INTRODUÇÃO
A obesidade constitui uma epidemia globalizada no mundo atual, especialmente nas
nações ocidentais1.
Os pacientes obesos mórbidos submetidos à cirurgia bariátrica apresentam uma perda
que varia entre 40% e 60% do seu peso original2.
Após perda ponderal maciça, os pacientes apresentam distorções no contorno corporal
em decorrência de excesso cutâneo e sua flacidez. Cabe à cirurgia plástica tratar
essas deformidades3.
As principais deformidades são as seguintes: 1) grande excesso cutâneo vertical e
horizontal do abdome, com hérnias incisionais frequentes; 2) flacidez e atrofia
mamária; 3) flacidez das coxas; 4) flacidez dos braços; 5) flacidez cutânea do
dorso; 6) ptose das nádegas; 7) ptose do púbis4 (Figura 1).
Figura 1 - Pré e pós-operatório de abdominoplastia. A, B e
C: Pré-operatório; D, E e F:
Pós-operatório.
Figura 1 - Pré e pós-operatório de abdominoplastia. A, B e
C: Pré-operatório; D, E e F:
Pós-operatório.
A cirurgia reparadora de contorno corporal ajuda a promover a reintegração social
e
psicológica desses pacientes. Além disso, as operações plásticas reparadoras após
gastroplastia visam otimizar os resultados funcionais obtidos pela cirurgia
bariátrica, removendo o excesso de pele5.
OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo apresentar o perfil, as comorbidades, as complicações
pós-operatórias e melhoria na qualidade de vida de pacientes pós-bariátricos
submetidos a procedimentos em cirurgia plástica de contorno corporal.
MÉTODO
O estudo foi realizado por meio de uma revisão de literatura nas bases de dados
LILACS e SciELO, com as palavras-chave ‘’cirurgia plástica” e “pós-bariátrica”,
sendo gerados 40 artigos na LILACS e 16 na SciELO. Em seguida, foram selecionados
os
artigos com texto completos disponíveis em português, inglês e espanhol, restando
20
artigos na LILACS e 16 na SciELO, sendo 1 presente em ambas bases de dados.
Dos 35 artigos, foram selecionados os 5 artigos mais relevantes sobre o tema e que
tratavam da cirurgia plástica pós-bariátrica de maneira mais abrangente.
RESULTADOS
A maioria dos pacientes foram mulheres, com idade média aproximadamente de 41 anos,
casada e com grau de escolaridade de ensino fundamental ou médio (Tabela 1).
Tabela 1 - Perfil dos pacientes submetidos à cirurgia plástica
pós-bariátrica.
Variantes |
Rosa
et al., 2008
|
Orpheu
et al., 2009
|
Sexo |
|
Mulheres |
130 (93,53%) |
96 (97%) |
|
Homens |
9
(6,47%)
|
2
(3%)
|
Idade
Média
|
41,18
± 9,63 anos
|
40,5
anos
|
Escolaridade |
|
Sem estudo |
2,20% |
0 |
|
Fundamental |
34,50% |
50% |
|
Médio |
51,80% |
35% |
|
Superior |
11,50% |
11% |
Estado
civil
|
|
Casado(a) |
61,90% |
60% |
|
Solteiro(a) |
28,80% |
30% |
|
Divorciado(a) |
6,40% |
0% |
|
Viúvo(a) |
2,90% |
0% |
IMC
pré-operatório (kg/m2)
|
|
<25 |
23,10% |
16,33% |
|
25-30 |
52,50% |
56,12% |
|
>30 |
24,40% |
27,55% |
Tabela 1 - Perfil dos pacientes submetidos à cirurgia plástica
pós-bariátrica.
A maior parte dos pacientes se apresentava com sobrepeso antes do primeiro
procedimento de cirurgia plástica (Tabela 1).
Os pacientes apresentaram diversas comorbidades, sendo as principais
depressão/ansiedade e hipertensão arterial sistêmica (HAS) (Tabela 2).
Tabela 2 - Comorbidades.
Comorbidades |
Rosa
et al., 2018
|
Orpheu
et al., 2009
|
HAS* |
11,50% |
9% |
DM |
5% |
1% |
Artropia |
5,40% |
0 |
Sd. Metabólica |
4,30% |
0 |
Dislipidemia |
1,40% |
1% |
Depressão/ansiedade* |
28,10% |
8,50% |
Dispnéia do sono |
1,40% |
0 |
Esofagite |
2,90% |
0 |
Hipotireoidismo |
0,00% |
6,50% |
Asma |
0,00% |
3% |
A maioria foi submetida a 1 procedimento por tempo cirúrgico, sendo a abdominoplastia
o principal, seguida da mamoplastia (Tabela 3).
Tabela 3 - Procedimentos cirúrgicos.
Variantes |
Rosa
et al., 2018
|
Orpheu
et al., 2009
|
Quantidade de procedimentos |
1 procedimento |
52,50% |
52,04% |
2 procedimentos |
35,30% |
28,57% |
3 ou mais |
12,20% |
19,39% |
Tipos de procedimentos |
Abdominoplastias |
76,97% |
82,65% |
Mamoplastias |
50,35% |
26,53% |
Cruroplastias |
9,35% |
23,47% |
Branquioplastias |
13,67% |
21,43% |
Ritidoplastias |
17,27% |
2,04% |
Dorsoplastias |
0,00% |
4,08% |
Blefaroplastias |
0,00% |
1,02% |
Tabela 3 - Procedimentos cirúrgicos.
As principais complicações pós-operatórias foram as menores, sendo o seroma e a
deiscência as mais prevalentes (Tabela 4).
Tabela 4 - Complicações pós-operatórias.
Procedimentos |
Rosa
et al., 2018
|
Orpheu
et al, 2009
|
Deiscência sem ressecção |
5,03% |
18% |
Seroma (drenado por punção) |
5,03% |
28% |
Hematoma (drenagem espontânea) |
4,32% |
4% |
IFO com ATB VO |
2,88% |
0% |
Deiscência com ressecção |
3,60% |
5% |
Seroma re-operados |
2,15% |
0% |
IFO com ATB EV |
1,44% |
0% |
Tabela 4 - Complicações pós-operatórias.
Houve melhora na qualidade de vida após a cirurgia plástica de contorno corporal
(Tabela 5).
Tabela 5 - Qualidade de vida após a cirurgia plástica.
Classificação da qualidade de vida* |
(%) |
Muito pior |
0 |
Pior |
5,56% |
Mínima ou nenhuma mudança |
2,78% |
Melhor |
22,22% |
Muito melhor |
69,44% |
Tabela 5 - Qualidade de vida após a cirurgia plástica.
DISCUSSÃO
Os pacientes pós-bariátricos apresentam comorbidades que influenciam negativamente
os
resultados da cirurgia plástica de contorno corporal (Rosa et al.,
20185: HAS - 11,5% e Orpheu et
al., 20091: 9%).
Apesar disso, a taxa de complicações é aceitável, sendo as complicações menores as
mais frequentes (Rosa et al., 20185: deiscência - 5,03% e seroma - 5,03%; Orpheu et al.,
20091: deiscência - 18% e seroma -
28%).
Geralmente, é realizado apenas um procedimento em busca de diminuir o tempo
cirúrgico, sendo o mais frequente a abdominoplastia (Rosa et al.,
20185: 76,97% e Orpheu et
al., 20091: 82,65%).
Há uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes após a cirurgia de
contorno corporal, o que, juntamente com as taxas de complicação apresentadas,
justificam sua indicação (Rosa et al., 20185: Melhor - 22,22% e Muito melhor - 69,44%).
CONCLUSÃO
As cirurgias plásticas de contorno corporal visam melhorar a qualidade de vida dos
pacientes pós-bariátricos, devendo o cirurgião conhecer suas peculiaridades clínicas
e os riscos de complicações e como diminuí-los.
REFERÊNCIAS
1. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-42302009000400018&lng=en
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-42302009000400018
2. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0716864010705137?via%3Dihub https://doi.org/10.1016/S0716-8640(10)70513-7
3. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-51752012000300019&lng=pt
http://dx.doi.org/10.1590/S1983-51752012000300019
4. André FS. Cirurgia plástica após grande perda ponderal. Rev Bras Cir
Plást [Internet]. 2010 Jul/Set; [cited 2018 Jul 15];25(3):532-9. Available from:
http://www.rbcp.org.br/detalhe_artigo.asp?id=734
5. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-69912018000200155&lng=pt
http://dx.doi.org/10.1590/0100-6991e-20181613
1. Hospital Universitário Walter Cantídio,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São
Paulo, SP, Brasil.
Endereço Autor: Eudemara Fernandes de
Holanda
Rua Isaías Domingos Silveira, nº 149 - De Lourdes
Fortaleza, CE, Brasil CEP 60177-180
E-mail: eudemaraholanda@yahoo.com.br