INTRODUÇÃO
A reconstrução do complexo areolopapilar (CAP) é uma etapa complementar nas
reconstruções mamárias. Ela poderá ser realizada em primeiro ou em segundo tempo,
a
depender do caso e do cirurgião. As técnicas e táticas procuram aproximar o
resultado à aparência do CAP original da mama oposta, principalmente com relação
à
projeção da papila e a coloração da aréola.
Em 1946, Berson1 foi o primeiro a descrever um
retalho local para a reconstrução do mamilo. Em 1977, Cronin et
al.2 descreveram a reconstrução
da papila com enxerto de pele areolar remanescente. No mesmo ano, Brent &
Bostwick3 reconstruíram a papila com um
enxerto composto de pele e cartilagem auricular, com o propósito de projetar a
papila e manter sua naturalidade. O primeiro caso de reconstrução da papila mamária
com retalho local foi descrito por Little et al.4,5 usando um retalho local com um formato quadrangular.
Thomas et al.6, em 1996,
publicaram um novo desenho para a papila. No ano seguinte, ele descreveu outra
técnica, que chamou de “skate flap”. Para manter a projeção da
papila a longo prazo, foi tentado um implante de um pequeno disco de silicone
para
simular a projeção do cone papilar, descrito por Jankau et al7., em 2011. Ramos8et al., em 2016, apresentaram um levantamento dos
retalhos locais mais usados par a reconstrução da papila.
Quanto aos desenhos dos retalhos para a confecção da neopapila, são descritos: C-V,
medalhão, retalhos com pedículo superior e inferior. Baseado nas técnicas já
descritas, surgiu a ideia de utilizar, quando possível, a pele e gordura do retalho
triangular de pedículo superior, compreendido entre os pontos “B A, C” (Figura 1) na marcação pela técnica de
Ariê-Pitanguy, para a confecção do cone papilar. Esta técnica de fácil execução,
utiliza a pele e a gordura excedente o que facilitou a confecção do cone da
neopapila.
Figura 1 - Marcação pela técnica de Ariê-Pitanguy com CAP fora do triângulo B A
C.
Figura 1 - Marcação pela técnica de Ariê-Pitanguy com CAP fora do triângulo B A
C.
OBJETIVO
Reconstrução primária da papila mamária nos casos de adenomastectomias e
gigantomastias.
MÉTODO
Estudo primário, prospectivo, descritivo de intervenção. A casuística foi de
conveniência, os pacientes foram alocados no ambulatório de cirurgia plástica
do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife,
PE, e
clínica privada do autor. Foram operadas 68 pacientes no período de março de 2012
a
junho de 2018, todas do gênero feminino, sendo 22 casos de adenomastectomia devido
à
presença de lesão, maligna ou não; e 46 casos de gigantomastias operadas pela
técnica de Torek modificada.
Os casos descritos são de portadoras de lesão unilateral, maligna ou não, em que não
houve preservação do CAP ou de grandes hipertrofias mamárias cujo o CAP estava
fora
do triângulo “ B, A, C” da marcação de Ariê-Pitanguy (Figuras 1, 2A e B), mas houve preservação da pele da aréola. No
caso de gigantomastia a mama é dividida transversalmente em duas porções, superior
e
inferior (Figura 2C e D). Todo segmento inferior é ressecado e o superior preservado
para modelagem da neomama.
Figura 2 - A, B, C e D: Marcação pela técnica de Torek
modificada.
Figura 2 - A, B, C e D: Marcação pela técnica de Torek
modificada.
Nos casos em que há presença de lesão no quadrante superior, a área comprometida é
ressecada (Figura 3A, B e C) e o conteúdo
restante é utilizado para modelagem, com ou sem implante de silicone. Toda pele
e
tecido celular subcutâneo (TCSC) do terço superior do triângulo “ B, A, C” é
preservada para confecção do cone papilar. Com incisões parciais nas laterais
do
triângulo, é confeccionado um retalho de pedículo superior (Figura 4A e 4B), que em
seguida sofre uma rotação de 360º, englobando o máximo de tecido para aumentar
tamanho e volume e melhorar a sustentação do “cone papilar” (Figura 4C e D).
Figura 3 - A, B e C: Mastectomia com esvaziamento
axilar DIR; D, E e F: Reconstrução mamária com
implante de silicone e confecção da neo papila.
Figura 3 - A, B e C: Mastectomia com esvaziamento
axilar DIR; D, E e F: Reconstrução mamária com
implante de silicone e confecção da neo papila.
Figura 4 - A, B, C e D: Confecção do cone papilar com
enxertia da pele areolar.
Figura 4 - A, B, C e D: Confecção do cone papilar com
enxertia da pele areolar.
Esse cone deve ter sempre o dobro do tamanho e do volume normal da papila, a fim de
compensar a grande hipotrofia que ocorre nos primeiros meses (Figura 5B, C e D). Pequenos excessos da pele devem ser
ressecados. Nos casos em que há preservação da pele das aréolas, as mesmas são
enxertadas (Figura 5E e F). Porém, nos casos em que a localização tumoral é retro ou
periareolar, cujo CAP faz parte da peça cirúrgica (Figura 3C), a aréola será tatuada em um segundo tempo.
Figura 5 - A, B, C, D e F: Reconstrução da MD e
simetrização da ME com reconstrução do CAP.
Figura 5 - A, B, C, D e F: Reconstrução da MD e
simetrização da ME com reconstrução do CAP.
RESULTADOS
Das 114 mamas operadas, 106 mantiveram o volume e a projeção da papila e 8 perderam
80% da projeção.
DISCUSSÃO
O CAP é composto por duas estruturas, o cone papilar e a aréola, considerado um
segmento estético da mulher, também uma área erógena e com função de amamentação.
Ao
longo dos anos, vários autores idealizaram os mais variados tipos de retalhos
locais
para a reconstrução da papila, que passamos a descrever (Figura 6).
Figura 6 - A, B, C e D: Técnicas de reconstrução do
CAP. A) Skate flap; B) Double Opposing
flap; C) Arrow flap; D) C-V.
Figura 6 - A, B, C e D: Técnicas de reconstrução do
CAP. A) Skate flap; B) Double Opposing
flap; C) Arrow flap; D) C-V.
Cronin et al2., no ano de
1977, publicaram um artigo compilado das técnicas de reconstrução mamária e papilar
existentes até então. Nesse trabalho, descreveram técnicas de reconstrução da
papila
tanto a partir do CAP contralateral, como também o uso pele dos pequenos lábios
para
enxertia areolar. No mesmo ano, Brent & Bostwick3 descreveram uma técnica de reconstrução do CAP utilizando cartilagem
auricular, para promover uma boa projeção, e enxertos de pele de pequenos
lábios.
Em 1983, Little et al.4
propuseram a reconstrução da papila com um retalho quadrangular, que consistia
em
uma desepitelização de quatro quadrantes do círculo areolar. Os quadrantes restantes
são utilizados para a formação da neopapila. No ano seguinte, o mesmo autor
descreveu um retalho que oferecia resultados previsíveis com bom controle da
projeção e do diâmetro da nova papila, chamado de “skate flap”
(Figura 6A).
Esta técnica utiliza dois retalhos laterais fechados entre si ao redor de um retalho
central mais profundo (responsável pelo volume da futura papila) e um enxerto
de
pele de área adequada na nova aréola. A largura dos retalhos laterais deve ser
o
triplo do diâmetro do círculo da papila contralateral ereta e, a altura, duas
vezes
esse diâmetro. Uma das técnicas mais difundidas é a do retalho C-V, descrita por
Brent & Bostwick3 em 1977, que utiliza um
retalho em “C” e dois retalhos em “V” para criar a neopapila. O primeiro retalho
determina o diâmetro e ápice do mamilo e os últimos determinam a projeção (Figura 6D).
Thomas et al.6 descreveram, em
1996, uma técnica conhecida como “arrow flap”, que consistia num
retalho em forma de flecha utilizado para a formação do “cone papilar” (Figura 6C). O comprimento do retalho utilizado
deve ser o necessário para formar a neopapila. Em 2005, Chen et
al.9 descreveram um retalho, que
chamaram em “medalhão” e realizavam a tatuagem da aréola em um segundo tempo.
A técnica requer duas abas trapezoidais e uma aba circular, que será responsável pelo
diâmetro e topo do novo mamilo. O comprimento do retalho é ligeiramente maior
do que
a circunferência do CAP desejado, e sua altura representa a altura do futuro mamilo.
A altura deveria ser levemente superior ao mamilo contralateral, para evitar perda
de projeção.
O “double opposing” é uma técnica descrita, no ano de 2007, por
Shestak e Nguyen, em que todas as cicatrizes da área doadora estão contidas na
topografia do novo CAP (Figura 6B). O retalho é
planejado com base na aréola oposta. O diâmetro do novo CAP deve ser 20 a 25%
maior
em relação ao contralateral para garantir simetria a longo prazo. A técnica é
finalizada com uma sutura em round-block. Jankau et
al.7, em 2011, propuseram a
utilização de uma haste de silicone visando melhor projeção papilar. O diâmetro
da
haste é fixo, enquanto a altura varia de acordo com o CAP contralateral ou a
preferência do paciente. Em 2012, Pita et al.10 apresentaram reconstrução da papila com retalho retangular
de pedículo superior.
CONCLUSÃO
A reconstrução primária da papila utilizando um retalho dermoadiposo de pedículo
superior demonstrou ser de fácil execução, mantendo a projeção do cone papilar
a
longo prazo. E, para reconstrução da aréola, dependendo do caso, é realizado enxerto
da pele areolar ou a pigmentação com tatuagem.
REFERÊNCIAS
1. Berson MI. Construction of pseudoareola. Surgery.
1946;20(6):808.
2. Cronin TD, Upton J, McDonough JM. Reconstruction of the breast after
mastectomy. Plast Reconstr Surg. 1977;59(1):1-14. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-197701000-00001
3. Brent B, Bostwick J. Nipple-areola reconstruction with auricular
tissues. Plast Reconstr Surg. 1977;60(3):353-61.
4. Little JW 3rd, Munasifi T, McCulloch DT. One-stage reconstruction of
a projecting nipple: the quadrapod flap. Plast Reconstr Surg. 1983;71(1):126-33.
DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-198301000-00029
5. Little JW 3rd. Nipple-areola reconstruction. Clin Plast Surg.
1984;11(2):351-64.
6. Thomas SV, Gellis MB, Pool R. Nipple reconstruction with a new local
tissue flap. Plast Reconstr Surg. 1996;97(5):1053-6. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-199604001-00027
7. Jankau J, Jaśkiewicz J, Ankiewicz A. A new method for using a
silicone rod for permanent nipple projection after breast reconstruction
procedures. Breast. 2011;20(2):124-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.breast.2010.10.001
8. Ramos FRM, Strassburger CP, Falcão M, Uebel CO. Nipple-areola
complex reconstruction: What we have today? Rev Bras Mastol.
2016;26(1):18-23.
9. Chen SG, Chiu TF, Su WF, Chou TD, Chen TM, Wang HJ. Nipple-areola
complex reconstruction using badge flap and intradermal tattooing. Br J Surg.
2005;92(4):435-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1002/bjs.4885
10. Pita PCC. Opção Técnica para Reconstrução do Complexo Aréolo-
Papilar. XXXXIX Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica. Porto Alegre; 2012.
p. 14-8.
1. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de
Pernambuco, Recife, PE, Brasil
2. Hospital Esperança, Recife, PE,
Brasil.
Endereço Autor: Pedro Celso de Castro
Pita
Praça Miguel de Cervantes, nº 60, sala 301, Ilha do Leite
Recife, PE, Brasil CEP 50070-520
E-mail: pedro.pitta@hotmail.com