INTRODUÇÃO
Os tumores de partes moles representam o desenvolvimento de lesões malignas onde a
maioria origina-se nas extremidades, tronco, retroperitônio e, em casos raros, na
cabeça e pescoço. Dentre os mais raros tumores de partes moles, destaca-se o
dermatofibrosarcoma, que é caracterizado por seu perfil de origem fibroblástica de
elevada recorrência, acometendo entre 0,8 a 4,5 casos por milhão de pessoas,
representando 1% dos tumores de origem de tecidos moles1.
No que se refere às suas características patológicas, apresenta desenvolvimento
indolente, muitas vezes atrasando o seu diagnóstico. Destacam-se o seu crescimento
local agressivo e alta taxa de recorrência contrastando com sua baixa incidência de
metástases. A presença de alteração cromossômica envolvendo o gene 17 e 22, (t17;
t22) (q22; q13), é entendida como pertencente aos aspectos etiológicos do tumor2,3.
O tratamento deve ser conduzido por equipe multidisciplinar, onde deve ser
considerado a extensão local para definição de conduta. Cirurgia isolada ou
associada a radioterapia configuram os principais meios de manejo, recomendando-se
ressecção ampla do tumor com margem de 3cm, incluindo a fáscia subjacente4.
OBJETIVO
Relatar o caso de um paciente diagnosticado com dermatofibrosarcoma em região de
cabeça e pescoço, submetido à reconstrução com retalho local.
MÉTODO
O estudo se trata de um relato de caso, coletado através de revisão em prontuário
médico, realizado em um hospital de referência oncológica no estado do Ceará.
RESULTADOS
Paciente do sexo masculino, 22 anos, procurou atendimento médico, referindo
surgimento de lesão extensa em couro cabeludo, aproximadamente 12cm em seu maior
eixo (Figura 1), crescimento progressivo nos
últimos 4 anos e de caráter indolente. Realizado biópsia incisional, sugestiva de
dermatofibrosarcoma, e ressonância magnética, demonstrando lesão expansiva nas
partes moles da convexidade parietal esquerda, medindo 14,8x6,9cm, exibindo íntimo
contato com calota craniana adjacente, afilamento da tábua óssea externa e ausência
de lesões intracranianas. Demais exames, incluindo estudo do tórax, demonstravam ser
um tumor de invasão local, sem sinais de metástase e decidido por abordagem
cirúrgica.
Figura 1 - Foto pré-ressecção.
Figura 1 - Foto pré-ressecção.
Tratando-se de um sarcoma t3N0M0, estágio IIIB conforme classificado por Mehren5, foi optado por ressecção alargada de tumor
com ampliação de margens da cortical externa de calota craniana, deixando extensa
área de exposição óssea, cerca de 10cm de diâmetro (Figura 2). Logo após, foi realizado a reconstrução imediata com retalho
miocutâneo de couro cabeludo, baseado na artéria temporal superficial direita (Figura 3).
Figura 2 - Pós-ressecção com grande área cruenta remanescente.
Figura 2 - Pós-ressecção com grande área cruenta remanescente.
Figura 3 - Reconstrução com retalho miocutâneo de couro cabeludo.
Figura 3 - Reconstrução com retalho miocutâneo de couro cabeludo.
O paciente apresentou boa evolução após o procedimento, recebendo alta no terceiro
dia pós-operatório. Estudo anatomopatológico e imuno-histoquímico foram compatíveis
com fibrosarcoma dediferenciado de dermatofibrosarcoma. Em seguida, encaminhado ao
serviço de radioterapia para tratamento complementar, retornando ao serviço de
cirurgia plástica periodicamente e apresentando bom resultado após cerca de um ano
do procedimento (Figura 4 e 5).
Figura 4 - Pós-operatório tardio.
Figura 4 - Pós-operatório tardio.
Figura 5 - Pós-operatório tardio (após término da radioterapia).
Figura 5 - Pós-operatório tardio (após término da radioterapia).
DISCUSSÃO
Dermatofibrosarcoma é um tumor raro, localmente agressivo, porém muitas vezes
conduzido como um tumor benigno devido ao seu comportamento indolente e suas
características imprecisas na forma inicial. É predominantemente diagnosticado em
pacientes jovens, entre 20-50 anos, e do sexo masculino3,6.
Os locais usuais de aparecimento desse tipo de lesão ocorrem em tronco e
extremidades, apenas 10% em região de cabeça e pescoço e, quando surgem nessas
áreas, apresentam um desafio para o cirurgião devido a necessidade de reconstrução
após sua ampla ressecção com margens de no mínimo 2-3cm, pois, microscopicamente,
o
tumor se origina na derme, mas pode invadir fáscia subjacente, tecido muscular e
ósseo1.
Para o seu diagnóstico, exames de imagem, como ressonância e tomografia, e marcadores
de imunohistoquímico podem ser úteis. Esse tumor revela antígenos CD34 e ausência
de
marcadores S-100. Apesar da agressividade, raramente ocorrem metástases e o
tratamento padrão consiste na ressecção extensa, associando-se à radioterapia,
reduzindo a recorrência local1.
Na presença de tumores menores e de crescimento lento, expansores podem ser
utilizados previamente à ressecção. Em alguns casos o fechamento primário ou
enxertia podem ser adotadas. Para lesões maiores, como a exposta em nosso caso,
faz-se necessário a realização de retalhos para cobertura, podendo ser regionais ou
livres. Atualmente, os microcirúrgicos se destacam como a principal modalidade para
reconstrução de grandes defeitos dessa região, embora alterações na textura, cor da
pele e alopecia sejam algumas de suas limitações, além da necessidade de uma equipe
especializada e estrutura adequada para sua realização. A cirurgia de Mohs também
se
destaca como uma excelente opção no tratamento, levando a taxas de recorrências
baixas (0-6,6%), permitindo maior precisão nas margens cirúrgicas4.
Em caso de tumores irressecáveis ou recidivados, estudos demonstram a utilização de
um inibidor de tirosina quinase, Imatinib-Glivec®, com resultados
plausíveis, levando a remissão parcial e completa de alguns casos.
Embora não exista um guideline para seguimento nesse tipo específico
de tumor, recomenda-se acompanhamento semestral do paciente durante cinco anos após
a cirurgia.
CONCLUSÃO
Dermatofibrosarcoma é um tumor raro, de difícil diagnóstico em estado inicial e de
tratamento essencialmente cirúrgico, onde deve-se priorizar uma ressecção com
margens sempre que possível. Mesmo com ressecções ampliadas extensas, retalhos
miocutâneos locais podem ser uma boa opção para o tratamento como alternativa às
técnicas microcirúrgicas, sendo seguros, baixas taxas de complicação e com bons
resultados.
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https://doi.org/10.1097/00000658-196711000-00011
1. Hospital Geral de Fortaleza, Papicu, Fortaleza,
CE, Brasil.
2. Instituto do Câncer do Ceará, Fortaleza, CE,
Brasil.
Endereço Autor: Leonardo Bezerra Feitosa, Rua salvador mendonça,
566, Parque Manibura, Fortaleza, CE, Brasil. CEP 60821-555. E-mail:
leobfeitosa@hotmail.com