INTRODUÇÃO
Aproximadamente 40% das 1,7 milhões de mulheres diagnosticadas com câncer de mama
precisarão da mastectomia como o tratamento cirúrgico da sua doença1.
As modalidades para reconstrução são diversas, passando do uso de tecidos autólogos,
o uso de expansores teciduais e implantes mamários até, mais recentemente, o uso de
telas (biológicas ou sintéticas).
É sabido que tratamento dessa patologia afeta a autoestima e a imagem corporal das
mulheres. A ascensão da reconstrução imediata, sem dúvidas, melhorou o desfecho
estético, psicológico e a qualidade de vida das pacientes2.
Inicialmente se realizava a reconstrução em dois estágios, pois havia limitação do
pocket submuscular para acomodar um implante com volume
definitivo. Para tal, era necessário, portanto, uso de expansores teciduais.
Com o surgimento das matrizes sintéticas e biológicas como opção para a reconstrução
mamária3, esse cenário começou a mudar,
pois abria a possibilidade de criar um pocket no qual o implante
ficasse melhor acomodado, resolvendo o problema da falta de cobertura na porção
inferiolateral. Nessa técnica, as telas são suturadas na borda inferior do músculo
peitoral maior e na parede torácica para acomodar um implante definitivo na cirurgia
primária, eliminando a necessidade de uma segunda cirurgia4. Ao suturar a tela, a porção inferolateral do músculo peitoral
maior, ela expande o espaço disponível para a inserção do implante mamário, criando
um revestimento natural inframamário5. Essa
técnica garante cobertura adicional e suporte inferiormente, permitindo uma expansão
tecidual mais rápida (no caso do uso de expansores), uso de implantes mamários
maiores e melhora da projeção do polo inferior6. Apesar de todos os benefícios, ainda são métodos considerados caros
para a realidade brasileira.
Sem o uso desses reforços na parede inferolateral, muitos implantes acabam deslocando
lateralmente, culminando em prejuizo estético. O objetivo desse artigo é descrever
técnica desenvolvida pelo autor sênior (E.L.M.P), utilizando o próprio retalho da
mastectomia suturado na porção inferolateral do músculo peitoral maior com objetivo
de obter cobertura lateral do implante mamário na reconstrução mamária imediata com
uma adequada estabilização do implante, evitando o deslocamento lateral.
OBJETIVO
Uma opção para a estabilização lateral do implante da reconstrução mamária
imediata.
MÉTODO
Após a mastectomia realizada pela equipe da mastologia, realizamos a liberação das
inserções costais do músculo peitoral maior. Nesse momento pode haver a perda de
continuidade do músculo em sua porção inferior, em caso de inserção alta do mesmo.
Após, indroduzimos o implante mamário, geralmente da marca Mentor, modelo anatômico
– CPG 323 (perfil alto) e 322 (perfil moderado). Iniciamos os pontos de fixação da
borda lateral do músculo peitoral ao retalho da mastectomia de medial para lateral.
Ao término da sutura, o pocket criado deve estar devidamente
ajustado ao implante, com o objetivo de impedir migração lateral do mesmo. Esse
pocket caracteriza-se, portanto, em dual plane
(retalho cutâneo em sua porção inferolateral e cobertura dupla – músculo + retalho
cutâneo em porção superomedial). Utilizamos para a síntese fio absorvível (Vycril
3-0) (Figuras 1 e 2).
Figura 1 - Passo a passo da sutura.
Figura 1 - Passo a passo da sutura.
Figura 2 - Resultado final da sutura.
Figura 2 - Resultado final da sutura.
O autor tem a rotina de deixar drenos suctores PVAC em todos as pacientes, os quais
ficam na loja superior ao músculo. Permanece no pós-operatório imediato área de
pinçamento na derme por onde passaram as suturas, porém essa cede e melhora em 2
semanas devido ao uso de sutura absorvível.
Critérios de inclusão para uso da técnica: mastectomia com preservação de pele (com
ou sem presença do complexo areolomamilar), pacientes com baixa probabilidade de
realizar radioterapia adjuvante, mamas de pequeno e médio volume.
Critérios de exclusão para uso da técnica: mamas grandes com ptose acentuada, acesso
inframamário, dúvida em relação à viabilidade do retalho inferolateral da
mastectomia.
RESULTADOS
O autor usa essa técnica há 5 anos com bons resultados. O diferencial da técnica é
que não houve migração lateral significativa dos implantes, que diminuiu a
incidência de reintervenção para ajuste da posição dos mesmos. A casuística de
complicações, como necrose do retalho cutâneo, deiscência de ferida operatória ou
seroma não foi diferente de outras opções técnicas e do que é descrito na
literatura.
DISCUSSÃO
Há ainda muita discussão no campo da reconstrução mamária imediata, não havendo
consenso sobre o melhor método, que varia desde o uso de retalhos desepidermilizados
associado com implantes até colocação de implante submuscular, subfascial ou
pré-peitoral com ou sem uso de telas (sintéticas ou biológicas)7.
Apesar da disseminação do uso de técnicas com uso de telas, há pouca evidência que
as
coloque como padrão-ouro7-10. Além
disso, o valor ainda é fator limitante para o uso disseminado das telas, sendo ainda
muito caro para a realidade brasileira.
A idéia por trás do seu uso é de confeccionar um prolongamento do músculo peitoral
maior, para que o implante fique melhor acomodado, sem migração lateral. Isso pode,
em alguns casos, ser alcançado com o descolamento de retalhos de músculo serrátil
anterior. Essa última técnica é muito utilizada quando não dispomos de materiais
alogênicos; porém, na experiência do autor sênior, aumenta muito a dor e desconforto
pós-operatórios, razão pela qual se buscou novas técnicas para cobertura sem
necessidade de descolamento muscular.
A técnica proposta neste trabalho oferece cobertura ao implante e maior resistência
ao deslocamento lateral dos implantes, mantendo o aspecto natural das mamas. Esse
aspecto não foi discutido em nenhum dos trabalhos revisados.
Além disso, causa menos dor quando comparada à técnica de retalho serrátil anterior
e
não tem os altos custos do uso das telas. O autor tem atingido bons resultados com
a
técnica, com índices de necrose do retalho, exposição do implante, necessidade de
reoperação similares às outras técnicas e ao que é descrito na literatura.
CONCLUSÃO
Acreditamos que a fixação/sutura do retalho da mastectomia com a borda inferolateral
do músculo peitoral maior é uma boa opção para evitar o deslocamento lateral do
implante, mantendo o posicionamento ideal do mesmo sem aumentar incidência de
complicações no retalho.
REFERÊNCIAS
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male transgender individuals. Ann Plast Surg. 2017; 78(3):249-53. DOI: https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000000882
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Blondeel P, et al. Chest-wall contouring surgery in female-to-male transsexuals:
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79(3):259-63. DOI: https://doi.org/10.1097/SAP.0000000000001099
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Reconstr Surg. 2019; 143(1):272-9. DOI: https://doi.org/10.1097/PRS.0000000000005113
5. Wilson SC, Morrison SD, Anzai L, Massie JP, Poudrier G, Motosko CC,
et al. Masculinizing Top Surgery: A Systematic Review of Techniques and
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6. Top H, Balta S. Transsexual mastectomy: selection of appropriate
technique according to breast characteristics. Balkan Med J. 2017; 34(2):147.
DOI: https://doi.org/10.4274/balkanmedj.2016.0093
7. Hage JJ, Van Kesteren PJ. Chest-wall contouring in female-to-male
transsexuals: basic considerations and review of the literature. Plast Reconstr
Surg. 1995; 96(2):386-91. DOI: https://doi.org/10.1097/00006534-199508000-00019
1. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica,
Santa Catarina, SC, Brasil.
2. Hospital Universitário, Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.
Endereço Autor: Evandro Luiz Mitri Parente Av.
Trompowsky, nº 346 - 701 - Centro, Florianópolis, SC, Brasil CEP 88015-300
E-mail: elmp@uol.com.br