INTRODUÇÃO
A mamoplastia de aumento por meio da abordagem transabdominal foi inicialmente
descrita por Hinderer, em 1975, num relato de caso1. A popularização da cirurgia plástica estética e o conceito de
“mommy makeover” resultou numa demanda de pacientes que desejam
procedimentos combinados2. Não é incomum na
clínica do cirurgião plástico pacientes que estão insatisfeitas com a aparência
do
seu abdômen como também com o tamanho e forma das mamas e, por esse motivo,
solicitam os procedimentos combinados3.
Em pacientes selecionados, a abordagem transabdominal para aumento mamário tem sido
usada com o propósito de diminuir incisões e maximizar resultados estéticos em
um
único procedimento4. Além do benefício de
evitar incisões mamárias e o estresse emocional associado com múltiplas recuperações
cirúrgicas, Planas5 descreveu que esta técnica
poderia ter vantagens, pois promove um plano de drenagem para seroma e
hematomas.
Isso, teoricamente poderia reduzir complicações associadas com uso de implantes
mamários, por exemplo, contratura capsular. A incidência relatada dessa complicação
pós-mamoplastia de aumento primária com implantes varia de 2 a 15% e é a primeira
ou
segunda causa de reoperação6.
A abdominoplastia é um procedimento cirúrgico com alta satisfação das pacientes,
apesar das complicações. Mesmo pacientes que vivenciam as complicações ficam
satisfeitas com os resultados e recomendariam a cirurgia7. Desde que os procedimentos combinados surgiram, muito esforço
tem sido feito para demonstrar a segurança e efetividade dessa abordagem e muitos
autores demonstraram que a combinação de abdominoplastia com cirurgia estética
mamária pode ser feita, é efetiva e não aumenta a incidência de eventos diversos,
pelo menos a curto prazo8.
Dito isso, o objetivo deste estudo é demonstrar os resultados, perfil de complicações
e segurança da mamoplastia de aumento transabdominal em pacientes com indicação
de
abdominoplastia e mamoplastia aumento em clínica privada.
OBJETIVO
Demonstrar os resultados obtidos com a mamoplastia de aumento pelo acesso
transabdominal em pacientes que foram submetidos à abdominoplastia em uma clínica
privada.
MÉTODO
Este é um estudo transversal, retrospectivo, em pacientes que realizaram procedimento
combinado (abdominoplastia e mamoplastia de aumento transabdominal com implantes)
entre 2008 e 2018 em cínica privada dos autores seniores (Z.A.V. e J.J.A.V.) Todos
os 152 pacientes analisados foram operados pelos cirurgiões supracitados.
Analisamos o perfil epidemiológico, resultados pós-operatórios e complicações. Todas
as cirurgias foram feitas sob anestesia geral. Aqueles que eram tabagistas foram
orientados a suspender o hábito 4 semanas antes da cirurgia. Aplicamos
antibioticoterapia profilática e profilaxia para eventos tromboembólicos com
enoxaparina subcutânea, mecanismos de compressão pneumática durante e após a
cirurgia e orientação de deambulação precoce.
RESULTADOS
A média de idade foi 36,13 anos (DP±8,62). A totalidade dos pacientes tinham
Índice de Massa Corporal (IMC) < 30 kg/m2.
Doze pacientes eram tabagistas, duas delas continuaram fumando apesar da
recomendação médica de suspender o tabagismo 4 semanas antes da cirurgia. Vinte
duas
pacientes tinham Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e 8 pacientes tinham diabetes
melitus tipo II, todas controladas com dieta e medicação. Todas as pacientes tinham
classificação da American Society ofAnesthesiologists (ASA) <
III.
Neste estudo, descrevemos somente as complicações maiores. Tivemos 3 pacientes com
algum grau de necrose do retalho abdominal; um paciente, que era tabagista e tinha
mutação da proteína S, teve necrose da linha de sutura da pele abdominal; outros
dois pacientes tiveram necrose superficial infraumbilical (um deles era
tabagista).
A totalidade das pacientes melhoraram com curativos e medidas conservadoras (não
cirúrgicas). Um paciente apresentou contratura capsular, requerendo reoperação
com
troca de implantes e capsulotomia (neste caso realizada por incisão em sulco
inframamário). Em uma paciente, o implante mamário girou mais de uma vez e
necessitou reposicionamento manual. Não tivemos hematomas ou eventos tromboembólicos
na nossa casuística.
Complicações menores, como seroma, infecção de ferida operatória, não foram incluídas
na nossa análise. Nenhuma paciente necessitou conversão transoperatória para outra
técnica por dificuldades técnicas. Acreditamos ter atingido bons resultados
estéticos em avaliação subjetiva dos autores e das pacientes na maioria dos casos.
As Figuras 1 a 4 representam casos de pré e pós-operatório. A Figura 5, a demonstração da colocação dos implantes pela incisão
da abdominoplastia.
Figura 1 - Pré e pós-operatório.
Figura 1 - Pré e pós-operatório.
Figura 2 - Pré e pós-operatório.
Figura 2 - Pré e pós-operatório.
Figura 3 - Pré e pós-operatório.
Figura 3 - Pré e pós-operatório.
Figura 4 - Pré e pós-operatório.
Figura 4 - Pré e pós-operatório.
Figura 5 - Demonstração da colocação de implantes mamários pela incisão da
abdominoplastia.
Figura 5 - Demonstração da colocação de implantes mamários pela incisão da
abdominoplastia.
DISCUSSÃO
Os resultados corroboram que esse procedimento combinado é seguro e efetivo,
minimizando incisões e cicatrizes, com baixa taxa de complicações maiores em
pacientes bem selecionados2,4. Uma série de casos publicada por Bhatt
et al.4, em 2017,
confirma isso. As candidatas ideais são mulheres saudáveis, com ptose mamária
mínima, que não desejam mais gestar e, obviamente, têm indicação cirúrgica de
mamoplastia de aumento e abdominoplastia.
Para minimizar complicações, acreditamos que a seleção apropriada das pacientes é
a
chave para o sucesso. Os procedimentos combinados deveriam ser repensados em
pacientes com sobrepeso, tabagistas ou diabetes não controlada. No estudo de Bhatt
et al.4, a incidência de
complicações maiores chegou a 7% e de complicações menores 21,9%.
As complicações da mamoplastia de aumento são menos comuns que as da abdominoplastia.
Como dito anteriormente por Planas5, parece
que a comunicação entre a loja do implante mamário e a área de dissecção da
abdominoplastia é um caminho de drenagem para seromas e hematomas. Isso
provavelmente reduz contratura capsular.
Em outra análise retrospectiva de 2006, Stevens et al.3 avaliaram 151 procedimentos combinados e
demonstraram que a combinação de mamoplastia de aumento com abdominoplastia não
aumenta significativamente a morbidade, comparado com pacientes que fazem esses
procedimentos individualmente, desde que a seleção apropriada seja respeitada,
com
avaliação pre operatória adequada e tempo cirúrgico limitado.
Além dos benefícios supracitados, o procedimento combinado permite o reposicionamento
do sulco inframamário por meio de suturas internas4 e evita a inconveniência, elevados custos e potenciais complicações de
múltiplas idas ao centro cirúrgico3. Quando
avaliada isoladamente, a incidência de contratura capsular após mamoplastia de
aumento com implantes varia de 2 a 15% e é a principal causa de reoperação depois
desse procedimento6.
Na nossa casuística, a incidência foi de 0,6%. Em relação à abdominoplastia, um
estudo de 2015 realizado por Massenburg et al.7 avaliou a incidência de complicações e readmissões precoces.
Das 2946 cirurgias, 19,5% tiveram complicações. As mais comuns foram: complicações
de ferida operatória (9,5%), pulmonares (2,3%), tromboembólicas (1,2%).
No nosso estudo, tivemos 3 eventos adversos de ferida operatória (necrose de pele),
resolvidos com medidas conservadoras. Não tivemos eventos tromboembólicos.
Acreditamos que isso se deva à meticulosa seleção de pacientes, uso de heparina
profilática, uso de mecanismos de compressão pneumática e orientação de deambulação
precoce.
Para corroborar, uma análise feita em 2015 por Khavanin et al.8 demonstrou que combinar abdominoplastia com
cirurgia estética mamária não aumenta as complicações, pelo menos a curto prazo.
Obviamente, todos os dados da literatura devem ser cuidadosamente avaliados, pois
não há ensaios clínicos randomizados sobre este assunto. Incluímos nosso estudo
nesse viés de delineamento, já que se trata de uma análise retrospectiva em um
único
centro médico.
CONCLUSÃO
Mamoplastia de aumento com implantes através da incisão da abdominoplastia é uma
cirurgia efetiva e segura, minimizando cicatrizes, com baixa incidência de
complicações em pacientes bem selecionadas e deve ser consideradas naquelas mulheres
que desejam e têm indicação de ambos procedimentos.
REFERÊNCIAS
1. Hinderer UT. The dermolipectomy approach for augmentation
mammaplasty. Clin Plast Surg. 1975;2(3):359-69.
2. Stevens WG, Repta R, Pacella SJ, Tenenbaum MJ, Cohen R, Vath SD, et
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3. Stevens WG, Cohen R, Vath SD, Stoker DA, Hirsch EM. Is it safe to
combine abdominoplasty with elective breast surgery? A review of 151 consecutive
cases. Plast Reconstr Surg. 2006;118(1):207-12. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.prs.0000220529.03298.42
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Reconstr Surg. 2017;140(3):476-87. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/PRS.0000000000003611
5. Planas J. Maximizing the use of the abdominoplasty incision. Plast
Reconstr Surg. 2004;113(1):411-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.PRS.0000091247.99823.04
6. Wan D, Rohrich RJ. Revisiting the Management of Capsular Contracture
in Breast Augmentation: A Systematic Review. Plast Reconstr Surg.
2016;137(3):826-41. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.prs.0000480095.23356.ae
7. Massenburg BB, Sanati-Mehrizy P, Jablonka EM, Taub PJ. Risk Factors
for Readmission and Adverse Outcomes in Abdominoplasty. Plast Reconstr Surg.
2015;136(5):968-77. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/PRS.0000000000001680
8. Khavanin N, Jordan SW, Vieira BL, Hume KM, Mlodinow AS, Simmons CJ,
et al. Combining abdominal and cosmetic breast surgery does not increase
short-term complication rates: a comparison of each individual procedure and
pretreatment risk stratification tool. Aesthet Surg J. 2015;35(8):999-1006. DOI:
http://dx.doi.org/10.1093/asj/sjv087
1. Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC, Brasil.
Endereço Autor: Zulmar Antonio Accioli de
Vasconcellos
Rua Barão do Batovi, 565 - Centro
Florianópolis, SC,
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