INTRODUÇÃO
Queimaduras são uma das causas de maior agressão que o corpo humano pode sofrer, e
mesmo assim sobreviver. Crianças são muitas vezes acometidas pela exposição a
brincadeiras com fogo, inflamáveis ou escaldamento por líquidos quentes, sendo a
última uma causa frequente de queimaduras de face e pescoço. No grande queimado é
imprescindível um atendimento primário para a reposição hidroeletrolítica e
posterior tratamento cirúrgico. Sequelas cicatriciais são comuns nos
sobreviventes1,2. As retrações de pele são especialmente
problemáticas em crianças, já que prejudicam o desenvolvimento do esqueleto e a
função. À parte do tratamento bem sucedido, a prevenção desse tipo de traumatismo
deve ser amplamente divulgada.
OBJETIVO
O presente relato de caso aborda a terapêutica cirúrgica das sequelas
cicatriciais3 que comprometem a
movimentação da região cervical da criança, de forma a minimizar o impacto no
desenvolvimento normal.
MÉTODO
Relato de caso: RNM, 10 anos, portador de sequela cicatricial que lhe prejudicava
os
movimentos de rotação e extensão da cabeça. Sem outras comorbidades. No momento do
acidente, cerca de seis meses antes, estava à beira da churrasqueira tentando ajudar
o familiar a iniciar o fogo para um churrasco em família, tendo o familiar adulto
utilizado álcool líquido em grande quantidade para aumentar o fogo, quando este já
havia se iniciado. Na época foi atendido em outro município, sendo internado devido
à dor e à gravidade das queimaduras de II grau profundo, recebendo curativos diários
com gaze vaselinada líquida. O menor relatava bastante dor durante a manipulação dos
curativos, que se aderiam facilmente de um dia para outro, tendo obtido a
epitelização completa após cerca de 1 mês. No exame físico da avaliação da sequela
cicatricial, era nítida a dificuldade de movimentação da cabeça. Foi proposta a
plastia das bandas cicatriciais com auxílio de retalhos locais de transposição
múltiplos, as zetaplastias4, associadas ou não
a enxertia de pele. A cirurgia foi realizada sob anestesia geral, com o pescoço
posicionado de forma que permitisse a manipulação no transoperatório, o que ocorreu
após a ressecção da banda cicatricial e a confecção das zetapastias. Não foi
percebida a necessidade de enxertia de pele. O paciente obteve alta no dia seguinte
ao procedimento, utilizando um colar cervical maleável de algodão. Não houve áreas
de necrose, nem infecção. A melhora dos movimentos da cabeça foi alcançada depois
de
cerca de um mês, devido a certo desconforto à movimentação ativa da cabeça e à dor
na região operada. O paciente foi acompanhado por cerca de dois anos no ambulatório
destinado aos pacientes provindos do Sistema Único de Saude – SUS.
RESULTADO
A melhora dos movimentos da cabeça foi alcançada depois de cerca de um mês, devido
a
certo desconforto à movimentação ativa da cabeça e à dor na região operada. O
paciente foi acompanhado por cerca de dois anos no ambulatório destinado aos
pacientes provindos do Sistema Único de Saude – SUS. As Figuras 1 a 5 ao final
deste artigo retratam o paciente do pré ao pós-operatório.
Figura 1 - Pré-operatório: cabeça em extensão.
Figura 1 - Pré-operatório: cabeça em extensão.
Figura 2 - Pré-operatório: cabeça em hiperextensão.
Figura 2 - Pré-operatório: cabeça em hiperextensão.
Figura 3 - Marcação pré-operatória.
Figura 3 - Marcação pré-operatória.
Figura 4 - Pós-operatório: 7 dias.
Figura 4 - Pós-operatório: 7 dias.
Figura 5 - Pós-operatório: 6 meses.
Figura 5 - Pós-operatório: 6 meses.
DISCUSSÃO
A cirurgia plástica do paciente queimado é um grande desafio ao cirurgião, pois as
sequelas pós-queimadura podem levar a retrações e limitação importante de movimento.
A utilização da técnica de zetaplastia é de extremo benefício ao paciente – quando
feita adequadamente aumenta o eixo linear de cicatrizes ou gira a linha de tensão,
alcançando um feito benéfico na estética e funcionalidade local. Não houve a
necessidade de enxerto de pele, feito positivo para menor morbidade na cirurgia
pediátrica, evitando cicatriz hipertrófica e diferença de coloração ou tecido.
Cicatrizes de queimadura têm risco de malignização, como a úlcera de Marjolin5 – que pode ser evitada pelo tratamento
adequado das queimaduras que impede a cronificação da inflamação. Para isso, é
importante a vigilância dos pacientes em longo prazo, além do uso de protetor solar
e a não exposição ao sol na área afetada. É importante ressaltar que a
queimadura em criança pode ser evitada: medidas simples no cotidiano, como deixar
a
criança em outro cômodo ao utilizar o fogão ou acender a churrasqueira, manter
alimentos e líquidos escaldantes afastados das crianças e cuidar na manipulação de
aparelhos eletrodomésticos, como ferro de passar roupas, são maneiras simples de
evitar acidentes que devem ser alertadas à sociedade.
CONCLUSÃO
Zetaplastia continua sendo uma excelente indicação para tratamento de retração
cervical.
REFERÊNCIAS
1. Meyer CM, Köche FE, Souza MEP, Leonardi DF. Sequelas de queimaduras:
retração cervical. Rev Bras Queimaduras. 2012; 11(1):38-42.
2. Cammarota Jr R. Reconstrução do Pescoço Queimado na Fase Aguda. Rev
Bras Cir Plást. 2003; 18(3):33-8.
3. Elamrani D, Zahid A, Aboujaafr N, Diouri M, Bahechar N, Boukind EH.
Post-burn cervical retractions: 45 cases and a survey of the literature. Annals
of Burns and Fire Disasters. 2011 set 30; 24(3):149-56.
4. Oiveira LC, Arruda AM, Reis Filho GC, Santos L, Anbar RA. Tratamento
cirúrgico de retrações axilares e mento- torácica com zetaplastia. Rev Bras Cir
Plást. 2010; 25(1):213-6.
5. Leonardi DF, Oliveira DS, Franzoi MA. Úlcera de Marjolin em cicatriz
de queimadura: revisão de literatura. Rev Bras Queimaduras. 2013;
12(1):49-52.
1. Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: Paulo Eduardo Macedo
Caruso Av. Ipiranga, nº 6681 - Partenon, Porto Alegre, RS, Brasil CEP
90619-900 E-mail: pauloemcaruso@gmail.com