INTRODUÇÃO
Os acidentes de motociclísticos, em sua quase totalidade, causam lesões graves nos
membros superiores e inferiores. Estas lesões atingem ossos, músculos e pele, não
sendo rara a perda de substância destes tecidos.
Os membros inferiores possuem uma boa quantidade de músculos que podem ser usados
para reparar as lesões causadas por estes traumatismos.
Quando há exposição óssea, devemos atuar o mais precocemente possível, visando evitar
processos infecciosos que podem levar a osteomielite, que pode deixar sequelas
graves no paciente.
No caso relatado abaixo, para cobrir a exposição óssea no joelho, utilizamos um
retalho parcial do músculo vasto lateral, classificado como tipo II de Mathes e
Nahai, e para cobrir a exposição óssea da base do hálux, utilizamos um retalho
parcial do músculo abdutor do hálux, também do tipo II de Mathes e Nahai.
RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 20 anos, sofreu acidente de moto, sendo arrastado por
20
metros no asfalto. Evoluiu com perda de substância em face lateral do 1/3 inferior
e
joelho do membro inferior direito, perda de substância em face posterior da coxa
direta e perda de substância em face medial do pé esquerdo. As lesões do joelho e
do
pé vieram acompanhadas de destruição óssea (Figura 1).
Figura 1 - Lesão inicial - em sentido horário: lesão em joelho direito; lesão em
região posterior da coxa direita; exposição óssea em joelho direito; e
lesão em face medial do pé esquerdo com exposição óssea.
Figura 1 - Lesão inicial - em sentido horário: lesão em joelho direito; lesão em
região posterior da coxa direita; exposição óssea em joelho direito; e
lesão em face medial do pé esquerdo com exposição óssea.
OBJETIVO
Este relato de caso tem como objetivo mostrar a eficácia dos retalhos musculares para
cobrir lesões ósseas e também áreas afetadas por grandes traumatismos. Mostrar
também que os enxertos são boas opções para finalizar os processos de rotação de
retalhos musculares.
MÉTODO
Após identificação do músculo a ser utilizado, foi dissecada parte do músculo vasto
lateral em sua porção distal e realizada sua rotação em direção medial, para
cobertura da lesão no joelho direito e sua fixação com fio nylon 4-0.
Para a cobertura da lesão da base do 1º metatarso foi identificado e dissecado um
retalho parcial do músculo abdutor do hálux, rotacionado em direção anteromedial e
fixado também com fio nylon 4-0 (Figura 2).
Figura 2 - Rotação dos retalhos - rotação do retalho parcial do músculo vasto
medial e abdutor do hálux para cobrir as exposições ósseas em joelho
direito e pé esquerdo, respectivamente.
Figura 2 - Rotação dos retalhos - rotação do retalho parcial do músculo vasto
medial e abdutor do hálux para cobrir as exposições ósseas em joelho
direito e pé esquerdo, respectivamente.
Houve perfeita integração dos retalhos em suas áreas, porém devido à extensão da área
cruenta, optamos por aguardar a formação do tecido de granulação, visando posterior
enxertia. Foram realizados curativos diários e as lesões foram cobertas utilizando
parte da bolsa plástica do coletor de urina, semelhante a confecção da “bolsa de
Bogotá”, acelerando assim o processo de granulação (Figuras 3 e 4).
Figura 3 - Tecido de granulação - após 30 dias da rotação dos retalhos o tecido
de granulação formado propiciou uma área receptora viável para a
realização da enxertia.
Figura 3 - Tecido de granulação - após 30 dias da rotação dos retalhos o tecido
de granulação formado propiciou uma área receptora viável para a
realização da enxertia.
Figura 4 - Enxertia - áreas enxertadas sobre o tecido de granulação, tendo como
área doadora a coxa esquerda.
Figura 4 - Enxertia - áreas enxertadas sobre o tecido de granulação, tendo como
área doadora a coxa esquerda.
Com o excelente resultado da rotação dos retalhos e da formação do tecido de
granulação, realizamos a enxertia cutânea das áreas cruentas, em que retiramos o
enxerto da coxa contra lateral com dermátomo elétrico.
Com a área receptora bastante favorável, houve uma integração de mais de 90% das
áreas enxertadas, resultado este muito importante, tendo em vista a natureza das
lesões iniciais.
RESULTADOS
Como resultado final, podemos ressaltar a boa cicatrização da área doadora. Em
contrapartida, as sequelas estéticas das áreas enxertadas são notáveis, mas o
importante foi que a parte funcional foi pouco afetada. O paciente encontra-se
realizando fisioterapia motora (Figura 5).
Figura 5 - Resultado final - bom resultado final após 3 meses; as sequelas
estéticas foram bem aceitas levando em consideração a gravidade das
lesões. Destaque para o bom resultado da área doadora.
Figura 5 - Resultado final - bom resultado final após 3 meses; as sequelas
estéticas foram bem aceitas levando em consideração a gravidade das
lesões. Destaque para o bom resultado da área doadora.
CONCLUSÃO
Os retalhos musculares são uma boa opção para a cobertura de lesões com exposição
óssea. E particularmente, o músculo vasto lateral é uma boa opção para cobertura das
lesões em joelho. No caso apresentado obtivemos uma boa resolubilidade, com boa
evolução, com um bom aspecto da área doadora, mesmo com as sequelas estéticas da
área lesionada, consideramos o resultado final satisfatório.
REFERÊNCIAS
1. Mélega JM. Cirurgia Plástica - Fundamentos e Arte. Rio de Janeiro:
Medsi; 2004.
2. Neligan PC. Cirurgia Plástica. Rio de Janeiro: Elsevier;
2015.
1. Hospital Militar de Área de Manaus,
Exército Brasileiro, Manaus, AM, Brasil.
Endereço Autor: Cláudio De Paula Matos, Avenida
Jornalista Umberto Calderaro Filho, nº 455, Edificio Crystal Tower, Sala 1109,
Adrianópolis, Manaus AM, Brasil. CEP 69057-712. E-mail:
claudioesilvania@hotmail.com