INTRODUÇÃO
A reconstrução do esôfago cervical, sempre é um desafio para o tratamento nas lesões
por traumas, câncer, perfurações e outras patologias. A utilização da reconstrução
microcirúrgica com segmento de jejuno, possibilita o restabelecimento do trato
digestório, de forma fisiológica, considerando o diâmetro da alça jejunal compatível
com as bocas faríngeas e esofágica, adicionalmente, a possibilidade de manter
em
posição isoperistáltica.
Especificamente nas sequelas de trauma, com perda do segmento esofágico cervical,
a
técnica de autotransplantes viscerais revascularizados permite a reparação de
forma
segura e funcional.
OBJETIVO
Demonstrar o retalho microcirúrgico de jejuno, como adequada opção para o tratamento
da perda do esôfago cervical decorrentes do trauma.
MÉTODO
Este estudo foi realizado de forma retrospectiva, analisando 7 operações consecutivas
realizadas em um período de cinco anos pelo autor.
Em 2 casos houve trauma por arma de fogo na região cervical, em 1 caso ferimento por
arma branca (degola) e em 4 casos perfuração por corpo estranho, evoluindo com
fístula e/ou abscessos, que resultou em perda do segmento esofágico cervical.
Os
pacientes foram operados tardiamente ao trauma, exceto no caso do trauma por arma
branca.
TÉCNICA CIRÚRGICA
Após avaliação e definição da perda segmentar do esôfago cervical, os pacientes com
esofagostomia foram preparados para a cirurgia de reconstrução microcirúrgica
com
jejuno; posicionados em decúbito dorsal, com cervicotomia esquerda, laparotomia
mediana supraumbilical, sob anestesia geral (Figura 1).
Figura 1 - Trauma por arma branca.
Figura 1 - Trauma por arma branca.
Foi realizado o preparo dos cotos proximais e distais esofágicos, a dissecção do
tronco tireolinguofacial na região cervical e no abdome, feito a escolha de um
segmento de jejuno há 40cm do ângulo de Treitz, com dissecção dos vasos mesentéricos
superiores como pedículo (Figura 2).
Figura 2 - Segmento de jejuno com pedículo isolado.
Figura 2 - Segmento de jejuno com pedículo isolado.
Após a transferência do segmento de jejujno para a região cervical, o comprimento
do
jejuno foi ajustado ao defeito, realizado as anastomoses viscerais termino-terminais
com prolene 3-0 (Ethicon) e as anastomoses microvasculares termino-terminais com
mononylon 10-0 (w2814 Ethicon) (Figura 3). No
abdome, enteroanastomose com caprofyl 3-0 (Ethicon) em 02 planos e o fechamento
da
parede abdominal por planos (Figura 4).
Figura 3 - Anastomose visceral distal concluída e vascular idem.
Figura 3 - Anastomose visceral distal concluída e vascular idem.
Figura 4 - Segmento de jejuno completamente anastomosado.
Figura 4 - Segmento de jejuno completamente anastomosado.
Não foi utilizado alça do jejuno - monitor em nenhum caso. O período de internação
variou de 10 a 21 dias, sendo utilizado clexame 40mg subcutâneo/dia durante a
internação e ácido acetilsalicílico 100mg via oral por 7 dias em domicílio. Teste
com azul de metileno via oral no décimo pós-operatório, comprovou a presença ou
não
de fístula e foi liberado dieta líquida via oral (Figura 5).
Figura 5 - Esofagograma sem fístula.
Figura 5 - Esofagograma sem fístula.
Os pacientes foram acompanhados por um período de 6 meses.
RESULTADOS
Foram operados 2 pacientes do sexo feminino e 5 do sexo masculino, 6 casos cirurgia
tardia e 1 imediata. Não houve perda do retalho nesta casuística, nem a ocorrência
de fístulas cervical ou abdominal. Estenose da anastomose no coto distal do esôfago
ocorreu em 2 casos (28,5%), tratadas com dilatação endoscópica. Não houve deiscência
da ferida operatória cervical, nem abdominal.
Dois pacientes (trauma por arma de fogo) permaneceram com traqueostomia, devido
sequela nervosa decorrente do trauma (Figura 6).
Figura 6 - Paciente ao final da cirurgia com traqueostomia.
Figura 6 - Paciente ao final da cirurgia com traqueostomia.
DISCUSSÃO
Existe várias técnicas de reconstrução de esôfago cervical, desde retalhos locais
cervicais, transposição do estômago ou segmento de cólon transverso.
Considerando a sequela do trauma, que determina edema, infecções locais, fibrose
cicatricial, retração dos cotos esofágicos (não esquecendo a presença de
esofagostomia), a dificuldade de isolar os cotos remanescentes e a impossibilidade
de aproximação dos mesmos para restabelecer o trânsito digestório, se torna
necessário o autotransplante de tecidos revascularizados, seja jejuno, retalho
radial antebraquial ou retalho anterolateral da coxa.
A escolha do segmento de jejuno foi feita por ser fisiologicamente bem favorável,
considerando o diâmetro das alças e a posição isoperistáltica, que favorece muito
a
deglutição dos alimentos.
CONCLUSÃO
O retalho microcirúrgico de jejuno é uma opção segura, fisiológica e reproduzível,
nos casos de reconstrução de esôfago cervical, especificamente nos casos de sequela
de trauma.
REFERÊNCIAS
1. Wu CC, Lin PY, Chew KY, Kuo YR. Free tissue transfers in head and
neck reconstruction: complications, outcomes and strategies for management of
flap failure: analysis of 2019 flaps in single institute. Microsurgery. 2014
Jul;34(5):339-44. PMID: 24318866 DOI:
https://doi.org/10.1002/micr.22212
2. Besteiro JM, Ferreira MC, Tuma Junior P, Bonamichi GT, Aki FE. Free
flaps for large reconstructions following tumoral resections in the head and
neck. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo. 1991;46:116-8. PMID:
1843378
3. Nagel TH, Hayden RE. Advantages and limitations of free and pedicled
flaps in reconstruction of pharyngoesophageal defects. Curr Opin Otolaryngol
Head Neck Surg. 2014 Oct;22(5):407-13. DOI:
https://doi.org/10.1097/MOO.0000000000000081
4. Carneiro JL, Lage RR, Hara RHA, Cruzeiro CNL, Ferreira CT, Sampaio
FD. Reconstrução microcirúrgica de esôfago após acidente cáustico: relato de
caso. Rev Bras Cir Plást. 2011;26(3):50.
5. Zeferino GH, Morais-Besteiro J, Gemperli R, Matos LL, Brandão LG,
Cernea CR. Reconstrução faringoesofágica com segmento de jejuno: análise de
complicações e resultados funcionais. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço.
2015;44(4):172-177.
1. Clínica privada.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Brasil.
3. Hospital e Pronto Socorro Dr. João Lúcio
Pereira Machado, Coroado, Manaus, AM, Brasil.
4. Hospital Militar de Área de Manaus,
Cachoeirinha, Manaus, AM, Brasil.
5. Universidade Nilton Lins, Manaus, AM,
Brasil.
Endereço Autor: Gustavo Emilio Llano Cabrera, Av
Mario Ypiranga, 1620 B, Adrianopolis, Manaus, AM, Brasil. CEP: 69057-001.
E-mail: gustavo.cabrera@terra.com.br