INTRODUÇÃO
A perda de substância da ponta do dedo é uma das consultas mais frequentes em
urgência na Cirurgia Plástica, e está frequentemente associada a lesões ungueais,
implicando uma reconstrução complexa, dada a importância da unha em nível funcional
para as pinças digitais, e estética1,2. Além disso, esses
traumatismos apresentam risco de transtornos distróficos sequelas, como deformidades
ungueais, cotos doloridos e cicatrizes instáveis que alteram a função das pinças
digitais1.
A matriz ungueal germinal e estéril é um tecido especializado, e sua reconstrução
por
meio de enxertos de pele ou de dermes não tem produzidos bons resultados3. É por isso que surgem as técnicas por meio de
retalhos locais, que permitem aumentar o comprimento do complexo ungueal, melhorando
a função e a aparência da ponta do dedo traumatizada4.
O retalho do eponíquio, retangular, de retrocesso, descrito por Bakhach, tem sido
usado e modificado em várias publicações, reportando um aumento na exposição da
lâmina ungueal, com um melhor resultado estético4,5-7.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é descrever uma modificação da técnica de retalho do
eponíquio descrita por Bakhach, publicada por Merlino e Carlucci6, por meio da apresentação de casos de
pacientes do Hospital Universitário.
MÉTODO
População
Seis pacientes foram assistidos na Cátedra de Cirurgia Plástica do Hospital
Universitário de Montevidéu em 2018. Eles apresentaram traumatismo de ponta do
dedo com amputações nível 1 e 28,
realizando-se reconstrução da polpa em emergência utilizando diferentes retalhos
locais, e alongamento ungueal mediante retalho de eponíquio6 no mesmo ato.
Técnica cirúrgica
Esse retalho retangular é delimitado desde a borda distal do eponíquio, com uma
largura igual à da unha remanescente, e um comprimento de 8 a 10 mm em direção
proximal. O mesmo está pediculado bilateralmente e a nível proximal por plexos
subdérmicos (Figura 1A).
Figura 1 - Técnica cirúrgica.
Figura 1 - Técnica cirúrgica.
A técnica cirúrgica consiste em marcar um retângulo de eponíquio da largura da
porção remanescente da unha, 5 a 6 mm proximal à borda distal do eponíquio, com
um comprimento de 3 a 4 mm. Utiliza-se um instrumento romo (nesse caso,
utilizamos um decolador) para separar o eponíquio da matriz ungueal ao longo de
toda a sua extensão, incluindo a área do retângulo. Essa área retangular é
cuidadosamente desepidermizada, protegendo a rede vascular subcutânea (Figura 1B). O retalho é cuidadosamente
decolado e deslizado em direção proximal, suturando as bordas do retângulo,
conseguindo assim um aumento na exposição da lâmina ungueal (Figura 1C)6.
A técnica é ilustrada por meio de um caso clínico na Figura 2.
Figura 2 - Técnica ilustrada. Caso clínico.
Figura 2 - Técnica ilustrada. Caso clínico.
Rastreamento
A variação no comprimento da lâmina ungueal exposta foi medida no momento da
cirurgia. Controles semanais foram realizados durante o primeiro mês; e depois
entre 6 e 9 meses.
Em cada controle, o cirurgião registrou a presença de complicações (infecção,
necrose do retalho, cicatrizes dolorosas ou hipersensibilidade) e aos 9 meses o
resultado estético final foi avaliado por cirurgião e por paciente (ruim, bom,
muito bom).
Os resultados descritos são: comprimento da lâmina ungueal exposta, reconstrução
de partes moles associadas, satisfação de cirurgião e do paciente, presença de
complicações.
O trabalho foi realizado sob as normas do Comitê de Ética.
RESULTADOS
Resultados bons a muito bons foram alcançados em 100% dos casos apresentados, tanto
pelo cirurgião quanto pelo paciente. Como complicação, um caso de infecção foi
apresentado em um paciente que foi resolvido com antibioticoterapia oral. Os dados
são apresentados nas Tabelas 1 e 2. Um exemplo de caso clínico é mostrado na
Figura 3.
Tabela 1 - Datos registrados en urgencia.
Paciente |
Longitud de lámina ungueal expuesta previa a la
reconstrucción (mm)
|
Longitu de lámina ungueal expuesta post colgajo de
eponiquio (mm)
|
Alargamiento ungueal logrado |
Dedo afectado |
Reconstrucción de partes blandas asociada |
1 |
6 |
10 |
4 |
Pulgar |
Colgajo de atasoy |
2 |
2 |
5 |
3 |
4To |
Colgajo de atasoy |
3 |
4 |
8 |
4 |
4To |
Colgajo de kutler |
4 |
5 |
10 |
5 |
Pulgar |
Cicatrizacion dirigida |
5 |
3 |
7 |
4 |
2Do |
Cicatrizacion dirigida |
6 |
2 |
5 |
3 |
5To |
Colgajo de atasoy |
Tabela 1 - Datos registrados en urgencia.
Tabela 2 - Datos registrados en evolución.
Paciente |
Complicaciones |
Evaluación de resultado estético |
Tiempo postoperatorio (meses) |
Calificación por cirujano |
Calificación por paciente |
1 |
No |
8 |
Muy bueno |
Muy bueno |
2 |
No |
6 |
Bueno |
Muy bueno |
3 |
Si (infeccion) |
7 |
Bueno |
Bueno |
4 |
No |
7 |
Muy bueno |
Bueno |
5 |
No |
9 |
Muy bueno |
Muy bueno |
6 |
No |
8 |
Muy bueno |
Bueno |
Tabela 2 - Datos registrados en evolución.
DISCUSSÃO
No caso de traumatismos da ponta do dedo, devemos considerar não apenas a função,
mas
também a aparência dela. Frequentemente nos concentramos na cobertura das partes
moles, ignorando o aparelho ungueal, cuja abordagem otimiza os resultados
finais.
Para tanto, tratamos de casos de amputação da ponta do dedo com defeitos parciais
do
leito ungueal, por meio do uso de diferentes retalhos de acordo com a geometria da
lesão, e retalho eponiquial associado.
Temos verificado o que é sugerido em diferentes trabalhos; se o leito ungueal
residual é maior que 2 mm, ou se a lúnula estiver intacta, a matriz ungueal residual
deve ser mantida e exposta, para fins funcionais e estéticos4,9,10.
O retalho de eponíquio é um método simples e prático. Debaixo deste, existem entre
4-6 mm de lâmina ungueal, que expomos mediante deslizamento proximal do eponíquio,
sem necessidade de afetar a margem deste.
O eponíquio permanece intacto durante a desepidermização devido à rede vascular
subcutânea.
A incisão dorsal se presenta com cicatrizes discretas4.
Nesse trabalho, observamos bons e muito bons resultados estéticos, com alongamento
ungueal de 3 a 5 mm, conforme descrito na literatura1,3-6,9-12. Seguimos
realizando a técnica, com o propósito de anexar casos clínicos à experiência e obter
uma melhor evidência da mesma em nosso meio.
CONCLUSÕES
O retalho de eponíquio permite um resultado estético e funcional satisfatório para
defeitos de amputações da ponta do dedo, com comprometimento parcial do leito
ungueal. É uma técnica facilmente reprodutível, que pode ser combinada, realizada
no
mesmo ato, com retalhos locais para reconstrução de partes moles.
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Tech Hand Up Extrem Surg; 2006. PMID: 17159484
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12. Niddam J, Londner J, Gay A, Legré R, Salazard B. Intérêt du lambeau
d'éponychium dans les amputations en zone 2 de pulpe chez l'enfant: à propos de
23 cas. Chir Main; 2008.
1. Hospital de Clínicas, Montevidéu,
Uruguai.
2. Hospital Central das Forças
Armadas.
Endereço Autor: Ana Laura Cunha Av. Italia, s/nº -
Montevideo, Uruguay CEP 11300 E-mail:
pitu1488@hotmail.com