INTRODUÇÃO
O primeiro relato de abdominoplastia foi descrito por H. Kelly em 18991 e, posteriormente, popularizado na década de
60 por I. Pitanguy, que introduziu uma incisão transversa baixa, a nível da
implantação dos pelos pubianos, permitindo cobri-la em trajes de banho da época e
ressecar cicatrizes abdominais baixas2. Dados
recentes da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) apontam
a
abdominoplastia entre os cinco procedimentos estéticos mais realizados por mulheres
no mundo, com um crescimento de aproximadamente 22% entre 2016 e 20173. As pacientes atendidas pelo Serviço de
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre são
encaminhadas via Sistema Único de Saúde (SUS) e têm como principal indicação adbome
em avental secundária a grande perda de peso ou gestação.
OBJETIVO
Relatar a técnica utilizada de abdominoplastia realizados pela equipe de Cirurgia
Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, bem como
compara seus resultados e complicações com a literatura médica em pacientes operados
via SUS entre janeiro e dezembro de 2018.
MÉTODO
Revisão de prontuário, descrição cirúrgica e registros fotográficos do Serviço de
Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
RESULTADOS
Entre janeiro e dezembro de 2018, realizaram abdominoplastia um total de 28
pacientes, todas operadas pelo mesmo médico residente e mesmo orientador do Serviço
de Cirurgia Plástica. Todas eram mulheres com idades que variaram entre 25 a 69 anos
(média de 42,29 anos) e apresentavam índice de massa corporal (IMC) inferior a 30.
Destas, cinco pacientes (17,86%) haviam realizado cirurgia bariátrica. As pacientes
tiveram o plano cirúrgico discutido em equipe por uma junta médica de cirurgiões
plásticos do Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre. Durante a cirurgia, todas as pacientes usavam bomba
de
compressão pneumática em membros inferiores e antibioticoprofilaxia. Nós realizamos
antissepsia com clorexidine alcoólico e infiltração com solução de soro fisiológico
e adrenalina na concentração de 1:500.000. Nós realizamos lipoaspiração de dorso e
região dos flancos bilateralmente para melhora do contorno corporal e após, através
de uma incisão em hemiabdome inferior, deslocamos o retalho, plicamos os retos
abdominais e ressecamos o excesso de tecido dermoadiposo. Durante o fechamento, são
realizados diversos pontos de adesão internos (pontos de Baroudi) para evitar
presença de espaço morto e diminuir tensão sobre a ferida operatória, que é fechada
com pontos subdérmicos de náilon e intradérmicos com monocryl. Não foi colocado
dreno em nenhum dos casos. Durante acompanhamento pós-operatório, 28,57% das
pacientes apresentaram alguma complicação. A mais comum (três casos) foi a presença
de excesso dermoadiposo na(s) extremidade(s) lateral(is) da cicatriz (“dog ear”).
Uma paciente apresentou infecção de ferida operatória, tratada com antibiótico oral;
uma segunda paciente apresentou um serosa volumoso, tendo sido drenada
ambulatorialmente até resolução do mesmo; e uma terceira paciente, tabagista,
evoluiu com necrose parcial da porção central da cicatriz abdominal, sendo tratada
com desbridamento e curativo. A complicação mais grave foi uma paciente que evoluiu
com TEP; no entanto, sem maior repercussão sistêmica, tendo sido tratada em conjunto
com a equipe de Medicina Interna da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
DISCUSSÃO
O Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de Porta
Alegre é um serviço de residência médica. Os residentes são médicos jovens em
processo de formação e especialização na área da cirurgia plástica. Ainda assim,
embora fosse de se esperar um elevado índice de complicações pós-operatórias, a
revisão da literatura médica mostra taxas de complicações semelhantes aos
encontrados no nosso serviço. Ribeiro apresentou taxas de necrose de cicatriz em
torno de 2,3% dos casos na revisão de casos de lipoabdominoplastia e 2,61% de serosa
e cicatriz hipertrófica em 1,7%4. Heller
demonstrou, em revisão de casos que realizaram abdominoplastia com e sem
lipoaspiração associada, uma taxa global de complicações que variou de 9% a 42% dos
casos; com 6,67% a 15,15% de seromas, 3,22% de infecções pós-operatórias e 6,06% de
cicatriz hipertrófica.
CONCLUSÃO
A Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é um hospital escola com diversos
médicos em período de formação e aprendizado. A revisão e comparação dos resultados
e complicações pós-operatórias é um momento de exposição e crescimento para a equipe
cirúrgica, necessário para o aprendizado médico. Nessa revisão, os dados obtidos
pelo Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre se mostraram de acordo com a literatura médica.
REFERÊNCIAS
1. Kelly H. A report of gynecologic diseases (excessive growth of fat).
Johns Hopkins Med J. 1899; 10:197.
2. Pitanguy I. Abdominal lipectomy: an approach to it through analysis
of 300 consecutive cases. Plast Reconstr Surg. 1967; 40:384.
3. https://www.isaps.org/wp-content/uploads/2018/11/2017-Global-Survey-Press-Release-br.
4. Ribeiro R. Modified lipoabdominoplasty: updating concepts. Plast
Reconstr Surg. 2016; 138:38e.
5. Heller JB. Outcome analysis of combined lipoabdominoplasty versus
conventional abdominoplasty. Plast Reconstr Surg. 2008; p.
1821.
1. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
Porto Alegre, RS, Brasil.
2. Universalidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: Flavio Maciel de Freitas Neto Rua
Irmão José Otão, nº 540 - Independência, Porto Alegre, RS, Brasil CEP 90035-060
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