INTRODUÇÃO
A retirada da mama masculina e feminina para tratamentos diversos é descrito desde a antiguidade1-3. Hipócrates (circa 460-370 a.C) relata tratamentos como cauterização de tumores. Por razões estéticas é descrito por Paulus Aegineta, no século VII, tratamento da mama hipertrófica masculina e, por motivos religiosos, é relatado na lista da martiriologia Hieronyminiana e Cartaginense do século VI o ocorrido com Santa Ágata. Acusada de pertencer a seitas fora da lei por Quintianus, foi por este motivo condenada a ser esticada na roda, açoitada, marcada com ferros em brasa e, finalmente, ter seus seios cortados como retrata a Figura 1.
Figura 1 - Martírio de Santa Ágata de Sebastiano del Piombo, em 1520, óleo sobre tela, 127 cm x 178 cm, Palazzo Pitti, Florença.
Para tratamento de ptoses e hipertrofias mamárias como é indicado nos tempos atuais, diversos são os autores que contribuíram. É importante que se diga que os conceitos gerais que norteiam estes procedimentos, 1. incisão submamária; 2. transposição da aréola e 3. ressecção da glândula e da pele, foram bem estabelecidos antes da Primeira Guerra Mundial. No período pós-guerra, grandes avanços foram conseguidos com os trabalhos de diversos autores no tocante ao tamanho da ressecção da glândula e pele, como Kraske (1923), Biesenberger (1928), e outros, sendo o maior avanço obtido com o trabalho de Schwarzmann (1930), que desenvolveu o conceito do pedículo dérmico. Para este período, o mérito em simplificar e tornar também mais reprodutível estes procedimentos cabe a Wise, que usando fundamentos geométricos fundamentados na técnica original de Nedkoff (1938) "Key Hole", preconizou seu método para redução mamária com o uso de um molde com o qual determinava a quantidade de pele que deveria ser deixada. Quanto ao complexo aréolo-papilar (CAP), o mesmo era enxertado.
A era das mastoplastias modernas tem início na década de 60 com os trabalhos de Strombeck que, em 1973, publicou uma série de 570 pacientes operados com sua técnica que utilizava o preconizado por Nedkoff, Wise e Schwarzmann. Nesta década, destaca-se o notável cirurgião plástico brasileiro Prof. Ivo Pitanguy, que publica sua técnica baseada nas publicações de Lexer (1912), Kraske (1923) e Arié (1957). Não poderíamos deixar de citar ainda Skoog (1963), com seu pedículo dérmico lateral, e Mackissok (1972), com sua popular aréola bipediculada em retalhos dérmicos. Nosso país é pródigo em contribuições4-6 para o aprimoramento das mastoplastias. Citando só alguns, pois a rigor difícil é o cirurgião brasileiro que não possua seus truques nesta seara, salientamos Ronaldo Pontes (1973), Baroudi, Keppke e Carvalho (1979), Peixoto (1979), Riquet (1979), Bozola (1982), Felicio, Bustos e Erfon (1992).
O certo é que, apesar de todas as técnicas disponíveis, o ensino do aprender a aprender não é fácil nesta área da especialidade! A máxima do grande Paulo Freire diz que ninguém ensina ninguém, alguém ensina o outro a aprender7. Com o objetivo de criar uma abordagem para aprender ensinar o aprender, o aprender de Freire, passou-se a desenvolver a abordagem cirúrgica que denominamos de Mastoplastia com Marcação Única. Foi determinado que esta forma de operar mama atenderia aos seguintes requisitos:
Ter o aprendizado fácil e seguro; Ter perda sanguínea mínima; Ser rápida; Minimizar as cicatrizes; Ter resultados reprodutíveis e previsíveis; Permitir que se utilizem diversas técnicas cirúrgicas.
O objetivo desse trabalho é apresentar como foi fundamentado e desenvolvido esta abordagem e os resultados da sua aplicação clínica.
Fundamentos da mastoplastia com abordagem cirúrgica da mama com marcação única
Foram utilizados como fundamentos desta abordagem cirúrgica à mama:
Análise de aspectos da sua anatomia de superfície; Análise da analogia da mama feita com o sólido geométrico de revolução "cone", cuja forma é frequentemente atribuída a este órgão na literatura médica; Fórmula matemática para o cálculo do volume do cone.
Análise de aspectos da anatomia da superfície da mama
O corpo aproximadamente circular da mama feminina se apóia sobre um leito estendido transversalmente da borda lateral do esterno até a linha axilar média e verticalmente da 2ª até a 6ª costelas. Dois terços do leito da mama são formados pela fáscia peitoral sobre o músculo peitoral maior; o outro terço, pela fáscia que recobre o músculo serrátil anterior. No homem e na criança, a mama é rudimentar. A glândula mamária está fixada de maneira firme à derme da pele sobrejacente, principalmente, por condensações de tecido conjuntivo fibroso conhecido como ligamentos suspensores da mama (de Cooper). É composta por gordura, vasos sanguíneos, nervos, vasos linfáticos e, aproximadamente, 15 a 20 lóbulos de tecido glandular. Estes últimos são drenados individualmente por um ducto lactífero, que se abre independentemente na papila mamária localizada na aréola. Isso constitui o complexo aréolo-papilar (CAP)8.
Mey e Lejour9 definem as medidas de uma mama ideal, com as quais se criou uma régua específica para mastoplastias (Figura 2). Este tipo de instrumento não foi encontrado descrito na literatura. A régua de "pessoa" é usada para marcar as referências pré-operatórias necessárias para o acesso e a modelagem da glândula e pele, feita em todos os tipos de mastoplastias, a saber, redução, ptoses e aumento. O citado instrumento também é usado como "molde", contendo as medidas máximas de ressecção de pele a ser feita no início da cirurgia. Sabe-se que eventuais erros de cálculo de retiradas de glândula e pele são caminhos sem volta.
Figura 2 - Régua para mastoplastia de "pessoa", tem o comprimento de 22 cm, que é a distância da fúrcula esternal à papila, mais ou menos um centímetro, 8 cm de largura medida da papila ao sulco mamário, referida na descrição de De Mey e Lejour9 para uma mama ideal como máxima (7 a 8 cm).
Essa análise sobre os pontos de referências que compõem a mama se baseou em Colen10 (Figura 3). Essas marcas foram usadas para padronizar os locais de medida nas avaliações realziadas nesse trabalho.
Figura 3 - Sólido de revolução gerado pela rotação de um triângulo retângulo em torno de um eixo coincidente com um de seus catetos.
Análise da analogia feita com a mama e o sólido geométrico de revolução "cone"
Diversos autores se referem à mama como um cone. Para facilitar o entendimento, faremos uma pequena revisão sobre o que é um cone10-12.
Geometria espacial: cones
Considere uma região plana limitada por uma curva suave (sem quinas), fechada e um ponto P fora desse plano. Chama-se de cone o sólido formado pela reunião de todos os segmentos de reta que têm uma extremidade em P e a outra num ponto qualquer da região citada (Figura 4).
Figura 4 - Componentes da forma mamária de Colen10: A = Sulco superior, B = Limite medial, C = Sulco submamário, D = Abaulamento lateral, E = Sulco axilar anterior, F = Projeção da mama, G = Ptose, H = Forma e posição da aréola.
Em um cone, podem ser identificados vários elementos:
Vértice de um cone é o ponto P, onde concorrem todos os segmentos de reta; Base de um cone é a região plana contida no interior da curva, inclusive a própria curva; Eixo do cone é quando a base do cone é uma região que possui centro, o eixo é o segmento de reta que passa pelo vértice P e pelo centro da base; Geratriz é qualquer segmento que tenha uma extremidade no vértice do cone e a outra na curva que envolve a base; Altura é a distância do vértice do cone ao plano da base; Superfície lateral de um cone é a reunião de todos os segmentos de reta que têm uma extremidade em P e a outra na curva que envolve a base; Superfície do cone é a reunião da superfície lateral com a base do cone que é o círculo; Seção meridiana de um cone é uma região triangular obtida pela interseção do cone com um plano que contém o eixo do mesmo.
Os cones podem ser divididos em:
Reto; Oblíquo; Equilátero.
Criando um Cone Mamário
1. Considere a descrição de Colen10 e observe o sulco mamário inferior - SMI e a base do abaulamento superior (sulco mamário superior - SMS), trace as linhas axilar e torácica média e veja que estas delimitam uma área sobre a superfície plana da parede anterior do tórax, semelhante à definição de cone. Falta apenas o ponto P fora deste plano (Figura 5).
Figura 5 - Criando um cone mamário: linhas de referência.
2. Observe que a linha média mamária, uma das referências universais em mastoplastias, traçada a partir da clavícula, cruza os sulcos citados no item 1.
3. Verifique e marque o ponto A de Pitanguy, que é o ponto em que a extremidade inferior do segmento da linha média mamária situada entre os sulcos mamários cruza o inferior. Identifique e marque ainda com a letra M (médio) o ponto médio do citado segmento de linha e, com a letra B, o ponto em que este mesmo segmento de linha cruza a marcação do sulco superior citado.
4. Tracione verticalmente e para cima o ponto A e o mantenha tracionado exatamente sobre o ponto M. Com esta manobra, cria-se o ponto P que faltava para a formação do cone. Neste trabalho, A=P, que será chamado a partir de agora de ponto P. A geratriz é a linha P, B (Figura 6). O tipo de cone será equilátero, cuja definição é esta.
Figura 6 - Criando um cone mamário: linhas de referência.
Definição do cone equilátero
Um cone circular reto é um cone equilátero se a sua seção meridiana é uma região triangular equilátera e, neste caso, a medida da geratriz é igual à medida do diâmetro da base. Nesta descrição (g) geratriz = diâmetro da base.
Fórmula matemática para o cálculo do volume do cone
Utiliza-se a seguinte expressão: volume, V, de um cone de altura, h, e base com raio, r, é 1/3 do volume do cilindro com as mesmas dimensões:
O centro de massa (considerando que o cone possui densidade uniforme) está localizado no seu eixo, a 1/4 da distância da base ao eixo. O citado é outro ponto importante a ser considerado, pois a grande maioria dos autores se referem ao peso ressecado. Na mama, o volume reduzido é mais importante que o seu peso, uma vez que é composta por tecidos com diferentes densidades, logo pode haver mamas volumosas com baixo peso.
Com a fórmula e o exposto, pode-se definir previamente os volumes mamários apresentados pelas pacientes e estabelecer valores preditivos dos volumes resultantes das mamas avaliadas. Exemplificando como calcular o volume de uma mama: Mama como um cone com as seguintes medidas ?= 3.14 (constante), r= 5.52 cm x h= 10 cm o seu volume é igual a 316,61 cm3.
MÉTODO
No período de 1989 a 2009, foram realizadas 723 mastoplastias para redução, correção de ptose e aumento no Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará e no São Lucas - Hospital de Cirurgia & Anestesia.
Critérios de exclusão: distúrbios psicológicos, obesidade mórbida e pacientes com indicação de implante de prótese sem redução de pele e/ou aréola.
Três tamanhos de aréolas foram utilizados. A Figura 7 apresenta a marcação feita em todas as mamas em que não houve preservação total de pele.
Figura 7 - A: aréola com 4 cm de diâmetro; B: aréola com 5 cm de diâmetro; C: aréola com 6 cm de diâmetro; D: exemplo prático.
Marcação Única em 10 passos
Com a paciente em pé e utilizando a régua de "pessoa" para mastoplastias e caneta do tipo marcador permanente, realiza-se:
PASSO 1. Identificação das linhas médias torácica, axilares e mamária e os sulcos mamários superiores e inferiores. Marcação do ponto A de Pitanguy que será o ponto P do neocone já definido e justificado acima (Figura 8). PASSO 2. Posicionamento da régua no ponto P e marcação da aréola (Figura 9).
Figura 8 - Identificação do ponto A de Pitanguy, que será o ponto P do neocone sobre a linha que parte da clavícula, divide a mama e cruza o sulco submamário (PASSO 1).
Figura 9 - Régua posicionada abaixo do ponto P, para marcar o tamanho adequado de aréola para mama a ser operada (PASSO 2).
A anestesia é uma decisão pessoal do anestesiologista.
Todas as mamas foram infiltradas:
Anestesia peridural - Solução composta de 400 ml de soro fisiológico a 0,9% com o conteúdo de duas ampolas de adrenalina, 1 ml cada, com a concentração 1:1000. Anestesia geral - Solução composta de 338 ml soro fisiológico a 0,9% com o conteúdo de duas ampolas de adrenalina, 1 ml cada, com a concentração 1:1000 acrescido de 60 ml de solução com o enantiômero do cloridrato de bupivacaína (cloridrato de (S)-1- butil-2-piperidilformo-2', 6'-xilidida) com a concentração de 5mg por 1ml13.
Preparação da pele com digluconato de clorexidina (Clorexidine), soluções a 4% degermante e alcoólica a 0,5%.
Posicionamento da pacientes na mesa cirúrgica, com tórax elevado em aproximadamente 30° graus e braços abduzidos a 90° graus.
Com o primeiro assistente segurando a mama é feita a marcação da circunferência areolar a ser preservada, com o marcador de aréola adequado.
PASSO 3. Retirada da epiderme com parte da derme da área peri CAP e outras previstas para cada caso operado. No presente trabalho, foram usados os tipos ilustrados na Figura 10. O acesso à glândula é feito através de incisão na área decorticada, paralelo e a 0,5 centímetros do bordo cutâneo. Neste momento é delimitado o pedículo adequado. Nesse trabalho três tipos foram usados: superior, inferior e central (Figura 11). PASSO 4. Posicionamento do gancho no ponto P e início da modelagem da mama. É iniciada com a suspensão da mama com um gancho para mastoplastia aplicado no ponto P. As retiradas de tecido adiposo e glândula são feitas: no pólo inferior e lateral das mamas e abaixo do CAP, nos casos em que é possível manter uma espessura de aproximadamente 10 cm, em casos de pedículo superior. Quando o pedículo for inferior, as ressecções são laterais e superiormente; já no pedículo central, as ressecções são circunferencial e/ou em semicírculo. Na medida em que as retiradas são feitas, com o auxílio de pinças de bacaus, deve-se acomodar a pele sobre o cone em formação, a fim de atingir o volume previsto (Figura 12). PASSO 5. Ponto de suspensão 1. Concluídas as ressecções glandulares e adiposas, posiciona-se em definitivo a aréola abaixo do ponto P, utilizando um fio de algodão 3-0. Deste conjunto aréola-ponto P, tracionando-se perpendicular ao tórax, conclui-se o cone mamário planejado e desejado pela paciente (Figura 13). O rigor com a precisão das ressecções é extremo e os cuidados com a hemostasia são rigorosíssimos. PASSO 6. Ponto de suspensão 2. Mastoplastias com cicatriz resultante T e L. Com este ponto fica definida a circunferência cutânea da neo-aréola. Antes de aplicar o ponto, utilizando fio de algodão 3-0, é verificado se a área decorticada está incisada a até 1cm acima do local destinado a este ponto nas pacientes com pedículo superior para que não exista nenhuma dificuldade em posicionar a aréola; nos demais tipos de pedículos não se faz necessária esta observação. PASSO 7. Com o assistente tracionando os pontos de suspensão 1 e 2, utilizando duas pinças de bacaus e manobra bidigital, são definidos os excessos de pele. A seguir, incisando nos locais em que as pinças foram posicionadas, aplicam-se os pontos de reparo com fio de algodão 3-0. Um centímetro abaixo do ponto mais inferior se realiza um terceiro ponto, reparo transitório para proteção da pele, que fica preso ao ponto A sulco inferior, possibilitando a visualização dos excessos de pele laterais (ear pig) que são excisados, formando o T ou o L e refinamentos nas ressecções glandulares e cutâneas com a mama já montada. Vale ressaltar que esse pequeno segmento de pele que foi aplicado no terceiro ponto é excisado ao término desse passo (Figura 13). PASSO 8. Fechamento das mamas. Os fios de sutura utilizados são absorvíveis 3-0 para os planos profundos e sulco submamário, 4-0 para a vertical e 5-0 para aréola. Rotineiramente, não são utilizados drenos, mas na ocorrência de dúvidas quanto à hemostasia, não se deve hesitar em utilizar drenos fechados (de sucção) - Figura 14. PASSO 9. O curativo é feito com gaze, fitas de micropore e sutiã com abertura na frente sem costura, que é mantido inicialmente por 5 dias (Figura 14). PASSO 10. O pós-operatório não é restritivo. Deambulação precoce, movimentação passiva dos braços. A partir dos 21 dias, a paciente pode retornar às atividades habituais e, aos 45 dias, pode voltar a praticar exercícios físicos. Se não houver indícios de cicatriz hipertrófica, a exposição solar é liberada.
Figura 10 - Tipos de decorticação. O primeiro em pára-quedas, o segundo circunferencial, o terceiro em picolé, e quarto exemplo prático do terceiro tipo.
Figura 11 - Acesso à glândula antes de definir o tipo de pedículo, na sequência vemos pedículo lateral superior e inferior.
Figura 12 - Ponto de suspensão. Modelando o cone mamário direito; movimento de rotação.
Figura 13 - Ilustração do PASSO 7.
Figura 14 - Finaliza as ressecções de glândula e pele faz-se as suturas.
RESULTADOS
Foram operados 723 pacientes, com idade entre 16 e 65 anos, com predomínio da faixa etária entre 20 e 49 anos, representando 79% do total. As principais queixas pré-operatórias relatadas foram: desconforto físico (100%), má postura e dor na coluna (20%), marcas supraclaviculares (13%), dor pré-menstrual (40%). Outras queixas, como má formação congênita, somaram 5% do total de casos operados. Cento e oito (14,93%) pacientes foram submetidas à inclusão de prótese com redução de aréola e pele ou exclusivamente um dos dois; 169 (22,37%) a tratamento de ptose, com retirada somente de pele, e 446 (61,68%) a mastoplastias redutoras, com retirada de pele e glândula. Deste total de mastoplastias redutoras (446), em 22 (5%) pacientes foi realizado pedículo inferior.
Utilizamos três tipos de tamanhos de aréolas 4, 5, 6 cm de diâmetro. As medidas entre o bordo inferior destas e o sulco mamário variaram entre 4 a 6 cm de comprimento (Figura 6). A Figura 6D exemplifica o aspecto final da marcação utilizada em todas as pacientes em que não houve preservação total de pele, apenas o CAP foi reduzido.
Os volumes resultantes foram calculados pela fórmula para cálculo do volume do cone mamário analisado no início deste trabalho. Os resultados variaram entre 320 cm3 a 677 cm3 . A maior ressecção foi de 710 cm3 em uma mama que o peso atingiu 1387 g.
Os tipos de cicatriz resultante foram: T (99,03%), L (0,55%) e circunferencial (0,41%). O tempo cirúrgico médio foi de três horas.
Na análise do grau da satisfação das pacientes com o procedimento, 87% declararam-se muito satisfeitas, 6%, satisfeitas, 4%, solicitaram retoques e 3%, insatisfeitas.
Como complicações, foram observadas necroses de aréolas em duas pacientes, nas quais foi utilizado pedículo inferior, e em uma paciente que tinha sido submetida a implante mamário anteriormente - Figuras 15 a 17.
Figura 15 - Paciente com 12 cm de distância entre o sulco mamário superior e inferior, raio = 6 cm, h - 4,5cm (diâmetro da aréola) + 5 cm (distância do bordo inferior da aréola para o sulco submamário) = 9,5 cm mama resultante terá seu volume igual a 357.9 cm
3.
Figura 16 - Pacientes com 13 cm de distância entre o sulco mamário superior e inferior raio = 6,5cm, h = 5cm (diâmetro da aréola) + 5 cm (distância do bordo inferior da aréola para o sulco submamário) = 10cm; mama resultante terá seu volume igual a 442 cm
3.
Figura 17 - Pacientes com 14 cm de distância entre o sulco mamário superior e inferior raio = 7 cm, h = 6 cm (diâmetro da aréola) + 5,5cm (distância do bordo inferior da aréola para o sulco submamário) = 11,5 cm; mama resultante terá seu volume igual a 677cm
3.
DISCUSSÃO
"Utilizar-se de uma técnica única não é uma
boa prática devido à riqueza de conhecimentos
na área." Spear SL et al., 1998.
Iniciamos esta discussão com o que afirma Spear e colaboradores, pois realmente nos parece desperdício não utilizar tudo aquilo que a literatura nos oferece de bom. Talvez esta tenha sido a grande motivação para elaborar esta abordagem. Fundamenta-se nas medidas das proporções que o paciente apresenta e não na aplicação de uma técnica em si. Cada paciente tem a mama que pode e não a que quer, sob a pena de cometer excessos para mais ou para menos. É claro que o desejo da paciente deve ser sempre respeitado, mas ao profissional é dado o direito de não operar de uma determinada forma que crie desproporções inestéticas não aceitas pela especialidade. Aceitar imposições de pacientes que causem dano à imagem do cirurgião e da especialidade cirurgia plástica pertence à seara da ética e da moral. Esta é tão necessária ao ensino da especialidade como as técnicas operatórias. O emprego dessa abordagem tornou bastante simplificado o ensinar a aprender. O conhecimento dos volumes iniciais e do que precisamos para obter medidas harmônicas com as proporções anatômicas do paciente são essenciais para que possamos argumentar e orientar as candidatas. Neste ponto, essa abordagem corresponde perfeitamente aos objetivos traçados. As críticas dos autores16-18 sobre o uso de moldes não podem ser aplicadas à abordagem descrita, pois se trata do emprego de uma régua como instrumento de medida universal, que pode ser padronizada com medidas cuja atribuição é feita de forma personalizada para cada paciente. A experiência adquirida com o seu uso levou os autores a esta sistematização de marcação única para mastoplastias. O grande mérito do seu emprego está nas medidas que indicam o máximo que se pode retirar de pele inicialmente. Desta forma, preserva-se a pele e a glândula. Os excessos destas estruturas anatômicas são retirados após ser visualizado o resultado a ser obtido, evitando-se manobras por sensibilidade ou "feelings" artísticos. Concordamos com Gold19, que com talento se nasce e é uma determinação genética, já a habilidade pode ser desenvolvida. O uso da analogia feita entre mama e cone (sólido geométrico) e o uso de fórmula matemática para o cálculo do volume durante todo o ato cirúrgico se mostrou plenamente viável em uma ciência e arte em que o nunca e o sempre não se aplicam.
Vale ressaltar que o que deve ser reduzido ou aumentado é o volume da mama e o não peso. No cálculo do volume do cone se considera uma única densidade. A glândula mamária apresenta diversas densidades, o que pode determinar alguma distorção no cálculo utilizado. Desconsidera-se este fato pois, na vivência clínica dos autores, a distorção estética é mais decorrente do volume. Mamas pequenas densas são menos volumosas e mais pesadas do que as maiores, adiposas ou de baixa densidade. Para visualizar o afirmado, deve-se depositar o tecido mamário de peças cirúrgicas em um recipiente com água, as adiposas flutuarão e as densas afundarão. A quantidade de líquido deslocado representará o volume. Partindo do exposto, todas as mamas deveriam ser leves e estruturadas de forma a minimizar a ação da gravidade. Segundo alguns autores20,21, o tamanho das mamas ideais varia entre 250 a 300 cm3. Mamas com 400 a 600cm3 têm hipertrofia moderada, de 600 a 800 cm3 significativa e > 1500 gigantomastia. Neste serviço, as preferências das pacientes variaram pelos volumes entre 380 a 520 cm3, o que significa regionalismo e o tratamento individualizado de cada paciente. O resultado máximo deixado nesta série foi de mamas com até 677cm3. Este volume, pela classificação acima, trata-se de uma mama hipertrófica moderada, contudo, para a paciente, este era o tamanho adequado. Um dos requisitos para uma abordagem operatória ser considerada satisfatória, a intensidade do sangramento deve ser mínima.
Nessa série, a infiltração de solução com adrenalina e anestésico em pacientes submetidas à anestesia geral se mostrou eficiente, pois diminui a quantidade de anestésico inalatório para manter o plano anestesiológico cirúrgico adequado e, consequentemente, o tempo e o custo operatório. Entretanto, o uso de infiltração com anestésico local em pacientes sem monitorização cerebral pode determinar a superficialização, sem que esta seja percebida. Nesta situação, o paciente poderá ouvir o que se fala durante o ato operatório. Neste grupo de pacientes apresentados, a grande maioria dos procedimentos foi feito com anestesia peridural alta e monitorizarão da profundidade anestésica com índice biespectral.
CONCLUSÕES
O exposto nos leva às seguintes conclusões:
1. A abordagem descrita atende ao que Freire preconiza; 2. O uso da régua é um parâmetro inicial seguro e constante para as ressecções cutâneas e da glândula mamária, tornando fácil e seguro o procedimento;
3. Infiltração da mama determina perdas sanguíneas mínimas, desta forma diminuindo o tempo cirúrgico;
4. As cicatrizes foram minimizadas;
5. A possibilidade de cálculo do volume mamário prévio e o conhecimento das medidas deixadas, permitindo o cálculo do volume final, são fatores preditivos dos resultados;
6. A abordagem permite que se aplique o conhecimento de diversas técnicas;
7. A individualização fundamentada nas características anatômicas de cada paciente foram fatores determinantes para o alto índice de satisfação.
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1. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Regente do Serviço de Cirurgia Plástica e Microci rurgia Reconstrutiva do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (UFCE). São Lucas - Hospital de Cirurgia e Anestesia.
2. Pós-graduação em Cirurgia Geral - Residente do 1º ano - Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva Hospital Universitário Walter Cantídio - UFCE.
3 Presidente da Liga de Cirurgia Plástica da UECE.
Trabalho realizado Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia Reconstrutiva do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará e no São Lucas Hospital de Cirurgia e Anestesia, Fortaleza, CE.
Trabalho Recebeu Menção Honrosa do Prêmio Georges Arié / Mentor 2009.
Correspondência para:
Salustiano Gomes Pinho Pessoa
Rua Luiza Miranda Coelho, 1030
Fortaleza, CE, Brasil - CEP 60811-110
E-mail: salustianogomes@uol.com.br
Artigo recebido: 5/8/2009
Artigo aceito: 12/11/2009