INTRODUÇÃO
O pilomatricoma (PM) ou tumor calcificante de Malherbe é uma neoplasia benigna dos
anexos cutâneos. Caracteriza-se por um nódulo solitário, firme, móvel e não aderente
aos planos profundo e coloração eritema-violácea. Possui crescimento lento e pode
estar localizado na região subcutânea ou intradérmica. Predomina em sexo feminino.
O
diagnóstico pode ser feito por meio do exame físico, exame de imagem e da citologia.
O tratamento de escolha é a excisão cirúrgica, independente da localização da lesão.
Se indicada em lesões em fases mais tardias, pode acarretar desagravo estético1-3. Nesse contexto, realizamos no presente caso o fechamento por sutura
em bolsa – “pursue string suture”, que resultou em pequeno enrugamento inicial, e
que foi se reduzindo após duas semanas.
OBJETIVO
Demonstrar o tratamento do pilomatricoma de face pela utilização da sutura em bolsa
concêntrica.
MÉTODO
MRK, 3 anos, feminino, apresentava lesão exofítica medindo 3×3 cm na face ao nível
do
sulco nasogeniano esquerdo, friável ao toque (Figura 1). De crescimento evolutivo, sem bordos perolados, sem evidência de
infecção ativa. Foi encaminhado pelo Serviço de Dermatologia para os cuidados da
equipe cirúrgica. O exame demonstrava aspecto avermelhado, friável, sangrava ao
toque, parecia desprender-se da pele adjacente. Após avaliação dermatológica, ficou
sugerido o diagnóstico de pilomatricoma. O tratamento cirúrgico proposto foi a
ressecção completa da lesão a fim de previnir recidiva, o que acarretou deformidade
visível de cerca de 2 cm de diâmetro na face. A técnica utilizada de fechamento
consistiu de sutura em bolsa concêntrica – “pursue string suture” – em alternativa
à
tradicional excisão elíptica utilizada nesse (Figura 2). O fechamento circular em bolsa permitiu o fechamento direto do
defeito, por meio da utilização de pontos de vicryl rapidez 4-0 absorvível, que
foram cobertos com micropore e substituídos conforme a evidência de secreção. O
resultado obtido foi avaliado sobretudo pela presença de cicatriz perceptível na
face, considerando outra alternativa de tratamento que acarretaria como defeito
residual a presença de cicatriz de maior comprimento na face (Figura 3).
Figura 1 - Exame físico evidenciando aspecto avermelhado, friável; e sangrava ao
toque.
Figura 1 - Exame físico evidenciando aspecto avermelhado, friável; e sangrava ao
toque.
Figura 2 - Ressecção em bloco da lesão, deformidade visível de cerca de 2 cm de
diâmetro na face.
Figura 2 - Ressecção em bloco da lesão, deformidade visível de cerca de 2 cm de
diâmetro na face.
Figura 3 - A técnica utilizada de fechamento consistiu de sutura em bolsa
concêntrica – pursue string suture.
Figura 3 - A técnica utilizada de fechamento consistiu de sutura em bolsa
concêntrica – pursue string suture.
RESULTADOS
Não houve deiscência de pontos de sutura, se bem que se percebia imediatamente depois
do procedimento pequeno orifício central que poderia permitir a entrada de
microrganismos. O primeiro curativo foi substituído depois de 48 horas, e a cada 2
dias caso houvesse secreção ou presença de infecção. Não houve infecção, mas havia
por cerca de 3-5 dias pequena quantidade de secreção provavelmente relacionada à
presença de pequena abertura na área “enrugada” da pele. Na consulta de revisão após
cerca de 15 dias, a sutura desprendeu-se espontaneamente, deixando a cicatriz de
aspecto avermelhado com um diâmetro aproximado de 3 mm. O exame anatomopatológico
confirmou o diagnóstico de pilomatricoma, e margens livres de tumor. O seguimento
clínico consistiu de 12 meses após a ressecção. Não houve recidiva da lesão. A
cicatriz permaneceu avermelhada por todo esse período, mas não se percebeu distorção
na linha do lábio e no sulco nasogeniano.
DISCUSSÃO
O pilomatricoma foi descrito pela primeira vez em 1880 por Malherbe e Chenantais como
um “epitelioma calcificante”, com provável origem nas células das glândulas
sebáceas. Em 1961, Forbis e Helwig propõem o termo “pilomatricoma” após demonstrar
que as células do córtex do folículo piloso dão origem à lesão1. Considerado uma neoplasia de pele benigna, o pilomatricoma
representa 0,001% a 0,003% de todos os espécimes dermatopatológicos3.
É tipicamente encontrado na população pediátrica, porém a ocorrência em adultos
também já foi relatada e está frequentemente associada a malignidade2. O pilomatricoma ocorre mais comumente na
cabeça e pescoço, em especial na região pré-auricular1. Excetuando-se linfonodos, constituem o segundo tumor mais excisado em
crianças, atrás apenas de cistos epidermoides. Quarenta por cento dos casos ocorrem
em pacientes abaixo de 10 anos de idade7.
Há um grande número de erros diagnósticos, devido a apresentações clínicas incomuns
e/ou desconhecimento desse tumor por parte do médico generalista3. O diagnóstico diferencial inclui cistos
dermoides, cistos sebáceos, seios pré-auriculares remanescentes de fenda branquial,
adenopatias, hemangiomas ou tumores malignos de partes moles. O uso de ultrassom,
tomografia e ressonância magnética podem auxiliar a investigação do pilomatricoma,
principalmente para diferenciação de PM pré-auriculares de neoplasia de glândula
parótida5. O diagnóstico definitivo é dado
a partir da análise anatomopatológica.
Na maioria do casos, o polimatricoma apresenta-se como lesão única, assim como
apresentado pelo paciente; no entanto, quando múltiplas, associam-se a desordens
como síndrome de Gardner, gliomatose cerebral, sarcoidose, entre outras4. Regressão espontânea é pouco frequente. O
tratamento indicado é a excisão cirúrgica completa da lesão. Apresentam-se
essenciais as margens laterais de 1 cm, a fim de minimizar a recorrência local.
Outrossim, devido à aderência do tumor à derme, deve-se ressecar a pele adjacente
ao
tumor6. No presente relato, demonstramos
de que forma pode ser realizada a excisão completa de uma lesão benigna na face, sem
a necessidade de um planejamento de abordagem elíptico, de forma que a cicatriz
residual se torne menos aparente. Cabe ressaltar que, qualquer que seja a técnica
utilizada, é fundamental que o espécime patológico seja enviado para o patologista,
que vai confirmar a presença de margens livres de tumor, bem como o diagnóstico
etiológico da lesão.
A recorrência do pilomatricoma é rara (2% a 6 %). Caso ocorra, o cirurgião deve
atentar para a possiblidade de variante maligna: pilomatrix-carcinoma6. A criança submetida à resseccão cirúrgica foi
acompanhada por cerca de um ano, em que não se observaram sinais de recidiva da
lesão.
Houve acentuada redução do comprimento da cicatriz esperada caso fosse utilizada uma
excisão elíptica nas linhas de força da face. O fechamento por sutura em bolsa
representa uma opção com cicatriz reduzida após a excisão do pilomatricoma de
face.
CONCLUSÃO
O fechamento por sutura em bolsa – “pursue string suture” – representa uma opção com
cicatriz reduzida após a excisão do pilomatricoma de face.
REFERÊNCIAS
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pilomatrixoma in children: a review of 137 patients. Int J Pediatr
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2014 jun 2. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2014.05.023
2. Schwarz Y1, Pitaro J1, Waissbluth S1, Daniel SJ2. Review of
pediatric head and neck pilomatrixoma. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. 2016;
85:148-53. doi:10.1016/j.ijporl.2016.03.026. Epub 2016 mar 28. DOI: https://doi.org/10.1016/j.ijporl.2016.03.026
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15:e54.
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5. Lan MY, Lan MC, Ho CY, Li WY, Lin CZ. Pilomatricoma of the head and
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2003; 129(12):1327-30. DOI: https://doi.org/10.1001/archotol.129.12.1327
6. Yoshimura Y, Obara S, Mikami T, Matsuda S. Calcifying epithelioma
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57(2):123-8. DOI: https://doi.org/10.1016/S0165-5876(00)00449-3
1. Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: Marcelo Lopes Dias Kolling Avenida
Alberto Bins, nº 456 - Centro Histórico, Porto Alegre, RS, Brasil CEP 90030-140
E-mail: marcelokolling91@gmail.com