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Editorial - Year2012 - Volume27 - Issue 1

O uso de implantes de silicone texturizado preenchidos com gel de silicone para o aumento mamário nas hipomastias ou reconstruções mamárias é um procedimento seguro e previsível, considerando-se os resultados obtidos com o tratamento e os índices de complicações1-6.

O recente problema divulgado a respeito dos implantes mamários preenchidos com gel de silicone não aprovado para uso médico traz à tona uma série de questões. Demonstra que os riscos envolvidos na realização de um procedimento vão muito além da prática médica propriamente dita, extrapolando os limites éticos atribuídos à responsabilidade do profissional que executa o procedimento.

Temos insistido em inúmeros editoriais sobre a necessidade da aplicação da Medicina Baseada em Evidências na Cirurgia Plástica, ou seja, utilizar os recursos mais modernos que a medicina dispõe, baseados em evidências clínicas, de modo a oferecer o melhor tratamento possível aos nossos pacientes.

Um dos instrumentos de maior validade científica na avaliação das performances terapêuticas em cirurgia plástica são os questionários de avaliação de qualidade de vida. A interpretação dos resultados obtidos com a aplicação desse instrumento pode ser considerada uma ferramenta racional para a tomada de decisões no cuidado ao paciente.

O impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes submetidos a colocação de implantes mamários, principalmente nas mastoplastias de aumento, é consagrado, conhecendo-se seus riscos e limites.

Como considerar, então, o impacto do problema atual sobre a qualidade de vida dos pacientes submetidos a colocação de implantes mamários? Não só daqueles em que os referidos implantes problemáticos foram utilizados, mas na totalidade dos pacientes portadores de implantes mamários?

É provável que a qualidade de vida de pacientes submetidos a colocação de implantes mamários seja comprometida, mesmo que nada venha a ocorrer à maioria dos pacientes.

A percepção, totalmente subjetiva, do risco potencial da complicação é suficiente para causar impacto na avaliação da qualidade de vida. O que dizer então das alterações possíveis decorrentes da necessidade de procedimentos cirúrgicos não programados para a troca de implantes, seus riscos e o impacto econômico?

O desenvolvimento de instrumentos validados de avaliação de performance, como são os questionários de qualidade de vida, é um processo complexo, lento e que sofre constantes mudanças, dependentes do ambiente social, cultural e econômico. Essas alterações, em geral, apresentam certo grau de previsibilidade, podendo-se incluí-las na metodologia científica utilizada. No entanto, o surgimento de problemas inesperados ou não contemplados nesses métodos de avaliação podem invalidar o instrumento, levando à perda de todo o trabalho ora realizado.

Foram necessárias décadas de estudos longitudinais para se estabelecer a segurança do uso de implantes texturizados preenchidos por gel de silicone. O fato ocorrido recentemente não invalida as certezas já definidas, mas colocará em cheque a efetividade dos métodos de avaliação já estabelecidos. Possivelmente, nos veremos obrigados a rever os métodos de avaliação ou estaremos diante de uma nova etapa, que pode levar mais algumas dezenas de anos, a fim de verificar o impacto do fato ocorrido na qualidade de vida das pacientes.

Dov Charles Goldenberg
Editor Associado

Ricardo Baroudi
Editor


REFERÊNCIAS

1. Jewell ML, Jewell JL. A comparison of outcomes involving highly cohesive, form-stable breast implants from two manufacturers in patients undergoing primary breast augmentation. Aesthet Surg J. 2010;30(1):51-65.

2. Pusic AL, Klassen AF, Scott AM, Klok JA, Cordeiro PG, Cano SJ. Development of a new patient-reported outcome measure for breast surgery: the Breast-Q. Plast Reconstr Surg. 2009;124(2):345-53.

3. Rohrich RJ, Rathakrishnan R, Robinson Jr JB, Griffin JR. Factors predictive of quality of life after silicone-implant explanation. Plast Reconstr Surg. 1999;104(5):1334-7.

4. Crerand CE, Infield AL, Sarwer DB. Psychological considerations in cosmetic breast augmentation. Plast Surg Nurs. 2009;29(1):49-57.

5. Murphy DK, Beckstrand M, Sarwer DB. A prospective, multi-center study of psychosocial outcomes after augmentation with Natrelle silicone-filled breast implants. Ann Plast Surg. 2009;62(2):118-21.

6. Pusic AL, Reavey PL, Klassen AF, Scott A, McCarthy C, Cano SJ. Measuring patient outcomes in breast augmentation: introducing the Breast-Q Augmentation module. Clin Plast Surg. 2009;36(1):23-32.

 

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