INTRODUÇÃO
A verdadeira história da cirurgia íntima iniciou-se após o primeiro curso
teórico-prático acontecido no Brasil de lipoescultura com seringa, ministrado
pelo o
pioneiro do revolucionário método, Pierre François Fournier1, precisamente em 1989, em Fortaleza/Ceará/Brasil. A primeira
paciente ao receber um enxerto de gordura autóloga em púbis (primeiro
lipofilling pubiano do mundo) foi submetida ao procedimento
logo após este curso, tendo sido realizado pela autora com sucesso em uma paciente
de 68 anos de idade.
Em virtude do bom resultado, a autora passou a estudar e pesquisar a região pubiana
feminina e masculina e, para sua surpresa, muitas afecções foram encontradas e
não
havia registros bibliográficos, apesar de exaustiva pesquisa realizada pela autora
no Brasil e pelo Dr. Fournier2 em Paris, na
França.
Apesar da cirurgia íntima ter avançado nos últimos dez anos, devido médicos
ginecologistas, obstetras, urologistas, além de cirurgiões plásticos Motura3, em 2009, Felicio4, em 2011, e Triana & Robledo5, em 2012, terem escrito sobre labioplastia, confirmando a importância
do referido assunto, ainda existe muito tabu, pois é um tema que não é conversado
entre mulheres, entre homens e tampouco entre médicos.
Coco Chanel, a eterna Dama da Moda, citou: “a aparência externa causa mudanças
internas, o cuidado pessoal ajuda a convocar segurança para ir em direção ao que
se
deseja”.
Aos quatro continentes do Planeta Terra a autora levou sua experiência, porém, até
os
dias de hoje, os colegas dificilmente discutem este assunto em plenário, buscam
a
autora nos corredores dos congressos médicos. Há necessidade de mais espaço em
nossos congressos para trocas de experiências a respeito de um assunto que ainda
é
desconhecido no nosso meio médico, precisamos de maior conhecimento, auxiliando
evitar tantas aberrações que têm surgido recentemente.
OBJETIVO
Divulgar métodos cirúrgicos e resultados por meio da Medicina de Evidência nas
correções de disformias da região dos órgãos sexuais externos, principalmente,
que
atormentam não somente o físico, mas também a alma. Evitar aberrações
cirúrgicas.
MÉTODO
A afecção mais encontrada mundialmente no que diz respeito a sua reconstrução por
meio da cirurgia íntima é a hipertrofia dos pequenos lábios, que deve ser
reconstruída através de incisão longitudinal em “S”, respeitando as linhas de
força
da pele regional, para se conseguir resultados naturais.
A segunda afecção registrada nos estudos de Felicio6 é a hipertrofia de prepúcio clitoridiano, que pode apresentar-se
isoladamente, e/ou associada à hipertrofia dos pequenos lábios, na grande maioria
dos casos. As incisões devem ser fusiformes, lateralmente ao clitóris, evitando
cortá-lo. Os excessos são retirados ao seu redor e não haver solução de continuidade
com os pequenos lábios.
A hipertrofia pubiana se corrige por meio da lipoescultura com seringa, podendo ser
associada ao lifting do púbis, quando necessário. Na hipotrofia de
púbis, sua correção é feita com lipofilling pubiano, não exceder
300cc de gordura autóloga para cada tempo cirúrgico. Se o desejo é mais, somente
realizá-lo após um ano, quando a cicatrização estará concluída.
Na hipertrofia dos grandes lábios, também seguir a anatomia original, realizar
incisão longitudinal em “S”, em cada grande lábio, a cicatriz resultante será
camuflada pelos pelos pubianos. No caso de hipotrofia de grandes lábios, lábios
murchos, o enxerto de gordura autóloga será a melhor indicação; jamais produtos
químicos, pois as complicações são de difíceis correções.
Não é raro a autora receber casos operados por outros profissionais com tais
complicações, até havendo caso sem solução de correção pela autora. Não implantar
mais que 50cc em cada grande lábio. Lembrar que os linfáticos desta região são
numerosos e se houver excesso de gordura implantada poderá haver edema crônico,
complicação que causa bastante desconforto, dor local e é de difícil correção.
O lifting de coxas deve ser realizado após a lipoescultura com
seringa de coxas e os excessos de pele devem ser retirados através de incisão
fusiforme que contorna a raiz da coxa e a cicatriz permanecerá na região inguinal,
escondida na prega da raiz da coxa. Suturas por planos com mononylon 3 e 4
zeros.
A faloplastia nos casos de correção de hipotrofia peniana requer enxerto de gordura
autóloga, não ultrapassar 100cc para cada tempo cirúrgico, lembrar que o aumento
será apenas na circunferência do pênis e não mais de 5cm. Poderá haver novo enxerto,
somente após um ano. O saco escrotal poderá receber implante de silicone gel,
como
também, sofrer um lifting, com retirada de excesso de pele e tecido
celular subcutâneo, com incisão vertical fusiforme, na rafe mediana escrotal.
A ginecomastia é tratada por lipoescultura com seringa e/ou associada à mamoplastia
redutora axilar que evita cicatriz na mama, permanecendo uma única cicatriz
escondida nas pregas axilares. Todos os procedimentos aqui citados podem ser
realizados sob anestesia local, peridural com sedação, com internação hospitalar
por
24 horas.
RESULTADOS
Durante o período de 1989 a 2014, 749 casos foram registrados incluindo afecções que
a autora7 escreveu em sua publicação de 1992,
na revista francesa La Revue de Chirurgie Esthétique de Langue Française que tais
afecções deveriam ser tratadas através de cirurgia íntima.
O número de casos em mulheres foi de 636 e no sexo masculino, de 113 casos. Afecções
tratadas e registradas: hipertrofia dos pequenos lábios: 386; hipertrofia de
prepúcio clitoridiano: 150; hipotrofia de pênis: 53; ginecomastia: 39; hipotrofia
de
grandes lábios: 39; hipertrofia de púbis feminino: 23; hipotrofia de púbis feminino:
21; ptose de braços feminino: 13; hipertrofia de púbis masculino: 9; atrofia de
tórax masculino: 5; ausência de pequeno lábio: 3; ausência de testículo: 2; sinéquia
de freio de pênis: 2; pequeno lábio extranumerário: 1; hemangioma de pênis: 1;
síndrome de Poland masculino: 1; Pectus escavatum masculino: 1.
Complicações: 1,98%. Um total de 15, sendo: pacientes não satisfeitas: 6; recidiva
de
hipertrofia de pequenos lábios: 3; hematoma do pequeno lábio: 2; alergia do fio
de
sutura, catgut (não mais usamos; atualmente: Vicryl 4 zeros): 2;
seroma do púbis feminino: 1; Deiscência da região inguinal feminina: 1.
DISCUSSÃO
Chama-se atenção por ainda haver poucas publicações não só locais, mas mundialmente
e
sempre existindo pouco espaço nos congressos de Cirurgia Plástica para que se
discuta o tema: cirurgia íntima. Paulatinamente, trabalhos científicos têm surgido,
havendo “ achismos” e “ lançamentos” de táticas cirúrgicas que devem ser revistas,
pois algumas das vezes desrespeitam princípios básicos da Cirurgia Plástica, como,
em casos de hipertrofia dos pequenos lábios, que é a afecção mais operada em todo
o
mundo.
Em um trabalho publicado em uma conceituada revista internacional de nossa
especialidade o autor mostra incisão horizontal nos pequenos lábios, contrariando
as
linhas de força da pele nesta região, bem como um colega cirurgião plástico
apresentou esta técnica em nosso congresso brasileiro, como sendo satisfatória.
Sabe-se que é básico: quando contrariamos as linhas de força da pele, a retração
cicatricial se instala severamente.
Alguns trabalhos não só publicados, como apresentados em congressos cortam os
pequenos lábios simétricos, contrariando a anatomia, que sempre um lado deve ser
maior que outro, talvez Deus com sua sapiência assim o fez para proteger o introito
vaginal.
A autora examinou mil genitálias externas femininas e, em todas elas, um pequeno
lábio se mostrou maior que outro, nenhum caso de simetria foi observado (obs.:
a
autora, em sua exaustiva pesquisa, jamais encontrou qualquer citação bibliográfica
quanto às diferenças de tamanho dos pequenos lábios, anterior a sua primeira
publicação de 1992).
Não é raro haver casos que a paciente passou a ter vaginites após submeter-se à
redução dos pequenos lábios e que permaneceram simétricos, sendo necessário algumas
vezes ou receber gordura autóloga em um só lado para tentar ocluir a vagina, bem
como, casos em que foi necessário confeccionar retalho dos grandes lábios
(experiência pessoal).
Na atualidade existe na Internet publicidade para aumento peniano, oferecendo
inúmeros procedimentos, inclusive implante de substâncias químicas, como a
bioplastia, procedimento altamente danoso, pois sabe-se de vários casos de necrose
peniana, como formação de fibroses, de nódulos, endurecimento, dor, desconforto.
A autora realizou um estudo em cadáver e comprova que existe pobre tecido celular
subcutâneo e gorduroso no pênis, que limita a quantidade de tecido a ser implantada,
mesmo tendo bastante tecido frouxo. O implante de tecido heterólogo ou substâncias
químicas deve ser evitado, pois a possibilidade de migração para os testículos
é
evidente, promovendo edema crônico, formação nodular, elefantíase, etc.
Alguns casos que chegaram nas mãos da autora não foi possível solucionar, sendo então
encaminhados para um Serviço de Urologia.
CONCLUSÃO
A cirurgia íntima surgiu para eliminar distorções morfológicas congênitas e
adquiridas que causam tamanho constrangimento em seus portadores. Técnicas clássicas
associadas a técnicas mais modernas como a lipoescultura com seringa, que
possibilitou solucionar vários problemas que antes seriam impossíveis, determinaram
um novo rumo. Um centímetro a mais na região dos órgãos genitais externos pode
causar consequências psicológicas pouco previsíveis.
Muito cuidado, pois a quantidade de tecido a ser ressecada ou mantida, bem como o
volume de tecido adiposo a ser aspirado ou injetado, faz com que tais procedimentos
estejam situados em limites estreitos de segurança.
Décadas de experiência possibilitaram publicar este trabalho descrevendo correções
cirúrgicas para solucionar afecções que formam o acervo da cirurgia íntima.
REFERÊNCIAS
1. Fournier FP. Liposculpture the syringe technique. 1st ed. Paris:
Arnette Blackwell; 1991.
2. Fournier FP. Liposculpture-Ma Technique. 2éme ed. Paris: Arnette
Blackwell; 1996.
3. Motura AA. Labia Majora hypertrophy. Aesthetic Plast Surg.
2009;33(6):859-63. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00266-008-9260-5
4. Felicio YA. Plástica do púbis e da genitália externa: duas décadas
de experiência. Rev Bras Cir Plást. 2011;26(2):321-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-51752011000200022
5. Triana L, Robledo AM. Refreshing labioplasty techniques for plastic
surgeons. Aesthetic Plast Surg. 2012;36(5):1078-86. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00266-012-9916-z
6. Felicio YA. Cirurgia íntima masculina e feminina, 25 anos de
evolução. Ebook [Internet]. Novas Edições Acadêmicas; 2015 [citado 2018 Maio
10]. Disponível em: https://www.morebooks.de/store/pt/book/cirurgia-%C3%ADntima-masculina-e-feminina,-25-anos-de-evolu%C3%A7%C3%A3o/isbn/978-613-0-15901-6
7. Felicio Y. Chirurgie intime. Rev Chir Esth Lang Franc.
1992;XVII(67):37-43
1. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE,
Brasil.
2. Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza,
Fortaleza, CE, Brasil.
3. Hospital Regional da Unimed, Fortaleza, CE,
Brasil.
4. Clínica Yhelda Felicio Cirurgia Plástica e
Reconstrutora, Fortaleza, CE, Brasil.
Endereço Autor: Yhelda de Alencar
Felicio
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Fortaleza, CE,
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