INTRODUÇÃO
Em 1993, Mentz et al.1 foram os primeiros a
realizar lipoaspiração superficial para definição da musculatura abdominal, e
preconizaram o uso da lipoaspiração superficial nas linha alba, linha semilunar e
interseções tendíneas transversais, sem o uso de espumas ou outro material para
definir melhor as linhas abdominais.
Em 2003, Hoyos & Millard2 apresentaram o
conceito de lipoescultura de alta definição, refinando o conceito original1 para uma abordagem tridimensional, na qual são
tratados não só o abdômen, como também o dorso, braços e pernas, utilizando aparelho
de lipoaspiração ultrassônica de terceira geração (Vaser).
A espuma de Reston® têm sido utilizada em lipoaspiração3-5. Apesar dos benefícios, a aplicação dura aproximadamente 30 minutos,
além de outros problemas descritos4,6,7 como a possibilidade de ocorrer dermatite
alérgica, formação de bolhas e hiperpigmentação pós-operatória.
A proposta deste estudo piloto é apresentar uma técnica de lipoaspiração superficial,
utilizando material convencional de lipoaspiração, associada a curativos com tubos
de silicone maleáveis, que seja de fácil aprendizado para os cirurgiões plásticos,
acessível do ponto de vista econômico, com resultados estéticos satisfatórios e
baixa incidência de complicações.
OBJETIVO
Descrever técnica de lipoaspiração abdominal superficial, nas linhas alba e
semilunar, bem como das interseções tendíneas do músculo reto abdominal, utilizando
material convencional de lipoaspiração, associado a curativos realizados com tubos
de silicone.
MÉTODOS
Estudo piloto, prospectivo, no qual foram avaliados 20 casos, 19 mulheres e 1 homem,
submetidos à lipoaspiração abdominal sob anestesia geral, operados pelo mesmo
cirurgião.
Todos os pacientes foram marcados com canetas hidrográficas no dia da cirurgia, na
região abdominal e demais regiões planejadas para lipoaspiração. As linhas alba,
semilunar e interseções tendíneas do músculo reto abdominal foram identificadas por
contração abdominal dos pacientes, e marcadas em cor verde (Figura 1).
Figura 1 - Marcações feitas no dia da cirurgia. Em preto as marcações habituais
de lipoaspiração. Em verde as marcações das linhas semilunares e alba,
para maior definição, com retirada maior de gordura por lipoaspiração
superficial subdérmica.
Figura 1 - Marcações feitas no dia da cirurgia. Em preto as marcações habituais
de lipoaspiração. Em verde as marcações das linhas semilunares e alba,
para maior definição, com retirada maior de gordura por lipoaspiração
superficial subdérmica.
Foram realizadas duas incisões de 7mm cada na região pubiana, dentro das marcas de
trajes de banho ou em cicatrizes prévias desta região (Figura 1).
Foi realizada infiltração super-úmida da região abdominal com soro fisiológico
associado à epinefrina na concentração de 1:500.000 e lidocaína na concentração de
0,05%.
Foi realizada a lipoaspiração com seringas de 60ml, abaixo da fáscia de Scarpa
(lipoaspiração profunda) e acima (lipoaspiração superficial), de forma habitual, com
cânulas de 4mm de diâmetro, 30 e 35cm de comprimento.
Após esta etapa, foi realizada lipoaspiração sob as linhas alba e semilunar, acima
da
fáscia de Scarpa, bem junto à derme profunda (Figura 2), com as mesmas cânulas de 4mm, porém com os orifícios virados para a
derme, e utilizando a mão contralateral para preensão e retirada adicional vigorosa
de gordura, até que se obtivesse a formação de um sulco nestes locais, conferida
pelo cirurgião com manobra de pinçamento bidigital (pinch test).
Figura 2 - Lipoaspiração sob a linha semilunar, bem próximo à derme profunda,
utilizando cânulas de 4mm com os orifícios virados para a derme.
Utiliza-se a mão contralateral para preensão e retirada adicional de
gordura, formando um sulco nestes locais.
Figura 2 - Lipoaspiração sob a linha semilunar, bem próximo à derme profunda,
utilizando cânulas de 4mm com os orifícios virados para a derme.
Utiliza-se a mão contralateral para preensão e retirada adicional de
gordura, formando um sulco nestes locais.
No caso do paciente masculino, foram realizadas também 3 incisões na linha alba
supraumbilical, de 3mm cada, para lipoaspiração superficial subdérmica, sob as
interseções tendíneas do músculo reto abdominal, com cânulas de 3mm de diâmetro, até
formação de sulco nestes locais.
Em seguida, foi utilizada tintura de benjoim 20%, e tubos ocos de silicone,
maleáveis, de 7mm de diâmetro, posicionados sobre o contorno sinuoso das linhas
semilunares (Figura 3) e retilíneo da linha
alba supraumbilical, fixados verticalmente com micropore sobre toda a extensão
(Figura 4).
Figura 3 - Tubo oco de silicone, maleáveis, de 7mm de diâmetro, posicionados
sobre o contorno sinuoso da linha semilunar, para dar maior aderência da
pele à aponeurose.
Figura 3 - Tubo oco de silicone, maleáveis, de 7mm de diâmetro, posicionados
sobre o contorno sinuoso da linha semilunar, para dar maior aderência da
pele à aponeurose.
Figura 4 - Imagem do final dos curativos, com os tubos de silicone posicionados
sobre as linhas semilunares e alba, fixados com micropore
verticais.
Figura 4 - Imagem do final dos curativos, com os tubos de silicone posicionados
sobre as linhas semilunares e alba, fixados com micropore
verticais.
Estes tubos ocos de silicone foram mantidos fechados por 5 a 6 dias, quando foram
removidos e mantida a cinta modeladora por 30 dias.
Todos os pacientes fizeram drenagem linfática manual por um período de 30 dias,
iniciada em período variável de 3 a 6 dias.
O acompanhamento foi feito, com exame clínico e fotográfico, em 3 etapas, que
aconteceram com 4-6 dias, 3-4 semanas e 3 meses após a cirurgia.
RESULTADOS
A lipoaspiração superficial adicional das linhas alba e semilunar acrescentou um
tempo médio de 15 minutos para sua realização. Os curativos com tubos de silicone
descritos acrescentaram um tempo de 5 minutos para sua realização.
As marcas dos tubos de silicone apresentaram-se muito evidentes no primeiro retorno,
estando mais discretas no segundo retorno. Não foram observadas alterações de
coloração, isquemia ou dor maior pela técnica empregada. Não houve queixa de dor
maior pela técnica empregada.
Após 3 meses, os resultados foram considerados bons (Figuras 5 a 8) e não houve nenhum
caso de cútis marmorata, dermatite, seroma, infecção, irregularidade de
contorno ou necessidade de procedimentos adicionais.
Figura 5 - Pré-operatório de paciente feminina. 31 anos.
Figura 5 - Pré-operatório de paciente feminina. 31 anos.
Figura 6 - Pós-operatório de 3 meses de paciente feminina. 31 anos.
Figura 6 - Pós-operatório de 3 meses de paciente feminina. 31 anos.
Figura 7 - Pré-operatório de paciente masculino. 34 anos.
Figura 7 - Pré-operatório de paciente masculino. 34 anos.
Figura 8 - Pós-operatório de 3 meses de paciente masculino. 34 anos.
Figura 8 - Pós-operatório de 3 meses de paciente masculino. 34 anos.
DISCUSSÃO
Em 2012, um estudo clínico controlado, cego, randomizado7, comparando a lipoaspiração convencional com Vaser, concluiu
que há mais retração e menos perda sanguínea com o Vaser, mas sem alteração de
resultados em relação à dor, edema e resultados finais. Este trabalho é
contestado8 pela amostragem, metodologia,
conflito financeiro e viés comercial. Também é descrita a ocorrência de seromas,
queimaduras e edema prolongado, além da curva de aprendizado mais longa e
investimento maior para aquisição9,10.
A técnica preconizada neste estudo difere das anteriormente descritas por utilizar
tubos de silicone, material não descrito previamente para uso em curativo de
lipoaspiração. São cilindros ocos e finos (7mm de diâmetro), utilizados nos locais
programados, especialmente úteis na linha semilunar, pelo seu formato mais ondulado,
ajudando a pele a aderir diretamente no plano muscular, conferindo um aspecto que
realce a musculatura abdominal, com resultado final mais natural, além de evitar as
complicações possíveis com espumas, descritas previamente3-6.
Esta técnica descrita dispendeu um tempo cirúrgico adicional, um acréscimo
pequeno de tempo, especialmente se comparado com o uso do Reston®, a
lipoaspiração ultrassônica ou a laser, para obter um maior refinamento
abdominal.
Tem o diferencial de poder ser realizada por qualquer técnica convencional de
lipoaspiração, seja com seringa, aspirador ou vibrolipoaspiração, podendo ser
utilizada por qualquer cirurgião plástico habituado a fazer lipoaspiração na sua
prática, e que queira obter maior definição anatômica abdominal.
Observamos, ainda que de forma empírica, uma satisfação maior que com a técnica sem
alta definição realizada previamente, tanto pela equipe médica quanto pelos
pacientes.
Os casos deste estudo piloto continuam em acompanhamento, para posterior avaliação
de
longo prazo, com análise estatística.
CONCLUSÃO
Foi descrita técnica de lipoaspiração abdominal superficial, nas linhas
alba e semilunar, bem como das interseções tendíneas do músculo reto abdominal,
utilizando material convencional de lipoaspiração, associado a curativos com tubos
de silicone e cinta modeladora.
COLABORAÇÕES
RSG
|
Coleta de dados; conceitualização; concepção e desenho do estudo;
realização das operações e/ou experimentos; redação - preparação do
original.
|
CMM
|
Concepção e desenho do estudo; investigação.
|
NBR
|
Conceitualização.
|
EBG
|
Gerenciamento do projeto; supervisão.
|
HFCG
|
Gerenciamento do projeto; supervisão.
|
LMF
|
Gerenciamento do projeto; supervisão.
|
REFERÊNCIAS
1. Mentz HA 3rd, Gilliland MD, Patronella CK. Abdominal etching:
differential liposuction to detail abdominal musculature. Aesthetic Plast Surg.
1993;17(4):287-90.
2. Hoyos AE, Millard JA. VASER-assisted high-definition liposculpture.
Aesth Surg J. 2007;27(6):594-604.
3. Brandy DA. Reston Foam for the Reduction of Ecchymoses
Post-Liposuction. Am J Cosm Surg. 1990;7(2):87-91.
4. Fischer G. Liposculpture 4. Fundamentals of good liposculpture
technique. J Dermatol Surg Oncol. 1992;18(3):216-9.
5. Schlesinger SL, Kaczynski AJ. Use of Reston foam in liposuction.
Aesthetic Plast Surg. 1993;17(1):49-51.
6. Klein J. Miscellaneous complications. In: Klein J, ed. Tumescent
technique. St. Louis: Mosby; 2000. p. 46-7.
7. Nagy MW, Vanek PF Jr. A multicenter, prospective, randomized,
single-blind, controlled clinical trial comparing VASER-assisted Lipoplasty and
suction-assisted Lipoplasty. Plast Reconstr Surg.
2012;129(4):681e-9e.
8. Swanson E. Improved skin contraction after VASER-assisted
lipoplasty: is it a change we can believe in? Plast Reconstr Surg.
2012;130(5):754e-6e.
9. Jewell ML, Fodor PB, de Souza Pinto EB, Al Shammari MA. Clinical
application of VASER--assisted lipoplasty: a pilot clinical study. Aesthet Surg
J. 2002;22(2):131-46.
10. de Souza Pinto EB, Abdala PC, Maciel CM, dos Santos Fde P, de Souza
RP. Liposuction and VASER. Clin Plast Surg. 2006;33(1):107-15.
1. Escola Paulista de Medicina, Universidade
Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
2. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC, Brasil.
3. Hospital Universitário, Florianópolis, SC,
Brasil.
Autor correspondente: Rogerio Schützler Gomes, Av. Trompowsky, nº
291 sala 303, Torre 1 - Centro - Florianópolis, SC, Brasil, CEP 88015-300.
E-mail: plasticarogerio@gmail.com
Artigo submetido: 23/10/2018.
Artigo aceito: 11/11/2018.
Conflitos de interesse: não há.