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Case Reports - Year2008 - Volume23 - Issue 4

RESUMO

Hemangiomas nasais são afecções muito raras. Hemangiomas ósseos, da mesma forma, se localizam preferencialmente na coluna vertebral e no crânio. Os hemangiomas em ossos do nariz, por sua vez, são afecções ainda mais raras. Na literatura pesquisada, são descritos 32 casos. Todos estes, com comprometimento ósseo apenas, e de etiologia ainda obscura. Os autores descrevem o caso, em paciente de 49 anos, com história de tumoração nasal há 10 anos, cujo tratamento realizado foi ressecção cirúrgica.

Palavras-chave: Hemangioma. Osso nasal. Ossos faciais. Neoplasias. Neoplasias nasais/ cirurgia.

ABSTRACT

Haemangioma of the nasal bone are very rare pathology, as the bone haemangioma. They are locate, in the most of cases, on the vertebral spine and skull. The nasal bone haemangioma are pathology more rare. On the literature reviewed, there were related 32 cases, all of them with just bone involved, and obscure origin.

Keywords: Hemangioma. Nasal bone. Facial bones. Neoplasms. Nose neoplasms/surgery.


INTRODUÇÃO

Hemangiomas de ossos nasais são afecções extremamente raras, cuja etiologia permanece obscura. O intuito deste trabalho é descrever o caso vivenciado em nosso serviço e discutir, mediante revisão bibliográfica, a etiologia, o diagnóstico e o tratamento adequado à mesma.

Hemangiomas ósseos são tumores raros, representando, aproximadamente, 0,7% de todos os tumores ósseos. Estes, por sua vez, são mais comuns em vértebras e crânio. Os hemangiomas de ossos nasais são tumores ainda mais raros. Em revisão bibliográfica, com literatura de 55 anos, foram relatados 32 casos.

O primeiro caso descrito na literatura foi em 1954, cujo tratamento foi ressecção e reconstrução com enxerto ósseo. Sua etiologia se mantém obscura ainda nos dias de hoje.

Clinicamente, manifesta-se como uma massa de crescimento lento (aproximadamente 3 a 4 anos), unilateral na maioria dos casos, com prevalência de 2 mulheres para cada homem. Desconforto local moderado está presente. Na maioria dos casos, mesmo quando há projeção para cavidade nasal (sem acometimento de mucosa), não há queixas respiratórias.

Radiografia e tomografia computadorizada são os exames complementares mais indicados para avaliar o grau de comprometimento dos ossos nasais. Esta última pode mostrar, inclusive, o plano de clivagem entre osso normal e massa tumoral.

Os diagnósticos diferenciais mais importantes são metástases ósseas, osteossarcoma e displasia fibrosa.

Seu tratamento é cirúrgico, seja por via de acesso nasal, com ressecção conservadora, ou por acesso coronal, com enxerto ósseo nos casos de maior gravidade.


RELATO DO CASO

Paciente do sexo masculino, 49 anos, procurou o Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal "Dr. Mário Gatti" com queixa de crescimento de tumoração nasal à direita há mais ou menos 10 anos, sem queixas respiratórias, atuais ou prévias, e sem qualquer história de trauma local. Relata incômodo ao usar óculos, sendo esta sua queixa principal.

Dois anos antes, a massa apresentou crescimento acelerado, com muita dor local.

Tabagista (10 cigarros/dia) há 25 anos, sem doenças de base. Submetido a nefrectomia radical à esquerda há três anos em decorrência de carcinoma renal. Na ocasião do atendimento, o paciente se mantinha em acompanhamento, assintomático.

Ao exame físico, observou-se lesão de 3 cm de diâmetro, dolorosa à palpação, aderida a planos profundos, sem acometimento cutâneo, de consistência endurecida, levantando a hipótese de tumoração óssea (Figura 1).


Figura 1 - A: Lesão nasal endurecida, visão frontal. B: Visão lateral.



Solicitadas radiografia (ossos próprios do nariz e Water's) e tomografia computadorizada de face, que demonstrava lesão expansiva em ossos próprios do nariz, à direita (Figura 2).


Figura 2 - A: Walters. B: Perfil.



Diante da história clínica, acreditava-se tratar de afecção de caráter benigno, displasia óssea, por exemplo. Contudo, a velocidade de crescimento mais acelerada e a dor local intensa, associadas aos achados radiológicos, sugeriram a hipótese de doença maligna, como osteossarcoma ou metástases ósseas. Característica essa, que discorda dos casos revisados.

Optou-se pela realização de biópsia incisional da lesão, para melhor elucidação diagnóstica e melhor planejamento terapêutico, tendo em vista a suspeita de malignidade.

Realizada biópsia da lesão nasal, sob anestesia geral, cujo resultado de exame anatomopatológico revelou hemangioma cavernoso/ausência de malignidade.

Optou-se por ressecção da massa, com acesso longitudinal em dorso nasal sobre área tumoral. À visão direta: lesão circunscrita de 3 cm de diâmetro. Realizado descolamento (a lesão já invadia septo ósseo) e ressecção da tumoração (Figuras 3 a 5).


Figura 3 - Visão direta da lesão.


Figura 4 - Peça anatômica após ressecção.


Figura 5 - Defeito gerado após ressecção da lesão.



Após exaustiva hemostasia, realizada reconstrução do arcabouço ósseo à direita, com cartilagem conchal (Figuras 6 a 8).


Figura 6 - Retirada da cartilagem conchal.


Figura 7 - Cartilagem conchal preparada.


Figura 8 - Pós-operatório imediato.



O laudo anatomopatológico descrevia fragmento de tecido de coloração pardo-acastanhada, consistência óssea, medindo 3,5 cm. Hemangioma cavernoso infiltrando tecido ósseo trabecular. Margens cirúrgicas não avaliáveis pelo prévio seccionamento.

Atualmente, o paciente encontra-se em seguimento pósoperatório de 14 meses, sem queixas dolorosas ou sinas de recidiva, e com bom aspecto estético (Figura 9).


Figura 9 - A: Pós-operatório de 14 meses, visão frontal. B: Visão lateral.



DISCUSSÃO

Kargi et al.1 descreveram que os hemangiomas compreendem 0,7% de todos os tumores ósseos. Estes mesmos autores concordaram com Kanter et al.2 que este tipo de tumor atinge em sua maioria as vértebras e o crânio.

Karacaoglan et al.3 afirmaram que a provável causa dos hemangiomas de ossos nasais seja traumas locais e acreditam que fatores hormonais também estejam envolvidos, enquanto que Kanter et al.2 defenderam a hipótese de que hemartomas congênitos manifestam-se como hemangioma. Entretanto, ambos autores não definiram com clareza a etiologia desta lesão, sendo ainda considerada obscura.

A literatura revisada descreve como queixa principal dos doentes o crescimento de uma massa indolor em região nasal, sem qualquer outro sintoma associado. Em alguns casos, leve desconforto está presente. Sintomas como epistaxe e obstrução nasal são exceções (2 casos).

Radiograficamente, segundo Zizmor et al.4, este tumor assemelha-se em alguns casos com aspecto de "colméia", o que é discutível, pois no trabalho de Kanter et al.2 não foi encontrado nenhum tipo de característica específica. Os autores citados concordam que a cortical marginal sempre está intacta e há como distinguir o trabeculado patológico do normal.

Todos os autores estudados neste levantamento bibliográfico concordam com a forma de tratamento, sendo preconizado, o cirúrgico. Na maioria dos casos, a excisão do tumor costuma ser conservadora, para que o procedimento cirúrgico não resulte em deformidade estética. A reconstrução pós-exérese tumoral pode ser realizada com enxerto cartilaginoso, seja ele septal ou auricular ou com enxerto ósseo5. Para pequenas lesões, Kanter et al.2 relatam que enxertos de qualquer natureza não são necessários.


REFERÊNCIAS

1. Kargi E, Babuccu O, Hosnuter M, Babuccu B. Hemangioma of the nasal bone: a case report. Kulak Burun Bogaz Ihtis Derg. 2005;14(1-2):32-4.

2. Kanter WR, Brown WC, Noe JM. Nasal bone hemangiomas: a review of clinical, radiologic, and operative experience. Plast Reconstr Surg. 1985;76(5):774-6.

3. Karacaoglan N, Akbas H, Eroglu L, Turan N, Demir A, Yavuz I. Hemangioma of the nasal bones. Ann Plast Surg. 1997;39(2):218-9.

4. Zizmor J, Robbett WF, Spiro RH, Ganz A, Tawfik B. Hemangioma of the nasal bones: radiographic appearance. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1978;87(3 Pt 1);360-3.

5. Layoun W, Testelin S, Devauchelle B. Cavernous hemangioma of the nasal bones. Rev Stomatol Chir Maxillofac. 2003;104(4):235-8.










I. Residente de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal "Dr. Mário Gatti".
II. Cirurgião Plástico e Médico Assistente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal de Campinas "Dr. Mário Gatti" e Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
III. Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Mestre em cirurgia de Cabeça e Pescoço pelo Hospital Heliópolis - SP. Médico Assistente do Serviço de Cabeça e Pescoço do Hospital Municipal "Dr. Mário Gatti".
IV. Cirurgiã e Traumatologista Buco-Maxilo-Facial do Hospital Municipal "Dr. Mário Gatti".

Correspondência para:
Bruno Barreto Cintra
Av. Francisco de Angelis, 89
Jardim das Oliveiras - Campinas - SP
CEP 13043-030
Tel: (19) 9613-0939/ 3579-0939
E-mail: bbcintra@yahoo.com.br

Trabalho realizado no Hospital Municipal "Dr. Mário Gatti", Campinas, SP. Trabalho apresentado, em forma de painel, no Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, novembro de 2006, Recife-PE.

Artigo recebido: 01/12/2007 Artigo aceito: 11/08/2008

 

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