INTRODUÇÃO
A cruroplastia é um procedimento para correção da flacidez de membro inferior com
o
objetivo de melhora estética e funcional da parte medial da coxa após grandes perdas
ponderais1. As queixas decorrem
principalmente da flacidez e ptose dos tecidos acumulados, levando a um prejuízo no
contorno corporal, na dinâmica do movimento e gerando dificuldade de higiene da
região (Figura 1). Descrito por Lewis em 1966,
esse procedimento está relacionado a complicações como distorção da vulva, migração
da cicatriz, recorrência da flacidez medial, entre outras2. Com o aumento no volume desse procedimento, decorrente
principalmente do crescimento no número de cirurgias bariátricas, surge a
necessidade de tentar minimizar as complicações relacionadas.
Figura 1 - Flacidez Medial da Coxa após grande perda ponderal.
Figura 1 - Flacidez Medial da Coxa após grande perda ponderal.
A fixação do retalho dermogorduroso na fáscia de Colles3, a ancoragem de retalho dermogorduroso no músculo adutor longo4, associação de lipoaspiração à
dermolipectomia5, entre outras técnicas,
já estão descritas como opções terapêuticas a serem utilizadas visando reduzir as
complicações.
OBJETIVO
O objetivo do artigo é compartilhar a experiência do Serviço de Cirurgia Plástica
do
Hospital Universitário Cajuru na dermolipectomia crural com a técnica do retalho
triangular, descrito por Albuquerque e cols. em 20106, comparando os resultados e complicações com a literatura.
MÉTODO
Foram selecionadas cinco pacientes do sexo feminino submetidas a dermolipectomia
crural bilateral pós-cirurgia bariátrica pela técnica do retalho triangular em 2018,
totalizando dez coxas. A média de idade foi 51 anos. A abordagem ocorreu após uma
média de 61 meses após a bariátrica com as pacientes apresentando ao momento do
procedimento um índice de massa corporal (IMC), medido pelo peso (kg) dividido pelo
quadrado da altura (m), entre 28 e 31 kg/m2. Média de seguimento de 6
meses no pós-operatório. A hipertensão arterial e o diabetes estavam presentes em
duas pacientes. Todas as pacientes negaram histórico de tabagismo.
Técnica cirúrgica: a variação proposta em 2010 por Albuquerque e cols. das técnicas
clássicas de cruroplastia trata-se de uma dermolipectomia crural medial com a
manutenção de um retalho cutâneo triangular proximal associada à ressecção de pele
e
tecido gorduroso para tratamento da flacidez medial da coxa após grandes perdas
ponderais. Marcação: paciente em pé para a delimitação da linha medial da coxa,
tendo como referência o tendão do músculo adutor. O excesso de pele para ressecção
é
estimado pelo pinch test. Um retalho cutâneo triangular de
4,5× 4 cm com a base no limite superior da área abordada e a altura
coincidindo sobre a linha medial da coxa é marcado e mantido fixo aos planos
profundos. No nosso serviço, optamos por ampliar as medidas do triângulo para
6× 6 cm na tentativa de diminuir a tensão final da ferida operatória.
Pacientes são submetidas a sondagem vesical de rotina, uso de meias compressivas e
botas pneumáticas. Posicionamento da paciente em decúbito dorsal com coxas abduzidas
e joelhos fletidos (Figura 2). Realiza-se
infiltração em plano subdérmico no limites da marcação com solução de adrenalina
1:300.000. Incisa-se a pele na marcação anterior e segue-se com a ressecção de pele
e gordura em sentido anterior para posterior, com a profundidade da ressecção de
pele e gordura se limitando ao plano da veia safena magna, mantendo a camada
profunda de gordura. O retalho triangular é fixado na fáscia do músculo adutor com
fio absorvível poliglactina 3.0. Confirmação da ressecção dos retalhos anterior e
posterior por meio da tração e contratração. Fixação dos retalhos na fáscia de
Colles com náilon 2.0 e fixação dos retalhos anterior e posterior ao retalho
triangular com fios inabsorvíveis. Fechamento da pele realizado por planos com fios
inabsorvíveis (Figura 3). Drenos são
posicionados com saída por contra-abertura distalmente à cicatriz. O paciente recebe
malha elástica compressiva no pós-operatório imediato, estimula-se a deambulação
precoce e realiza-se profilaxia da trombose venosa com enoxaparina 40 mg subcutâneo.
Alta hospitalar após 24 horas. Drenos retirados após débito menor que 100 mL em 24
horas. Pacientes seguem acompanhamento ambulatorial, no qual se aplica um
questionário sobre a satisfação da paciente frente ao procedimento.
Figura 2 - Marcação Cirúrgica da Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular.
Figura 2 - Marcação Cirúrgica da Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular.
Figura 3 - Ferida Operatória da Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular.
Figura 3 - Ferida Operatória da Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular.
RESULTADOS
Do total de dez coxas operadas, não houve casos de distopia vulvar ou migração distal
significativa da cicatriz (Figura 4 ). Dez
porcento dos casos evoluíram com seroma importante com necessidade de reabordagem
cirúrgica. Em 20% das coxas observou-se deiscência da ferida operatória, com
necessidade de debridamento e ressutura. Uma paciente apresentou cicatrização
retardada, levando mais de um mês para o fechamento completo da ferida (Gráfico 1). Uma das dez coxas apresentou ptose
precoce, com plano para retoque. Quatro das cinco pacientes consideram-se
satisfeitas ou muito satisfeitas com o procedimento.
Figura 4 - Pós Operatório 4 Meses Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular.
Figura 4 - Pós Operatório 4 Meses Cruroplastia com a Técnica do Retalho
Triangular.
Gráfico 1 - Complicações dos Pacientes após a Cruroplastia com a Técnica do
Retalho Triangular.
Gráfico 1 - Complicações dos Pacientes após a Cruroplastia com a Técnica do
Retalho Triangular.
DISCUSSÃO
Restabelecer a autoimagem do paciente e melhorar a interação com o meio são os
principais ganhos com a cirurgia do contorno corporal em pacientes após grandes
perdas ponderais. Além do aspecto estético, problemas funcionais para as tarefas
diárias e prática de exercícios físicos são comuns9. Nesse contexto, o tratamento dos tecidos em excesso após grandes
perdas ponderais é fundamental. A cruroplastia nesses pacientes historicamente tem
sido associada a grandes taxas de complicações. Em 2016, uma análise com mais de
1.400 pacientes realizada por Afshari e cols. na Universidade de
Oxford mostra uma taxa de deiscência da ferida em até 50% das pacientes e uma taxa
de seroma em até 25%7. Em uma metanálise de
2015 com um total 447 pacientes, Sisti e cols. evidenciaram um índice de deiscência
na ferida operatória em 18,34% dos casos e 3,57% de migração distal da cicatriz8.
Variações das técnicas inicialmente descrita por Lewis e Lockwood têm sido empregadas
na tentativa de minimizar as complicações. Aboueldahab e cols., em
2013, mostra a associação da lipoaspiração na cruroplastia em 25 pacientes sem
distopia vulvar, seroma ou necrose de pele no pós-operatório5. Blugerman e cols. descrevem uma variação da
técnica de Lockwood com a ancoragem de um retalho dermogorduroso no tendão comum dos
adutores4. Albuquerque e cols., em 2010,
publicaram a variação com o retalho triangular em 36 coxas, mostrando 8% das feridas
evoluindo com deiscência, 25% de retardo na cicatrização e nenhuma paciente
apresentando distopias vulvares ou migração cicatricial6.
CONCLUSÃO
Ao comparar os resultados da literatura com os encontrados nessa série de casos,
observa-se que a dermolipectomia crural medial com técnica do retalho triangular
pode ser uma alternativa para a tentativa de diminuir as complicações inatas ao
procedimento, principalmente a distopia vulvar e a migração distal da cicatriz.
REFERÊNCIAS
1. Afshari A, Gupta V, Nguyen L, Shack RB, Grotting JC, Higdon KK.
Preoperative Risk Factors and Complication Rates of Thighplasty: Analysis of
1,493 Patients. Aesthet Surg J. 2016; 36(8):897-907. doi:10.1093/asj/sjv275.
DOI: https://doi.org/10.1093/asj/sjv275
2. Lewis JR Jr. Correction of ptosis of the thighs: the thigh lift.
Plast Reconstr Surg. 1966; 37:494-8. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-196606000-00003
3. Lockwood TE. Fascial anchoring technique in medial thigh lifts.
Plast Reconstr Surg. 1988; 82:299-304. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-198808000-00015
4. Blugerman G, Schavelzon D, Galfrascoli A, Chomyzsyn A, Markowsky A,
D 'angelo, J, et al. The Deep Anchored Inner Thigh Lift. Am J Cosm Surg. 2011;
28. doi:10.5992/0748-8068-28.3.177. DOI: https://doi.org/10.5992/0748-8068-28.3.177
5. Aboueldahab AK. Liposuction-assisted medial thigh lift in obese and
non obese patients. J Cutan Aesthet Surg. 2013; 6(4):217-25. DOI: https://doi.org/10.4103/0974-2077.123410
6. Albuquerque LMM, et al. Técnica do retalho triangular para
cruroplastia medial pós-grandes perdas ponderais em mulheres. São Paulo: Rev
Bras Cir Plást. 2010 dez; 25(4):700-4.
1. Hospital Universitário Cajuru, Curitiba,
PR, Brasil.
Endereço Autor: Júlio Cesar Magri Rua
Padre Giacomo Cusmano, nº 177- Campina do Siqueira, Curitiba, PR, Brasil. CEP
80730-230 E-mail: jcmagri2@gmail.com