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Original Article - Year2022 - Volume37 - Issue 3

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2022RBCP.598-pt

RESUMO

Introdução: O termo cirurgia genital feminina engloba várias técnicas com o objetivo de melhorar a área vulvar feminina estética e funcionalmente. Sentimentos de sofrimento emocional são comuns nas mulheres que buscam tais cirurgias, impactando significativamente em sua autoestima, sexualidade, higiene e funcionalidade vulvar. O objetivo é avaliar Avaliar o interesse das mulheres assistidas em um Centro de Atenção à Mulher em cirurgias íntimas.
Métodos: Estudo observacional transversal ocorrido no Centro de Atenção à Mulher (CAM) de Rio do Sul-SC. Para coleta dos dados, foi utilizado um questionário semiestruturado elaborado pelos autores. Os dados foram tratados e agrupados no programa Microsoft Excel e realizadas as análises descritivas dos dados utilizando o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).
Resultados: Os achados indicaram que houve um grande interesse geral na realização de cirurgias de estética íntima. Das 100 mulheres entrevistadas, 32 apresentavam interesse em realizar algum tipo de cirurgia de estética íntima.
Conclusão: Devido à importância dada à estética íntima na interferência física, psicossocial, sexual e cotidiana, com importante impacto na qualidade de vida dessas pessoas, é imperativo que recursos adequados sejam alocados para maior fornecimento de tais procedimentos no Sistema Único de Saúde para a população do Brasil.

Palavras-chave: Procedimentos cirúrgicos em ginecologia; Genitália feminina; Autoimagem; Sexualidade; Vulva

ABSTRACT

Introduction: The term female genital surgery encompasses several techniques to improve the female vulvar area, both aesthetically and functionally. Feelings of emotional distress are common in women who seek such surgeries, significantly impacting their self-esteem, sexuality, hygiene and vulvar functionality. The objective is to evaluate the interest of women assisted in a Women Care Center in intimate surgery.
Methods: Observational study carried out at the Women Care Center (CAM) in Rio do Sul-SC. For data collection, a semi-structured questionnaire developed by the authors was used. Data were processed and grouped in Microsoft Excel, and descriptive data analysis was performed using the Statistical Package for Social Sciences (SPSS) program.
Results: The findings indicated a great general interest in performing intimate aesthetic surgeries. Of the 100 women interviewed, 32 were interested in performing some intimate aesthetic surgery.
Conclusion: Due to the importance given to intimate cosmetics in physical, psychosocial, sexual and everyday interference, with a major impact on the quality of life of these people, adequate resources must be allocated to a greater supply of such procedures in the Unified Health System for the population of Brazil.

Keywords: Gynecologic surgical procedures; Genitalia, female; Self-concept; Sexuality; Vulva.


INTRODUÇÃO

Há muito tempo cirurgiões plásticos e ginecologistas trabalham em reconstruções vulvares relacionadas às cicatrizes de episiotomias e defeitos musculares funcionais na incontinência urinária1, 2. O termo cirurgia genital feminina engloba várias técnicas com o objetivo de melhorar a área vulvar feminina, tanto estética quanto funcionalmente3.

O campo da cirurgia plástica vulvar e vaginal feminina engloba um conjunto de intervenções cirúrgicas e não cirúrgicas muito amplas, dentre elas, a cirurgia de redução de pequenos lábios (chamada de labioplastia ou ninfoplastia), os procedimentos de rejuvenescimento genital, cirurgias de redução ou aumento de grandes lábios, lipoaspiração de monte do púbis, himenoplastia, intervenções sobre o ponto G e clitóris e procedimentos de clareamento vulvar4, 5, 6, 7.

A demanda por essas cirurgias vem crescendo cada vez mais. Segundo a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética, houve um aumento de 14% na demanda por essas cirurgias de 2014 para 2015, correspondendo a um crescimento de quase 220% nos últimos 5 anos. Atualmente, é praticada por mais de 25% dos cirurgiões plásticos8.

A reverência ao corpo e sua aparência constitui um importante recurso para obtenção de autoestima e bem-estar feminino. Dessa maneira, influencia não só nos aspectos ligados à vaidade, mas também naqueles que intervêm na saúde, em todos os seus aspectos. Nesse contexto, a plástica genital feminina tem sido uma das mais procuradas nos últimos cinco anos, principalmente por mulheres esteticamente insatisfeitas e que procuram uma vida sexual e social mais saudável e prazerosa2, 4.

Sentimentos de sofrimento emocional são comuns nessas mulheres, impactando significativamente em sua autoestima, sexualidade, higiene e funcionalidade vulvar. Várias queixas físicas envolvendo os pequenos lábios foram relatadas, incluindo dor, infecção, desconforto durante várias atividades físicas (incluindo relações sexuais) e dificuldades com a higiene pessoal4, 9.

Observou-se que o principal motivo da consulta das mulheres que desejam a labioplastia, principalmente, se dá por insatisfação emocional com a aparência genital e com as relações sexuais, referindo ansiedade ou inibição10.

Dessa forma, esta pesquisa buscou quantificar o interesse das mulheres assistidas pelo Centro de Atenção à Mulher (CAM) de Rio do Sul-SC nestes procedimentos, entendendo quais os motivos da insatisfação e mostrando como a estética íntima pode interferir na vida das pacientes. Tendo, portanto, como objetivo avaliar o interesse das mulheres assistidas pelo CAM de Rio do Sul em cirurgias estéticas íntimas.

OBJETIVO

Avaliar o interesse de um grupo de mulheres assistidas pelo CAM de Rio do Sul em cirurgias estéticas íntimas, avaliando causas estéticas e funcionais que influenciam no interesse.

MÉTODOS

Esta pesquisa caracteriza-se por ser um estudo observacional do tipo transversal quantitativo e qualitativo, de campo e exploratório. A pesquisa ocorreu no CAM de Rio do Sul-SC. A população do presente estudo foram mulheres, com idade entre 18 e 54 anos, atendidas pelos serviços de Ginecologia no período de fevereiro a março de 2021. Todas as pacientes que preenchiam os critérios de inclusão foram convidadas a participarem da pesquisa. Como estimativa amostral, utilizou-se uma média dos atendimentos realizados/dia, assim, esperava-se 150 pacientes a serem entrevistadas. Ao final do período de coleta, foram entrevistadas 100 mulheres, de acordo com o cálculo amostral de Medronho11; nesta pesquisa a amostra teve um IC 91,5%.

Os questionários foram aplicados, em abordagem pré-consulta ginecológica, nas pacientes sexualmente ativas e inativas, que são atendidas pelo CAM. Foram excluídas as que realizaram cirurgias e/ou procedimentos estéticos íntimos anteriores ou tivessem déficits cognitivos que dificultam a aplicação do questionário (Figura 1).

Figura 1 - Fluxograma de inclusão e exclusão de pacientes na pesquisa.

Como instrumento de pesquisa, foi utilizado um questionário semiestruturado elaborado pelos autores, no qual se subdivide em quatro blocos temáticos: Caracterização da Amostra; História Pregressa; Avaliação da Aparência Íntima, nesse bloco utilizando a classificação de Graus de Hiperplasia de Pequenos Lábios, segundo Colaneri12; e Conhecimento Acerca de Cirurgia Estética Íntima. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), com o número de parecer 4.372.410.

Os dados foram tratados e agrupados segundo as variáveis do estudo. A organização do banco de dados foi feita por meio de uma planilha específica no programa Microsoft Excel e após foi transferida ao programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 26.0 (IBM Corporation, Armonk, Nova York, EUA). Realizou-se análise descritiva dos resultados representando as variáveis quantitativas por média e desvio-padrão e as qualitativas por número absoluto e porcentagem.

RESULTADOS

Como pode-se observar na Tabela 1, sobre a caracterização da amostra, a média de idade foi de 37,56±12,96 anos. Das 100 pacientes a grande maioria era casada (54%), católica (61%) e possuía o ensino médio completo (34%). Além disso, pode-se observar que 86% referiram atração pelo sexo oposto (heterossexuais) e, em média, as pacientes apresentavam-se em sobrepeso (Índice de Massa Corporal - IMC - 26,65 kg/m2).

Tabela 1 - Características da Amostra (n=100).
Características da Amostra média ±DP ou n (%) n=100
Idade (anos) 37,56±12,96
Estado civil
Solteira 14 (14,0)
Namorando 26 (26,0)
Casada 54 (54,0)
Divorciada 3 (3,0)
Viúva 3 (3,0)
Religião
Sem religião 7 (7,0)
Católica 61 (61,0)
Protestante 15 (15,0)
Espírita 7 (07,0)
Outras 7 (07,0)
Adventista 3 (3,0)
Escolaridade
Ensino fundamental incompleto 17 (17,0)
Ensino fundamental completo 9 (09,0)
Ensino médio incompleto 19 (19,0)
Ensino médio completo 34 (34,0)
Ensino superior incompleto 9 (09,0)
Ensino superior completo 6 (06,0)
Pós-graduação 6 (06,0)
Mestrado 0 (0,00)
Doutorado 0 (0,00)
Pós-doutorado 0 (0,00)
Orientação sexual
Heterossexual 86 (86,0)
Homossexual 2 (02,0)
Bissexual 4 (04,0)
Não Responderam 8 (08,0)
IMC (Índice de Massa Corporal) = kg/m2 26,65±5,8

±DP: Desvio-padrão; n: Número absoluto; %: porcentagem. Nota: Os dados foram expressos por média±DP ou n (%). Método Estatístico Empregado: Análise Descritiva de Frequências.

Tabela 1 - Características da Amostra (n=100).

Já referente à relação das pacientes com sua estética íntima, pode-se pontuar que a maioria das pacientes considerava a estética íntima muito importante (61%) e a maior parte estava satisfeita (62%). Boa parcela das pacientes em algum momento se sentiu constrangida por sua estética íntima (47% às vezes, 5% sempre) e esse constrangimento era por vezes relacionado com uso de roupas como biquínis, calcinhas e leggings (36% às vezes, 13% sempre).

A maioria das pacientes não apresentava desconforto ou dor com roupas (59%) e estava satisfeita com a coloração e lubrificação das suas genitálias (75% e 48%, respectivamente). Sobre a interferência no dia a dia, 65% das mulheres assinalaram que sempre tinham interferência e 20% às vezes. A interferência na vida sexual e psicossocial não se mostrou presente na maioria dos casos (68% e 52%, respectivamente), conforme exposto na Tabela 2.

Tabela 2 - Relação com estética íntima (n=100).
Relação com estética íntima média ±DP ou n (%) n=100
Satisfação com a estética íntima
Muito satisfeita 17 (17,0)
Satisfeita 62 (62,0)
Pouco satisfeita 16 (16,0)
Indiferente 5 (5,0)
Importância
Muito importante 61 (61,0)
Importante 35 (35,0)
Pouco importante 2 (2,0)
Irrelevante 3 (03,3)
Constrangimento devido estética íntima
Sempre 5 (05,0)
Às vezes 47 (47,0)
Nunca 40 (40,0)
Indiferente 7 (07,7)
Desconforto ou dor com roupas
Sempre 10 (10,0)
Às vezes 30 (30,0)
Nunca 59 (59,0)
Indiferente 1 (01,0)
Constrangimento com roupas (biquínis, roupas íntimas e leggings)
Sempre 13 (13,0)
Às vezes 36 (36,0)
Nunca 47 (47,0)
Indiferente 4 (04,0)
Satisfação com coloração
Satisfeita 75 (75,0)
Insatisfeita 24 (24,0)
Não responderam 1 (01,0)
Satisfação com lubrificação
Muito satisfeita 38 (38,0)
Satisfeita 48 (48,0)
Pouco satisfeita 8 (08,0)
Indiferente 5 (05,0)
Não responderam 1 (01,0)
Interferência psicossocial
Sempre 10 (10,0)
Às vezes 26 (26,0)
Nunca 52 (52,0)
Indiferente 10 (10,0)
Não responderam 2 (02,0)
Interferência na vida sexual
Sempre 9 (09,0)
Às vezes 15 (15,0)
Nunca 68 (68,0)
Indiferente 7 (07,0)
Não responderam 1 (01,0)
Interferência no dia a dia
Sempre 65 (65,0)
Às vezes 20 (20,0)
Nunca 6 (06,0)
Indiferente 8 (08,0)
Não responderam 1 (01,0)

±DP: Desvio-padrão; n: Número absoluto; %: porcentagem. Nota: Os dados foram expressos por média±DP ou n (%). Método Estatístico Empregado: Análise Descritiva de Frequências.

Tabela 2 - Relação com estética íntima (n=100).

Na Tabela 3, pode-se observar que, das 100 pacientes, a grande maioria não possuía conhecimento sobre as cirurgias de estéticas íntimas e, além disso, uma parcela significativa (32%) tinha interesse em realizar algum tipo de cirurgia de estética íntima.

Tabela 3 - Cirurgia estética íntima (n=100).
Características da amostra média ±DP ou n (%) n=100
Conhecimento
Sim 10 (10,0)
Não 87 (87,0)
Não responderam 3 (3,0)
Interesse
Sim 32 (32,0)
Não 63 (63,0)
Não Responderam 5 (05,0)

±DP: Desvio-padrão; n: Número absoluto; %: porcentagem. Nota: Os dados foram expressos por média±DP ou n (%). Método Estatístico Empregado: Análise Descritiva de Frequências.

Tabela 3 - Cirurgia estética íntima (n=100).

Ao analisarmos a Tabela 4, nota-se que a maior parte das pacientes não possui nenhum grau de Hipertrofia de Pequenos Lábios (Figura 1), mas que um número relevante de pacientes (9%) apresenta graus maiores (3 - pequenos lábios maiores que 5cm e 4 - pequenos lábios maiores que 6cm).

Tabela 4 - Hiperplasia de pequenos lábios (n=100).
Grau de hiperplasia de pequenos lábios média±DP ou n (%) n=100
Graus de hiperplasia (Colaneri)12
Grau 0 (> 1cm) 49 (49,0)
Grau 1 (> 1 > 3cm) 24 (24,0)
Grau 2 (> 3 < 5cm) 14 (14,0)
Grau 3 (> 5cm) 7 (07,0)
Grau 4 (> 6cm) 2 (02,0)
Não responderam 4 (04,0)

±DP: Desvio-padrão; n: Número absoluto; %: porcentagem. Nota: Os dados foram expressos por média±DP ou n (%). Método Estatístico Empregado: Análise Descritiva de Frequências.

Tabela 4 - Hiperplasia de pequenos lábios (n=100).

DISCUSSÃO

Os achados obtidos com a pesquisa indicaram que houve um interesse geral na realização de cirurgias de estética íntima. Das 100 mulheres entrevistadas, 32 apresentavam interesse em realizar algum tipo de cirurgia de estética íntima.

Os resultados obtidos, que indicaram interesse em aproximadamente 32% das mulheres entrevistadas, corroboram com as constatações de Lima13, em que 35% demonstraram interesse na realização de procedimentos de estética íntima e 20% de interesse nos procedimentos cirúrgicos para embelezamento íntimo. Nos estudos de Kalaaji et al.14 houve interesse geral na realização de cirurgias de estética íntima, conforme evidenciado neste estudo (22,6%). Em contrapartida, ao procurar estudos mais recentes, não se encontram dados referentes ao interesse nesses procedimentos. No entanto, Placik & Devgan8 mostram o aumento exponencial da procura na Internet por procedimentos de lipoaspiração de monte de púbis e labioplastia entre 2018 e 2019.

Atualmente, cada vez mais a estética íntima ganha espaço, visto que as mulheres se sentem mais empoderadas e encorajadas a falar sobre sua sexualidade. Além disso, a mídia e a globalização trouxeram a idealização pelo corpo perfeito10. As mulheres desejam os procedimentos estéticos íntimos, na maior parte a labioplastia, por razões estéticas - por exemplo, para reduzir a autoconsciência em situações públicas e os sentimentos de feiura e anormalidade.

As razões funcionais são, por exemplo, para reduzir o desconforto, irritação ou dor durante atividades (não sexuais, por exemplo, irritação na roupa ou durante atividades esportivas). As razões sexuais são para diminuir a dispareunia ou o medo de avaliação negativa por um parceiro sexual ou autoconsciência durante a intimidade. Por vezes, tiveram uma experiência ruim com comentários negativos ou foram provocadas por sua aparência genital.

Os fatores que influenciam a decisão de se submeter à labioplastia são: a mídia, os relacionamentos e o bem-estar psicológico15. Sharp et al. caracterizaram as motivações das mulheres como motivações de “aparência”, “funcional”, “sexual” e “psicológica”, conforme comumente relatado8, 15, 16. Além disso, Pardo et al.17 relataram que entre as indicações de labioplastia estavam causas estéticas em 95,4%, funcionais em 37,2% e psicológicas em 17,4%.

Ao analisar o interesse no procedimento segundo a faixa etária, observa-se que 28% das pacientes tinham menos de 30 anos, 34% tinham entre 35-40 anos e 37,5% tinham mais que 40 anos. Comparando com a literatura, esses dados vão ao encontro com o estudo de Müllerová & Weiss, que mostra que a prevalência desses procedimentos é maior em pacientes da faixa etária de 25-35 anos, havendo uma segunda onda de procura entre os 40-50 anos16. Acredita-se que o maior interesse e a maior prevalência desses procedimentos se dão nessa faixa etária devido aos efeitos da puberdade e menopausa.

Além do alto interesse pelos procedimentos, a insatisfação com a estética íntima foi um ponto alarmante do estudo. Das pacientes estudadas, 16% estavam insatisfeitas com sua estética íntima, o que vai ao encontro com vários estudos realizado no Brasil, como o de Lima13, que apontou 15,3% de insatisfação, estatística que se repete em estudos internacionais como o de Sharp et al.9, que apontou aproximadamente 17% das mulheres insatisfeitas.

Das pacientes que se mostraram insatisfeitas, 68,75% tinham interesse em realizar algum procedimento de estética íntima. Da mesma maneira, no grupo formado pelas pacientes que responderam se sentirem constrangidas (sempre e às vezes) 48,97% tinham interesse de realizar alguma intervenção íntima. Esses dados mostram que os aspectos estéticos e psicológicos são os maiores motivadores para os procedimentos1, 8, 16, 18, 19.

Ao recorrer a características físicas/estruturais, observando o questionário de graus de Hipertrofia de Pequenos Lábios (HPL), as pacientes que apresentavam graus mais severos de hipertrofia, graus 3 e 4 na Classificação de Colaneri12 tinham em média mais interesse na realização de cirurgias de estética íntima (100%). Ao comparar com a literatura, não se encontra dados associando a prevalência dos procedimentos aos graus de HPL. Tal fato mostra que, além do componente mental de como a mulher se relaciona com sua estética íntima, existe o componente físico, que está diretamente ligado à maior procura por tais tipos de cirurgias. Ainda nesse estudo, observa-se que as pacientes com graus 3 e 4 de HPL sofrem mais com constrangimento e desconforto. Sendo assim, é importante que essas avaliações sejam realizadas e sistematizadas em sistemas de saúde.

Ao observar-se o conhecimento das mulheres sobre os tipos de cirurgia de estética íntima, a imensa maioria (87%) das pacientes não tinha conhecimento sobre nenhuma cirurgia de estética íntima. Já ao avaliar as mulheres que responderam ter conhecimento sobre os procedimentos, 50% tinham interesse em realizar um procedimento de estética íntima. Isso corrobora com a hipótese de que talvez o interesse em realizar esses procedimentos não seja maior por falta de conhecimento acerca desse tipo de cirurgia.

Por fim, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Estética, em 2017, o Brasil realizava aproximadamente 21 mil labioplastias por ano, ocupando o primeiro lugar no ranking mundial, número inferior ao interesse mostrado pela população do estudo. Além disso, estudos como os de Sharp et al.15 e Veale et al.19 relatam que a maior parte dos pacientes fazem as cirurgias através de sistemas particulares.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos indicaram interesse considerável na realização de procedimentos de estética íntima. Tal interesse pode estar relacionado com o crescente empoderamento feminino, que abre espaço para uma maior expressão sexual e, assim, maior liberdade de procura por procedimentos do cunho de embelezamento íntimo. Ademais, pode estar intimamente ligado com a crescente busca pelo corpo ideal proposto pela mídia.

Devido à importância dada a estética íntima na interferência física, psicossocial, sexual e cotidiana, além do desconforto e constrangimento que levam as pacientes à procura médica especializada, com importante impacto na qualidade de vida dessas pessoas8, 15, 16, é imperativo que recursos adequados sejam alocados para maior fornecimento de tais procedimentos no Sistema Único de Saúde para a população do Brasil.

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COLABORAÇÕES

EF Análise e/ou interpretação dos dados, Análise estatística, Aquisição de financiamento, Coleta de Dados, Concepção e desenho do estudo, Gerenciamento do Projeto, Metodologia, Redação - Preparação do original, Redação -Revisão e Edição.

LEMZ Análise e/ou interpretação dos dados, Coleta de Dados, Supervisão.

FRR Análise e/ou interpretação dos dados, Análise estatística, Concepção e desenho do estudo, Metodologia, Supervisão.

WAC Análise e/ou interpretação dos dados, Supervisão.

PL Redação - Preparação do original, Supervisão, Visualização.

ALB Coleta de Dados.

EF Supervisão, Aprovação Final.

Autor correspondente: Luiz Eduardo Mendes Zanis Rua Brasil, 673, Rio do Sul, SC, Brasil CEP: 89165-634 E-mail: luiz.zanis@unidavi.edu.br

Artigo submetido: 07/06/2021.
Artigo aceito: 07/04/2022.

Conflitos de interesse: não há.

Instituição: Centro de Atenção à Mulher de Rio do Sul, Rio do Sul, SC, Brasil.

 

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