INTRODUÇÃO
A cirurgia de aumento mamário, segundo Data Folha e SBCP, em 2009, era de 21%,
comparando-se com as demais cirurgias no âmbito estético1. Nos últimos 10 anos, o uso das próteses aumentou
significativamente, mesmo nas mastopexias e com isso houve também um acréscimo no
número de complicações.
Entre as complicações, a exposição do implante varia de 2% a 4% dos casos2,3. Costuma ocorrer nas primeiras semanas de pós-operatório como
consequência de hematomas, seromas, infecção ou tensão excessiva da pele nos locais
de inserção dos implantes4. A maioria das
exposições ocorre na cicatriz onde o implante foi introduzido. O trauma pelos
afastadores nas incisões ou o fechamento incorreto da ferida favorecem a exposição.
A colocação do implante superficial e com pouco tecido protetor é um fator
contribuinte.
Nas exposições tardias, a etiologia costuma ser por seroma ou contratura capsular,
a
qual faz dobras nos implantes ocasionando saliências contra a pele, isquemia e
perfuração local, expondo os implantes4.
A exposição dos implantes traz ansiedade tanto ao cirurgião quanto à paciente. A
satisfação da paciente no pós-operatório imediato pode se transformar em angústia
por necessitar um novo procedimento cirúrgico para a retirada. Ao cirurgião cabe ter
um bom relacionamento com a paciente, avaliando a melhor forma para resolução desses
casos, de preferência de maneira mais simples e efetiva (Figura 1).
Figura 1 - Exposição de próteses no sulco submamário em mamoplastia de aumento e
mamoplastia com mastopexia.
Figura 1 - Exposição de próteses no sulco submamário em mamoplastia de aumento e
mamoplastia com mastopexia.
Em medicina parte-se do princípio que todo o corpo estranho que se expõe deva ser
retirado. Tudo depende da causa. Quando se descarta a infecção e a causa é a falta
de tecidos ou tensão no fechamento, o uso de retalhos adicionando tecidos bem
vascularizados se faz necessário.
A exposição do implante e seu tratamento são esporadicamente descritos na literatura.
Autores como Peeters e cols., em 2011, já tinham utilizado retalhos musculares e
retalho adipofascial localizados abaixo do sulco submamário e retalhos da cápsula
fibrosa dos implantes5 para fechamento da
exposição.
Nas cirurgias reconstrutoras da mama, são muitos os retalhos utilizados para
cobertura do implante porém são retalhos de grande tamanho e deixam sequelas
importantes na área doadora6,7.
Devido às poucas opções de tratamento nos casos estéticos, novos procedimentos se
fazem necessários.
OBJETIVO
Apresentar um retalho cutâneo de fácil execução para cobertura da exposição do
implante mamário no pós-operatório em mamoplastias de aumento, com ou sem
mastopexia, em que a causa principal é a tensão excessiva da sutura ou falta de
tecido local.
MÉTODO
Com experiência no tratamento de perda de tecidos, realizamos um retalho cutâneo da
região submamária para cobertura do implante exposto. Sua confecção é simples,
segura e muito versátil. Por ser pequeno e de vizinhança, permite-nos realizá-lo até
com anestesia local. É um retalho de transposição que oferece tecido de boa
qualidade, com boa espessura e boa vascularização ao local. Lembra uma zetaplastia
com somente um triângulo, o qual nominamos “retalho em bandeirola”, dado o seu
formato (Figura 2). Ele também pode ser usado
nas deiscências de sutura que ocorrem na confluência das incisões do “T” invertido
nas mastopexias e até nas mamoplastia redutoras.
Figura 2 - Marcação do retalho com pedículo medial e lateral e ao centro o
retalho já transposto em mamoplastia de aumento com incisão no sulco
submamário.
Figura 2 - Marcação do retalho com pedículo medial e lateral e ao centro o
retalho já transposto em mamoplastia de aumento com incisão no sulco
submamário.
É um retalho triangular que faz um ângulo de aproximadamente 45° com o sulco
submamário ou com a cicatriz horizontal da mastopexia com prótese. Mede-se a área
a
ser fechada após o desbridamento cirúrgico das bordas e desenha-se o retalho em
torno de 1 cm maior que o defeito. O ideal é que a largura da base do retalho seja
igual ou um pouco maior que o defeito horizontal. A localização do pedículo fica
abaixo da ferida onde apresenta a exposição, podendo ser medial ou lateral, onde
costuma ter maior flacidez de pele. Seu pedículo vascular é “ao acaso” e provém dos
ramos perfurantes do músculo reto do abdome. Da sua transposição pode haver pele
remanescente do retalho na região medial, que pode regredir com o tempo. O ideal é
que todo o retalho se situe na mama e a base do pedículo junto ao sulco submamário.
Também podemos realizar um retalho maior cuja ponta pode ser desepidermizada e que
será suturada à cápsula fibrosa e a pele íntegra suturada às bordas da ferida. Sua
área doadora, com pequeno descolamento, apresenta suficiente elasticidade que nos
permite o fechamento direto, visto ser o local onde raramente apresenta fibrose
importante (Figura 3).
Figura 3 - Marcação do retalho com pedículo medial e lateral e ao centro o
retalho já transposto em mamoplastia de aumento com mastopexia.
Figura 3 - Marcação do retalho com pedículo medial e lateral e ao centro o
retalho já transposto em mamoplastia de aumento com mastopexia.
RESULTADOS
O procedimento tem se mostrado eficaz nos casos que não apresentam sinais de infecção
e principalmente quando a abordagem é precoce. Os resultados imediatos ou tardios
são de boa qualidade, quando a etiologia da exposição for tensão local ou falta de
tecido, evitando assim o desgaste médico-paciente pela retirada de um implante,
mesmo que temporário (Figuras 4 a 6).
Figura 4 - Marcação do retalho com pedículo medial, pré e pós-operatório
precoce.
Figura 4 - Marcação do retalho com pedículo medial, pré e pós-operatório
precoce.
Figura 5 - Pós operatório precoce com exposição da prótese em mastopexia, pré e
pós-operatório precoce com retalho medial
Figura 5 - Pós operatório precoce com exposição da prótese em mastopexia, pré e
pós-operatório precoce com retalho medial
Figura 6 - Pré e pós-operatório de 2 anos em mamoplastia com mastopexia.
Figura 6 - Pré e pós-operatório de 2 anos em mamoplastia com mastopexia.
DISCUSSÃO
A procura pela beleza e o corpo perfeito tem levado mais pacientes à busca pelas
mamoplastias de aumento. Esse procedimento tem sido realizado em mamas não tão
hipotróficas com o intuito de fazer o polo superior mais saliente e manter mais
firme sua consistência. Alguns autores retiram parte da glândula mamária fazendo o
preenchimento com implantes8. Outros retiram tecido glandular com a finalidade de
diminuir o risco de câncer mamário em pacientes com histórico familiar
importante.
Fodor e cols., em 2003, relataram que a incidência de extrusão do implante gira em
torno de 2% dos casos3. Nos oito casos que
apresentou, as pacientes queriam a preservação dos implantes e não aceitavam a
retirada dos mesmos. Ele tentou preservar, porém acabou retirando os implantes em
50% dos casos, não relatando quais técnicas realizou para o fechamento da pele.
A cirurgia de mastopexia com colocação de implante tem uma chance maior de exposição
por apresentar múltiplas incisões e uma certa tensão na pele. Ocorre principalmente
na convergência das incisões horizontais e verticais.
A manutenção do implante exposto favorece a infecção e a contração da cápsula
fibrosa, diminuindo a loja que o contém. Em alguns casos o implante necessita ser
retirado, a loja limpa e ampliada antes da colocação e fechamento. O procedimento
de
cobertura do implante deve ser o mais breve possível, já nos primeiros sinais do
processo de exposição.
Poucos trabalhos para cobertura de implante com retalhos cutâneos pós-mamoplastia
de
aumento existem na bibliografia.
A grande maioria dos autores aborda procedimentos para cobertura nas reconstruções
mamárias pós-mastectomias por câncer6,7. Geralmente são
grandes retalhos como o idealizado por Holmström em 19869, com circulação baseada nas perfurantes musculares do músculo
oblíquo externo. Mestak, em 2011, utilizou tecidos desepitelizados da região mamária
para cobertura de implante não se referindo às extrusões8. Fausto, em 1997, utilizou retalho abdominal superior
expandido para reconstruções mamárias. Concordamos que a região abaixo do sulco
submamário é excelente área doadora de retalhos, dada a sua espessura, intensa
vascularização e grande mobilidade. Essas cirurgias10 costumam deixar cicatrizes importantes na área doadora.
Planas, em 1995, relatou cinco casos de extrusão no qual realizou a transferência
do
implante para uma nova loja entre a cápsula e o músculo peitoral, isolando-o. A
ferida deveria cicatrizar por segunda intenção4.
Harving e cols., em 1989, apresentaram oito casos de exposição de implantes mamários.
Para diminuir a tensão na sutura, colocaram implantes menores em cinco casos. Em um
caso foi utilizado um retalho cutâneo em v-y para minimizar a tensão na sutura11.
Peeters, em 2011, relatou dois casos de exposição de implantes mamários em que
utilizou três tipos de retalhos, sendo um adipofascial com base cranial na altura
do
sulco mamário, elevando-o e fixando-o na borda da cápsula anterior, suturando a
pele5. Quanto ao outro, realizou um
retalho do músculo oblíquo externo, o qual foi fixado à capsula superior do implante
com bom resultado, sem comentar o fechamento da pele.
Elzawawy e cols., em 2016, estudaram a circulação local de um retalho adipofascial
abaixo do sulco submamário e verificaram que sua circulação se dava por ramos
perfurantes originários das artérias torácica lateral e toracodorsal (pedículo
lateral), além das artérias epigástrica superior, mamária interna e vasos
intercostais (pedículo medial). Sugeriam que os retalhos adipofasciais com pedículo
lateral eram mais eficientes e confiáveis10.
Nos nossos casos observamos que os de pedículo lateral, além de boa circulação,
apresentam maior mobilidade, facilitando o fechamento da área doadora.
Concordamos com os autores ser necessária uma cobertura espessa e eficiente para
evitar recidiva da extrusão e o local mais apropriado para realizar um retalho é a
região submamária. Fausto e Leal apresentaram trabalho utilizando a pele da região
toracoabdominal expandida para reconstrução da mama, considerando esse local como
excelente região doadora de retalhos.
O retalho em “bandeirola” tem um bom suprimento sanguíneo e boa espessura, permitindo
além da cobertura do implante, o fechamento direto da área doadora sem distorcer o
cone mamário ou o complexo aréolo papilar.
CONCLUSÃO
É um retalho cutâneo de fácil execução, boa segurança e versatilidade. Atende a
necessidade de cobrir o implante exposto quando a etiologia é a falta ou tensão dos
tecidos locais. Visto que a exposição do implante é uma entidade complexa para ser
resolvida, esse retalho tem sido mais uma alternativa para o tratamento em casos
selecionados.
REFERÊNCIAS
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Anat Res Int. 2016; 2016:7696010. Epub 2016 set 29.
1. Hospital Universitário Cajuru, Pontífica
Universitária Católica, Curitiba, PR, Brasil.
Endereço Autor: Rogério de Castro
Bittencourt Rua Gastão Câmara, nº 499 - Bigorrilho, Curitiba, PR,
Brasil CEP 80730-300 E-mail: rogeriobittencourt8@hotmail.com;