INTRODUÇÃO
A qualidade de vida passou a ser um importante parâmetro na avaliação de resultados
terapêuticos1. A mastectomia é um dos passos mais eficazes do tratamento para o
câncer de mama. A técnica utilizada depende do estadiamento da doença e das
condições clínicas da paciente. A cirurgia, que pode ser curativa ou paliativa,
leva
às pacientes a graus variados de mutilação e, dentro de um contexto psicológico
de
enfrentamento de uma patologia potencialmente mortal, agrava ainda mais os défices
de autoestima e de qualidade de vida. A reconstrução mamária é capaz de oferecer
à
paciente benefícios físicos que possibilitam bem-estar psicológico e social2.
A reconstrução da mama pode ser feita de forma imediata ou tardia. Em pacientes que
serão submetidas à radioterapia adjuvante ou nos casos em que não seja possível
a
presença do cirurgião plástico no dia da mastectomia, a reconstrução se dá de
forma
tardia3. As principais técnicas utilizadas para reconstrução da mama podem ser com
implantes, com tecidos autólogos ou a combinação desses.
OBJETIVO
Estabelecer o perfil dos procedimentos de reconstrução mamária tardia realizadas no
período de 1 ano no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Walter
Cantídio em Fortaleza, Ceará.
MÉTODO
Estudo retrospectivo, realizado por meio de revisão de prontuários. As pacientes
incluídas neste estudo foram aquelas submetidas a procedimentos tardios de
reconstrução da mama no período de 1 ano, incluindo primeiro procedimento realizado,
procedimento de complementação de outro anterior ou de simetrização da mama
contralateral.
RESULTADOS
Foram analisados prontuários de 16 pacientes. Todas as pacientes eram do sexo
feminino e tinham entre 36 e 66 anos de idade, com a média de 46,31 anos. Das
16
pacientes, 8 haviam sido submetidas à mastectomia esquerda e 8 à direita. Em 2,
foi
implantado expansor no momento da mastectomia e em 1 foi realizada reconstrução
imediata com grande dorsal e prótese.
As técnicas utilizadas para reconstrução tardia foram: retalho de grande dorsal com
prótese em 56,25% das pacientes, troca de expansor por prótese mamária em 18,75%
e
retalho transverso do músculo reto abdominal (TRAM) em 6,25% (Figura 1).
Figura 1 - Técnicas utilizadas nas reconstruções tardias: a mais utilizada foi o
retalho de grande dorsal com prótese de silicone.
Figura 1 - Técnicas utilizadas nas reconstruções tardias: a mais utilizada foi o
retalho de grande dorsal com prótese de silicone.
As simetrizações mamárias foram realizadas em 8 (50%) pacientes e as técnicas
utilizadas foram: mastopexia de mama contralateral (50% das simetrizações),
mastopexia de mama contralateral com lipoenxertia em mama reconstruída (37,5%)
e
reconstrução do mamilo associado a mastopexia contralateral (12,5%).
Das 16 pacientes, 6 (37,5%) apresentaram algum tipo de complicação. As complicações
mais frequentes foram seroma (12,5%) e deiscência de ferida (12,5%), seguidas
de
abcesso em linha de sutura (6,25%), retração cicatricial e fibrose (6,25%) e
cicatriz hipertrófica (6,25%) (Figura 2).
Figura 2 - Complicações pós-operatórias: as mais frequentes foram seroma e
deiscência parcial de ferida.
Figura 2 - Complicações pós-operatórias: as mais frequentes foram seroma e
deiscência parcial de ferida.
DISCUSSÃO
Diversas técnicas de reconstrução mamária estão descritas na literatura e a
estratégia a ser utilizada deve ser individualizada para cada paciente. A
reconstrução não compromete o seguimento da terapia nem a detecção de recidivas
da
doença.
O retalho de músculo grande dorsal era utilizado, inicialmente, como cobertura do
defeito de parede torácica após a mastectomia. Com o advento das próteses mamárias,
foi possível realizar a associação destas com o retalho de grande dorsal, obtendo-se
um volume mamário maior. O retalho de músculo grande dorsal pode ser aplicado
em
diversas situações, dentre as quais: uma cobertura mais fina da parede anterior
do
tórax, parede torácica irradiada anteriormente, insucesso de reconstrução anterior
somente com implante mamário, dentre outras situações5.
A reconstrução mamária utilizando retalho de músculo reto do abdome (TRAM) é uma
opção para pacientes que necessitem de um bom volume mamário e que tenham área
doadora abdominal suficiente.
As técnicas de simetrização também são variadas e a escolha da mais adequada
baseia-se, principalmente, no desejo da paciente e no perfil resultante da mama
reconstruída.
CONCLUSÃO
Conhecer o perfil de pacientes submetidas a reconstruções mamárias tardias, bem como
as técnicas utilizadas e suas complicações, possibilita aos cirurgiões plásticos
maneiras de escolher a melhor técnica de reconstrução e prever seus possíveis
resultados4.
REFERÊNCIAS
1. Sbalchiero JC, Cordanto-Nopoulos FR, Silva CHD, Caiado Neto BR,
Derchain S. Tradução do Questionário Breast-Q para a língua portuguesa e sua
aplicação em mulheres com câncer de mama. Rev Bras Cir Plást.
2013;28(4):549-52.
2. Paredes CG, Pessoa SGP, Peixoto DTL, Amorim DN, Araújo JS, Barreto
PRA. Impacto da reconstrução mamária na qualidade de vida de pacientes
mastectomizadas atendidas no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital
Universitário Walter Cantídio. Rev Bras Cir Plást. 2013;28(1):100-4. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752013000100017
3. Sabiston. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica
moderna. 19ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2015.
4. Cosac OM, Camara Filho JPP, Barros APGSH, Borgatto MS, Esteves BP,
Curado DMDC, et al. Reconstruções mamárias: estudo retrospectivo de 10 anos.
Rev
Bras Cir Plást. 2013;28(1):59-64. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752013000100011
5. Luna ICG. Reconstrução mamária em decúbito único lateral com retalho
miocutâneo do músculo grande dorsal e implante de silicone: sistematização e
série de casos. Rev Bras Cir Plást. 2018;33(3):272-80.
1. Hospital Universitário Walter Cantídio,
Fortaleza, CE, Brasil.
2. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE,
Brasil.
Endereço Autor: Mikaelle Paiva dos Santos Souza,
Rua Ministro Joaquim Bastos, Apto 502, Fátima. Fortaleza, CE, Brasil. CEP
60415-040. E-mail: mikaellepaiva@live.com