2018; 40(6):449-52. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-69912013000600005
2. Simoneti F, Cunha LO, Gomes CTV, Novo NF, Portella DL, Gonella HA.
Perfil epidemiológico de pacientes com tumores cutâneos malignos atendidos em
ambulatório de cirurgia plástica de serviço secundário no interior de São Paulo.
Rev Fac Ciênc Méd Sorocaba. 2016; 18(2):98-102. DOI: https://doi.org/10.5327/Z1984-4840201624713
3. da Silva Júnior GL, de Albuquerque RB, de Souza Oliveira ERR,
Batista KRF. Estudo retrospectivo de aspectos epidemiológicos, clínicos e
histológicos na neoplasia de pele não melanoma. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço.
2016; 45(1):1-6.
4. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA),
Ministério da Saúde. Boletim ano 7, n. 3; 2016.
5. Firnhaber JM. Diagnosis and treatment of basal cell and squamous
cell carcinoma. Am Fam Physician. 2012; 86(2):161-8.
1. Hospital Santo Amaro Guarujá, Guarujá, SP,
Brasil.
Endereço Autor: Rafael Cordeiro Puhl Avenida Padre
Manoel da Nóbrega nº 433 Apto 12, São Vicente, SP, Brasil. CEP 11320200 E-mail:
rafaelc.puhl@gmail.com