INTRODUÇÃO
É fato que a medicina mudou pela competição acirrada, controle do negócio nas mãos
de
terceiros (operadoras de planos de saúde) e pelo grau de expectativa que o paciente
tem1.
O paciente, cada vez mais, acredita que está bem informado e é exigente, gerando,
muitas vezes, uma falsa consciência de que sabe o que pode obter como resultado em
uma cirurgia estética1,2.
Os cuidados pré-operatórios devem considerar o estado interno do paciente, a sua
fisiologia e a sua linguagem.
Erra o médico que, por desconhecimento ou por arrogância, acha que sabe o que o
paciente quer.
Toda decisão de um cliente é baseada numa análise de valor, seja ela consciente ou
inconsciente.
Todos buscam decidir pelo produto ou serviço que tenha sempre um maior valor
agregado2.
Cada pessoa tem sua própria escala de valores e critérios.
O valor estatístico é relativo para o cliente, pois o seu problema e a sua
necessidade são únicos para ele3.
As decepções podem ser subjetivas, inerentes à natureza humana, em permanente
oscilação do objeto e a consequente sensação da falta3.
O que o paciente, por fim, deseja é ter a sua necessidade atendida.
A Programação Neurolinguística (PNL) é o estudo de como a linguagem tanto verbal
quanto não verbal afeta o nosso sistema nervoso e tem como objetivo eliciar a
excelência do ser humano4,5.
A PNL oferece entendimentos da estrutura da linguagem para dar pistas sobre como as
pessoas pensam e como esses padrões de pensamento, por sua vez, afetam o
comportamento6.
Rapport é um conceito do ramo da psicologia que significa uma técnica
usada para criar uma ligação de sintonia e empatia com outra pessoa. Esta palavra
tem origem no termo em francês rapporter, que significa “trazer de
volta”. Estabelecer um bom rapport é imprescindível4.
O cliente que se queixa muito, tido como difícil, quer se manter fiel ao médico3. Reclamações são oportunidades para retificar
o problema junto ao cliente, isto gera lealdade na proporção direta ao grau de
empenho em solucionar o problema1,3.
Por outro lado, enquanto clientes insatisfeitos podem não estar suficientemente
motivados para reclamar, a grande maioria está aborrecida o suficiente para
silenciosamente trocar de profissional na primeira oportunidade2,3.
Ironicamente, os problemas dos não reclamantes são, em geral, os de mais fácil
resolução2,3.
Facilitar a comunicação e dar chance de expressão são essenciais.
Em recente pesquisa, promovida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a
maior preocupação dos brasileiros em relação a uma cirurgia plástica (42%) é a de
não atingir o resultado esperado7.
A análise do resultado é muito subjetiva e, com frequência, o ponto de vista de um
bom resultado para o cirurgião diverge da expectativa do paciente.
OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho é verificar a utilização de uma fórmula, com o uso
da
Programação Neurolinguística, na satisfação e na determinação da expectativa do
paciente e os resultados obtidos após a sua utilização.
MÉTODOS
Os professores de marketing, de origem indiana e radicados nos Estados
Unidos da América, Milind Lele & Jagdish N Sheth8, publicaram uma equação para verificar a satisfação dos clientes:
Satisfação = Desempenho percebido (P) / Expectativa (E)1,8.
Se a percepção do resultado da cirurgia for igual à expectativa do paciente, ele
ficará normalmente satisfeito (P=E).
Quando o resultado percebido ultrapassa a expectativa, o paciente ficará encantado
e
não hesitará em indicar o seu cirurgião para amigos e familiares (P>E).
Por outro lado, se o resultado da cirurgia for inferior à sua expectativa, ele ficará
desencantado e frustrado, e é quando as portas para os problemas se abrem (P<
E).
Se a expectativa é muito alta, será muito difícil satisfazê-lo.
A baixa expectativa só existe em situações de subsistência ou total impossibilidade
de escolha1.
Para manter a satisfação do consumidor, a relação entre o desempenho e a expectativa
deve ser cuidadosamente observada.
Verificou-se que clientes estavam dispostos a pagar mais por produtos que os
deixariam mais felizes2.
O grande desafio é diagnosticar qual é a expectativa do paciente e fazê-lo entender,
inequivocamente, os limites dos resultados, gerando uma expectativa realista sobre
o
que uma cirurgia pode oferecer .
As fotografias pré-operatórias e os termos de consentimento informado são
imprescindíveis, mas apesar de darem alguma proteção jurídica, não garantem a
satisfação do paciente.
O paciente nem sempre dá uma atenção de qualidade, apesar do aparente entendimento
do
que foi explicado.
Utilizando técnicas da PNL, podemos fazer perguntas e observar as reações que podem
assegurar que o que foi explicado, foi entendido na íntegra4,5.
Após as explicações sobre os procedimentos médicos, devemos dizer que é muito
importante que ele diga se entendeu o que foi explicado.
Fazer o paciente repetir o que foi explicado é eficiente, mas pode causar conflito,
pois pode parecer que estamos duvidando da sua capacidade intelectual.
Existem técnicas em PNL, dentre elas, a chamada “resultados experimentais
antecipados”, que se prestam bem nesses casos. Solicitamos ao paciente que se
imagine após a cirurgia e pedimos que ele descreva como ele se vê e o que isso lhe
proporcionaria. Isso é um caminho para estabelecer crenças da experiência que se
deseja no futuro4.
Pergunte, também, se há alguma parte dele que seja contra a mudança, de forma plena
e
total. Isso ajuda a verificar se existem crenças limitantes, sejam de natureza
religiosa ou não, como, por exemplo: “Deus me fez assim e tenho que aceitar este
fato”4,5.
A utilização de metáforas, como contando uma história de um paciente com quadro
parecido e que gerou um resultado positivo, porém realista, pode ser de grande valia
para se criar uma situação de resultado não fantasioso4.
Pode-se perguntar: “O que te impediu de fazer essa mudança no
passado?”4.
Os “Movimentos Corporais Correspondentes a Representações Internas” (M.C.R.Is.) são
particularmente úteis.
Se o olhar do paciente se direciona para cima, ele está construindo ou se lembrando,
caso olhe para baixo, pode representar que ele está em diálogo interno, onde pode
haver conflitos. Neste caso, explicamos novamente as informações importantes ou
marcamos um retorno, com um familiar que possa compartilhar que as explicações foram
claramente oferecidas e compreendidas4,5 (Figura 1).
Figura 1 - A: Imagens visuais construídas; B: Imagens
visuais lembradas; C: Sons construídos; D:
Sons lembrados; E: Cinestésico: sentimentos e sensações
corporais; F: Auditivo digital: diálogo interno.
Figura 1 - A: Imagens visuais construídas; B: Imagens
visuais lembradas; C: Sons construídos; D:
Sons lembrados; E: Cinestésico: sentimentos e sensações
corporais; F: Auditivo digital: diálogo interno.
De acordo com a posição que os olhos se direcionam, pode-se intuir como estão os
sistemas representativos do paciente, no momento da consulta, se mais visuais,
auditivos ou cinestésicos (os que centram as suas experiências nas demonstrações
físicas, como o tato).
Pacientes com distúrbios psiquiátricos, como a dismorfofobia corporal ou os que
tenham alguma alteração que, no fundo, não querem que se resolvam, porque geram
atenção, carinho e cuidado dos familiares, chamada de “ganho emocional secundário”,
também precisam ser diagnosticados nas consultas pré-operatórias. Esses pacientes
necessitam de atenção de um profissional na área de psiquiatria ou psicologia, pois
não respondem coerentemente às questões normais9.
RESULTADOS
Temos utilizado PNL há cinco anos e verificamos uma evolução favorável no número de
pacientes operados, comparativamente aos cinco anos anteriores. A média de
crescimento anual nos cinco anos anteriores (30 de novembro de 2007 a 30 de novembro
de 2012) era de 5% e a média anual verificada após a introdução da metodologia
apresentada (1 de dezembro de 2012 a 1 de dezembro de 2017) aumentou para 10%.
Nosso índice de refazimento e complementações cirúrgicos reduziu de 20% para 10%,
respectivamente, nos períodos avaliados.
Muitos médicos já têm uma abordagem eficiente baseada em experiência pessoal,
intuição ou que foi aprendida nos serviços de formação de residentes. Em analogia
ao
marketing digital, pode-se definir a taxa de conversão pela
porcentagem de pacientes que após uma consulta inicial realizou a cirurgia.
O crescimento da taxa de conversão justificaria o aumento significante no número de
cirurgias realizadas.
Tsimtsiou et al.10 , em 2017, desenvolveram
uma pesquisa utilizando conhecimentos não técnicos, entre eles a PNL, com
dermatologistas, e observaram uma resposta positiva na condução de pacientes
difíceis, um uso mais consciente da comunicação não verbal e uma melhora na
investigação das doenças através dos olhos dos pacientes.
O uso da PNL, entre os psicanalistas, não tem, ainda, um consenso, inclusive pela
dificuldade na análise subjetiva de resultados.
Witkowski11, em 2010, selecionou artigos prós
e contra a PNL e constatou 54,5% de artigos científicos não apoiando, 18,2% apoiando
e 27,3% com resultados incertos, quanto ao seu uso.
CONCLUSÃO
O uso da Programação Neurolinguística nos ajudou a entender a expectativa, de maneira
mais consistente, nos períodos analisados, aumentando significantemente o número de
pacientes operados e reduziu o índice de refazimento e de complementações de
cirurgias em nossa experiência.
Apesar dos resultados amplamente favoráveis, uma avaliação por um período de tempo
mais longo e com um maior número de pacientes ainda se faz necessária.
COLABORAÇÕES
MTRC
|
Análise e/ou interpretação dos dados; análise estatística; aprovação
final do manuscrito; coleta de dados; concepção e desenho do estudo;
gerenciamento do projeto; metodologia; realização das operações e/ou
experimentos; redação - preparação do original; redação - revisão e
edição.
|
DU
|
Análise e/ou interpretação dos dados; aprovação final do manuscrito;
supervisão.
|
REFERÊNCIAS
1. Souza A, Almeida S. Um doutor atendimento: como ser um médico de
sucesso praticando um fantástico atendimento ao paciente-cliente. Salvador: Casa
da Qualidade; 2005.
2. Almeida S. Cliente, Eu Não Vivo Sem Você: o que você não pode deixar
de saber sobre a qualidade em serviços e clientes. Salvador: Casa da Qualidade;
1995.
3. Zülzke ML. Abrindo a empresa para o consumidor: a importância de um
canal de atendimento. Rio de Janeiro: Qualitymark; 1997.
4. Robbins A. Poder sem limites: o caminho do sucesso pessoal pela
programação neurolinguística. Rio de Janeiro: Editora Best Seller;
2017.
5. O'Connor J. Manual de programação neurolinguística: PNL: um guia
prático para alcançar os resultados que você quer. Rio de Janeiro: Qualitymark;
2016.
6. Burton K. Coaching com PNL para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books;
2012.
7. Insight Assessoria e Pesquisa/SBCP Mercado de trabalho. Plastiko's.
2017;210:46-9.
8. Lele MM, Sheth JN. The Costumer Is Key: Gaining an Unbeatable
Advantage Through Costumer Satisfaction. New York: Wiley; 1991.
9. Scherer JN, Ornell F, Narvaez JCM, Nunes RC. Transtornos
psiquiátricos na medicina estética: a importância do reconhecimento de sinais e
sintomas. Rev Bras Cir Plast. 2017;32(4):586-93.
10. Tsimtsiou Z, Stavropoulou C, Papastefanou N, Lionis C. Enhancing
clinical communication in dermatologists: a personalized educational
intervention. J Dermatolog Treat. 2017;28(7):647-51.
11. Witkovski T. Third-Five Years of Research on Neuro-Linguistic
Programming. NPL Research Data Base. State of the Art or Pseudoscientific
Decoration? Pol Psychol Bull. 2010;41(2):58-66.
1. La Clinique Cirurgia Plástica, Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil.
2. Instituto Nacional de Excelência Humana,
Consultoria de desenvolvimento humano, Uberaba, MG, Brasil.
Autor correspondente: Marco Tulio Rodrigues da Cunha, Avenida
Santos Dumont, 2312 - Uberaba, MG, Brasil, CEP 30850-400. E-mail:
cunhamarco@hotmail.com
Artigo submetido: 11/6/2018.
Artigo aceito: 11/11/2018.
Conflitos de interesse: não há.