INTRODUÇÃO
O câncer de pele é o tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos no Brasil.
Entretanto, cerca de 4% desses tumores são considerados melanomas e apresentam
maior
importância clínica, pois representam mais de 79% das mortes por câncer de pele
e
estão relacionados com a exposição à radiação ultravioleta solar. O melanoma cutâneo
é o tipo de câncer que tem origem a partir dos melanócitos, células
predominantemente localizadas na pele, mas também presentes no sistema nervoso
central, trato gastrointestinal e retina1.
O melanoma cutâneo é classificado em quatro subtipos principais: melanoma em lentigo
maligno, melanoma disseminativo superficial, melanoma nodular e melanoma lentiginoso
acral. O subtipo mais raro é o melanoma lentiginoso acral. Cerca de 60% desse
subtipo ocorre na superfície plantar, sendo, frequentemente, diagnosticado em
uma
fase de lesão primária espessa, ocorrendo em idosos, com média de idade em torno
dos
60 anos, sem predileção por sexo e em indivíduos não caucasianos (35 a 60%), sendo
o
mais agressivo dentre os melanomas.
O tratamento cirúrgico do melanoma acral é um grande desafio, visto que o fechamento
primário da ferida se torna mais difícil devido à localização, tornando complexa
a
reconstrução cirúrgica. Outro desafio é a ressecção da lesão, cujo objetivo é
a cura
e evitar a recorrência local1,2.
OBJETIVO
Descrever uma série de três casos de pacientes que apresentaram melanoma acral
restritos à região do calcâneo e que foram submetidos à reconstrução imediata
com
retalho plantar medial, apresentando um satisfatório resultado funcional e
estético.
MÉTODO
Este trabalho é baseado na análise retrospectiva descritiva de uma série de 3 casos
de melanoma acral restritos à região do calcâneo, que foram submetidos à
reconstrução imediata com retalho plantar medial, em um hospital terciário na
cidade
de Fortaleza. Em todos os casos apresentados foi realizada a pesquisa de linfonodos
sentinela e em todos os casos a pesquisa foi negativa.
RESULTADOS
Retalho plantar medial foi realizado em 4 pacientes com sobrevida em 100% dos casos.
A enxertia da área doadora foi realizada em metade dos casos no mesmo momento
que
foi feito a confecção do retalho. Todos os enxertos tiveram uma pega superior
a 80%.
Os pacientes começaram a deambular com 3 semanas do pós-operatório. Em 2 casos
houve
redução da sensibilidade do hálux que foi recuperada em até 6 meses. Os pacientes
retornaram para as suas atividades laborativas em 8 semanas. Até o presente estudo
não houve recidiva da lesão (Figuras 1, 2, 3 e 4).
Figura 1 - Marcação de lesão em calcâneo.
Figura 1 - Marcação de lesão em calcâneo.
Figura 2 - Exérese da lesão com margens.
Figura 2 - Exérese da lesão com margens.
Figura 3 - Pós-operatório imediato de transferência do retalho plantar medial
para o calcâneo.
Figura 3 - Pós-operatório imediato de transferência do retalho plantar medial
para o calcâneo.
FIGURA 4 - PÓS-OPERATÓRIO TARDIO COM 6 SEMANAS.
FIGURA 4 - PÓS-OPERATÓRIO TARDIO COM 6 SEMANAS.
DISCUSSÃO
O tratamento cirúrgico do melanoma acral com excisão completa da lesão, e com margens
de acordo com o índice de Breslow, é um grande desafio devido à ressecção produzir
defeitos em extremidades que não podem ser fechadas com síntese primária. As
reconstruções complexas das lesões do pé são planejadas com base nas subunidades
anatômicas e são sempre um desafio reconstrutivo devido às peculiaridades anatômicas
dessas regiões, como a presença de pele pouco elástica, vascularização escassa,
pouco tecido subcutâneo, presença de proeminências ósseas e poucas opções de
retalhos locais3. As áreas de apoio plantar
são bastante susceptíveis ao trauma e podem ocorrer úlceras crônicas e de pressão,
tornando mais complexas essas reconstruções.
Os retalhos fasciocutâneos são a primeira opção para a reconstrução da região plantar
do pé e calcâneo, com isso o retalho plantar medial usando pele do arco plantar
do
pé e irrigado pela artéria plantar medial ocupa uma posição de destaque, pois
proporciona uma cobertura cutânea resistente, com aparência mais próxima do normal
por se tratar de retalho regional3,4,5. A inervação desse retalho proveniente do ramo
cutâneo do nervo plantar medial é preservada, conferindo sensibilidade importante
para a deambulação do paciente, sendo esse fator de proteção ao mesmo. Uma
desvantagem do retalho baseado na artéria plantar medial é o sacrifício de uma
artéria do pé. Outra desvantagem desse retalho é baseada na sua limitação em
tamanho, dificultando o preenchimento de defeitos profundos e cavitários extensos.
Dessa forma, retalhos musculares ou fasciocutâneos maiores devem ser usados para
cobertura de tais defeitos. Em todos os casos descritos nesse trabalho, o retalho
plantar medial foi bem indicado, pois a lesão se limitava a região do calcâneo.
Os
retalhos fasciocutâneos locorregionais oferecem uma alternativa aos retalhos livres
para a reconstrução em membros inferiores, especialmente tratando-se do calcâneo.
Os retalhos livres seriam indicados para casos mais complexos, quando nenhum dos
retalhos locorregionais estiverem disponíveis. A microcirurgia pode demandar maior
tempo cirúrgico que os retalhos locorregionais e necessita de uma equipe
especializada2,3,5. Nas reconstruções de calcâneo, o retalho sural reverso também é uma
boa alternativa. O inconveniente do retalho sural reverso é a perda da sensibilidade
no maléolo lateral, face lateral do pé e quinto pododáctilo devido à ligadura
do
nervo sural, porém ele proporciona uma boa aderência a área receptora do
calcâneo4.
Qualquer que seja o retalho empregado na reconstrução dos membros, sua indicação deve
ser o mais precoce possível, pois o sucesso não está associado exclusivamente
ao
índice do sucesso dos retalhos, e sim, à mobilidade das articulações dos seus
membros, com marcha normal e, finalmente, com o retorno do paciente ao trabalho5.
CONCLUSÃO
Os retalhos fasciocutâneos locorregionais, como o retalho plantar medial, demonstrou
ser uma boa opção terapêutica para reconstrução de defeitos limitados ao calcâneo
em
pacientes com melanoma acral, apresentando baixo percentual de complicações,
satisfatório resultado funcional e estético. A confecção cirúrgica desse retalho
requer habilidade técnica com tempo cirúrgico curto e mínima perda sanguínea,
sendo
a reconstrução realizada em tempo cirúrgico único.
REFERÊNCIAS
1. Dimatos DC, Duarte FO, Machado RS, Vieira VJ, Vasconcellos ZAA,
Bins-Ely J, Neves RD. Melanoma cutâneo no Brasil. ACM Arq Catarin Med.
2009;38(Supl 1):14-9.
2. Maia M, Ferrari N, Russo C, Ribeiro MCSA. Melanoma acrolentiginoso:
um desafio ao diagnóstico precoce. An Bras Dermatol. 2003 Oct;78(5):553-60. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0365-05962003000500004
3. Barreiro GC, Baptista RR, Busnardo F, Olivan M, Ferreira MC.
Reconstrução de planta de pé de acordo com o conceito das subunidades
anatômicas. Rev Bras Cir Plást. 2010;25(3 Supl 1):81.
4. Garcia AMC. Retalho sural reverso para reconstrução distal da perna,
tornozelo, calcanhar e do pé. Rev Bras Cir Plást.
2009;24(1):96-103.
5. Martins GB, Moreira AA, Viana FO. Reconstrução de lesões de partes
moles do calcanhar com uso de retalhos fasciocutâneos. Rev Bras Cir Plást.
2009;24(1):104-9.
1. Hospital Geral de Fortaleza, Papicu, Fortaleza,
CE, Brasil.
2. Hospital Haroldo Juaçaba, Rodolfo Teófilo,
Fortaleza, CE, Brasil.
Endereço Autor: Suelen Rios de Melo, Av.
Paisagística, 100, Edson Queiroz, Fortaleza, CE, Brasil. CEP: 6081-253. E-mail:
suelenrios@oi.com.br