INTRODUÇÃO
As técnicas cirúrgicas de mastopexia têm sempre um mesmo intuito primordial:
remodelar e atingir a simetria em tamanho e formato, tanto da mama quanto do
complexo aréolo-papilar1,2, estando muitas vezes conjugadas com técnicas
de aumento mamário, mas diferem entre si quanto aos meios para se chegar aos
resultados, de acordo com diversas variáveis, como: grau da ptose, incidência de
complicações, excesso/falta de tecido mamário, tamanho/forma das mamas, cicatriz,
necessidade de aleitamento futuro e causa da ptose. Por conta disso são descritos
na
literatura uma enorme gama de tratamentos cirúrgicos para a ptose, dentre os quais
as técnicas mais conhecidas são com cicatriz em T invertido, em L vertical,
periareolar e circumareolar, cabendo ao cirurgião a escolha da melhor técnica, que
deve ser individualizada e deverá buscar proporcionar resultados mais naturais e
duradouros3.
OBJETIVOS
Descrever os tratamentos cirúrgicos mais utilizados para correção da ptose
mamária.
MÉTODO
O método adotado consistiu em uma revisão sistemática da literatura a respeito das
técnicas cirúrgicas de correção da ptose mamária. Foram utilizadas as bases de dados
bibliográficas: LILACS (Literatura do Caribe em Ciências de Saúde), SciELO
(Scientific Eletronic Library Online) e MedLine, todos
compreendidos na BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), nos meses de março, abril e maio
de 2013, tendo sido feita por dois autores (LEVC e JHOC) de forma independente, com
posterior comparação e discussão dos artigos selecionados4.
Na estratégia de busca foram utilizados os seguintes descritores: mama/cirurgia,
mastopexia, ptose mamária, mamoplastia e suas respectivas traduções, tendo os mesmos
sido pesquisados em todos os índices de busca (título, assunto e resumo). Também se
utilizou a estratégia de busca manual através das referências dos artigos
selecionados ao final da aplicação do método. Tendo-se as palavras-chave aplicadas
no BIREME, LILACS e SciELO escolhidas com base no DeCS (Descritores em Ciências da
saúde)5.
Utilizou-se como critérios de inclusão: estudos de coorte, revisões sistemáticas,
ensaios clínicos controlados e estudos de casos e controle, publicados entre as
datas de 01.01.2002 a 31.12.2012, nos idiomas inglês e português, em espécie humana,
sexo feminino e de qualquer faixa etária.
Foram excluídos deste estudo, trabalhos que associam o tratamento corretor da ptose
mamária em pacientes com deficiências físicas suficientes, que imprimam mudança na
técnica cirúrgica de abordagem da ptose e com isso impedem a reprodutibilidade da
técnica em pacientes não portadores de deficiência.
Após essa seleção, foi aplicado o critério de qualidade PICO, a fim de que houvesse
a
escolha de trabalhos de maior qualidade metodológica e, enfim, estes vieram a compor
a base literária utilizada nesta revisão.
O critério de qualidade PICO, adotado no presente trabalho, teve como objetivo
selecionar os artigos de maior qualidade metodológica, além de avaliar a validade
e
aplicabilidade dos mesmos nesta revisão. O acrônimo PICO se refere aos 4 grandes
critérios adotados por esse método avaliativo e são: Paciente,
Intervenção, Comparação e Objetivos7.
RESULTADOS
Ao final da busca, foram identificados 7 estudos referentes ao objetivo proposto por
essa revisão.
Em seu estudo, sobre a mamoplastia redutora com marcação em “L” e cicatriz em “T
invertido”, Mello6 testa em 30 pacientes sua
técnica com o intuito de diminuir a cicatriz horizontal final nos casos de grandes
ressecções mamárias, nas quais muitas vezes tais cicatrizes ultrapassam o limite
medial da mama, desfavorecendo assim o componente estético desta cirurgia, apesar
de
a mesma ser eminentemente reparadora. O mesmo ainda afirma que através da marcação
em “L”, obteve-se menor extensão dessa cicatriz em relação à marcação em “T
invertido”. Ao fim pontua que a qualidade das cicatrizes no geral foi boa, não sendo
observados casos de alargamento das mesmas, exceto em 3 casos, onde houve
deiscências segmentares, mas que não comprometeram o resultado final.
No trabalho de Sanchez, et al., o mesmo descreve uma nova técnica de
correção de ptoses mamárias menores e com menor volume a ser ressecado. Neste ele
associa o procedimento da mastopexia com a implantação de prótese de silicone em
tempo único, desta forma corrigindo o problema inicial e dando maior projeção às
mamas ao final da cirurgia8.
Por fim, o autor cita que as deformidades que ocorrem nesse grupo de pacientes, com
grande perda ponderal, como ptose grave, atrofia de parênquima e medicalização do
CAP necessitam de cirurgia que combine o procedimento de mastopexia com aumento,
mesmo sendo a união desses procedimentos um fator a mais para gerar futuras
complicações.
DISCUSSÃO
Apesar do grande número de técnicas cirúrgicas empregadas em mastopexias e
mamoplastias redutoras, a busca literária realizada nesse trabalho pôde mostrar o
predomínio de quatro técnicas principais, por serem as mais realizadas e pelos bons
resultados com menores índices de complicações, quando guardadas as devidas
indicações9. Estas são as técnicas:
periareolar (com cicatriz em “T” invertido e em “L” com cicatriz vertical) e a
mastopexia associada ao implante de prótese de silicone.
A técnica de mastopexia periareolar é reservada para seios com baixo grau de ptose
e
de menor tamanho, onde se pretende obter pequeno levantamento com melhora da
projeção da CAP16. Das quatro principais
técnicas esta é a menos invasiva, por conta de menores cortes, gerando assim, menor
lesão tecidual e pequena ci catriz.
A técnica de mastopexia com cicatriz vertical, também conhecida como: “incisão em
fechadura” ou “incisão em pirulito”, é a segunda técnica mais invasiva. É indicada
para lifting de seios moderadamente ptóticos e com tamanho
intermediário, conseguindo remover boa quantidade de tecido, seja ele pele ou
glândula/gordura, e dessa forma promover a ascensão da CAP.
Também temos a técnica de mastopexia com cicatriz em “T” invertido ou com incisão
“em
âncora” e a técnica com cicatriz em L, sendo esta uma variante da anterior. O “T”
invertido é o modelo mais utilizado e, tradicional dentre as demais, tendo sido
descrito originalmente por Pitanguy10 e
também é a técnica mais invasiva, estando indicado para ptoses mais graves, em seios
maiores, nos quais a quantidade de pele e tecido glandular/gorduroso é maior e se
faz necessário retirar mais conteúdo para aproximação da pele, e assim garantir
elevação e projeção do CAP6. Por fim, a
cicatriz deixada tem formato de “T” invertido, ou seja, a sutura se dá ao redor do
perímetro da aréola, projeta-se na porção inferior verticalmente para baixo e
termina sobre todo o sulco submamário.
E por fim, ainda há a técnica de mastopexia associada ao implante de prótese de
silicone em tempo único. Tal associação foi descrita na literatura inicialmente na
década de 1960 por Regnault e Gonzalez17 e,
atualmente, vem sendo cada vez mais realizada pela sua capacidade de combinar a
correção da ptose com o aumento do tamanho dos seios, principalmente em seios
pequenos24. As vantagens da técnica
ficariam por conta de: corrigir em uma única cirurgia dois defeitos (ptose e
hipoplasia), gerar melhor projeção do CAP ao extinguir o excesso de pele e ao dar
mais volume ao cone mamário, além de conseguir interferir/modificar bem outros
parâmetros estéticos, como: altura, simetria, posição, formato e largura do CAP17
CONCLUSÃO
As principais técnicas para correção da ptose mamária são: a técnica periareolar,
para pequenas ptoses; a técnica vertical, para ptoses de graus intermediários; a
técnica em L e em T para ptoses maiores; e, também, a associação dessas técnicas com
a colocação de próteses mamárias.
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