Open Access Revisão por pares

Original Article - Year 2010 - Volume 25 - Issue 4

Developmental comparison between macroscopic and simple sutures and intradermal in cosmetic surgery of the eyelids

Comparação macroscópica evolutivas entre suturas simples e intradérmica em cirurgias estéticas das pálpebras

http://www.dx.doi.org/

ABSTRACT

This study, looking through simple observation of the authors of postoperative upper blepharoplasty, compares the cosmetic results of simple suture and suture in intradermal upper eyelids.

Keywords: Eyelids/surgery. Blepharoplasty. Suture techniques.

RESUMO

O presente estudo procura, por meio de simples observação dos autores do pós-operatório de blefaroplastias superiores, comparar os resultados estéticos da sutura simples e a sutura intradérmica nas pálpebras superiores.

Palavras-chave: Pálpebras/cirurgia. Blefaroplastia. Técnicas de sutura.


INTRODUÇÃO

Em Cirurgia, as raízes dos princípios básicos foram descritas e classificadas por Guy de Chauliac, no século XVI, quando escreveu: "O propósito comum em toda solução de continuidade é a união. Esta intenção geral e primária é obtida por duas maneiras: pela natureza, como principal "operador", a qual trabalha com suas próprias forças e com nutrição adequada, e pelo médico, que, trabalhando como um servo, usa cinco intenções, dependentes entre si: (1) remoção de corpos estranhos, (2) reaproximação das partes divididas entre si; (3) manutenção das partes repostas em sua forma original; (4) conservação e preservação da substância de um órgão; (5) correção da complicação".

Observando-se tais princípios, podemos notar que estes são notados pelo homem desde há muito tempo1-8, os antigos egípcios (1.600 a.C.), como assinalado no Papyrus de Edwin Smith, utilizavam-se de fitas de linho e cola para reaproximar as bordas das feridas; na Grécia antiga, adesivos à base de óxido de chumbo, água, óleo de oliva e cera de abelhas com resina eram usados para o mesmo fim de síntese cutânea. Já nativos africanos utilizavam-se de mandíbulas de formigas cortadeiras, que tinham suas cabeças separadas dos corpos após a reaproximação de bordas de feridas, a fim de que o trisma muscular destas mandíbulas as mantivessem permanentemente unidas até a consolidação cicatricial.

A cirurgia hindu do século VI a.C. descreve utilização de tendões animais, crina de cavalos, fitas de couro, algodão, entre outros. Em Bolonha, no século XIII,Teodoric e Mundinus utilizavam-se de seda para as suas suturas. Samuel Young, em 1807, condenava a técnica de sutura, contariando o que preconizava Mateo Purman (1648-1721), que utilizava fios como seda e catgut rudimentar.

Kocher e Halsted experimentaram melhores resultados da seda sobre o catgut. Diversos fios absorviveis têm sido utilizados, tais como: fascia bovina, tendões de canguru e, finalmente, catgut esterilizado; tendo este último desfrutado de largo período de preferência pelos cirurgiões, mesmo apresentando reações tissulares determinadas pelas digestões proteolíticas do material do fio.

Ultimamente, a introdução do fio absorvível sintético (ácido poliglicólico e derivados) como material de sutura teve grande aceitação nas diversas especialidades cirúrgicas, por apresentar menor reação tissular, visto que sua absorção é decorrente da desintegração hidrolítica. Por outro lado, os fios inabsorvíveis passaram por evoluções bem mais simples, persistindo até hoje o uso de fios precocemente utilizados por discípulos de Ambroise-Paré.

Linho, seda e algodão, dentre outros, são até hoje encontrados no mercado e até amplamente defendidos por cirurgiões que fazem uso de mais modernos também, como os metálicos, de prata, alumínio e aço, e os mais recentes, sendo o nylon de maior aceitação dentre os de fibras sintéticas inabsorvíveis, não só por sua melhor capacidade tensional, como menor efeito "memória" dado pela elasticidade contrátil que o tempo o impõe, somado ao seu baixo custo, menor reação tissular (pele) e facilidade de manipulação e retirada.

O objetivo deste trabalho é demonstrar os resultados comparativos entre suturas simples e intradérmicas, com fio monofilamento de nylon®, de espessura 6-0 (seis zero), em cirurgias estéticas de pálpebras superiores.

Os critérios de avaliação utilizados foram:

1) Período imediato: que corresponde aos 30 primeiros dias do pós-operatório;
2) Período mediato: de 30 a 180 dias pós-operatórios;
3) Período tardio: após 180 dias pós-operatórios.

Foram observados os resultados nas situações:

A) Os dois tipos de suturas em um mesmo paciente (lado direito simples e lado esquerdo intradérmico);
B) Os dois tipos de suturas em pacientes diferentes (um paciente somente com suturas simples e outros somente com sutura intradérmica).


MÉTODO

Fios utilizados

Fio inabsorvível, Mononylon®, 6-0 (seis zeros), agulha 1,95 cm, preto/negro, monofilamento -N.ABS, 45 cm.

Caracterização dos pacientes

Foram avaliados pacientes de ambos os sexos, submetidos a cirurgias estéticas das pálpebras), com idades entre 20 e 56 anos, todos caucasianos.

Blefaroplastia superior foi realizada em 30 pacientes, divididos em 3 grupos:

  • Grupo 1 - 10 pacientes submetidos somente a sutura simples bilateral;
  • Grupo 2 - 10 pacientes submetidos somente a sutura intradérmica bilateral;
  • Grupo 3 - 10 pacientes submetidos a sutura intradérmica na pálpebra esquerda e sutura simples na pálpebra direita.Os pacientes foram acompanhados por um período de 1 ano.


  • As intradérmicas foram realizadas com Mononylon 6-0 e as sutura simples, com pontos separados com Mononylon 6-0.

    Todos os pontos foram retirados ao 7º dia de pós-operatório.

    A avaliação foi subjetiva, por meio da análise interpretativa dos autores.

    Foram considerados os seguintes critérios para avaliação dos resultados:

  • Comparação quanto à reação inflamatória (período imediato);
  • Comparação quanto ao período de desaparecimento da reação inflamatória (período mediato);
  • Comparação dos resultados tardios;
  • Comparação de eventuais complicações por hipertrofias cicatriciais;
  • "Falsas complicações" de caráter temporário. Entende-se como "falsa complicação", deiscências por abertura do nó de suturas e alteração cicatricial por falta de cuidados pós-operatórios por parte dos pacientes.



  • RESULTADOS

    Com relação aos tipos de suturas, observamos:

  • Intradérmica com Mononylon 6-0 - reação tissular menos intensa, com pouca secreção, pouco sangramento e edema mais localizado em torno da cicatriz, maior "entumecimento" da cicatriz que persiste até o 90º dia. Já em relação ao aspecto final, o resultado sempre foi satisfatório, sendo considerado bom.
  • Simples com Mononylon 6-0 - reação tissular dentro dos parâmetros normais de cicatrização, com maior formação de crostas, maior possibilidade de sangramento pós-operatório, menor "entumecimento" da cicatriz que atinge rapidamente seus aspectos finais (em torno do 60º dia), porém chamou-nos a atenção a formação de "Centopéia" (Sperli9) por pontos muito apertados. Já em relação ao aspecto final, o resultado na maioria foi satisfatório, sendo considerado bom.


  • As complicações mais comuns foram deiscência de sutura e cicatrizes inestéticas. As principais causas das complicações foram:

  • Deiscência de sutura: tensão muito grande sobre a área de sutura; mobilização precoce da área suturada (trauma local); bordas das feridas mal coaptadas; qualidade do fio utilizado na sutura ("mastigado" por Kelly, pinças ou defeito de fábrica); tipo de sutura inadequado (sutura superficial muito apertada).
  • Cicatrizes inestéticas: tendência individual das pacientes às cicatrizes hipertróficas e queloideanas; presença de cicatriz tipo "Centopéia", em pacientes com pele fina e cutis muito branca, submetidos a sutura simples de pele total com fio muito apertado.


  • No Grupo 1, notamos em 2 pacientes a permanência de cicatriz tipo "Trilho de Trem" após 180 dias do procedimento cirúrgico, que relacionamos com a força do nó empregado para aproximar as bordas da sutura, somada ao edema instalado no pós-operatório (forças contrárias). Em compensação, no restante dos pacientes (18 pacientes), a sutura final ficou esteticamente satisfatória por volta do 90º dia pós-operatório. Observamos, também, maior formação de crostas na cicatriz, o que relacionamos com a maior possibilidade de sangramento que esta sutura proporciona, como também menor edema da cicatriz em comparação aos grupos 2 e 3.

    No Grupo 2, ocorreu melhora visível da aparência das fases de cicatrização nos períodos imediato e mediato, com algumas restrições, tais como naquelas em que houve intercorrências, como, por exemplo (1 caso), ruptura espontânea do fio no 4º dia de pós-operatório, provocando deiscência da sutura (resolvida imediatamente com sutura simples). Em relação ao aspecto final, a mais rápida visualização do resultado final (60 dias) precocemente fixado em relação à sutura simples (diferença de 30 dias) leva-nos a crer ser este satisfatório.

    No Grupo 3, ocorreram somadas as variáveis de aspecto cicatricial (melhor a curto prazo na sutura intradérmica) com segurança cicatricial (pontos simples), sendo observadas ambas as suturas em um mesmo paciente. Notamos pequenas alterações de quantidade de edema (> intradérmica / < simples), formação de crostas (> simples / < intradérmica), deiscência ( > intradérmica), "Trilho de Trem" (>simples / inexistente na intradérmica) e aspecto final igual nas duas, excetuando-se as "Trilho de Trem", que apareceram nas suturas simples (1 caso no Grupo 1 e 1 caso no Grupo 3).


    CONCLUSÕES

    Sabemos que o tipo de sutura a ser empregado é sempre a grande incógnita do cirurgião recém-formado e há dúvida quanto a possíveis mudanças no cirurgião experiente. Nesse trabalho, notamos que, nas cirurgias estéticas das pálpebras superiores, o tipo de sutura empregado tem pouca alteração, seja ela simples ou intradérmica, executadas com fio monofilamento de nylon 6-0, sendo a forma de sua execução somada ao tipo de pele e à capacidade cicatricial do paciente realmente o que vai proporcionar melhor resultado estético final.

    Nos 3 grupos estudados, observamos diferenças (edema, crostas, deiscências e "centopéias") e semelhanças (aspecto final e grau de satisfação pessoal do paciente e do cirurgião) que nos deixam bastante à vontade para afirmar que a técnica empregada, seja ela sutura simples ou intradérmica, sendo observados os princípios básicos de sutura pouco apertada, evitando-se a manipulação excessiva dos fios com pinças e "Kellys", tomando-se cuidado na limpeza da cicatriz e compressas frias no pós-operatório, trarão com certeza resultados similares e de aspecto muito satisfatório. A facilidade ou não de execução, bem como a rapidez para realização das suturas deverão definir a preferência pessoal de cada cirurgião.


    REFERÊNCIAS

    1. Lilly GE, Cutcher JL, Jones JC, Armstrong JH. Reaction of oral tissue to suture materials. Oral Surg. 1972;33:152-7.

    2. Brieger GH. Evolução da cirurgia. Aspectos históricos importantes na origem e evolução da cirurgia moderna. In: Sabiston DC, ed. Tratado de cirurgia. As bases biológicas da prática cirúrgica moderna. 14ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.

    3. Bryant WM. Wound healing. In: Clinical Symposia. Summit:CIBA, 29(3);1977.

    4. Chase R. Basic principles of surgical techniques. In: Georgiade S, Georgiade N, Riefkohlr R, Barwicck W, eds. Essentials of plastic maxillofacial and reconstructive surgery. Baltimore:Williams & Wilkins;1987.

    5. Converse J. Introduction to plastic surgery. In: Converse J, ed. Reconstructive plastic surgery. Vol. I. Philadelphia:W.B.Saunders;1977.

    6. Herman JB. Changes in tensile strength and knot security of surgical sutures in vivo. AMA Arch Surg. 1973;106(5):707-10.

    7. Ochsner A. History of suture material. 1970.

    8. Postlethwait RW, Willigan DA, Ulin AW. Human tissue reaction to sutures. Ann Surg. 1975;181(2):144-50.

    9. Sperli AE. Oclusão de feridas de urgência. J Bras Med. 1969;17:42-73.










    Correspondência para:
    José Octávio Gonçalves de Freitas
    Av. Nazaré, 28 - Ipiranga
    São Paulo, SP, Brasil - CEP 04262-000
    E-mail: joseoctavio@ig.com.br

    Artigo submetido pelo SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBCP.
    Artigo recebido: 6/10/2010
    Artigo aceito: 5/11/2010

    Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Ipiranga, São Paulo, SP, Brasil.