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Special Article - Year2015 - Volume30 - Issue 3

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2015RBCP0186

RESUMO

INTRODUÇÃO: O emprego de questionários de qualidade de vida (QV) tem se mostrado muito útil no sentido de dar maior objetividade à avaliação de resultados de tratamentos. A internacionalização desses instrumentos, por sua vez, permite a comparação interpopulacional, mas requer uma metodologia específica, a fim de não causar distorções devido a falhas na tradução ou a diferenças culturais. O questionário FOE (Facial Outcome Evaluation), de língua inglesa, é uma ferramenta de simples aplicação, com perguntas objetivas com boa aplicação para esse fim. O questionário já foi testado em relação à sua confiabilidade, validade e capacidade de resposta.
OBJETIVOS: Traduzir e adaptar culturalmente para o português brasileiro o questionário Facial Outcome Evaluation.
MÉTODOS: Realizada tradução e adaptação cultural para a língua portuguesa, segundo a metodologia proposta por Beaton et al., na qual existem 5 estágios. Estágio 1 - tradução por meio de dois tradutores nativos de língua portuguesa. Estágio 2 - confecção de versão de síntese. Estágio 3 - tradução reversa por dois tradutores nativos de língua inglesa. Estágio 4 - revisão por um comitê avaliador. Estágio 5 - aplicação a uma população de 20 pessoas.
RESULTADOS: O questionário foi traduzido e adaptado com sucesso, sem problemas de compreensão para a população final.

Palavras-chave: Face; Ritidoplastia; Avaliação de resultados; Questionários.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Quality of life questionnaires have been shown to be useful to confer greater objectivity to the evaluation of treatment outcomes. In turn, the internationalization of these instruments allows the comparison of different populations, although it requires a specific methodology to avoid misinterpretations due to translation errors or cultural differences. The Facial Outcome Evaluation (FOE) questionnaire, translated to English, is an instrument that is easy to apply and is based on objective questions; therefore, it is highly relevant for this purpose. The questionnaire has already been tested in relation to its reliability, validity, and responsiveness.
OBJECTIVES: To translate and culturally adapt to the Brazilian Portuguese version of the FOE questionnaire.
METHODS: The questionnaire was translated and culturally adapted to Portuguese, according to the methodology proposed by Beaton et al., based on the following 5 phases: phase 1, translation by two native Portuguese speakers; phase 2, generation of a synthetic version; phase 3, reverse translation by two native English speakers; phase 4, review by an evaluation committee; and phase 5, application to a population of 20 people.
RESULTS: The questionnaire was translated and successfully adapted, without comprehension problems in the final population.

Keywords: Face; Rhytidectomy; Outcomes Evaluation; Questionnaire.


INTRODUÇÃO

A busca de maior objetividade na avaliação de resultados de tratamentos é necessária para a melhora dos níveis de evidência, principalmente na cirurgia plástica, cujo fim maior é um parâmetro subjetivo, melhorar a qualidade de vida (QV)1.

Está claro na literatura que os mecanismos de mensuração objetiva de resultados em procedimentos cosméticos ainda estão na sua infância, mas apontam para a tendência da utilização de ferramentas de medidas de resultados reportados pelos próprios pacientes (PROM ou PRO) por meio de questionários, segundo Morley. Felizmente, já existem grandes avanços nessa área, com a publicação de diversos artigos propondo modelos de questionários2.

As ferramentas Breast-Q, Face-Q e Satisfaction with Facial Appearence Scale and Skindex, por exemplo, já passaram por rigoroso processo de validação, estão inteiramente de acordo com os requisitos de aceitação do departamento de controle de drogas norte-americano (FDA) e se destacam, juntamente com o Skindex, em relação aos demais PROMs, de acordo com Morley2.

Kosowski et al.3 encontraram 442 artigos de avaliação de resultados em procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não cirúrgicos. Dentre esses, 47 eram específicos para a aparência facial, mas apenas 9 satisfizeram os critérios de inclusão e de exclusão do estudo. Nenhum deles satisfez todos os guidelines. Todas as ferramentas se mostraram limitadas, quer seja pelo seu desenvolvimento, por sua validação ou pelo seu conteúdo. Nesse mesmo estudo, apenas o Face-lift Outcome Evaluation (FOE) se mostrou específico para ritidoplastias.

O FOE foi descrito por Alsarraf4, juntamente com outros questionários na língua inglesa específicos para blefaroplastia (Blepharoplasty Outcome Evaluation - BOE), rinoplastia (Rhinoplasty Outcome Evaluation ou ROE) e rejuvenescimento da pele e procedimentos faciais (Skin Rejuvenation Outcome Evaluation - SROE).

Tais questionários abordam os aspectos físicos, mentais e sociais, necessários para uma boa avaliação2. O questionário FOE foi testado no tocante à sua validade, confiabilidade e capacidade de resposta, sendo apresentado como uma ferramenta quantitativa confiável de mensuração de resultados2,5,6.

A internacionalização desses questionários, por sua vez, permite a comparação de resultados dos tratamentos entre populações diferentes. No entanto, alguns cuidados devem ser tomados para que não haja distorções devido a falhas na tradução ou a diferenças culturais que alterem o resultado das perguntas, por si só. Isso diminuiria o valor comparativo interpopulacional7,8.

Dos quatro questionários de Alsarraf, apenas o ROE (Rhinoplasty Outcome Evaluation) foi traduzido para a língua portuguesa até o momento. Os demais, Blepharoplasty Outcome Evaluation (BOE), FOE e Skin Rejuvenation Outcome Evaluation (SROE), ainda não possuem versões em português9.

O FOE é composto de seis perguntas, como representado na Anexo 1. Cada resposta pode ser classificada de 0 (menos satisfeito possível) a 4 (mais satisfeito possível). Devem-se somar os valores marcados, dividir por 24 e multiplicar por 100, para obter uma pontuação de 0 a 100, sendo 0 o menos satisfeito possível e 100 o mais satisfeito possível4.

Tal instrumento pode ser de grande utilidade para o desenvolvimento de estudos científicos e para o acompanhamento de resultados por parte dos cirurgiões.

Desse modo, o objetivo do presente estudo é traduzir e adaptar culturalmente o questionário FOE para a língua portuguesa do Brasil.


MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi autorizado pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal do Ceará.

O questionário FOE foi traduzido e adaptado culturalmente à língua portuguesa do Brasil de acordo com a metodologia proposta por Beaton et al, conforme fluxograma da Figura 1. Tal metodologia consiste em cinco estágios e é aceita na literatura para tradução de diversos outros instrumentos7.


Figura 1. Fluxograma da metodologia de tradução e adaptação cultural proposta por Beaton el al.7



Tradução

Estágio 1: o questionário foi submetido a duas traduções (T1 & T2) do inglês para o português. Uma delas foi realizada por tradutor leigo e outra por tradutor cirurgião plástico, com vivência no procedimento, conforme recomenda a literatura.

Estágio 2 (Síntese): as versões T1 e T2 em português dos questionários foram avaliadas por ambos os tradutores do Estágio 1. Os tradutores discutiram as divergências de suas versões e elaboraram uma versão consensual, chamada de T-12.

Estágio 3 (Tradução reversa): o questionário T-12 foi submetido a dois tradutores leigos, que não tinham conhecimento um do outro nem do corrente estudo, cuja língua nativa era o inglês.

Estágio 4 (submissão a comitê especialista): uma junta médica com conhecimento na área foi solicitada a acompanhar o processo, avaliando as versões, apontando incoerências e desvios. Essa junta foi composta de um dermatologista, um cirurgião geral e um ortopedista.

Houve pacificação, por meio de discussões, em quatro pontos:

- Equivalência semântica. As traduções foram avaliadas quanto à preservação do seu significado, quanto à possibilidade de múltiplos significados e quanto à existência de dificuldades gramaticais.

- Equivalência idiomática. Expressões ou coloquialismos são difíceis de traduzir. O comitê buscou a presença dessas expressões e equivalentes na língua portuguesa.

- Equivalência experimental. As experiências questionadas foram avaliadas quanto à sua existência na língua portuguesa.

- Equivalência conceitual. As expressões devem conter o mesmo conceito. Por exemplo, quando se fala de família, em algumas culturas tem o significado do núcleo familiar pequeno mais próximo e outras incluem todos os parentes.

Adaptação cultural

Estágio 5- (teste de versão pré-final). Um préteste com a versão final T-12 foi realizado com uma amostra de 20 pessoas. Esse grupo foi composto de alunas de pós-graduação de fisioterapia dermatofuncional. Cada participante preencheu o questionário e foi entrevistado pelo pesquisador para apontar possíveis incoerências e dificuldades na compreensão.

Estágio 6 (Submissão da documentação ao comitê especialista para verificação do processo de tradução).


RESULTADOS

O questionário FOE foi traduzido para as versões T1 e T2, houve alguns pontos de divergência entre as duas versões, mas um consenso foi atingido com a versão T-12.

Essa versão foi submetida a duas traduções reversas B1 e B2, que apresentaram algumas divergências, mas sem alteração do sentido original.

As versões B1 e B2 foram analisadas pelo autor dos questionários originais, contatado por e-mail, que não identificou nenhuma alteração de significado ou incoerência entre o questionário traduzido do português para o inglês e sua versão original.

Não houve dificuldades em relação ao preenchimento e compreensão dos questionários.

O comitê avaliou todos os passos do processo de tradução e contribuiu com sugestões de mudanças, que foram acatadas. Em consequência, o resultado final da tradução ficou conforme representado na Anexo 2.


DISCUSSÃO

Não houve grandes dificuldades para a tradução dos questionários devido à pequena quantidade de expressões sem tradução conhecida para a língua portuguesa.

Acreditamos que os questionários de qualidade de vida sejam importantes para tornar mais objetivos e comparáveis alguns parâmetros subjetivos. Isso permite que resultados sejam comparados, proporcionando melhores níveis de evidência em uma área do conhecimento que carece disso. Entretanto, ainda não existe um questionário perfeito.

A comparação de ferramentas está fora do escopo desse estudo. Entretanto, embora o questionário FOE tenha mostrado estatisticamente sua validade, confiabilidade e capacidade de resposta, sua concepção não parece ser tão bem fundamentada quanto à do Face-Q, que proporciona nível de intervalo significativo. Isso permite a construção de unidades definidas com distância uniforme entre elas. Isso significa, por exemplo, que se uma pessoa evoluiu do escore 100 para

o 120, houve um aumento semelhante ao de uma outra que evoluiu do 120 para o 140, o que não é verdade para a maioria dos outros instrumentos10.

Em contrapartida, ao contrário do Face-Q, o FOE é um questionário específico para ritidoplastia, público e livremente disponível, o que facilitou sua tradução. Sua aplicação leva menos de 1 minuto.

Outras deficiências do FOE são que ainda não existem pontos de corte e níveis de normalidade, nem em sua língua original, o que nós sugerimos para futuros estudos.


REFERÊNCIAS

1. Ferreira MC. Cirurgia Plástica Estética - Avaliação dos Resultados. Rev Soc Bras Cir Plast. 2000;15(1):56-66.

2. Morley D, Jenkinson C, Fitzpatrick R. A structured review of patient reported outcome measures used for cosmetic surgical procedures. Report to Department of Health [acesso 02 Fev 2015]. Disponível em: http://phi.uhce.ox.ac.uk/pdf/ElectiveProcedures/PROMs_Oxford_Elective%20Cardiac_012011.pdf

3. Kosowski TR, McCarthy C, Reavey PL, Scott AM, Wilkins EG, Cano SJ, et al. A systematic review of patient-reported outcome measures after facial cosmetic surgery and/or nonsurgical facial rejuvenation. Plast Reconstr Surg. 2009;123(6):1819-27. PMID: 19483584 DOI: http://dx.doi.org/10.1097/PRS.0b013e3181a3f361

4. Alsarraf R. Outcomes research in facial plastic surgery: a review and new directions. Aesthetic Plast Surg. 2000;24(3):192-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s002660010031

5. Alsarraf R, Larrabee WF Jr, Anderson S, Murakami CS, Johnson CM Jr. Measuring cosmetic facial plastic surgery outcomes: a pilot study. Arch Facial Plast Surg. 2001;3(3):198-201. DOI: http://dx.doi.org/10.1001/archfaci.3.3.198

6. Alsarraf R. Outcomes instruments in facial plastic surgery. Facial Plast Surg. 2002;18(2):77-86. DOI: http://dx.doi.org/10.1055/s-2002-32197

7. Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine (Phila Pa 1976). 2000;25(24):3186-91. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00007632-200012150-00014

8. Ferreira LF. Tradução para a língua portuguesa, adaptação cultural e validação do Breast Evaluation Questionnaire. (Dissertação de mestrado em Ciências) - Universidade de São Paulo; 2009.

9. Izu SC, Kosugi EM, Brandão KV, Lopes AS, Garcia LB, Suguri VM, et al. Normal values for the Rhinoplasty Outcome Evaluation (ROE) questionnaire. Braz J Otorhinolaryngol. 2012;78(4):76-9. PMID: 22936141 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1808-86942012000400015

10. Pusic AL, Klassen AF, Scott AM, Cano SJ. Development and psychometric evaluation of the FACE-Q satisfaction with appearance scale: a new patient-reported outcome instrument for facial aesthetics patients. Clin Plast Surg. 2013;40(2):249-60. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.cps.2012.12.001










Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica, Fortaleza, CE, Brasil

Instituição: Clínica Eduardo Furlani, Fortaleza, CE, Brasil.

Autor correspondente:
Eduardo Antonio Torres Furlani
Rua Barbosa de Freitas, 1990, Aldeota
Fortaleza, CE, Brasil CEP 60170-021
E-mail: eduardo@eduardofurlani.com.br

Artigo submetido: 08/06/2014.
Artigo aceito: 08/02/2015.



Anexo 1. Questionário FOE original na língua inglesa. Fonte: Alsarraf R. Outcomes research in facial plastic surgery: a review and new directions.
Fonte: Aesthetic Plast Surg. 2000;24(3):192-7.


Anexo 2. Versão final do questionário FOE traduzido e adaptado para a língua portuguesa do Brasil.

 

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