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Original Article - Year2011 - Volume26 - (3 Suppl.1)

INTRODUÇÃO

O enxerto de gordura é uma importante ferramenta para reposição e aumento de tecidos moles, presente no armamento do cirurgião plástico. Começou a ser usado em reconstrução de face e, atualmente, tem grande aplicabilidade em contorno corporal e mama. O enxerto de gordura é considerado o preenchedor ideal para deformidades de contorno, e além de restabelecer volume, evidêcias comprovam que, pela abundante quantidade de células-tronco, com propriedades de restabelecer vascularização e funcionalidade, proporcionam melhora na qualidade dos tecidos adjacentes, tais como em áreas irradiadas e com fibrose, além de reporem o volume.


OBJETIVO

Demonstrar a aplicabilidade do enxerto de gordura em diferentes tipos de defeitos em reconstrução mamária.


MÉTODOS

Seleção das pacientes pela classificação de acordo com deformidade, desenvolvida por Kanchwala et al. Tipo I: defeitos resultantes da mastectomia, sendo a interface entre a parede torácica e a mama reconstruída, chamado de degrau. Tipo II: defeito intrínseco, geralmente pertinente ao retalho ou ao implante, como as ondulações e depressões. Tipo III: defeitos associados a fatores extrínsecos, tais como radioterapia, cicatrizes e deformidades pós-segmentectomias. A técnica da coleta e preparo do enxerto, seguindo os princípios de semelhança entre os diâmetros da cânula para aspiração e injeção da gordura, minimiza a exposição ao ar ambiente, tentando preservar ao máximo a viabilidade das células. As áreas doadoras foram abdome e flanco, infiltradas com solução salina 0,9% e epinefrina 1:500.000. Após a coleta, o método de escolha para o preparo da gordura foi decantação, seguida de lavagem da gordura com solução salina 0,9%. Antes da injeção, criamos túneis com cânula romba, para criar espaço para gordura, principalmente em áreas irradiadas e com tecidos cicatriciais, ou realizamos pequenas incisões com lâmina nº 11, chamadas de "rigotomies", pois foram desenvolvidas pelo Dr. Gino Rigotti, na tentativa de "romper" com cicatrizes e fibroses e melhorar a "pega" do enxerto. A injeção é feita por retroinjeção e em múltiplos planos.


RESULTADOS

Nove pacientes foram submetidas aos procedimentos, sendo que três apresentavam defeitos tipo I, duas, defeitos tipo II, e quatro, defeito tipo III. O acompanhamento foi realizado entre 6 meses e 1 ano. Análise pós-operatória foi realizada com base nos aspectos clínicos e na documentação fotográfica. Os resultados mais satisfatórios foram obtidos em pacientes do tipo I (defeitos entre a interface da mama reconstruída e a parede torácica), com visível melhora do defeito em degrau entre a parede torácica e a mama reconstruída, e do tipo II (relativos à mama reconstruída), nos quais o enxerto de gordura foi útil para camuflar pequenas depressões e irregularidades. Em defeitos tipo III, tivemos os resultados mais pobres em relação à reposição de volume, provavelmente pelos efeitos da radioterapia, porém, em todos os casos, observou-se alguma melhora na qualidade dos tecidos e cicatrizes. Em todos os casos, notamos algum grau de reabsorção do enxerto.


DISCUSSÃO

O enxerto de gordura é um procedimento com diversas vantagens, por seu tecido autólogo, não alergêico, apresentar baixo custo e ser rico em células-tronco, sendo considerado o preenchedor ideal de tecidos moles. Esse tipo de enxerto tem excelente indicação em reconstrução de mama. Em áreas irradiadas, há considerável resistêcia à reposição de volume, pelos danos já sabidos da radioterapia nos tecidos adjacentes ao tumor. Algumas manobras podem tentar melhorar a viabilidade do enxerto nesses tecidos, como múltiplas incisões com lâmina nº 11 (rigotomies) e uso de cânulas que dissecam os tecidos (em V). O que de fato é notório, tanto nesse trabalho, quanto nos relatos da literatura, é a melhora da qualidade da pele e desses tecidos, mesmo quando o volume almejado não é atingido. Acreditamos que, nestes casos, várias sessões sejam necessárias para obtenção de resultados satisfatórios.


CONCLUSÃO

O enxerto de gordura é um procedimento pouco invasivo, seguro, simples e efetivo. Tem excelente indicação em reconstrução de mama, para refinamentos pós-reconstrução, e defeitos de contorno secundários, podendo também ser usado para melhorar qualidade de tecidos em mamas irradiadas e, até mesmo, para reposição do volume total da mama, como estudos recentes vêm demonstrando.


Figura 1 - Defeito tipo I. Pré-operatório de paciente de 50 anos,com defeito em degrau entre a mama reconstruída com retalho livre gracilis e a parede torácica.


Figura 2 - Sexto mês de pós-operatório. Enxerto de 80 ml de gordura na área do defeito entre a parede torácica e a neomama, reconstrução do complexo aréolo-papilar e retoque na cicatriz da mama contralateral.


Figura 3 - Defeito tipo II. Paciente de 45 anos, pré-operatório de enxerto de gordura em áreas de depressões e contratura na neomama (grande dorsal com prótese).


Figura 4 - Quarto mês de pós-operatório. Enxerto de 135 ml de gordura nas áreas de irregularidades.


Figura 4 - Pós-operatório de quinze dias. Enxerto de 60 ml de gordura, observando-se melhora importante da qualidade da pele e cicatriz.


Figura 5 - Defeito tipo III. Paciente de 55 anos, com deformidade em pólo superior da mama esquerda após segmentectomia e radioterapia.


Figura 6 - Pós-operatório imediato, injetados 60 ml de gordura e pexia da mama.

 

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