INTRODUÇÃO
A transexualidade é uma condição dinâmica e biopsicossocial em que uma pessoa tem
o
sentimento subjetivo de pertencer ao gênero diferente de seu gênero anatômico
(fenótipo e genótipo correspondentes)1. Essas
pessoas apresentam índices de qualidade de vida significativamente menores em
relação à população geral, o que provavelmente está relacionado a problemas de
autoestima pessoal e de caráter social2.
A Associação Profissional Mundial para a Saúde Transgênero (WPATH - World
Professional Association for Transgender Health) padronizou normas
baseadas em evidências para o atendimento às pessoas transgênero tanto para
diagnóstico quanto para tratamento, considerando as cirurgias de adequação de gênero
necessárias para aliviar a disforia de gênero dessas pessoas3.
Nesse sentido, a cirurgia genital tem se mostrado uma opção segura e confiável, com
redução drástica na disforia e melhora da qualidade de vida4,5 em relação
a aspectos psicológicos e relações sociais, com melhora na habilidade de desenvolver
relacionamentos, maior aceitação profissional e maior sentimento de integração à
sociedade6.
As mulheres transgênero que se submetem à cirurgia genital buscam a reconstrução da
genitália externa com aparência estética e funcionalidade adequadas. Diferentes
técnicas podem alcançar isso, incluindo técnicas de inversão peniana, retalhos
escrotais, enxertos escrotais, enxertos/retalhos não escrotais, técnicas que
utilizam intestino ou peritônio4.
A técnica mais estudada e mais utilizada atualmente é a inversão peniana4,7,8, que é recomendada
inicialmente antes de recomendar técnicas intra-abdominais8. Essa técnica envolve dissecção da pele peniana, formação de
uma cavidade neovaginal entre reto e bexiga e inversão da pele nesta cavidade,
podendo utilizar enxerto de espessura total da pele escrotal para o revestimento
vaginal. Apesar da diferença de detalhes das técnicas cirúrgicas utilizadas, dos
critérios de seleção de pacientes e da avaliação de resultados8,9, essa
técnica apresenta bons resultados10, com
índice de satisfação geral das pacientes de 88%4.
Do ponto de vista funcional, satisfação com o resultado é vista em mais de 86% das
pacientes4,11,12, com mais de 70% atingindo orgasmo1,4,8,10,13.
Mesmo assim, procedimentos adicionais são frequentemente necessários para atingir
o
melhor resultado possível14,15. Correções adicionais dos lábios após a
cirurgia são necessárias em 43% dos casos10 e
outros procedimentos em geral em até 66%6, já
que 28 a 38% das pacientes referem somente satisfação parcial7 e 9% a 15% referem estar insatisfeitas com os resultado
obtidos1,7,9,11.
Estes índices podem ser ainda maiores devido às baixas taxas de respostas aos
questionários de qualidade de vida em vários estudos1. O resultado estético e funcional da cirurgia parece ser o fator mais
determinante em relação à satisfação ou ao arrependimento das pacientes após a
cirurgia5, determinando a necessidade de
procedimentos adicionais.
Não há, entretanto, padronização em relação à técnica cirúrgica ou aos cuidados
pré-operatórios16. Contribuem para isso
os seguimentos a longo prazo de pacientes evoluírem lentamente e poucas publicações
em relação a refinamentos e avanços técnicos17.
OBJETIVO
A proposta deste trabalho é sugerir refinamentos estéticos na aparência da vulva,
traçando alguns paralelos e limitações de algumas das técnicas descritas, buscando
aumentar a satisfação estética e funcional pós-operatória. O autor descreve uma
série de 7 casos e os resultados dessas modificações técnicas.
MÉTODOS
Estudo retrospectivo com 7 pacientes operadas com a técnica descrita neste artigo,
entre agosto de 2017 e fevereiro de 2018. As pacientes cumpriam os requisitos do
Conselho Federal de Medicina para realização da cirurgia no Brasil (maior de 21
anos, pelo menos 2 anos da transição de gênero e de acompanhamento com equipe
multidisciplinar - psicólogo, psiquiatra, endocrinologista, assistente social e
cirurgião). Consentimento informado foi obtido de todas pacientes.
Cuidados pré-operatórios
No dia anterior à cirurgia, a orientação às pacientes é de dieta sem resíduos
durante o dia (sem carne vermelha, verduras, legumes, frutas, bebidas gasosas ou
álcool) e dieta líquida no jantar. O preparo intestinal é feito com duas drágeas
de bisacodil no almoço e duas drágeas no fim da tarde. À noite, as pacientes
ingerem 120ml de lactulona diluída em 500ml de suco de laranja ou limão coado,
que é ingerido em 30 minutos, seguido de hidratação oral até 8 horas antes do
horário previsto da cirurgia para evitar desidratação.
Técnica cirúrgica
Com a paciente em posição de litotomia, é retirado enxerto de pele perineal e
escrotal, preservando um retalho perineal triangular de 2cm de extensão, com
base aproximadamente 2cm abaixo do centro tendíneo do períneo (Figuras 1A e 1B). É realizada orquiectomia com ligadura dos cordões inguinais na
altura do anel inguinal externo. A uretra é separada dos corpos cavernosos
usando um cateter para guiar sua dissecção e o músculo bulbocavernoso e corpo
esponjoso em excesso são removidos.
Figura 1 - A: Esquema mostrando marcação do enxerto de pele e
do retalho perineal; B: Marcação do enxerto de pele e
do retalho perineal.
Figura 1 - A: Esquema mostrando marcação do enxerto de pele e
do retalho perineal; B: Marcação do enxerto de pele e
do retalho perineal.
A glande é incisada para confecção do clitóris em forma de tridente (Figura 2), incluindo 1,5cm de sua porção
dorsal em um formato arredondado, estendendo-se lateralmente para a coroa e colo
da glande até o frênulo, preservando uma faixa de pele prepucial proximal de
1,5cm. O tubo da pele peniana é separado da haste, preservando seu pedículo.
Figura 2 - Ilustração mostrando marcação do retalho para confecção do
clitóris.
Figura 2 - Ilustração mostrando marcação do retalho para confecção do
clitóris.
A túnica albugínea é incisada lateralmente e incluída junto ao pedículo
vasculonervoso, sendo separada dos corpos cavernosos, que são ligados em sua
base e removidos. A sutura das regiões laterais do tridente junto ao retalho
central em sua porção mais proximal é realizada com vicryl 3.0, o que simula os
corpos cavernosos do clitóris e define a glande do clitóris na região central.
Todo o retalho é dobrado sobre si mesmo e fixado na sínfise púbica. A uretra é
espatulada, com sua porção distal ressecada em formato triangular, que é fixada
anteriormente junto ao clitóris com vicryl 3.0, entre a porção distal dos
retalhos laterais do tridente (Figura 3).
Figura 3 - Esquema mostrando odos os retalhos em posição. São mostrados
também os pontos para confecção de prepúcio e da comissura anterior
e para definição dos pequenos lábios.
Figura 3 - Esquema mostrando odos os retalhos em posição. São mostrados
também os pontos para confecção de prepúcio e da comissura anterior
e para definição dos pequenos lábios.
A confecção do canal vaginal é realizada utilizando uma combinação de dissecção
romba com eletrocautério, através do centro tendíneo do períneo e da fáscia de
Denonvillier. A parede retal é afastada posteriormente por uma das mãos do
cirurgião, enquanto a outra mão realiza a dissecção e o auxiliar utiliza uma
válvula iluminada para afastar anteriormente a uretra e os tecidos penianos. A
cavidade vaginal é dissecada por aproximadamente 15cm de profundidade.
A pele escrotal retirada é preparada como enxerto de pele total e suturada em
fundo de saco ao retalho peniano. Os folículos pilosos são cauterizados
individualmente e, após revisão hemostática, o retalho peniano é invaginado e
inserido na cavidade. A pele posterior deste retalho é aberta para acomodação do
retalho perineal. Drenagem aspirativa é utilizada para prevenir acúmulo de
líquido entre o retalho/enxerto e o canal, que é mantido em posição por um
tampão vaginal de gaze embebido em metronidazol e bacitracina creme.
Para exteriorização do clitóris e confecção dos pequenos lábios, o retalho
peniano é incisado na linha média na altura do clitóris até imediatamente
inferior ao óstio uretral. A região inferior do coto uretral e a pele prepucial
do clitóris são suturadas na pele peniana com vicryl 3.0. Para definição da
comissura anterior dos lábios e do prepúcio clitoriano, cranialmente ao clitóris
são realizados 3 pontos transdérmicos de aproximação com vicryl 3.0, com
orifício de entrada e de saída distando 1cm da linha média (Figura 3). É realizada sutura em barra grega para definição
dos pequenos lábios desde a altura do clitóris até o óstio vaginal com vicryl
3.0 (Figura 3). O excesso de pele escrotal
é ressecado e a pele fechada em 3 planos (Figuras 4A e 4B), seguido de curativo
compressivo.
Figura 4 - A: Aspecto pós-operatório imediato; B:
Aspecto pós-operatório imediato.
Figura 4 - A: Aspecto pós-operatório imediato; B:
Aspecto pós-operatório imediato.
Cuidados pós-operatórios
A paciente é mantida em repouso absoluto por 24 horas. O curativo é aberto no
segundo dia e a deambulação é liberada. No terceiro dia o dreno é removido e a
paciente recebe alta hospitalar com a sonda urinária e o tampão vaginal. A
paciente retorna entre o 7º e o 10º dia, quando o cateter vesical e o tampão
vaginal são retirados e iniciadas as dilatações pós-operatórias.
RESULTADOS
A idade média das 7 pacientes foi de 28,3±6,8 anos. Os únicos antecedentes médicos
de
relevância foram hipotireoidismo (n=1) e infecção por HIV1, ambos com controle clínico adequado. Nenhuma das pacientes
referia tabagismo. Antecedentes cirúrgicos incluíram mamoplastia de aumento (n=4)
e
feminização facial (3), com 1 paciente sem cirurgias prévias. Todas as pacientes
fizeram tratamento hormonal prévio. A profundidade média alcançada na dissecção do
canal vaginal de 15,14±0,73 cm. O período de internação hospitalar foi de 3 dias em
todos os casos.
Entre as complicações, 1 caso necessitou de cirurgia adicional para correção, por
perda da definição da comissura anterior e exposição clitoriana maior que desejada
(Figura 5). As complicações mais sérias
foram sangramento pós-operatório (n=1), com necessidade de transfusão e cauterização
do vaso sangrante, e lesão do reto (1), tratada com reparo intraoperatório. Não
houve fístula ou estenose neste grupo de pacientes e tampouco houve necrose parcial
ou total do clitóris.
Figura 5 - Pós-operatório 8 meses mostrando perda da comissura anterior e
exposição do neoclitóris.
Figura 5 - Pós-operatório 8 meses mostrando perda da comissura anterior e
exposição do neoclitóris.
Nenhuma paciente apresentou queixas na sensibilidade vulvar e todas referiram estar
satisfeitas com a cirurgia e apresentando orgasmo após 3 meses do procedimento.
DISCUSSÃO
Georges Burou e Harold Gillies são conhecidos pela concepção da técnica de inversão
peniana em mulheres transgênero na década de 19507,18, com a inclusão
de um retalho escrotal por Howard Jones18.
Para a reconstrução clitoriana, o procedimento de escolha clássico é usar a glande
(total ou parcialmente) como um retalho neurovascular pediculado em ilha, descrito
por Hinderer19 e modificado por Brown20. A inclusão da túnica albugínea21 é tecnicamente simples e diminui o risco de
lesão nervosa.
Os passos básicos da técnica de inversão peniana envolvem: orquiectomia, desmontagem
peniana, criação da cavidade vaginal entre reto e bexiga, reconstrução de clitóris
e
meato uretral feminino ortotópico e criação dos grandes lábios16. Deve-se buscar uma função urogenital adequada e um
resultado cosmético atraente dos órgãos genitais, que são fatores chave para uma
taxa alta de satisfação das pacientes submetidas à cirurgia14.
Isso inclui o posicionamento uretral adequado para favorecer um jato reto de urina,
com uma vagina adequadamente larga e profunda para intercurso sexual e com
sensibilidade adequada para experimentar orgasmo, recomendando-se usar todo tecido
disponível para isso14. Técnicas modernas com
preservação de tecidos apresentaram índices melhores de função sexual em relação à
inversão peniana simples em questionários padronizados22, o que reforça essa recomendação. Neste sentido, em
pacientes com pênis pequeno e sem uso de cobertura adicional da cavidade vaginal,
o
resultado estético dependerá da profundidade neovaginal escolhida, o que é resolvido
com uso de enxertos de pele7.
Os objetivos principais de uma clitoridoplastia ideal são: técnica reprodutível,
confiável e segura em estágio único; tamanho apropriado do clitóris em condições
habituais funcionais; reconstrução da estrutura anatômica com tecido erétil
preservando sua inervação erógena; presença de tecido mucoso ou epitelial na região
vestibular e ao redor do clitóris; ausência de cicatrizes dolorosas ou retraídas;
presença de frênulo e cobertura prepucial23.
A sensibilidade do clitóris é importante como um pré-requisito provável para atingir
o orgasmo sexual13. É descrito que ao se
utilizar a região dorsal da glande para o clitóris é necessária uma intensidade de
estímulo maior para os estímulos de toque leve e pressão do que em mulheres
cisgênero, com sensibilidade à vibração comparável12.
Resultados semelhantes foram obtidos em outro estudo13, que enfatizou a ocorrência comum de hipersensibilidade do clitóris e
a necessidade de cobertura clitoriana para protegê-lo da hiperestimulação das roupas
e do movimento. A técnica do autor aborda ambas essas necessidades, aumentando a
área de sensação erógena ao incluir a região da coroa da glande e do prepúcio ao
retalho dorsal, ao mesmo tempo em que o clitóris é circundado pelo prepúcio e pela
pele aproximada cranialmente.
As bases anatômicas para a confecção do retalho neurovascular dorsal da maneira que
o
autor a realiza já foram descritas. Pequenos ramos paralelos do nervo dorsal do
pênis correm junto à superfície dorsolateral do pênis e penetram posteriormente em
toda a área da coroa peniana24. Imediatamente
abaixo da coroa lateroventral do pênis, o nervo dorsal se divide em quatro ramos:
um
ramo proximal se dirigindo dorsalmente em direção ao tecido coronal, um ramo
divergindo (lateralmente para medialmente) ao parênquima central da glande e outros
dois ramos divergindo lateralmente e ventralmente em direção a região ventral23.
Para aumentar a sensibilidade do clitóris, sugere-se que a fáscia de Buck seja
incisada lateralmente, iniciando na base do pênis e que a elevação do pedículo
neurovascular seja feita profundamente à túnica albugínea dos corpos cavernosos24. Isso preserva mais fibras nervosas, que
correm dorsolateralmente a 1,5 a 2cm da linha média com o pênis ereto23.
Técnicas utilizando a região da coroa da glande para aumentar a área de superfície
erógena e o potencial sensitivo do clitóris já foram descritas. A clitoridoplastia
com a utilização da região ventral da glande25 teria uma sensação erógena mais completa em relação à dorsal por
seguir a direção anatômica dos nervos na glande, incluindo os dois ramos
lateroventrais do nervo dorsal23.
Outra técnica descrita utiliza um retalho bífido e simétrico da coroa da glande em
forma de flor de lótus23, preservando pele
prepucial no retalho e posicionando a uretra de maneira semelhante à descrita aqui.
Uma crítica do autor a esta técnica é o maior alongamento anteroposterior do
clitóris, que não apresenta o formato ideal do clitóris do ponto de vista estético
e
que diminui a área vestibular acima do meato uretral. Além disso, essa técnica
envolve a retirada de pele em formato oval (5,0 x 4,0cm) da região dorsal do retalho
peniano para exteriorizar clitóris e uretra, o que diminui a quantidade de tecido
disponível para definir pequenos lábios e pode aumentar a exposição clitoriana.
Técnica muito semelhante à do autor é utilizada há anos na Tailândia26, com a confecção de retalho em M preservando
pele prepucial, que é dobrada sobre si mesma para confecção dos pequenos lábios. A
crítica do autor a essa técnica é que os pequenos lábios são confeccionados somente
até a altura do meato uretral, que seria a extensão máxima dos retalhos laterais do
M e do prepúcio adjacente, e não até a região lateroposterior do introito vaginal
como é esperado na anatomia vulvar.
Dessa maneira, a definição dos pequenos lábios posteriormente depende exclusivamente
de sobra de pele do retalho peniano. O autor também prefere o formato arredondado
da
região central do tridente, pois ao aproximá-lo dos retalhos laterais forma-se
discreta projeção anterior, construindo de maneira mais fidedigna o clitóris
(técnica demonstrada por Marci Bowers ao autor, no 1º semestre de 2014). Na visão
do
autor, a abordagem de expor em bloco o conjunto clitóris/uretra diminui risco de
estenoses uretrais e preserva uma maior quantidade de pele para confecção dos
pequenos lábios.
Para definição dos pequenos lábios, pode ser usada pele prepucial como descrito no
parágrafo anterior, porém o mais comum é se utilizar a parte lateral e proximal do
retalho peniano. Alguns autores realizam esse procedimento em um segundo estágio,
alguns meses após a vaginoplastia14. Dessa
maneira, pode-se utilizar zetaplastias na região pubiana para avanço dos pequenos
lábios18 ou para cobertura clitoriana e
convergência labial13,27. É descrito o uso de suturas para definição
dos pequenos lábios28.
Da maneira realizada pelo autor, a pele prepucial é suturada à abertura longitudinal
do retalho peniano, formando a parede interna dos pequenos lábios. A sutura em barra
grega desde o clitóris até a região posterior do meato vaginal ajuda a definir
melhor os pequenos lábios (técnica demonstrada por Marci Bowers ao autor, no 1º
semestre de 2014). De maneira semelhante, a aproximação da pele cranial ao clitóris
em direção à linha média define a comissura anterior e o prepúcio clitoriano,
protegendo-o da hiperestimulação tátil.
Algumas das técnicas utilizam um retalho escrotal longo para a confecção da parede
posterior vaginal7,23,26,27,29. O autor tem experiência com esse tipo de
retalho mais longo e acredita (assim os autores dessas técnicas) que a linha de
sutura da comissura posterior deve ser interposta com um retalho para evitar
estenose, mas atualmente prefere que o retalho seja curto para evitar crescimento
de
pelos dentro da vagina.
Há melhora progressiva com o tempo da percepção do resultado estético pelas pacientes
e pela equipe médica devido à melhora do edema pós-operatório e da cicatrização das
feridas cirúrgicas29, o que também foi
verificado pelo autor (Figuras 6 e 7).
Figura 6 - Pós-operatório 2 meses (paciente em posição ginecológica).
Figura 6 - Pós-operatório 2 meses (paciente em posição ginecológica).
Figura 7 - Pós-operatório 2 meses (paciente em pé).
Figura 7 - Pós-operatório 2 meses (paciente em pé).
A satisfação referida pelas pacientes com a cirurgia foi excelente e maior do que
o
relatado1,4,10,11, apesar do
pequeno número de pacientes impossibilitar a comparação estatística e de alguns
trabalhos não especificarem técnica utilizada. O mesmo ocorreu com a sensibilidade
referida e a capacidade das pacientes de atingir orgasmos.
Há relatos de que mais da metade das pacientes operadas apresenta uma intensidade
de
orgasmos maior em relação ao período pré-operatório1. Outros fatores podem estar associados com a satisfação sexual e podem
contribuir para o bem-estar geral, como a estabilidade e satisfação com
relacionamentos, a aceitação da imagem corporal, distúrbios de humor e a saúde
física6,7.
CONCLUSÃO
Os refinamentos estéticos defendidos neste artigo pelo autor e propostos pelos
cirurgiões que o precederam procuram aproximar ao máximo os resultados da cirurgia
de adequação genital à anatomia feminina e à função vaginal adequada, apresentando
altos índices de satisfação e sensibilidade. Essa área está em constante evolução,
mas obviamente tem limitações. As pacientes devem sempre estar cientes que
procedimentos adicionais são frequentemente necessários para atingir o melhor
resultado possível15, assim como sua
expectativa, muitas vezes irreal e inatingível, deve ser ajustada.
Devido à maior divulgação e conscientização da transexualidade, as pesquisas sobre
as
cirurgias de adequação genital estão se desenvolvendo em ritmo maior14, porém são necessários mais estudos
prospectivos, além de padronização dos procedimentos cirúrgicos e seguimentos a
longo prazo com números maiores de pacientes para identificar entre as diversas
variações técnicas e preferências do cirurgião quais as técnicas mais efetivas para
obter resultados estéticos e funcionais melhores e com maiores índices de satisfação
das pacientes.
COLABORAÇÕES
MZM
|
Análise e/ou interpretação dos dados; análise estatística; concepção e
desenho do estudo; realização das operações; redação do manuscrito ou
revisão crítica de seu conteúdo.
|
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1. Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP,
Brasil.
Autor correspondente: Matheus Zamignan
Manica Rua Tenente Gomes Ribeiro, nº 78, cj 114 - Vila Clementino,
São Paulo, SP, Brasil CEP 04038-040 E-mail:
contato@drmatheusmanica.com.br
Artigo submetido: 12/6/2018.
Artigo aceito: 7/8/2018.
Conflitos de interesse: não há.