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Original Article - Year2013 - Volume28 - Issue 4

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2013RBCP0672

RESUMO

OBJETIVO: Este estudo teve como objetivo avaliar o sentimento de impotência e esperança em pacientes com úlcera venosa e identificar características sociodemográficas nesta população.
MÉTODO: Estudo clínico, descritivo, analítico, prospectivo. Participaram 40 pacientes com úlcera venosa. Foram utilizados três instrumentos: um questionário que avaliou dados demográficos e clínicos, o Instrumento de Medida dos Sentimentos de Impotência e a Escala de Esperança de Herth.
RESULTADOS: Na Escala de Sentimentos de Impotência, os pacientes pontuaram escore médio de 34,3 e na Escala de Esperança de Herth 27,50, revelando sentimentos de impotência e pouca esperança de cicatrização. Os indivíduos entre 50 e 59 anos apresentaram a média total de 39,00, na Escala de Sentimentos de Impotência (p=0,120). Já na Escala de Esperança de Herth, a média foi de 14,20 (p=0,508). O gênero masculino, em ambas as escalas, apresentou média alterada, sendo 36,00 a média da Escala de Sentimentos de Impotência (p=0,068) e 26,70 a mediana na Escala de Esperança de Herth (p=0,332). Quanto ao tempo da lesão, o escore médio foi de 39,00 na Escala de Sentimentos de Impotência (p=0,251) e de 27,10 na Escala de Esperança de Herth, mostrando alteração em pacientes com mais de 1 até 2 anos com a lesão. Os pacientes que apresentaram odor pontuaram o escore médio alto (36,10/p=0,155) na Escala de Sentimentos de Impotência e escore médio baixo na Escala de Esperança de Herth (26,80).
CONCLUSÃO: Os resultados permitem afirmar que os indivíduos com úlcera venosa avaliados sentem-se impotentes e sem esperança quanto à cicatrização da lesão.

Palavras-chave: Úlcera Varicosa. Emoções. Qualidade de Vida.

ABSTRACT

OBJECTIVE: This study's objective was to evaluate feelings of powerlessness and hope in patients with venous ulcers and identify sociodemographic characteristics in the studied population.
METHODS: A clinical, descriptive, analytical and prospective study. 40 patients with venous ulcers participated. We used 3 instruments: a questionnaire that assessed demographic and clinical data, an Instrument for Measuring feelings of impotence and Herth Hope Index.
RESULTS: At Feelings of Impotence Scale patients scored a mean of 34.3 and at Herth Hope Index 27.50, revealing that these individuals feel powerless and hopeless that the wound can heal. Individuals aged between 50 and 59 years had an average of 39.00 at Feelings of Powerlessness Scale (P 0.120). At Herth Hope Index the average was 14.20 (P=0.508). Male, in both scales, had mean changes, with average of 36.00 at Feelings of Powerlessness Scale (P=0.068) and 26.70 as median at Herth Hope Index (P=0.332). Regarding the time of the injury, the average score was 39.00 at Feelings of Impotence Scale (p = 0.251) and 27.10 in Herth Hope Index, showing changes in patients over 1 to 2 years with injury. Patients who presented odor scored a high mean (36.10 /P=0.155) at Feelings of Impotence Scale and low mean at Herth Hope Scale (26.80).
CONCLUSION: Results have revealed that the subjects with venous ulcers in this study feel helpless and hopeless about the possibility of wound healing.

Keywords: Varicose Ulcers. Emotions. Quality of life.


INTRODUÇÃO

As úlceras venosas constituem a lesão de pele mais comum de membros inferiores. É a resposta mais grave da insuficiência venosa crônica. Neste contexto, as feridas crônicas são um sério problema de saúde pública, responsável por custar mais 1 bilhão de dólares por ano com as atenções clínicas e cirúrgicas, necessárias para esses acometimentos, nos Estados Unidos da América ( EUA)1,2.

Acredita-se que nos países industrializados aproximadamente 1% da população desenvolverá úlcera, em membros inferiores, em algum período de suas vidas, tendo como etiologia principal o distúrbio no sistema vascular-venoso3.

Estudos expressam que nos EUA a incidência de portadores de úlcera venosa é de "500.000 a 800.000" casos. Acredita-se que estes resultados estão ligados ao envelhecimento da população. As incidências, europeia e australiana, se mostram na variância de 0% a 1% de toda a população. Nas considerações de úlceras abertas e cicatrizadas, os casos incidentes variam de 1% a 1,3%4.

No Brasil, dados relacionados às estatísticas sobre as incidências de úlceras venosas são limitados. Um estudo de caráter epidemiológico que avaliou a incidência da insuficiência venosa crônica e a prevalência de varizes, sob uma amostra de 1.755 pessoas no município de Botucatu-SP, identificou que as varizes prevalecem em 47,6%, sendo a porcentagem de 21,2% para casos graves. Para os casos de insuficiência venosa que apresentam úlcera aberta ou tratada, foram detectados 3,6% dos casos5.

O tratamento de úlceras na perna requer um percurso longo, complexo, oscilante, exigindo um cuidado contínuo, adequado, e sensível ao cenário holístico dos portadores da ferida2.

Alterações no contexto saúde, sob implicações homeostáticas, seja de caráter agudo ou crônico, trazem sentimentos conflitantes, perturbadores e embaraçosos às pessoas, bem como as expressões patológicas e intervenções terapêuticas propostas para tal cuidado6.

Sentimentos, reflexos da faculdade mental na concretização de traços e comportamentos diante do cenário de vida em que se encontra, cursando com alegrias e tristezas7,8. As respostas psicoemocionais estão interligadas a diversos fatores que determinam e/ou condicionam o comportamento do indivíduo em relação ao problema em questão, tais como a cultura, traços da personalidade, experiências vividas, expectativas frustradas, entre outros6.

Como resposta se identifica o diagnóstico sentimento de impotência sob a definição: "Percepção de que uma ação própria não afetará significativamente um resultado; falta de controle percebida sobre uma situação atual ou um acontecimento imediato", identificado e reconhecido desde 1982 pela North American Nursing Diagnosis Association-International9. Esta, reconhece tal diagnóstico na origem powerless, aquele que exprime fraqueza e incapacidade de modo que remete a uma condição de inutilidade para a tomada de decisões6,9,10. Estudos tratam que a identificação deste diagnóstico na prática clínica deve ser delicadamente evidenciada, uma vez que expressões como impotência, desamparo, abandono e inadequação podem ser erroneamente confundidos na prática clínica de Enfermagem6,10.

Esperança é a forma sutil da enunciação do poder terapêutico diante dos agravos, mecanismo de ação e reação positiva sob algo em que se acredita, interferência direta para a qualidade de vida nas considerações holísticas (físico, mental e espiritual)11.

O sentimento esperança é um instrumento em potencial para o enfretamento da doença ou qualquer problema que seja, capaz de traduzir uma esfera crítica de mau prognóstico regada em sofrimento por um cenário marcado por traços expressivos de esperar incansavelmente a melhora, resolutividade do problema em questão11,12.

Viver com uma interrupção da integridade da pele cursa com diversos fenômenos que podem comprometer diretamente a qualidade de vida, uma vez que este atrai significativas mudanças para o indivíduo e família, dificuldades limitantes, muitas vezes deparada como incompreensível e incompatível13.

Este trabalho se justifica pela percepção sob uma ótica empírica diária de traços de fadiga, desânimo, desesperança por parte dos portadores de ferida, sem continuar lutando para a cicatrização destas, expressões que pressupõem a tradução de uma desistência, ao ponto de que tal marca determine um estacionamento ou uma paralisação em prol de uma crença que revela limitações permanentes, interrupções ao acesso de uma qualidade vida em todas as esferas, comprometendo desde uma deambulação até um apreço por um gosto comum. Desta forma, por meio deste trabalho, nas atribuições clínico-assistenciais em assistir os pacientes na atmosfera holística, o objetivo foi avaliar os sentimentos de impotência e esperança em pacientes com úlcera venosa e identificar os dados sociodemográficos na população estudada.


OBJETIVOS

Este estudo teve como objetivo avaliar sentimentos de impotência e esperança em pacientes com úlcera venosa e identificar características sociodemográficas nesta população.


MÉTODO

Estudo clínico, primário, descritivo, analítico, prospectivo e não randomizado. Este estudo foi realizado no Núcleo de Assistência e Ensino em Enfermagem.

Participaram deste estudo 40 pacientes com úlcera venosa. A coleta de dados foi realizada após o projeto ter sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde "Dr. José Antônio Garcia Coutinho" sob parecer 23.240, no período de março a dezembro de 2012. A inclusão dos pacientes no estudo foi por ordem de chegada. Os critérios de inclusão foram: idade maior que 18 anos, índice tornozelo/braço entre 0,8 e 1,0. E os critérios de exclusão foram: pacientes com úlcera mista, arterial e úlcera diabética. Foram utilizados três instrumentos para a coleta de dados da pesquisa. Primeiramente, o questionário sobre os dados demográficos e clínicos, Instrumento de Medida dos Sentimentos de Impotência e, por último a Escala de Esperança de Herth.

O Instrumento de Medida do Sentimento de Impotência foi validado e, posteriormente, avaliado quanto a confiabilidade. Utilizado em 210 pacientes, ficou constituído por 12 tipo Likert de frequência, de cinco pontos, variando de nunca a sempre. Nessa escala, atribuiu-se aos itens com significado de presença de sentimento de impotência a seguinte pontuação: 1= nunca; 2= raramente; 3= às vezes, 4= frequentemente; 5= sempre. Para os itens com significado de ausência de sentimento de impotência, os valores foram invertidos: nunca=5; raramente=4; às vezes=3; frequentemente=2; sempre=1. Totalizando 120 pontos. É formado por três domínios: capacidade de realizar comportamento (Chombach=0,845), percepção da capacidade de tomar decisões (Chombach =0,834); e resposta emocional ao controle das situações (Chombach =0,578). Esse instrumento indica escores que podem ser somados por domínios e no total, os resultados possibilitam interpretar que quanto maior o escore, mais intenso o sentimento de impotência10,14.

A Escala de Esperança de Herth, versão Portuguesa de Herth Hope Index, é um instrumento que se constitui de 12 itens com escore total de 12 a 48 pontos, respostas em escala do tipo Likert, com escores de 1 a 4 pontos para cada uma delas, e quanto maior o escore, maior a esperança. Os itens três e seis possuem o escore investido15,16.

Foram utilizados para a análise estatística os seguintes testes: Mann-Whitney e Teste Qui-Quadrado de Independência. Para todos os testes estatísticos, foram considerados os níveis de significância 5% (p<0,05).


RESULTADOS

Observamos, na Tabela 1, que o valor médio das Escala de Sentimentos de impotência foi de 34,3 e da Escala de Esperança de Herth foi de 27,50. Ambos os resultados caracterizaram que os indivíduos com úlcera venosa se sentem impotentes perante a lesão e têm pouca esperança de que a ferida vá cicatrizar. Houve diferença estatisticamente significante entre os grupos.




Na Tabela 2, verifica-se que a média dos domínios do Instrumento de Medida do Sentimento de Impotência foi 50,78, relacionada ao domínio "Capacidade de realizar comportamentos". Já em relação ao Domínio Resposta emocional ao controle das situações, a média foi de 51,02, e Percepção da capacidade de tomar decisões foi 52,09. Tais resultados caracterizam que esses indivíduos, que participaram do estudo, sentiam-se impotentes.



Podemos verificar, na Tabela 3, que os pacientes, com faixa etária de 50 a 59 anos, apresentaram a média total de 39,00 da Escala de Sentimentos de impotência (p=0,120). Com relação à Escala de Esperança de Herth, a média foi 14,20 (p=0,508), caracterizando que estes pacientes se sentem impotentes e com pouca esperança de cura. Não houve diferença estatisticamente significante. O sexo masculino, em ambas as escalas, apresentou média alterada, sendo 36,00 a média da Escala de sentimentos de impotência (P=0,068) e a média (26,70) da Escala de Esperança de Herth, baixa, ( p=0,332), caracterizando que os pacientes do sexo masculino se sentem impotentes, porém, tem esperança de cura. Não houve diferença estatisticamente significante. Com relação às pessoas que são fumantes, estas apresentaram escore médio de 37,00 na Escala Sentimento de importância, sendo considerado alto (p=0,535), porém, com relação à escala de Esperança, a média do escore da Escala de Esperança de Herth, nos pacientes fumantes, a média foi 27,10 (P=0,090). Esse resultado caracteriza que estes indivíduos têm seus sentimentos de importância alterada, mas com esperança de cura. Não houve significância estatística.




Observamos, na Tabela 4, os dados relacionados ao tempo da lesão, os indivíduos com mais de 1 até 2 anos apresentaram escore média de 39,00 na Escala de Sentimentos de importância (P=0,251) e média de 27,10 na escala de Esperança de Herth. Tais achados mostram que, os indivíduos que participaram do estudo, que convivem mais de 1 até 2 anos com a ferida, estão com sentimentos de impotência alterados, mas, eles têm esperança de cura. As pessoas nas quais a úlcera apresentava odor obtiveram escore médio de Sentimentos de impotência alto (36,10 p=0,155) e o escore médio de Esperança baixo: 26,80. Tais achados relatam que estes pacientes estão com elevado sentimento de impotência, mas têm esperança de cura. Não houve diferença estatisticamente significante nas variáveis.




DISCUSSÃO

A úlcera venosa é uma doença crônica, caracterizada por períodos de exacerbação e remissão. O processo de cicatrização demorado gera desconforto físico, emocional e psicológico. O tratamento leva o paciente a restrições que alteram o estilo de vida e interferem nas atividades de vida diária do indivíduo. Portanto, são necessários suporte emocional e mecanismos para enfrentamento dessa situação, pois essa população sente-se impotente e sem esperança na cura da ferida.

Neste estudo, os participantes apresentaram a média das Escala de Sentimentos de impotência 34,3 e da Escala de Esperança de Herth 27,50. Ambos os resultados caracterizaram que os indivíduos com úlcera venosa sentem-se impotentes perante à lesão e têm pouca esperança de que a ferida vá cicatrizar17-21.

Sentimentos como medo, desgosto e impotência são comuns nos pacientes com feridas com dificuldade de cicatrização, podendo piorar quando essa lesão apresenta odor ou exsudato. Ao perceber essas alterações, o paciente pode perder a esperança de que a ferida possa curar. Lembrando que, em uma sociedade na qual a independência é valorizada, depender de outros pode gerar medo e frustação. O medo é um sentimento que faz parte do processo de viver do ser humano, que muitas vezes pode piorar quando a pessoa está doente. Provoca desorganização emocional, com período de conflito, dúvidas e reações inesperadas.

Para Carpenito Moyet22, o diagnóstico sobre sentimento de impotência reflete um estado em que um determinado indivíduo, ou grupo, se defronta à ausência de domínio ou controle interpessoal a respeito de eventos ou situações que interferem na maneira em que o paciente vive, assim como em suas metas e planejamentos de vida.

Em estudo que descreve a impotência dos pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca, e que a compara em pacientes no pós-operatório de cirurgias de válvula (VAL) e de coronária (RM), 44 (58,7%) pacientes apresentaram impotência. Também tinham dúvida para planejar o futuro e estabelecer objetivos (75,0%), expressão de dúvida acerca do desempenho de papéis (63,6%), expressões de insatisfação e frustração pela inabilidade no desempenho de tarefas e/ou atividades pessoais (56,8%)23.

Em estudo que avaliou o escore de esperança entre os três diferentes grupos e suas variáveis sociodemográficas e clínicas, correlacionando esperança com essas variáveis, foi composto por 131 indivíduos, sendo 47 pacientes oncológicos, 40 pacientes diabéticos e 44 acompanhantes/ familiares/cuidadores - que responderam às Escalas de Esperança de Herth e de Autoestima de Rosenberg, o Inventário de Depressão de Beck, e um instrumento com dados pessoais. Não houve diferença entre os grupos nos escores de esperança. A esperança correlacionou-se positivamente com autoestima e negativamente com a depressão. Para pacientes oncológicos, o escore de esperança não se relacionou a nenhuma variável clínica. Para os pacientes diabéticos, as diferentes formas de tratamento e outras comorbidades não influenciaram na esperança. Concluiu-se que os pacientes com doença crônica e seus familiares apresentaram escores altos de esperança. A mensuração da esperança pode melhorar o cuidado de enfermagem16.

Ainda, trata-se de diagnóstico de desesperança um "estado subjetivo no qual um indivíduo não enxerga alternativas ou escolhas pessoais disponíveis, ou enxerga alternativas e é incapaz de mobilizar energias a seu favor"9. Carpenito Moyet compartilha da definição de Nanda e ressalta que este diagnóstico descreve um indivíduo ao ponto de não conseguir perceber ou se sensibilizar aos sinais de melhora em sua vida22.

A esperança de se ver curado permanece presente no indivíduo, fazendo-o acreditar que, em certo momento, a doença desaparecerá e um milagre ocorrerá. Em algumas situações, essa é a única fonte de força para o individuo para que ele dê continuidade ao tratamento24.

Na análise dos resultados relacionados aos dados sóciodemograficos, houve prevalência no sentimento de impotência (39%) no grupo com faixa etária de 50 a 59 anos, porém para o fator de sentimento de esperança a média observada foi de 18% para o mesmo grupo estudado.

Nesta pesquisa, os participantes do sexo masculino se sentem impotentes, porém, têm esperança de cura. Estudos revelam que o gênero feminino é mais acometido pela lesão, entretanto, a maioria dos indivíduos do sexo masculino ao adquirir uma ferida apresenta alteração emocional ou psicológica, que pode afetar a qualidade de vida, autoestima, autoimagem ou sono; compreendendo uma faixa etária de 50 a 60 anos21,25,26.

Em estudos que avaliaram a depressão nos pacientes com feridas e que apresentaram algum grau de sintoma depressivo, variando entre moderada e grave, os sintomas foram: auto depreciação, tristeza, distorção da imagem corporal e diminuição da libido. Os autores concluíram que, quando o indivíduo adquire uma ferida, ele apresenta alterações emocionais que podem indicar graus variados de sintomas depressivos19,21.

Em outros estudos, os autores concluíram que, na pessoa com ferida, a exteriorização da sintomatologia característica de lesão de pele, tal como exsudato com odores fétido e edema, é suficiente para impactar a qualidade de vida destes, assim como a capacidade funcional e sono. Uma vez, também, que estes são diretamente afetados pelos aspectos sociodemográficos, sexo, estado civil e ocupação20,26,27.

A saúde mental pode ser afetada pela capacidade funcional, como dificuldade ou incapacidade de realizar atividades diárias, também pelo odor e exsudato e as consequências têm um impacto negativo sobre o funcionamento psicológico, na esperança e fé desses indivíduos. Assim, eles experimentam alterações no seu humor, motivação reduzida, perda de autocontrole, sentimento de desamparo e visão pessimista do futuro. Essas emoções correlacionam-se com a saúde mental como a deterioração da condição do paciente e podem levar a transtornos mentais como a depressão19,21,28,29. Porém, quando o paciente percebe que a lesão está melhorando ele se sente útil, produtivo, faltando, assim, as suas atividades diárias.

Em algumas culturas, encontram-se pessoas que atribuem a cura de feridas e de outras enfermidades a crenças e não aos recursos e descobertas cientificas. A esperança faz com que o doente ganhe forças para enfrentar os desafios da doença e possa sentir-se vivo, ser humano e ativo na busca por sobrevivência30-32.

É notório que os portadores de feridas, em sua grande maioria, carregam em sua afeição um estado melancólico instalado, sofrimento psíquico produto de uma deterioração de sua qualidade de vida no espaço em que vive. São vítimas de imposição de valores incoerentes com a solidariedade humana33.

Pesquisas demonstram que, a úlcera venosa é responsável por desencadear sérios problemas psicológicos no indivíduo que vive tal condição, manifestando inúmeros níveis de sintomas de depressão. É conhecido que, em condições patológicas, por muito não há uma separação da esfera física e emocional, o que por si só impede um olhar próspero e positivo em relação ao futuro. E, ainda, tal problemática traz significativas limitações funcionais relacionadas às más condições da ferida34,35.

Nas nomenclaturas diagnósticas, os fatores relacionados conversam com os fatores julgados pela sociedade, de tal modo ao condicionamento de tais alterações, em sublinhe apresentam-se: "estilo de vida desamparado, regime relacionado à doença, incapacidade, medo de reprovação, feedback constante, abandono, restrição prolongada de atividade criando isolamento"9,22.

Neste estudo, foi observado que a população masculina apresenta uma média significativa em relação ao sentimento de impotência (36,00%). Em contrapartida, os resultados expressam que estes, por sua vez, apresentam esperança na cicatrização das feridas.

Estudos que avaliaram os sentimentos de impotência e esperança em pacientes com úlcera de perna, com relação aos instrumentos, o valor médio do escore da Escala de Sentimentos de impotência foi maior nos indivíduos diabéticos com pé ulcerado (53,3) e, nos pacientes com úlcera venosa, a média foi 34,3. Relacionado à Escala de Esperança de Herth, a média foi menor nos pacientes diabéticos com pé ulcerado 16,50; nos pacientes com úlcera venosa, a média foi 27,50. Os autores concluíram que, os pacientes diabéticos com pé ulcerado sentem-se impotentes e sem esperança de que a lesão vai cicatrizar. Já os pacientes com úlcera venosa sentem-se impotentes, mas com esperança de que a lesão vai cicatrizar30.

Neste contexto, um estudo identificou que os idosos portadores de lesão vivem uma incansável luta entre a esperança e o sentimento de desespero relacionado ao processo cicatricial retardado, demonstrando que viver com úlcera é estar no paralelo da relação entre viver uma alteração estético-visual, conviver e confrontar episódios álgicos, limitação funcional do corpo e a esperança de liberdade em um corpo "doente". Concluiu que a imagem é muito importante para o idoso, cabendo ao profissional terapeuta uma sensibilidade percepcional em relação a todas as pessoas, sabendo o quanto pode interferir em suas vidas36.

Despertado um incômodo em relação à predominância do sentimento de incapacidade nos portadores de úlcera venosa, em uma análise minuciosa dos resultados aqui obtidos e trazendo à pauta informações de caráter empírico, científico e de vivência profissional sobre as dificuldades dos mesmos na aderência aos cuidados terapêuticos, surge o questionamento: o quanto o comportamento decisivo, participativo, imutável, inflexível, isolado e egoísta do profissional de saúde contribui para a síntese do diagnóstico aqui identificado?

Estudos revelam que quando o profissional de saúde envolve o cliente no tratamento, transparecendo a autonomia sobre o seu corpo, responsabilidade e o real conhecimento sobre o problema em questão, gera do mesmo uma adaptação em relação ao seu problema, produzindo melhores respostas para com a terapêutica proposta, favorecendo a inexistência de sentimentos negativos18,33. Isolamento social, ação que evidencia um fator de risco potente para a origem de diagnósticos que deprimem a capacidade das pessoas37,38.

Sentimentos que oscilam na contrariedade de uma cura definitiva, deixando qualquer indivíduo sob um sim e um não, confeccionam sentimentos instáveis sobre suas vidas, implicando em decisões presentes e atuais, sem saber se é possível confiar no amanhã, pousando sobre uma incerteza. Entendendo a aplicabilidade deste no retardamento de um prognóstico definitivo, estudos remetem que o aumento da atividade física e exercícios de mobilidade para os membros inferiores são significativos na prevenção de casos recorrentes de úlcera. Pesquisas defendem que o uso de meia elástica compressiva também se mostrou eficaz na profilaxia das recidivas39.

Esta pesquisa reforça a necessidade de redirecionar a atenção à saúde dos pacientes com úlcera venosa, buscando identificar, no cotidiano dos serviços de saúde, seja nos hospitais ou ambulatórios, Programa de Saúde da Família e outros, a presença de alterações na capacidade funcional entre os pacientes que convivem no seu cotidiano com a ferida, as principais necessidades de cuidado e o conhecimento do cuidador para lidar com as incapacidades.

Estudo esboça que a condição de portador de úlcera venosa é diretamente responsável pela danificação da qualidade de vida, uma vez que a adaptação psicossocial é pequena em decorrência das dificuldades existentes para com adesão ao tratamento, aumentando a cronicidade do problema em questão39-41.

E, diante das necessidades surgidas nas últimas décadas com o aumento das doenças crônicas e dos pacientes com feridas, torna-se imprescindível redirecionar a formação acadêmica e qualificação dos profissionais de saúde, valorizando não somente o conteúdo, mas também a prática assistencial.

Estudos futuros devem ser conduzidos, visando à ampliação do tamanho da amostra e a compreensão da magnitude de vida desses sujeitos. Este estudo apresentou, como limitação, o número de participantes, sendo necessárias mais pesquisas que busquem identificar alterações emocionais entre estes pacientes e propor medidas preventivas ou de tratamento.


CONCLUSÃO

Os resultados obtidos permitem afirmar que os indivíduos com úlcera venosa avaliados neste estudo sentem-se impotentes e sem esperança quanto à possibilidade da cicatrização da lesão.


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1. Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre-MG, Brasil
2. Aluno do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre-MG, Brasil
3. Médica formada pela Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre-MG, Brasil
4. Mestre em Enfermagem, Professor Titular, Sapucaí Valley University (UNIVÁS), Pouso Alegre, MG, Brasil
5. Estomaterapeuta "TiSOBEST", Mestre, PhD, Pós Doutor e Professor do Curso de Mestrado profissional Ciências Aplicadas à Saúde da Universidade do Vale do Sapucaí. Pouso Alegre-MG, Brasil

Suellen Garcia Alves
Av. Francisco de Paula Quintaninha Ribeiro, 280/134
Jabaquara CEP: 04330-020. São Paulo, SP, Brasil

Artigo recebido: 03/05/2013
Artigo aceito: 03/06/2013

Trabalho realizado na Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre-MG, Brasil.

 

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