INTRODUÇÃO
O serviço de Cirurgia Plástica Reparadora (CPR) do Hospital Metropolitano de Urgência
e Emergência (HMUE), em Ananindeua, atua como a unidade de referência no tratamento
de feridas dos pacientes vítimas de trauma no Estado do Pará. Fornece também suporte
a outras especialidades do hospital com interconsulta, recebendo, portanto, grande
volume de pacientes1.
As lesões decorrentes de trauma são agravos súbitos à saúde que podem levar à morte.
Estão inseridos neste contexto os eventos de violência urbana e os acidentes de
trânsito, denominados causas externas na Classificação Internacional de Doenças2.
É uma das principais causas de morte com possibilidade de prevenção. Por isso,
conhecer o perfil epidemiológico-evolutivo dos pacientes envolvidos neste tipo de
acidente possibilita criar estratégias mais eficazes de prevenção e, portanto,
redução de deficiências temporárias ou permanentes que interfiram negativamente na
qualidade de vida das vítimas3,4.
OBJETIVO
Delinear o perfil epidemiológico-evolutivo dos pacientes atendidos no HMUE.
MÉTODOS
Estudo observacional analítico, do tipo transversal prospectivo. O estudo foi
realizado no HMUE, no setor de Cirurgia Plástica Reparadora. A população foi
composta por 78 pacientes atendidos pela equipe de cirurgia plástica reparadora do
HMUE, no período de dezembro de 2015 a dezembro de 2016.
Foram incluídos na pesquisa pacientes de ambos os sexos, de todas as faixas etárias,
vítimas de trauma e atendidos no setor de CPR do HMUE no período de dezembro de 2015
a dezembro de 2016, que aceitaram participar da pesquisa e assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos do estudo pacientes cujo
atendimento tenha ocorrido fora do intervalo de dezembro de 2015 a dezembro de 2016,
pacientes menores de 18 anos sem autorização do responsável legal, pacientes
inconscientes ou aqueles que se recusaram a assinar o TCLE ou que não conseguiram
preencher os critérios analisados.
A coleta dos dados aconteceu em dois momentos. Primeiramente, foi realizada
entrevista com os pacientes que responderam os questionamentos epidemiológicos, bem
como informações relacionadas ao trauma. No segundo momento, pós-intervenção, foram
coletadas informações sobre o tratamento realizado e sua evolução de acordo com o
acompanhamento médico e registro dos prontuários.
Foi utilizado o teste não paramétrico Qui-quadrado de Pearson para
tendência/aderência e para associação entre variáveis nominais, simbolizado por
χ2, adotando-se um nível de
significância de p-valor < 0.05. Para verificar a prevalência
significativa ou não da viabilidade da cirurgia, segundo alguns fatores como: idade,
distância do acidente ao hospital (Km), dias (acidente para internação), dias
(internação para cirurgia), foi calculado o teste de razão de prevalência (Odds
Ratio) com nível de significância de 0.05.
Desta forma, os dados coletados foram tabulados, processados e analisados por meio
da
estatística descritiva e inferencial. Para a análise dos dados foram utilizados
recursos de computação, por meio do processamento no sistema Microsoft Excel,
Statistic Package for Social Sciences (SPSS) versão 22.0, todos
em ambiente Windows 7.
O projeto foi enviado para o Comitê de Ética da Universidade do Estado do Pará (UEPA)
- Centro de Ciências Biológicas e da Saúde - Campus II. Após análise e aprovação
(Parecer Nº 1.004.945), foi realizada a pesquisa.
RESULTADOS
Verificou-se que houve maior frequência de indivíduos na faixa etária entre 21 a 30
anos (32,05%), seguida da faixa etária de 11 a 20 anos (21,79%) e da faixa etária
de
31 a 40 anos (20,51%). O sexo masculino foi predominante entre os pacientes, com
procedência do município de Belém (32,05%), autônomos (34,62%), sendo esta uma
tendência significativa (p < 0.005).
Em relação ao mecanismo do trauma, constatou-se que 78% dos acidentes foram traumas
contusos, 18% foram traumas penetrantes e 4% não foram declarados. Entre os
pacientes que foram classificados como penetrantes, tem-se que 64% foram acometidos
por arma de fogo (FAF) e 36% por arma branca (FAB). O acidente automobilístico
(colisão entre veículos) é o principal tipo de acidente entre os pacientes e a área
corporal mais acometida foram os membros inferiores (MMII), com 67,95%, seguida do
acometimento dos membros superiores - 16,67%.
Com relação à distância, a maior parte dos pacientes (47,44%) percorreu entre 1 e
30
km do local do acidente até chegar ao HMUE. 66,67% pacientes foram internados no
mesmo dia em que ocorreu o acidente. A maior parte deles levou entre 30 a 59 dias
de
internação até a intervenção do Serviço (38%).
Na Tabela 1, verifica-se que 82,05% dos
pacientes realizaram a cirurgia do tipo enxerto de pele. Já na Tabela 2, verifica-se que tanto entre os
pacientes submetidos à cirurgia de enxerto (82,05%) como entre os pacientes que
foram submetidos à cirurgia de retalho (14,10%) predominou a viabilidade no
intervalo de 90-100%.
Tabela 1 - Tipo de cirurgia realizada de n=78 pacientes no HMUE pela CPR. Ananindeua
- PA, 2016.
Variável |
n |
% |
p - valor
|
Tipo de Cirurgia |
|
|
|
Enxerto |
64 |
82,05 |
<0.0001** |
Retalho |
11 |
14,10 |
Enxerto e retalho |
3 |
3,85 |
Tabela 1 - Tipo de cirurgia realizada de n=78 pacientes no HMUE pela CPR. Ananindeua
- PA, 2016.
Tabela 2 - Distribuição segundo o percentual de Viabilidade e Tipo de Cirurgia de
n=78 pacientes atendidos pela CPR no HMUE. Ananindeua - PA, 2016.
Viabilidade (%) |
Tipo de
Cirurgia
|
Total |
Enxerto |
Retalho |
Enxerto/retalho |
Qtd |
% |
Qtd |
% |
Qtd |
% |
0-19 |
0 |
0 |
1 |
1,28 |
1 |
1,28 |
2 |
20-29 |
0 |
0 |
1 |
1,28 |
0 |
0 |
1 |
70-79 |
1 |
1,28 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
80-89 |
9 |
11,54 |
3 |
3,85 |
0 |
0 |
12 |
90-100 |
54 |
69,23 |
6 |
7,69 |
2 |
2,56 |
62 |
Total |
64 |
82,05 |
11 |
14,1 |
3 |
3,85 |
78 |
Tabela 2 - Distribuição segundo o percentual de Viabilidade e Tipo de Cirurgia de
n=78 pacientes atendidos pela CPR no HMUE. Ananindeua - PA, 2016.
Na Tabela 3, observa-se que na cirurgia do
tipo enxerto 84,38% dos pacientes tiveram um bom resultado, seguidos de 15,63%
pacientes que tiveram resultado regular. Já na cirurgia do tipo retalho, 54,55% dos
pacientes tiveram um bom resultado, seguidos de 27,27% de resultados regulares e
18,18% maus resultados. Nos pacientes que fizeram enxerto e retalho, 66,67% tiveram
bom resultado e 33,33% evoluíram com um mau resultado. Observa-se que tanto entre
os
pacientes submetidos à cirurgia de enxerto, como entre os pacientes que foram
submetidos à cirurgia de retalho, predominou um bom resultado.
Tabela 3 - Distribuição do resultado segundo o tipo de cirurgia de n=78 pacientes
atendidos pela CPR no HMUE. Ananindeua - PA, 2016.
Resultado (%) |
Tipo de Cirurgia |
Total |
Enxerto |
Retalho |
Enxerto/retalho |
Qtd |
% |
Qtd |
% |
Qtd |
% |
Mau (perda > 80% ou deiscência) |
0 |
0 |
2 |
18,18 |
1 |
33,33 |
3 (84%) |
Regular (perda entre 30-79%) |
10 |
15,63 |
3 |
27,27 |
0 |
0 |
13(16,66%) |
Bom (<20% de perda) |
54 |
84,38 |
6 |
54,55 |
2 |
66,67 |
62(79,5%) |
Total |
64 |
|
11 |
|
3 |
|
78 |
Tabela 3 - Distribuição do resultado segundo o tipo de cirurgia de n=78 pacientes
atendidos pela CPR no HMUE. Ananindeua - PA, 2016.
Houve correlação entre o número de dias que o paciente leva para ser internado após
o
acidente sob o grau de viabilidade, de modo que, entre os pacientes que foram
internados no mesmo dia, 63,16% apresentaram viabilidade acima de 80% e apenas 5,26%
pacientes apresentaram menos de 80% de viabilidade. Já nos pacientes que levaram um
dia ou mais para serem internados, a frequência de pacientes com viabilidade
inferior a 80% foi o dobro (10,53%). Ou seja, entre os pacientes que levam mais de
um dia para ser internados, o percentual de viabilidade da cirurgia é menor. Na
Tabela 4, o teste Odds
Ratio aponta que os pacientes internados no mesmo dia do acidente têm
seis vezes mais chance de apresentar viabilidade acima de 80% (p
< 0.05).
Tabela 4 - Distribuição dos participantes da pesquisa, segundo o número de dias para
a internação hospitalar versus viabilidade da cirurgia. Ananindeua - PA,
2016.
Dias (acidente para internação)(n=76) |
Viabilidade |
Odds Ratio |
p - valor
|
0% a 80% |
Acima de 80% |
n |
% |
n |
% |
No mesmo dia |
4 |
5,26 |
48 |
63,16 |
6.00 |
0.0120* |
1 ou mais dias |
8 |
10,53 |
16 |
21,05 |
Tabela 4 - Distribuição dos participantes da pesquisa, segundo o número de dias para
a internação hospitalar versus viabilidade da cirurgia. Ananindeua - PA,
2016.
Não foi encontrada correlação significativa (p > 0.05) entre o
número de dias que o paciente levou para realizar a cirurgia após a internação sob
o
grau de viabilidade, ou seja, o percentual de viabilidade independe do número de
dias que o paciente leva para realizar a cirurgia reparadora após a internação.
DISCUSSÃO
A caracterização da amostra apresenta o sexo masculino como predominante entre os
pacientes (87,18%), com apenas 12,82% acometendo o sexo feminino. Estudos
semelhantes5,6 também encontraram predomínio do mesmo sexo.
Os indivíduos do sexo masculino são os que mais se envolvem em eventos traumáticos.
Determinantes sociais e culturais referentes à questão de gênero expõem o sexo
masculino a maiores riscos para o trauma, como velocidade excessiva ao dirigir
automóveis, manobras arriscadas no trânsito, comportamento violento e maior consumo
de álcool, tornando-o mais vulnerável a causas externas7.
No que diz respeito à idade, outros estudos também demonstraram a faixa etária entre
21 anos e 30 anos como a mais frequente8.
Com relação à procedência dos pacientes, o município de Belém se mostrou o principal
local (com 32,05%), tendo um p < 0,05, mostrando que há uma
tendência significativa dos pacientes ter sua origem na capital paraense. Em seguida
está o município de Ananindeua, onde está localizado o HMUE, com 5,13% dos casos.
Belém tem mais eventos traumáticos que Ananindeua por ser uma capital e possuir
população mais numerosa. Outro motivo é a relação geográfica entre essas duas
cidades: são próximas, chegando a se conurbar, facilitando assim a regulação e o
transporte dos pacientes para o HMUE.
Cerca de 47,44% do pacientes estudados eram tabagistas. Diabetes e etilismo
apresentaram baixa frequência (1,28%). Acredita-se que esse valor esteja
subestimado, pois a coleta de dados foi realizada em forma de entrevista e, sendo
assim, muitos sentiam receio para falar, principalmente sobre a ingestão de bebida
alcoólica.
Nesse estudo o mecanismo do trauma foi analisado em contuso e penetrante, e
observou-se que 78% foram traumas contusos, eventos que abrangem acidentes
automobilísticos, quedas, acidente de trabalho, etc. 18% foram traumas penetrantes,
episódios que compreendem perfurações por arma branca ou arma de fogo e 4% não foram
declaradas. Resultado semelhante foi encontrado em outro estudo9 de 2016, no qual se observou que 78,24% foram traumas
contusos, 21,39% foram penetrantes e 0,37% não se enquadravam nessas classificações.
Em 2014, também houve outro estudo que descreveu 86,4% de eventos contusos e 13,6%
de eventos penetrantes10.
Nessa pesquisa, os acidentes automobilísticos (38,46%) são os principais tipos de
acidente, sendo esta uma tendência significativa (p < 0,05), o
que corrobora com estudo realizado em 2014, em que os acidentes de trânsito
figuraram como os principais determinantes de atendimentos (44,85%)11.
Os acidentes de trânsito são considerados episódios complexos, pois podem estar
relacionados a falhas humanas, do próprio veículo e até mesmo ambientais. Alguns
destes fatores são decorrentes de imprudência do condutor, como manobras arriscadas,
alcoolismo e drogas, excesso de velocidade ao dirigir e cansaço, bem como podem
estar associados a fatores climáticos, vias e sinalização inadequada e falta de
manutenção dos veículos12.
Observa-se nessa pesquisa que 71,70% dos pacientes sofreram acidentes com
envolvimento de motocicletas, sendo a maioria (96,77%) vítimas de acidentes
automobilísticos (colisão entre veículos). Dos acidentes denominados queda, 45,45%
tiveram envolvimento com motocicleta e dos casos de atropelamento, 27,27% tiveram
novamente a participação desse veículo.
Nessa pesquisa, a maioria dos pacientes (47,44%) percorreu entre 1 e 30 km do o local
do acidente até o hospital, resultado estatisticamente significativo. Esse resultado
possivelmente se justifica pela procedência dos pacientes serem predominantemente
de
Belém e, sendo essa uma cidade próxima de Ananindeua, os pacientes acabaram por
percorrer de 1 a 30 km.
Sobre o número de dias entre a data da ocorrência do trauma e a data da internação,
verifica-se que 66,67% pacientes foram internados no mesmo dia em que ocorreu o
acidente. Esta tendência é significativa (p < 0,05),
provavelmente porque a maior parte dos traumatizados teve sua origem em Belém e, por
essa ser próxima do HMUE, a maioria teve entrada no mesmo dia.
Com relação ao número de dias entre a data da internação e a data da cirurgia
reparadora no HMUE, constata-se que 38,46% pacientes realizaram a cirurgia no mínimo
30 dias e no máximo 59 dias após internados no hospital. A segunda maior frequência
de pacientes foi verificada no intervalo de até 29 dias, em que 33,33% pacientes
realizaram a cirurgia em até 29 dias após internados. Estas tendências mostraram-se
significativas (p < 0,05).
O paciente encaminhado para a CPR é aquele que teve entrada pelo pronto-atendimento,
provavelmente passou por cirurgia geral e/ou ortopédica e depois foi encaminhado
para o setor da plástica, justificando esse período para a realização da intervenção
reconstrutiva. Outro motivo para este intervalo pode ser o atraso na solicitação das
outras especialidades para que a equipe da Cirurgia Plástica avaliasse o paciente
e
a espera para melhorar as condições da ferida para ser realizada a cirurgia.
O procedimento cirúrgico mais realizado nessa pesquisa foi o enxerto de pele (com
82,05%), sendo esta uma tendência significativa (p < 0,05). O
procedimento cirúrgico do tipo retalho ficou apenas com 14,10% dos resultados e
3,85% dos pacientes realizaram enxerto e retalho. Estudo semelhante8 de 2017 também teve o enxerto de pele como
procedimento reparador mais usado (62,1% dos casos). O retalho fasciocutâneo foi o
segundo procedimento mais frequente, feito em 21,9% dos casos, e a este seguiram o
retalho muscular em 12,6% e o retalho microcirúrgico em 3,4%, contudo, só foram
analisados pacientes com trauma em MMII. Nesse estudo do HMUE no setor de CPR não
foi diferenciado os tipos de retalhos, sugerindo-se a coleta desse dado para futuros
trabalhos.
Os resultados demonstraram que a área corporal mais afetada foi a dos membros
inferiores com 67,95%, sendo esta uma tendência significativa (p
< 0,05), seguida do acometimento dos membros superiores (16,67%), cabeça (5,13%),
tronco (2,56%) e 7,69% não foram informados. Na análise epidemiológica de vítimas
de
trauma de estudo semelhante13, as regiões
corpóreas mais acometidas foram os membros inferiores, com 27,4%, e os membros
superiores, com 22,1%.
As feridas complexas dos membros inferiores são cada vez mais comuns principalmente
devido ao crescente número de acidentes motociclísticos14. A perna é uma região do corpo em que o subcutâneo é fino e
há poucos ventres musculares, tornando mais fácil a exposição da tíbia e de tendões
por traumatismos com perda de partes moles, muitas vezes associada a fraturas
expostas15.
Observa-se nesse estudo que, tanto nos pacientes submetidos à cirurgia de enxerto
de
pele (82,05%) como nos pacientes que foram submetidos à cirurgia de retalho
(14,10%), predominou a viabilidade no intervalo de 90-100%. Esse resultado demostra
que a equipe de cirurgia reparadora do HMUE segue as devidas recomendações no
pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório das cirurgias, pois o predomínio
da
viabilidade de 90-100% na cirurgia de enxerto de pele e retalho reflete a tentativa
e o sucesso em controlar os fatores extrínsecos dos pacientes.
Não foi encontrada prevalência significativa (p > 0,05) da faixa
etária sob o grau de viabilidade, ou seja, o percentual de viabilidade da cirurgia
independe da idade do paciente. Foi ainda aplicado o Teste de correlação de Pearson,
que confirmou não existir correlação significativa entre as variáveis, idade e grau
de viabilidade. O grau de correlação entre as duas variáveis mostrou-se negativo e
fraco (r = - 0.155), além de não ter significância (p > 0,05),
resultado que discorda da literatura. Pacientes idosos são mais suscetíveis em
sofrer ruptura da ferida cirúrgica e retardo de cicatrização do que pacientes mais
jovens. Com o envelhecimento, o colágeno sofre alterações qualitativas e
quantitativas. O conteúdo de colágeno na derme diminui com o envelhecimento, e as
fibras de colágeno envelhecidas apresentam arquitetura e organização
distorcidas16.
Constatou-se que existe prevalência significativa (p < 0,05) do
número de dias que o paciente leva para ser internado após o acidente sob o grau de
viabilidade. O teste Odds Ratio aponta que os pacientes internados
no mesmo dia do acidente têm seis vezes mais chances de apresentar viabilidade acima
de 80% (p < 0,05). A internação precoce do paciente influencia
nos primeiros cuidados do trauma, fazendo com que a ferida não evolua para infecção,
sendo este um fator importante no retardo do tratamento cirúrgico. Portanto, quanto
mais cedo o paciente é internado, mais rápido recebe os devidos cuidados, prevenindo
que o ferimento evolua para infecção e necrose.
Nesse estudo os pacientes que fumam totalizaram 47,43% dos estudados, e os pacientes
que não têm este hábito, 52,56%. Quando analisada a influência do cigarro na
viabilidade da cirurgia, predominou a viabilidade acima de 80% tanto nos que fumam
(44,87%) como nos que não fumam (50%), não interferindo, portanto, na viabilidade.
Diferentemente do estudo realizado em 201217,
que constatou o risco de desenvolver complicações de cicatrização da ferida
operatória foram duas vezes maiores em pacientes fumantes que em não fumantes.
Não foi verificada prevalência significativa (p > 0,05) do número
de dias que o paciente levou para realizar a cirurgia reconstrutora após a
internação sob o grau de viabilidade, ou seja, o percentual de viabilidade da
cirurgia independe do número de dias que o paciente leva para realizar a cirurgia
plástica após a internação, demonstrando assim ser mais importante os cuidados
pré-operatórios, intraoperatórios e pós-operatórios do que a rapidez em realizar o
procedimento.
A reconstrução para fechamento deve ser realizada somente quando o leito da ferida
estiver adequado para receber uma cobertura18. Devem-se avaliar os fatores locais e sistêmicos da ferida, assim como a
condição do paciente, determinantes para o sucesso do tratamento19.
CONCLUSÃO
Conclui-se, portanto, que o perfil dos pacientes atendidos no serviço é de homens
jovens, em idade economicamente ativa, autônomos, fumantes e procedentes da cidade
de Belém. O mecanismo de trauma contuso é o predominante. Os principais eventos
traumáticos são os acidentes de trânsito e agressões, sendo os membros inferiores
a
área corporal mais afetada. O tipo de cirurgia mais realizada foi a de enxerto. O
percentual de viabilidade da cirurgia independe da idade e da distância percorrida
pelo paciente do local do acidente até ao hospital. Os pacientes internados no mesmo
dia do acidente têm seis vezes mais chance de apresentar viabilidade da cirurgia
acima de 80%.
COLABORAÇÕES
FSV
|
Aprovação final do manuscrito; supervisão.
|
FAS
|
Análise e/ou interpretação dos dados; coleta de dados; concepção e
desenho do estudo; gerenciamento do projeto; investigação; redação -
preparação do original.
|
ANNF
|
Análise e/ou interpretação dos dados; gerenciamento de recursos; redação
- preparação do original; redação - revisão e edição.
|
JPSN
|
Análise e/ou interpretação dos dados; coleta de dados; concepção e
desenho do estudo; gerenciamento de recursos; gerenciamento do projeto;
investigação; redação - revisão e edição.
|
LSM
|
Análise estatística; concepção e desenho do estudo; gerenciamento de
recursos; gerenciamento do projeto; investigação; metodologia;
validação.
|
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Paulo, SP, Brasil
2. Universidade Federal do Pará, Belém, PA,
Brasil
3. Hospital Metropolitano de Urgência e
Emergência, Ananindeua, PA, Brasil
4. Universidade do Estado do Pará, Belém, PA,
Brasil
5. Centro Universitário do Estado do Pará, Belém,
PA, Brasil.
Autor correspondente: Fabiel Spani
Vendramin Rua Municipalidade, nº 985, sala 2112 - Umarizal, Belém,
PA, Brasil CEP 66050-350 E-mail: drfabiel@gmail.com
Artigo submetido: 19/6/2018.
Artigo aceito: 11/11/2018.
Conflitos de interesse: não há.