INTRODUÇÃO
A demanda por cirurgia plástica tem aumentado progressivamente, devido a novas
técnicas cirúrgicas e maior aceitação social. A lipoaspiração, procedimento
cirúrgico com mais de 30 anos, desde sua sistematização por Fournier, Illouz e
outros1, é o segundo procedimento mais
realizado no Brasil, totalizando um número de 209.165 procedimentos no Brasil e
257.334 nos Estados Unidos em 20162.
Inicialmente, o objetivo era tratar regiões específicas, mas, os avanços na
compreensão dos efeitos fisiológicos da lipoaspiração, melhores equipamentos,
melhoria nas técnicas, aumento da segurança no ambiente cirúrgico, e a experiência
ao longo dos anos levaram cirurgiões a remover rotineiramente grandes quantidades
de
tecido adiposo. Com isso, alterações hematológicas começaram a ser percebidas e
algumas adaptações foram necessárias.
Contudo, existe uma preocupação com a segurança do paciente, já que as pesquisas e
materiais publicados concentram-se mais nas técnicas e complicações da lipoaspiração
em lugar ao cuidados de segurança, o que envolve a atenção para as alterações
sanguíneas, metabólicas, e suas possíveis complicações.
A avaliação pré-operatória é a chave para a realização de um procedimento cirúrgico
seguro, e isso inclui desde o conhecimento anatomofisiológico minucioso, bem como
a
decisão sobre a técnica mais adequada para cada paciente3. Pacientes que serão submetidos à lipoaspiração devem ser
avaliados como qualquer outro paciente cirúrgico.
Uma avaliação pré-operatória completa, com atenção especial para identificar fatores
que possam predispor a complicações, visto que estudos observacionais indicam que
os
achados de exames laboratoriais pré-operatórios pertinentes (por exemplo,
hemoglobina, hematócrito, testes de coagulação) podem ser preditivos de perda
sanguínea perioperatória, risco de transfusão ou outros eventos adversos associados
à transfusão4.
Outro parâmetro de segurança importante a mencionar nas perdas sanguíneas durante
a
lipoaspiração é o volume do aspirado. A resolução do Conselho Federal de Medicina
do
Brasil determinou que os volumes aspirados não devem ultrapassar 7% do peso corporal
quando se usar a técnica infiltrativa; ou 5% quando se usar a técnica não
infiltrativa. A mesma normativa determinou ainda que a área total lipoaspirada não
deve ultrapassar 40% da área corporal, seja qual for a técnica usada5.
Em 2009, o comitê de segurança da American Society of Plastic
Surgery (ASPS)6 publicou um
artigo sobre recomendações de segurança, desenvolvida em uma revisão abrangente da
literatura científica baseada em evidências sobre a lipoaspiração. Foram definidas
recomendações sobre técnica, cânulas, soluções infiltrativas, tipo de anestesia,
seleção do paciente, volume do aspirado, reposição de líquidos entre outros, porém
a
maioria da literatura existente sobre segurança tem pouca ou nenhuma evidencia
sistemática.
Conhecemos que os fenômenos tromboembólicos, associação de cirurgia, infecções
(fasceíte necrotizante, perfurações, síndrome do choque toxico) e o local de
realização da cirurgia demostraram serem fatores de risco envolvidos na mortalidade
na lipoaspiração, e são complicações bem documentadas na literatura.
Não obstante, nosso enfoque é observar e reportar nossa experiência com as mudanças
hematológicas e a queda da hemoglobina ou apresentação de anemia no pós-operatório,
em pacientes submetidas à lipoaspiração isolada ou em associação com
abdominoplastia, tópico de importância, dado que provoca indiscutivelmente uma
dilação na recuperação do paciente, acarreta idas aos quartos de urgência, falhas
no
diagnóstico, esgotamento no cirurgião e nos pacientes, além de desentendimentos e
representa uma matéria de relevância em segurança do paciente.
OBJETIVO
Comparar e avaliar os níveis de hemoglobina, ferro sérico e proteínas totais no
período pré-operatório e pós-operatório mediato (7-10 dias), assim como seus
reflexos em pacientes submetidos à lipoaspiração como procedimento isolado ou
combinado com abdominoplastia.
MÉTODOS
Realizamos um estudo prospectivo, com pacientes submetidos à lipoaspiração isolada
e
lipoaspiração associada à dermolipectomia abdominal, por indicações estéticas. Foram
30 pacientes com idade entre 23 e 59 anos, sendo 27 do sexo feminino e 3 do sexo
masculino, no período 2017/2018. Todos os procedimentos foram executados pela mesma
equipe cirúrgica e anestésica na Clínica Núcleo de Cirurgia Plástica, em Belo
Horizonte-MG.
Os cuidados pré, peri e pós-operatórios foram uniformes em todos os casos, sendo as
avaliações feitas pelo cirurgião principal. Foram coletados dados demográficos,
peso, índice de massa corporal (IMC), níveis de hemoglobina, ferro sérico e
proteínas totais de todos os pacientes, no pré-operatório, e entre 7 a 10 dias de
pós-operatório. Os pacientes foram avaliados aos 7 dias e 10 dias do pós-operatório
como parte do controle pós cirúrgico e foram feitas anotações sobre a sua avaliação
clínica, e do estado hemodinâmico. Os exames laboratoriais foram feitos no mesmo
laboratório e tabulados em uma tabela.
Protocolo cirúrgico
Todas as cirurgias foram realizadas em uma clínica de cirurgia plástica
especializada (Núcleo de Cirurgia Plástica). Todos os pacientes receberam, leram
e assinaram com antecedência o termo livre e esclarecido, autorização para
fotografias e contrato de prestação de serviços. Todos foram submetidos à
anestesia peridural e sedação, antibioticoterapia profilática (cefalotina 2g) é
realizada durante a indução anestésica e replicada às 3h.
De modo geral, utilizamos uma técnica superúmida para a infiltração dos tecidos,
1 ampola de adrenalina (1:1000) para cada 500mL de soro fisiológico sem
lidocaína. Respeitando os limites de segurança de 0.07 mg/kg de adrenalina. Em
todos os casos foi realizada lipoaspiração clássica isolada ou associado a
outros procedimentos cirúrgicos.
Utilizamos compressão intermitente de membros inferiores para profilaxia ativa
contra trombose venosa profunda intraoperatoriamente, foram utilizadas soluções
pré-aquecidas (37ºC) na reposição de líquidos endovenosos. No pós-operatório
imediato, todos permaneceram internados, sob cuidados de reposição hídrica,
controle de pressão arterial, pulso, debito urinário (espontâneo), compressão
intermitente de membros inferiores e analgesia por via endovenosa ou oral, e
profilaxia farmacológica de trombose com enoxaparina 20mg SC no dia, e partir do
1 dia pós-operatório (DPO) enoxaparina 40mg SC.
Todos os pacientes foram liberados no dia seguinte, tendo cumprido com todas as
condições clínicas mencionadas na resolução CFM 1886/2008 (deambulação
espontânea, micção sem dificuldade, sensibilidade normal na região perineal após
bloqueio espinhal, acompanhante esclarecido, etc)7.
RESULTADOS
Trinta pacientes foram submetidos à lipoaspiração clássica em um período de 2016/2017
(Tabela 1). A idade média dos pacientes
foi 39,2 anos (variação: 23-57 anos), com predomínio de pacientes do sexo feminino
(n=25, 89%). O peso pré-operatório médio dos pacientes foi 72,18 kg (variação:
55-105 kg) e o IMC médio foi 27.03 kg/m2 (variação: 20.6-37.4
kg/m2), com 6 pacientes categorizados com Obesidade Grau I, e 1
paciente com Obesidade grau II. Os pacientes ainda continuam em acompanhamento, e
tem mantido a perda de peso após a cirurgia.
Tabela 1 - Resumo de dados.
PESO (KG) |
IMC |
Hbpré-operatório (g/dL) |
Hbpós-operatório (g/dl) |
Variação (g/dl) |
Ferro Sérico - pré-operatório (mcg/dl) |
Ferro sérico pós-operatório (mcg/dl) |
Variação (mcg/dl) |
73 |
28.5 |
13.4 |
11.2 |
2.2 |
111 |
41 |
70 |
70 |
26.7 |
13.8 |
10.4 |
3.4 |
89 |
28 |
61 |
105 |
33.5 |
16.2 |
14.7 |
1.5 |
89 |
52 |
37 |
58 |
22.9 |
13.7 |
9.4 |
4.3 |
179 |
62 |
117 |
61.7 |
22.4 |
13.6 |
9.8 |
3.8 |
84.6 |
35 |
49.6 |
62 |
23.1 |
13.2 |
10.4 |
2.8 |
69 |
62 |
7 |
62 |
25.5 |
13.1 |
8.8 |
4.3 |
84 |
41 |
43 |
70 |
25.1 |
11.8 |
9.7 |
2.1 |
182 |
94 |
88 |
69 |
27 |
13.4 |
9.4 |
4 |
72 |
65 |
7 |
74 |
25.3 |
12.4 |
8.8 |
3.6 |
131 |
52 |
79 |
57 |
21.5 |
11.3 |
8.9 |
2.4 |
100 |
41 |
59 |
77 |
27.9 |
16.4 |
10.4 |
6 |
86 |
64 |
22 |
74 |
27.9 |
12.9 |
11.5 |
1.4 |
86 |
57 |
29 |
70 |
28 |
12.2 |
8.7 |
3.5 |
49 |
35 |
14 |
86 |
30.1 |
14 |
12.6 |
1.4 |
111 |
65 |
46 |
73 |
31.2 |
13.6 |
11.3 |
2.3 |
87 |
42 |
45 |
55 |
22.9 |
11.3 |
7.8 |
3.5 |
115 |
68 |
47 |
81 |
34.6 |
13.1 |
9.1 |
4 |
47 |
47 |
0 |
63 |
23.4 |
12.5 |
10.6 |
1.9 |
66 |
64 |
2 |
95 |
31 |
18 |
14.9 |
3.1 |
129 |
61 |
68 |
56 |
20.6 |
14.1 |
10.1 |
4 |
102 |
88 |
14 |
99.4 |
37.4 |
13 |
9 |
4 |
138 |
90 |
48 |
62 |
24.2 |
15.3 |
12.5 |
2.8 |
205 |
83 |
122 |
67 |
26.2 |
13.4 |
13.1 |
0.3 |
88 |
83 |
5 |
65 |
25.4 |
14.6 |
12.8 |
1.8 |
82 |
69 |
13 |
69 |
27.6 |
12.6 |
9.7 |
2.9 |
113 |
33 |
80 |
83 |
30.5 |
14.1 |
10.8 |
3.3 |
94 |
58 |
36 |
84 |
26.5 |
14.1 |
11.1 |
3 |
117 |
69 |
48 |
64 |
25,5 |
14,1 |
10,4 |
3,7 |
85 |
50 |
35 |
74 |
33,2 |
14,8 |
11,8 |
3 |
135 |
71 |
64 |
Tabela 1 - Resumo de dados.
Todos os 30 pacientes foram submetidos à lipoaspiração clássica. Procedimentos
cirúrgicos adicionais foram realizado em 20 pacientes (66%), enquanto 10 pacientes
foram submetidos à lipoaspiração como procedimento único. Os procedimentos
adicionais incluem dermolipectomia abdominal e lipoenxertia glútea. Foram
administrados 2.500 ml de líquidos endovenosos em média. A duração média do
procedimento cirúrgico foi de 4 horas.
O volume do aspirado em todos os casos foi inferior a 7% do peso corporal e 40% da
área corporal total. Nenhum paciente apresentou complicações graves. 15 queixaram-se
de sintomas como tontura, dispneia, taquicardia, hipotensão ortostática, entretanto,
nenhum paciente precisou de receber transfusão sanguínea.
Todos nossos pacientes tinham valores pré-operatórios de hemoglobina acima > 12
g/dl, exceto 3 pacientes femininas, com valores entre 11,3 e 11,8g/dl.
A queda da hemoglobina foi entre 2 - 6g/dl, sendo a média de 3,01g/dl correspondendo
a 22,16% do hematócrito pré-operatório. Tivemos como valor mínimo uma hemoglobina
de
7,8g/dl no pós-operatório com 10 dias, enquanto o ferro sérico apresentou uma
redução entre 44𝜇g/dl e 122𝜇g/dl,
sendo a média de 45,15 𝜇g/dl significando 39,32%.
Duas (2) pacientes tinham valores de ferro sérico pré-operatório abaixo do limite
inferior do normal. Essas duas pacientes tiveram uma queda da hemoglobina de 3,5 e
4,0g/dl. As proteínas totais variaram entre 0,1 e 3,1g/dl, com média de 1,06g/dl,
representado variação média de 14,6g/dl.
DISCUSSÃO
Com o refinamento da técnica, a lipoaspiração tornou-se uns dos procedimentos
cirúrgicos mais realizados na Cirurgia Plástica. Olhando para as fases de evolução
das técnicas utilizadas na lipoaspiração desde que foi descrita em meados da década
de 1970, é evidente que o principal objetivo do refinamento técnico no procedimento
foi minimizar a perda de sangue durante o procedimento. O “método seco” inicial
usava anestesia geral sem injetar quaisquer soluções vasoconstritoras.
Este método foi abandonado em favor das técnicas de infiltração úmida, reduzindo a
perda sanguínea de um 20-45% a 15-30% nas técnicas úmidas8. O uso da técnica de infiltração superúmida
(Superwet) ou 1:1 tem sido recomendado pela maioria dos autores
como a mais adequada para uma lipoaspiração segura6.
Por definição, a técnica superúmida é aquela na qual 1-2ml de solução é infiltrada
para cada 1ml de aspirado, apresentando uma perda sanguínea de 1-2% do aspirado, e
a
técnica tumescente, descrita por Klein em 1985, que utiliza soro fisiológico,
epinefrina, bicarbonato de sódio e lidocaína, numa relação volume infiltrado: volume
aspirado igual ou maior que 2-3:1, com sangramento próximos de 1%.
Existem 3 variáveis maiores segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e
o
Conselho Federal de Medicina (SBCP/CFM) a serem analisadas para definir os limites
seguros da lipoaspiração: o volume do aspirado que não deve ser maior que 7% do peso
corporal; a composição do aspirado e a superfície corporal aspirada, pois quanto
mais extensa a área, maior será o dano; e não é recomendável aspirar mais do que
40%, associar os limites de cada item, aumentará o risco cirúrgico
consideravelmente9.
Em 2009, o comitê de segurança da American Society of Plastic
Surgery (ASPS), Evidence-Based Patient Safety Advisory:
Liposuction por Haeck et al.6
publicaram uma revisão abrangente da literatura cientifica baseadas em evidencias
em
lipoaspiração, sobre aspectos relevantes a respeito da segurança do paciente antes,
durante e após uma lipoaspiração.
A literatura de apoio foi avaliada criticamente para a qualidade do estudo. A maioria
das recomendações foram classificadas como Grau D; as notas correspondem aos níveis
de evidência fornecidos pela literatura de apoio para essa recomendação. Essa
revisão da literatura científica mostra que não há dados científicos disponíveis
para apoiar um volume específico máximo em que a lipoaspiração não é mais segura,
especialmente quando realizada em um ambiente hospitalar.
No entanto, o risco de complicações pode ser maior à medida que o volume de aspirado
e o número de locais anatômicos tratados aumentam.
Em nenhum de nossos pacientes foi sobrepassado o limite de volume aspirado nem a
superfície corporal aspirada máxima determinado pela SBCP e o CFM.
Cupello e a comissão de lipoaspiração da SBCP10 relataram que o número de óbitos em cirurgias combinadas é 4 vezes
maior que em cirurgias sem associação e complicações graves foram relatadas quando
lipoaspiração de grande volume é combinada com procedimentos como
abdominoplastia.
A restrição da lipoaspiração em combinação com vários procedimentos tem sido o tema
de muitos debates, principalmente porque o volume real de aspirado de lipoaspiração
que pode ser removido com segurança durante um procedimento combinado, ainda é
desconhecido.
A anemia pré-operatória é uma questão importante porque é o preditor mais forte de
transfusões de componentes sanguíneos, que carregam muitos riscos e provavelmente
aumenta a morbidade e mortalidade. Além disto, a anemia tem sido associada a efeitos
prejudiciais, independentemente do aumento do risco transmitido pela necessidade
crescente de transfusão11.
O valor prognóstico da anemia na cirurgia tem sido estudado em muitas populações,
incluindo cirurgia cardíaca e cirurgia não cardíaca. Esses estudos mostraram que a
anemia é um importante fator de risco para desfechos de curto e longo prazo na
população em geral.
Só 3 de nossos pacientes tinham anemia pré-operatória como definido pela Organização
Mundial de Saúde (OMS), que identifica anemia como limiares de hemoglobina de
12,0g/dl para crianças de 12,0 a 14,99 anos, e mulheres não gestantes ≥ 15,0 anos
e
13,0g/ dl para homens ≥ 15,0 anos12.
Como detalhado anteriormente, a perda de sangue na lipoaspiração é drasticamente
diminuída (1% do total de aspirado) quando as técnicas de infiltração superúmida ou
tumescente são empregadas. No entanto, isso não leva em conta o sangramento “oculto”
que ocorre nos tecidos, que não é “registrado”13.
Um grande número de variáveis afeta este dado, portanto, isto dificulta para o
cirurgião prever a exata perda sanguínea de um indivíduo. Existem fórmulas para o
cálculo das perdas sanguíneas, mas dependem de medidas pós-operatórias do
hematócrito e/ou hemoglobina, não se sabendo o momento mais adequado para coleta,
pois nas primeiras 24-72h existem alterações causadas pela hemodiluição e não se
sabe exatamente quando ela cessa; além do organismo estar produzindo novas hemácias
para reposição, podendo também interferir no resultado.
Em nossa amostra de 30 pacientes, observamos que as alterações nos níveis de
hemoglobina e ferro sérico tanto após a lipoaspiração de abdome, flancos e dorso
isolada como associada à abdominoplastia clássica, em ambos os sexos, foram
superiores ao que esperaríamos considerando os conhecimentos sobre o 1% de perda
sanguínea com a infiltração superúmida e seguindo as normas de volume aspirado e
superfície corporal tratada, e estas perdas sanguíneas apresentaram relação direta
com a sintomatologia clinica apresentada no pós operatório.
As alterações nos níveis de proteínas totais não se apresentaram importantes, visto
que em nenhum paciente ficou caracterizada uma hipoproteinemia pós-operatória
mantendo-se os níveis proteicos dentro dos limites da normalidade.
A indicação de transfusões é fundamentada nos resultados laboratoriais com a clínica
apresentada pelo paciente no pós-operatório. Utilizada somente em condições
excepcionais, não há indicação formal para seu uso profilático de rotina, mesmo como
autotransfusão ou normodiluição volêmica, com um volume máximo aspirado de 5% do
peso corporal, e uma lipoaspiração superúmida realizada, sem outras cirurgias
concomitantes.
Segundo os critérios de Carson & Kleinman14, com hemoglobina menor que 6g/dl a transfusão é sempre recomendada, e
com hemoglobina entre 6 - 7g/dl a transfusão geralmente é indicada. Nenhum de nossos
pacientes precisou de hemotransfusão.
Vinte (66%) dos pacientes foram submetidos a outros procedimentos em conjunto com
a
lipoaspiração, que é contrário às recomendações pela ASPS Advisory
de 2009.
Não tivemos complicações maiores.
CONCLUSÃO
Verificamos, nos casos estudados, que a redução no nível da hemoglobina foi
responsável pela sintomatologia clínica apresentada pelos pacientes. Isto nos
orientou a evitar os procedimentos estudados em pacientes com níveis de hemoglobina
inferiores a 12g/dl, sob pena da necessidade de hemotransfusão no
pós-operatório.
A reposição de ferro se mostrou necessária no pós-operatório imediato, para retorno
da hemoglobina aos padrões da normalidade e minimização dos sintomas clínicos
apresentados.
COLABORAÇÕES
RC
|
Análise e/ou interpretação dos dados; análise estatística; aprovação
final do manuscrito; coleta de dados; conceitualização; metodologia;
realização das operações e/ ou experimentos; redação - preparação do
original; redação - revisão e edição; supervisão; validação;
visualização.
|
NARS
|
Análise e/ou interpretação dos dados; análise estatística;
conceitualização; concepção e desenho do estudo; investigação;
realização das operações e/ou experimentos; redação - revisão e
edição.
|
BVBLC
|
Investigação; realização das operações e/ou experimentos; redação -
revisão e edição; supervisão
|
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Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/indications-and-hemoglobin-thresholds-for-red-blood-cell-transfusion-in-the-adult
1. STK Núcleo de Cirurgia Plástica, Belo
Horizonte, MG, Brasil.
Autor correspondente: Roney Campos, Avenida João César de Oliveira,
nº 1298, sala 605 - Eldorado - Contagem, MG, Brasil, CEP 32310-000. E-mail:
roneycampos66@hotmail.com
Artigo submetido: 18/4/2018.
Artigo aceito: 1/10/2018.
Conflitos de interesse: não há.