INTRODUÇÃO
Pacientes portadores de lesões extensas e com importante perda de cobertura cutânea
do pé eram muitas vezes submetidos à amputação até 1981 quando se iniciaram em
Fortaleza as microcirurgias reparadoras. O maior conhecimento da anatomia e de
técnicas cirúrgicas avançadas possibilitou trabalho de mestrado publicado no ano
20011 propondo o uso do retalho livre de
músculo grande dorsal para a reconstrução do pé principalmente de sua região do
calcâneo para mudar essa realidade. Nesses quase 20 anos, novos avanços no cuidado
de tecidos e no manejo dos retalhos microcirúrgicos possibilitaram refinamentos
nestes, o que levou os autores a questionar quais são os retalhos mais utilizados
na
atualidade.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é revisar na literatura quais os retalhos microcirúrgicos
mais utilizados atualmente na cirurgia reparadora do pé e apresentar resultados
de
oito pacientes operados no ano de 2017.
MÉTODO
Foram selecionados oito casos de pacientes com lesão traumática do pé em região de
suporte de peso submetidos à reconstrução com retalho livre em hospital terciário
da
cidade de Fortaleza, Ceará no ano de 2017. Foram excluídos aqueles com lesões
de
outras regiões do pé e do membro inferior e os que não foram submetidos à
microcirurgia.
Além disso, foi realizada pesquisa bibliográfica selecionando 14 trabalhos sobre
retalhos livres para cirurgia reconstrutiva do pé nos últimos 6 anos no Periódicos
Capes. Trata-se de trabalho retrospectivo, observacional do tipo série de casos
e
com revisão de literatura sobre o tema.
RESULTADOS
Os oito pacientes eram do sexo masculino, vítimas de acidentes motociclísticos na
cidade de Fortaleza no período de março a dezembro de 2017. Sete pacientes sofreram
lesões no calcâneo e um teve lesão na região plantar medial. Todos foram submetidos
ao retalho livre fasciocutâneo do anterolateral da coxa e apenas um paciente
apresentou complicação que foi epidermólise de pele da região distal.
Esta complicação foi tratada com desbridamento e fechamento por segunda intenção,
não
levando a prejuízo no longo prazo. O período de acompanhamento dos pacientes foi
de
6 meses a 1 ano e neste período todos retornaram à deambulação. Em todos os
pacientes se procedeu à marcação pré-operatória, conforme a Figura 1, e se demonstra os seguintes registros fotográficos nos
Figuras 2, 3, 4 e 5.
Figura 1 - Marcação do retalho com identificação da perfurante.
Figura 1 - Marcação do retalho com identificação da perfurante.
Figura 2 - Demonstração de coxim adequado e sem sinais de úlcera de
pressão.
Figura 2 - Demonstração de coxim adequado e sem sinais de úlcera de
pressão.
Figura 3 - Detalhe da possibilidade de uso de calçados normais após
recuperação.
Figura 3 - Detalhe da possibilidade de uso de calçados normais após
recuperação.
Figura 4 - Detalhe da possibilidade de uso de calçados normais após
recuperação.
Figura 4 - Detalhe da possibilidade de uso de calçados normais após
recuperação.
Figura 5 - Cobertura de região médio plantar.
Figura 5 - Cobertura de região médio plantar.
Nos 14 artigos selecionados para revisão foram contabilizados 356 pacientes
submetidos à reconstrução do pé por microcirurgia2-15, sendo o
anterolateral da coxa o mais utilizado, perfazendo 55,61% dos retalhos, com 198
casos. O retalho de grande dorsal totalizou, somando-se os retalhos musculares
e os
quiméricos, 28 casos, ou 7,86% do total. Pode-se citar outros retalhos livres
com
proporções diversas, como o retalho sural livre, o retalho de músculo grácil,
o
retalho livre de médio plantar, o retalho de perfurante da epigástrica inferior
nenhum ultrapassando 10% de utilização.
DISCUSSÃO
A escolha pelo retalho adequado para a cirurgia deve considerar, dentre diversos
fatores, o tempo cirúrgico total, a capacidade de tolerar pressão na deambulação,
a
morbidade da zona doadora, a possibilidade de usar calçados e a necessidade de
refinamentos secundários1,2. Na literatura e na série observada no estudo,
o retalho anterolateral da coxa se mostrou versátil e com muitas vantagens dentre
as
citadas, visto que tem pouca morbidade para a zona doadora, pode promover cobertura
adequada e geralmente pode ter seu volume adequado à necessidade da zona receptora
permitindo o uso de calçados normais sem maiores adaptações ou refinamentos2,3,6,14.
Comparando o uso atual do anterolateral da coxa com o retalho livre de músculo grande
dorsal sugerido no trabalho de Pessoa1,
pode-se ver que preservar o retalho livre de músculo para reconstruções mais
complexas traz a vantagem de preservar um músculo, além de não exigir mudanças
de
decúbito e diminuir a necessidade de cirurgias secundárias para refinamentos2. Ainda assim, pela diversidade de retalhos
disponíveis e suas indicações, não se deve ver nenhum retalho como panaceia.
CONCLUSÃO
O tecido do calcâneo e do pé é de difícil recuperação, pois não há um substituto
totalmente adequado, o que acaba por exigir do cirurgião plástico constante formação
e preparo para reconstruções cada vez mais complexas e, nestas, os retalhos
microcirúrgicos são fortes aliados.
REFERÊNCIAS
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em reconstrução do pé - Preceitos e resultados [Dissertação de mestrado].
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1. Universidade Federal do Ceará, Hospital
Universitário Walter Cantídio, Fortaleza, CE, Brasil.
2. Instituto Dr. José Frota, Fortaleza, CE,
Brasil.
Endereço Autor: Lucas Machado Gomes de Pinho
Pessoa
Rua Maria Tomásia, nº 170, apto 1803
Fortaleza, Ceará, Brasil
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