INTRODUÇÃO
O termo ginecomastia se refere a uma patologia mamária masculina, frequente, definida
como aumento da glândula mamária1-3. O primeiro relato
do termo foi feito por Galeno (séc. II d.C.), cuja tradução era "mama como mulher"
e
a primeira ressecção cirúrgica foi descrita por Paulo de Égina (625 d.C.)8. Tem como causa o desequilíbrio na relação
hormonal de estrogênio e androgênio, seja ela fisiológica, idiopática (maioria), por
endocrinopatias ou abuso de esteroides, este último cada vez mais frequente1.
O diagnóstico requer abordagem criteriosa da história clínica do paciente e exame
físico. A detecção de massa palpável na mama em pacientes do sexo masculino pode
resultar no diagnóstico de pseudoginecomastia, ginecomastia verdadeira, câncer de
mama e numerosas outras condições benignas4,7,8.
Em 1973, Simon e cols.8 propuseram a seguinte
classificação para os diferentes graus de ginecomastia:
Grau I – Pequena, sem excesso de pele;
Grau IIa – Moderada, sem excesso de pele;
Grau IIb – Moderada, com excesso de pele;
Grau III – Grande, com excesso de pele.
A técnica cirúrgica mais comum é a mastectomia subcutânea, que envolve a ressecção
direta do tecido glandular por meio de uma abordagem periareolar ou transareolar,
com ou sem lipoaspiração associada. A ressecção de pele é necessária onde há volume
mamário acentuado, ptose e excesso de pele. Os principais problemas da cirurgia são
cicatriz inestética, redundância de pele e migração do mamilo7.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é demonstrar a reprodução de técnica utilizada para
correção cirúrgica de paciente com ginecomastia de grau III.
MÉTODO
M.A, 32 anos, queixa-se de mamas grandes e caídas, nega uso de medicações ou
histórico de uso de anabolizantes. Investigação hormonal sem alterações. Ao exame
físico nota-se ptose mamária importante associada à hipertrofia de tecido mamário
(Figura 1). Realizada ultrassonografia com
laudo de acúmulo anômalo de tecido fibroglandular em topografia retroareolar
bilateralmente, portanto se trata de uma ginecomastia verdadeira, grau III de
Simon.
Figura 1 - Exame físico pré-operatório. Ginecomastia Grau III.
Figura 1 - Exame físico pré-operatório. Ginecomastia Grau III.
Descrição da técnica
(1) Marcação do Ponto A para nova posição do complexo areolopapilar; (2) marcação
com areolótomo pequeno devido à intenção de diminuição do CAP; (3) marcação de
dois vetores equidistantes e com tamanho 1 cm maior que o CAP original do
paciente, que se unirão em forma de "disco voador ou óvni" (Figura 2); (4) realização da manobra de Schwartzmann; (5)
realização de mastectomia total em bloco, deixando 1 a 2 cm de pele e selar em
toda a região mastectomizada (Figura 3);
(6) lipoaspiração complementar para melhor contorno mamário; (7) passagem de
dreno portovac bilateralmente e revisão de hemostasia; (8) aproximação com
pontos separados de nylon 3.0 e nylon 4.0 subdérmicos nos prolongamentos
laterais, deixando a cicatriz retilínea e pontos com nylon 5.0 de Gillies na
região areolar reposicionando o CAP (Figura 4); (9) total da peça – 415 g na mama esquerda, 380 g na mama
direita, 250 mL de lipoaspiração; (10) realizado curativo com microporagem e
cinta elástica por 3 meses (Figura 5).
Figura 2 - Marcação do novo ponto A e dos vetores equidistantes.
Figura 2 - Marcação do novo ponto A e dos vetores equidistantes.
Figura 3 - Mama Direita - manobra de Schwartzmann. Mama Esquerda -
mastectomia em bloco.
Figura 3 - Mama Direita - manobra de Schwartzmann. Mama Esquerda -
mastectomia em bloco.
Figura 4 - Reposicionamento do CAP.
Figura 4 - Reposicionamento do CAP.
Figura 5 - Produto da mastectomia em bloco. Mama direita – 380 g; mama
esquerda – 415 g.
Figura 5 - Produto da mastectomia em bloco. Mama direita – 380 g; mama
esquerda – 415 g.
RESULTADOS
Paciente evoluiu satisfatoriamente; o dreno não apresentava débito e foi retirado
no
sexto dia pós-operatório. Manteve uso de curativo com microporagem, cinta elástica
e
foram iniciadas sessões de drenagem pós-operatória a fim de evitar fibrose
pós-lipoaspiração.
DISCUSSÃO
O número de cirurgias plásticas apresentou na última década um crescimento
significativo na população masculina, entre as cirurgias realizadas, a correção de
ginecomastia apresenta um desafio ao cirurgião plástico, uma vez que sua correção
em
casos de mamas grandes e feminilizadas não devem apresentar o estigma da correção
feminina e com a cicatriz em "T". Para cada caso a técnica operatória mais adequada
deve ser individualizada, sendo importante no pré-operatório discutir em conjunto
com o paciente seus anseios e expectativas de resultado4,6.
CONCLUSÃO
A técnica descrita por Resende5 se mostrou
extremamente eficaz e com resultado satisfatório na correção de ginecomastia Grau
III, com cicatriz de tamanho aceitável, sem estigmas e com ressecção de grande
quantidade de tecido em excesso.
Referências
1. Johnson RE, Murad MH. Gynecomastia: pathophysiology, evaluation, and
management. Mayo Clin Proc. 2009; 84(11):1010-5. DOI: https://doi.org/10.1016/S0025-6196(11)60671-X
2. Steele RS, Martin MJ, Place RJ. Gynecomastia: complications of the
subcutaneous mastectomy. Am Surg. 2002; 68(2):210-3.
3. Braunstein GD. Gynecomastia. N Engl J Med. 1993; 328(7):490-5. DOI:
https://doi.org/10.1056/NEJM199302183280708
4. Nuttall FQ. Gynecomastia as a physical finding in normal men. J Clin
Endocrinol Metab. 1979; 48(2):338-40. DOI: https://doi.org/10.1210/jcem-48-2-338
5. Resende JHC. Técnica para Correção de Ptose Mamária Masculina pós
Grandes Emagrecimentos. Rev Bras Cir Plást. 2007; 22(1):1-9
6. Dornelas MT, Machado DC, Gonçalves ALCP, Dornelas MC, Correa MPD.
Tratamento cirúrgico da ginecomastia: uma análise criteriosa. Rev Bras Cir
Plást. 2010; 25(3):470-3. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-51752010000300012
7. Medeiros MMM. Abordagem cirúrgica para o tratamento da ginecomastia
conforme sua classificação. Rev Bras Cir Plást. 2012; 27(2):277-82. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1983-51752012000200018
8. Karp NS. Ginecomastia. In: Torne CH. Grabb and Smith's Cirurgia
Plástica. 7 ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter. 2018; cap. 57.
1. Serviço de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo
Bolivar.
Endereço Autor: Pedro Antonio Cordova Rocha Avenida
Ana Costa, nº120 - Vila Matias, Santos, SP, Brasil CEP 11060-000 E-mail:
pedro_cordova@hotmail.com