INTRODUÇÃO
A cirurgia de aumento mamário tem sido um dos procedimentos de cirurgia plástica mais
comumente realizados em todo mundo. Segundo as estatísticas da American
Society of Plastic Surgeons, mais de 3 milhões de implantes foram
inseridos para o aumento primário nos Estados Unidos Estados desde 20051.
A inclusão de implantes de silicone para mamoplastia de aumento é um dos
procedimentos cirúrgicos mais realizados no Brasil e no mundo. Seu propósito é
aumentar o volume para que o paciente diminua sua insatisfação quanto à forma
e
aparência da mama2.
Nas últimas décadas, um grande número de estudos foram desenvolvidos para avaliar
a
segurança e eficácia do aumento cosmético da mama. Muitos destes trabalhos em
segurança têm se concentrado nas questões sobre morbidade do procedimento, incluindo
relatórios sobre a ruptura do implante, taxas de deiscência pós-operatória,
associações com doenças autoimunes e câncer3.
Existem múltiplos fatores que podem afetar os resultados de cirurgias com implante
mamário como: a seleção dos pacientes, eficácia na orientação do paciente, plano
para colocação do implante, local da incisão, escolha do implante, técnica cirúrgica
e cuidados pós-operatórios4. A ineficiência em
realizar qualquer das etapas no tratamento pode resultar em um aumento das taxas
de
complicações e reintervenções cirúrgicas5.
Na atualidade, as incisões para mamoplastia de aumento se tornaram menores para
melhorar os resultados estéticos, enquanto que, ao mesmo tempo, os volumes dos
implantes mamários aumentaram. A localização da incisão depende basicamente das
preferências individuais de cada cirurgião. Sabe-se que a posição da incisão é
um
fator determinante do grau de trauma tissular, exposição do implante às bactérias
endógenas, dano sensitivo potencial, visibilidade e hemostasia6.
Um dos grandes problemas em cirurgia com prótese mamária é o risco de extrusão via
cicatriz, visto que os implantes não podem ter contato com o meio externo após
sua
implantação. Caso exista contato do implante com o meio externo, este se encontra
sob risco de infecção. Dessa forma, a confecção de estratégias técnicas para
proteção dos implantes se torna necessária7.
Muitos autores referem à confecção de retalhos glandulares para proteção de implantes
em mastopexia, porém em próteses mamárias sem ptose não encontramos estratégias
deste tipo na literatura8-10. Independentemente da causa, as reoperações
resultam em risco adicional ao paciente. Representam um alto custo tanto para
a
paciente quanto para a prática cirúrgica e, mais importante, apresentam dificuldades
técnicas em relação ao procedimento inicial na obtenção de um resultado cirúrgico
ideal5.
Dessa forma, o planejamento de utilização de um retalho glandular para proteção da
incisão no sulco mamário torna-se um incremento importante neste procedimento,
com
intenção de reduzir o risco do efeito gravitacional do implante (peso) sobre a
incisão e, porventura, minimizar o risco de deiscência cutânea, exposição do
implante e posterior extrusão.
OBJETIVO
O objetivo desse estudo é avaliar a funcionalidade do retalho glandular do polo
inferior para proteção da exposição do implante de silicone nas pacientes que
realizaram cirurgias de mamoplastia de aumento via sulco inframamário em uma série
de casos.
MÉTODO
Trata-se de um estudo tipo prospectivo, realizado a partir da avaliação de 100
pacientes acompanhadas durante 24 meses após realização da cirurgia de mamoplastia
de aumento com confecção de retalho glandular, cuja incisão foi no sulco mamário.
Foram incluídas nesse estudo indivíduos do sexo feminino entre 18-40 anos de idade,
submetidas à mamoplastia de aumento, em hospital terciário privado, no período
de
janeiro 2016 a janeiro de 2018.
Todas utilizaram implantes redondos de perfil alto e super-alto texturizados. Foram
operadas sob anestesia geral, sendo realizada infiltração anestésica local antes
da
incisão cirúrgica composta por 10ml de anestésico lidocaína a 2% com adrenalina,
visando a vasoconstrição e analgesia. A incisão da pele foi realizada na região
submamária medindo entre 3,5 e 4,5cm de comprimento.
Não foram incluídas neste estudo pacientes portadoras de doenças crônicas não
controlada, doenças psiquiátricas, pacientes com cirurgia prévia de mama, pacientes
tabagistas ou ex-tabagistas há menos de um ano, pacientes com disfunção cognitiva
ou
doença psiquiátrica.
Foram excluídas deste estudo pacientes que não retornaram para avaliação
pós-operatória e aquelas que retiraram o termo de consentimento. Todas as pacientes
são provenientes de consultório privado e foram operadas pela mesma equipe cirúrgica
em Aracaju-SE.
Técnica Cirúrgica
Realizada incisão da pele foi através da via submamária (Figuras 1 e 2). Com
auxílio de dois ganchos de Guilles (Figura 3), foi realizada uma tração da margem superior da incisão. Realizado
descolamento inicial com bisturi elétrico no sentido cranial logo abaixo da
transição dermogordurosa por 2cm, com redirecionamento posterior, no sentido
perpendicular à parede torácica até a altura do músculo peitoral maior.
Figura 1 - Marcação do retalho.
Figura 1 - Marcação do retalho.
Figura 2 - Incisão no sulco mamário.
Figura 2 - Incisão no sulco mamário.
Figura 3 - Elevação do polo superior da incisao submamária para confecção do
retalho.
Figura 3 - Elevação do polo superior da incisao submamária para confecção do
retalho.
Tendo sido encontrado o plano subglandular, faz-se o descolamento no plano
desejado para inclusão do implante superiormente (subglandular, subfascial ou
submuscular); no sentido inferior faz-se o descolamento do tecido ao nível do
sulco mamário de modo a se obter um retalho pequeno, de cerca de 3cm de
comprimento e 4cm de largura, aproximadamente (Figura 4).
Figura 4 - Evidencia o retalho já confeccionado se interpondo entre o
implante e o meio externo.
Figura 4 - Evidencia o retalho já confeccionado se interpondo entre o
implante e o meio externo.
Após verificação rigorosa da hemostasia, procede-se à colocação dos implantes nos
sítios. Realiza-se a troca das luvas cirúrgicas e lavagem com soro fisiológico
e
secagem com compressas esterilizadas, antes da introdução de cada implante. Os
mesmos foram banhados em soro fisiológico e manipulados somente pelo cirurgião
até sua introdução através de manobras digitais.
Posteriormente, realiza-se o fechamento do plano do retalho glandular a cerca de
2 cm da linha cutânea da incisão. As suturas foram realizadas no plano mamário
com nylon 3-0, subcutâneo superficial também com nylon 3-0, subdérmico com nylon
4-0 e intradérmico com monocryl 5-0.
RESULTADOS
Fizeram parte deste estudo 100 pacientes com idades entre 18 e 40 anos. Estas foram
operadas com anestesia geral e tempo médio de cirurgia de 45min (30min a 70min).
Todas as cirurgias foram realizadas pela mesma equipe e as pacientes foram
acompanhadas de janeiro de 2015 a janeiro de 2018.
Destas, 8 pacientes (8%) apresentaram deiscência cutânea, que foi classificada como
completa quando ocorreu abertura total da cicatriz cutânea e incompleta quando
esta
abertura era parcial. Essa abertura ocorreu por: reação cutânea à fita cirúrgica
microporada em 3 pacientes, trauma local em outras 3 pacientes, 2 pacientes por
reação inflamatória ao fio de sutura.
Duas pacientes tiveram deiscência completa da cicatriz de 1 das mamas, com total
exposição do retalho glandular. Quatro pacientes tiveram deiscência cutânea parcial
(extensão incompleta da cicatriz) de 1 das mamas e 2 pacientes apresentaram
deiscência parcial das 2 cicatrizes (extensão incompleta da cicatriz, porém
acontecendo bilateralmente). Observou-se que à despeito da abertura cutânea, nenhuma
das pacientes apresentou exposição do implante mamário, numa mostra de que o retalho
conferiu proteção extra à prótese (Figura 5).
Figura 5 - Gráfico mostrando baixa incidência de deiscência cutânea. O gráfico
também evidencia que não houve deiscência do retalho.
Figura 5 - Gráfico mostrando baixa incidência de deiscência cutânea. O gráfico
também evidencia que não houve deiscência do retalho.
Todas as cicatrizes foram tratadas em consultório, sob anestesia local, com
desbridamento simples das margens da FO e posterior sutura com pontos simples
de
nylon 5-0.
DISCUSSÃO
A mastoplastia de aumento é um procedimento cirúrgico estabelecido e se constitui
na
primeira opção do tratamento das hipomastias11.
Com a evolução da técnica e da qualidade dos implantes de silicone, as taxas de
complicações desta cirurgia têm diminuído progressivamente, tornando-a mais segura.
Os riscos relacionados à colocação de implantes mamários se devem principalmente
ao
fato do procedimento se fundamentar na colocação de um material sintético dentro
do
organismo, em íntimo contato com estruturas orgânicas2.
A incisão para colocação de próteses mamárias produz cicatrizes que podem conduzir
a
alterações funcionais, cosméticas e psicológicas. O tecido da cicatriz é geralmente
diferente da pele saudável por cor aberrante, espessura aumentada, área de
superfície irregular e perda da elasticidade. As características da cicatriz
dependem do tamanho, da posição, da técnica de sutura e do tratamento da ferida,
bem
como da idade, raça, alimentação, morbidades associadas, uso de medicações e
predisposição genética12.
A incisão submamária permite acesso direto à loja onde será colocado o implante, sem
penetrar no parênquima mamário. Tem cerca de 4,0cm de extensão, é paralela ao
sulco
e localizada a cerca de 1cm acima deste. Dois terços de sua extensão são colocados
lateralmente ao eixo vertical da mama.
Trata-se de uma abordagem padrão, que não apresenta nenhuma limitação para qualquer
tipo de mama e deixa uma cicatriz muito bem aceita pela maioria das pacientes.
Oferece uma excelente exposição de todas as áreas de descolamento e para a confecção
do espaço retromamário ou retropeitoral. Por esta via, não se secciona ou se cria
nenhum traumatismo adicional a qualquer tecido, exceto pele e tecido subcutâneo.
Sua
principal crítica é referente ao seu aspecto estético13.
Uma das complicações observadas na cirurgia de implante mamário é a deiscência da
cicatriz cutânea, intercorrência que poderia facilmente ser conduzida de forma
clínica, não fosse o contato do implante com o meio externo. A exposição externa
da
prótese leva a um alto risco de contaminação e complicações como infecção e
contratura capsular a longo prazo, podendo levar à extrusão da mesma.
Em relação ao procedimento, a confecção de uma proteção adicional glandular não
aumentou de forma significativa o tempo cirúrgico nem levou à formação de
abaulamentos ou distorções no polo inferior da mama, o que faz do retalho uma
estratégia de segurança que não prejudica o resultado final, não interfere no
grau
de satisfação das pacientes nem aumenta de forma significativa o tempo
cirúrgico.
Não foi observada formação de hematomas ou infecção de ferida operatória. Também não
ocorreu exposição de nenhum dos implantes mamários, nem houve necessidade de
remoção, mostrando que se trata de uma manobra eficaz contra exposição externa
do
implante. Isto, na prática, traduz-se em menor risco de reinternação para remoção
e,
portanto, menos gastos hospitalares e menor risco de litígio por insatisfação
das
pacientes.
CONCLUSÃO
A estratégia de confeccionar um retalho glandular no polo inferior nas incisões de
cirurgias de mamoplastia de aumento oferece vantagens ao proporcionar maior proteção
à prótese na região do sulco mamário, por ser uma interface adicional entre o
implante e o meio externo. A execução desta tática não dificulta o ato cirúrgico
e
reduz o risco de extrusão de implantes.
REFERÊNCIAS
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1. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São
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2. Universidade Federal de Sergipe - Aracaju, SE,
Brasil.
3. Clínica Perfecta cirurgia plástica e
dermatologia, Aracaju, SE, Brasil.
4. American Society of Plastic
Surgery.
5. International Society of Aesthetic Plastic
Surgery.
Endereço Autor: Rosana Flora Ribeiro
Frempong
Avenida Ministro Geraldo Barreto Sobral, nº 2100, Salas
1502, 1503
Aracaju, SE, Brasil CEP 49026-010
E-mail: rosanafrempong@gmail.com