INTRODUÇÃO
Muitas técnicas foram descritas e muitos procedimentos foram modificados ao longo
do
tempo na intenção de corrigir as ptoses mamárias. O resultado estético duradouro,
a
facilidade de execução e segurança da técnica são objetivos e medidas a serem
alcançados para a melhoria dos resultados.
Vários fatores, como envelhecimento, gestação e perda ponderal reduzem a elasticidade
e volume do tecido mamário em diversas intensidades. Nas perdas ponderais existe uma
perda de conteúdo das mamas, principalmente da porção superior, observando-se
frouxidão do suporte ligamentar. A pele torna-se mais flácida com a derme mais fina,
ocorrendo distorções anatômicas e diversos graus de ptoses mamárias1-3.
Os principais objetivos das cirurgias mamárias em pacientes com perda de peso são
a
manutenção do polo superior e prevenção de ptose. Nessas pacientes, a restauração
estética aceitável das mamas pode ser difícil e raramente alcançável sem ressecções
teciduais ou somente com utilização de implantes. Sendo assim, muitas opções foram
descritas para abordar essa situação, incluindo mastopexias isoladas, mastopexias
com implantes, mastopexias acrescidas de tecido autógeno e suspensão dérmica4-6.
Ribeiro foi o primeiro cirurgião a utilizar o retalho dermoglandular de pedículo
inferior não areolado associado ao pedículo superior para manter a projeção da mama
em mastopexias. Classificou esse retalho como tipo I, o qual simularia um implante
mamário para o preenchimento do polo superior, comumente vazio em pacientes
portadoras de ptose mamária7,8. A irrigação proveniente de ramos perfurantes
do quarto, do quinto, do sexto e do sétimo espaços intercostais, via artéria
torácica interna, daria a segurança vascular necessária ao procedimento. Em 1993,
Daniel realizou mastopexias fixando esse retalho sob um retalho horizontal
bipediculado no músculo peitoral maior9. Graf,
em 2000, baseada na técnica de Daniel, descreveu a utilização de retalho
dermolipoglandular de pedículo distal fixado cranialmente sob uma alça de músculo
peitoral maior, aumentando a projeção ou enchimento do polo superior10.
OBJETIVOS
Utilização do retalho de pedículo inferior dermoglandular não areolado nas
mastopexias de pacientes com perdas ponderais no Serviço de Residência Médica em
Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru em Curitiba – PR, avaliando-se
os
resultados e a satisfação das pacientes no pós-operatório.
MÉTODO
Dezessete pacientes foram submetidas às mastopexias com retalho de Liacyr tipo I nos
Hospitais Universitário Cajuru e Santa Casa de Misericórdia em Curitiba/PR, entre
janeiro de 2017 e janeiro de 2018, correspondendo a cerca de 20% dos procedimentos
realizados sem utilização de implantes mamários.
Os prontuários foram revisados, sendo o tempo de seguimento, entre a data da
cirurgia, data do preenchimento do questionário e avaliação pós-operatória, entre
1
a 2 anos. Tratando-se de cirurgias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a
utilização de implantes mamários não era possível. As pacientes selecionadas,
apresentavam ptose moderada a grave, flacidez tecidual e escassez do polo superior
da mama, sendo a técnica proposta uma alternativa para otimização dos
resultados.
Os casos foram operados pelos residentes e supervisionados pelos preceptores do
serviço. Todas as pacientes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido,
foram fotografadas, submetidas a exames, ecografia mamária e/ou mamografia no
período pré-operatório. A avaliação pós-operatória foi realizada pelo mesmo
observador.
Realizava-se marcação pré-operatória com a paciente em ortostatismo, traçavam-se duas
linhas verticais, a primeira da fúrcula esternal à cicatriz umbilical e outra da
região hemiclavicular até a porção superior das aréolas. Marcava-se o ponto A, que
corresponde à projeção do sulco inframamário no polo superior. Por uma manobra
bidigital, marcavam-se os pontos B e C, delimitando assim a área central mamária que
seria desepitelizada. Os pontos já marcados eram conectados ao sulco inframamário
por linhas arqueadas, resultando na marcação publicada por Pitanguy11. O polo inferior era exposto, sendo o
pedículo marcado na sua porção média, com largura entre 5 e 8 cm, estendendo-se até
1 a 2 cm da borda areolar inferior.
Após anestesia geral e a paciente em decúbito dorsal, realizava-se a desepidermização
das áreas correspondentes aos pedículos superior e inferior, realizando a incisão
das bordas do retalho até a fáscia do músculo peitoral maior, formando um retalho
dermoglandular com pelo menos de 3 cm em espessura. Completavam-se as ressecções de
tecidos excedentes e o pedículo era fixado junto à fáscia no nível do segundo espaço
intercostal. Finalizava-se com a montagem da mama pela união dos pontos B e C no
ponto médio da base do retalho e as suturas realizadas por planos com fios
inabsorvíveis (Figura 1).
Figura 1 - Marcação pré-operatória (paciente em decúbito dorsal) e
pós-operatório imediato. Paciente pós-gastroplastia há 3 anos, com perda
ponderal de 25 kg antes do procedimento.
Figura 1 - Marcação pré-operatória (paciente em decúbito dorsal) e
pós-operatório imediato. Paciente pós-gastroplastia há 3 anos, com perda
ponderal de 25 kg antes do procedimento.
Foram avaliados dados referentes ao procedimento, intercorrências intraoperatórias,
utilização de drenos e complicações pós-operatórias.
A avaliação e a submissão do questionário de satisfação foram realizadas no período
entre 1 e 2 anos do pós-operatório.
RESULTADOS
Os procedimentos foram realizados segundo a técnica proposta por Ribeiro. A média
de
idade das pacientes foi de 39 anos (25-52 anos). A média do índice de massa corpórea
foi 25,71 kg/m2 (22,4-30,47). Todas as pacientes perderam peso
previamente à cirurgia, sendo que seis (35,2%), haviam sido submetidas à
gastroplastia redutora no mínimo quatro anos antes do procedimento. Havia uma
paciente hipertensa e uma com hipotireoidismo.
Não foram observados seroma, hematoma, necrose areolar e infecção de ferida
operatória. Em um caso (5,88%), houve presença de deiscência parcial na união das
cicatrizes verticais e horizontais bilateralmente, sendo realizado tratamento
conservador somente com curativos. Não houve intercorrências intraoperatórias e não
foram utilizados drenos no pós-operatório. Não houve complicações maiores, nem foram
necessárias cirurgias revisionais.
Na avaliação entre 1 e 2 anos realizada pelo observador, em um caso (5,88%) houve
assimetria entre as mamas, sendo que nas fotos pré-operatórias a paciente já
apresentava diferença semelhante (mama direita maior que a esquerda). Quanto à
projeção mamária, todos os resultados foram avaliados como adequados no período. Em
dois casos (11,76%), observou-se algum grau de pseudoptose, provavelmente devido a
uma maior perda ponderal após os procedimentos. Dois casos (11,76%) tiveram
cicatrizes inestéticas, principalmente areolares, tipo alargamento. Queloides ou
cicatrizes hipertróficas não foram observadas (Tabela 1).
Tabela 1 - Avaliação pós-operatória dos resultados.
AVALIAÇÃO PÓS-OPERATÓRIA |
ADEQUADA |
INADEQUADA |
TOTAL |
SIMETRIA MAMÁRIA |
16 (94,1%) |
1 ( 5,88%) |
17 |
TAMANHO MAMÁRIO |
17 (100%) |
0 |
17 |
PROJEÇÃO MAMÁRIA |
17 (100%) |
0 |
17 |
FORMA MAMÁRIA |
15 ( 88,23%) |
2 ( 11,76%) |
13 |
CICATRIZES |
15 ( 88,23%) |
2 ( 11,76%) |
13 |
Tabela 1 - Avaliação pós-operatória dos resultados.
Das dezessete pacientes questionadas, quatorze (82,3%) mostraram-se totalmente
satisfeitas, destacando principalmente as melhorias estéticas e de autoestima. Duas
pacientes (11,76%) relataram satisfação parcial, sendo a presença das cicatrizes
alargadas o ponto negativo. Uma paciente (5,88%) demonstrou-se insatisfeita com a
cirurgia, pontuou o formato das mamas como queixa principal (Tabela 2). Um ponto interessante observado nos questionários,
foi que todas pacientes afirmaram satisfação total com o procedimento nos primeiros
6 meses de pós-operatório, sendo o início das queixas observado apenas após esse
período (Figuras 2 e 3).
Tabela 2 - Grau de satisfação pós-operatória.
SATISFAÇÃO DAS PACIENTES |
NÚMERO |
TOTALMENTE SATISFEITAS |
14 ( 82,3%) |
PARCIALMENTE SATISFEITAS |
2 (11,76%) |
INSATISFEITAS |
1 (5,88%) |
TOTAL |
17 |
Tabela 2 - Grau de satisfação pós-operatória.
Figura 2 - Pré e pós-operatório de 1 ano e 6 meses. Paciente com perda ponderal
de 10 kg antes do procedimento.
Figura 2 - Pré e pós-operatório de 1 ano e 6 meses. Paciente com perda ponderal
de 10 kg antes do procedimento.
Figura 3 - Pré e pós-operatório de 1 ano e 9 meses. Paciente pós-gastroplastia
há 4 anos, com perda ponderal de 15 kg antes do procedimento.
Figura 3 - Pré e pós-operatório de 1 ano e 9 meses. Paciente pós-gastroplastia
há 4 anos, com perda ponderal de 15 kg antes do procedimento.
DISCUSSÃO
Dada a íntima relação com a sexualidade e a grande valorização do corpo feminino em
nossa sociedade, a cirurgia estética das mamas impõe grande responsabilidade aos
cirurgiões plásticos. Assim, em um país de clima tropical e com extenso litoral, a
procura por técnicas e artifícios que forneçam bons resultados é imperativa. A
maioria das pacientes deseja que as mamas fiquem firmes, consistentes,
cônico-arredondadas, mamilos centralizados e com projeção anterior, tarefa nem
sempre fácil e factível12,13.
Diversas técnicas para redução mamária e correção de ptose são utilizadas, sendo
baseadas em pedículos vasculares específicos e com escolha dependente de cada caso.
Na experiência de nosso serviço, utilizamos as técnicas de pedículo superior
(Pitanguy), pedículo súpero-medial, pedículo superior com retalho de Lyacir tipo I,
pedículo inferior areolado e pedículo superior com retalhos cruzados a depender da
necessidade dos casos.
Concordamos com Ship, o qual relatou que a mastopexia é mais efetiva quando realizada
com transposição do parênquima do polo inferior para o polo superior, realocando o
conteúdo mamário e formando um volume suficiente para produzir um cone sem a
necessidade de um implante de silicone14.
Apesar do surgimento de novas técnicas de mastopexia, o retalho de pedículo inferior
ainda permanece como uma das preferências devido à sua segurança e fácil
reprodução15,16. O suprimento sanguíneo do complexo
areolopapilar fornecido pelo pedículo superior, a redistribuição do parênquima ao
invés da ressecção da pele com intuito de realocar o tecido do pólo inferior sob o
superior mamário, são aspectos-chave no resultado e na diminuição dos índices de
complicações17,18. Lembrando que, em nosso trabalho,
observamos apenas um caso em que houve pequena deiscência no encontro das cicatrizes
verticais e horizontais, sendo o tratamento realizado somente com curativos
locais.
Swanson publicou um estudo retrospectivo demonstrando que diferentes técnicas de
mastopexia e mamoplastia redutora não apresentam diferenças notáveis em termos de
plenitude do polo superior e projeção mamária. Com o tempo e devido à gravidade, é
extremamente difícil manter o polo superior estável sem a utilização de implantes
ou
enxerto de gordura19. O polo inferior da mama
responde melhor aos efeitos gravitacionais com o passar do tempo e, em nossas mãos,
o retalho de Lyacir tipo I foi capaz de proporcionar resultados adequados, com
baixos índices de complicação e boa satisfação das pacientes.
CONCLUSÃO
A realização das mastopexias utilizando o retalho de Lyacir tipo I demonstrou-se
segura e de fácil reprodução. Acreditamos ser necessário um acompanhamento maior
para avaliar totalmente a longevidade dos resultados, porém nossos dados
preliminares associados à pesquisa de satisfação são encorajadores e endossam o
procedimento.
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Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Paraná, PR, Brasil.
3. Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
Curitiba, PR, Brasil.
Endereço Autor: Rafael Reston Viana
Rua Deputado Joaquim Linhares de Lacerda 88, apartamento 504, Seminário,
Curitiba, PR, Brasil. CEP 80.240-560; E-mail:
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