INTRODUÇÃO
A cirurgia plástica da mama é uma das mais realizadas no mundo e a mamoplastia
redutora, por sua vez, oferece a solução para correção de problemas funcionais
e
estéticos ocasionados por mamas volumosas e/ou ptosadas1. A busca de uma forma mais agradável (adequação do volume,
suspensão e forma da mama) e duradoura das mamas levou à proposição de inúmeras
técnicas de mamoplastia redutora, com grande atenção ao pedículo responsável pelo
suprimento vascular do complexo aréolo-papilar2. Objetiva-se com a cirurgia reduzir o tamanho das mamas, manter a
simetria, e um número mínimo de complicações2.
O aumento das mamas durante a puberdade e no período gestacional é um processo
fisiológico normal, mas um aumento exagerado e alargamento difuso é uma condição
referida como gigantomastia, conforme sugerido por Strombeck3. A gigantomastia é uma condição não rara, caracterizada por um
aumento excessivo do volume das mamas, que pode provocar danos físicos e
psicológicos para as pacientes4. Os sintomas
incluem mastalgia, ulceração, infecção submamária, problemas posturais, cervicalgia,
dorsalgia e injúria por tração crônica dos 4º, 5º e 6º nervos intercostais,
provocando perda da sensibilidade mamária4.
Pacientes que se submetem à redução de mama apresentam melhora importante da relação
saúde-qualidade de vida4. A melhora é notada
entre o 1º dia antes da cirurgia e 1 mês após, depois disso estabiliza por até
1
ano4. A redução de mama melhora
significativamente a qualidade de vida, a sociabilidade e a estabilidade
emocional4. A satisfação das pacientes
submetidas à cirurgia plástica estética em geral, e nas mamoplastias em particular,
está sempre vinculada à qualidade dos resultados a curto, médio e longo prazo,
com o
mínimo de cicatrizes, à manutenção da sensibilidade cutânea e funcional, qualquer
que seja o tipo de técnica aplicada5.
O amplo debate sobre qual seria a melhor técnica, conciliando segurança, bom
resultado estético e funcional, representa um desafio para os cirurgiões
plásticos6. Diante disso, faz-se
necessário um estudo comparativo para avaliar quais as técnicas mais utilizadas
na
mamoplastia redutora, correlacionando com as complicações mais prevalentes e o
formato da cicatriz.
OBJETIVO
Essa revisão sistemática tem como objetivo descrever as evidências científicas
relacionadas à técnica mais utilizada na cirurgia de redução de mamas e avaliar
as
complicações relacionadas à escolha da técnica de mamoplastia redutora, assim
como
abordar o formato de cicatriz em mamas hipertróficas.
MÉTODO
A pesquisa foi realizada em cinco bases de dados - PubMed, Cochrane, LILACS, Scielo
e
Biblioteca Virtual em Saúde - utilizando-se os descritores “mammaplasty”,
“reduction”, “techiniques” e “adult” com o operador
AND, no período de 2013 até janeiro de 2017. A qualidade dos
artigos foi avaliada pelos critérios do Strengthening the Reporting of
Observational Studies in Epidemiology (STROBE).
Os critérios de inclusão foram: artigos publicados nos últimos 5 anos; artigos de
mamoplastia redutora em mulheres; artigos que passaram pelo STROBE; artigos
publicados em inglês/português/espanhol, que a amostra conte com pelo menos 100
pacientes.
Os critérios de exclusão foram: intervenções em cadáveres; estudos que não abordam
técnicas de mamoplastia redutora; estudos que envolvem câncer da mama; estudos
que
abordam mastopexia; estudos envolvendo cirurgia de colocação de implantes; revisões
de literatura/sistemáticas; estudos que não abordam mamoplastia redutora; estudos
experimentais; estudos em pacientes menores de 18 anos; intervenção em homem;
relatos de caso; estudos que envolvem mamas doentes; intervenção em fumantes;
procedimento realizado em ambulatório e estudo em francês.
Dois autores coletaram os dados por meio de um formulário de coleta pré-definido e
posteriormente revisaram os dados extraídos. As características dos estudos
extraídos incluíram: data de publicação, título, definição do estudo, entre outras.
A qualidade de cada estudo foi avaliada pela Ferramenta STROBE para Avaliar Risco
de
Viés, que contém 27 itens como: risco de viés em cada estudo; critério de
elegibilidade; fontes de informação; características dos estudos; processo de
coleta
de dados; medidas de sumarização; sumário de evidência, entre outros.
RESULTADOS
Foram encontrados 291 artigos pela combinação dos termos nas bases de dados
utilizadas. Entre esses, 274 foram excluídos após a leitura do título e do resumo,
por não preencherem os critérios de inclusão e exclusão. Após a leitura completa
de
17 artigos, oito foram excluídos por não abordar critérios de inclusão que
apresentassem nos estudos apenas pacientes com algum grau de hipertrofia mamária
e
não aqueles que realizaram redução da mama com a finalidade de suspensão
(mastopexia).
Dessa forma, nove artigos foram selecionados por obedecerem aos critérios de
inclusão, totalizando 2.527 pacientes e seis técnicas estudadas. A mamoplastia
redutora do pedículo inferior foi a técnica presente em um número maior de artigos,
sendo utilizada em quatro estudos, totalizando 496 pacientes operadas pela técnica.
A complicação mais comum, presente em cinco dos nove estudos, foi infecção da
ferida
cirúrgica, percebida em 87 pacientes. A maioria dos autores utilizaram a cicatriz
em
T invertido, presente em sete estudos e totalizando 1599 mulheres.
Os estudos selecionados foram publicados entre 2013 e 2016, 7 são estudos
retrospectivos e 2 prospectivos. As amostras variaram de 110 a 931 participantes,
com média de idade 39,75 anos. Oito dos nove artigos trouxeram a elevação do índice
de massa corporal (IMC) como comorbidade associada, seja através do sobrepeso
ou
ainda da obesidade em graus diferentes, sendo que apenas um deles não abordou
afecção alguma7. Um dos estudos, publicado por
Karacor-Altuntas et al.8 em
2014, trouxe diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica como doenças
associadas.
DISCUSSÃO
Nesse estudo, embora a técnica do pedículo inferior tenha sido abordada por um número
maior de autores9-12 a técnica que esteve presente em um número
maior de pacientes foi o pedículo posterior de Moufarrege (36,8% do total de
pacientes) abordada por um único autor. Segundo a literatura, o retalho de pedículo
inferior é versátil para mamas de diferentes formas e tamanho.
Robbins13, em 1977, utilizou a técnica de
pedículo inferior areolado, com o objetivo de avaliar viabilidade e sensibilidade
do
complexo areolopapilar; observou que havia manutenção da sensibilidade desse
complexo, reposição da aréola sem tensão e sem distorção do pedículo, além de
possibilidade de exérese de grande quantidade de tecido mamário.
Courtiss & Goldwyn14 notaram como
vantagens que, mesmo sendo utilizada em gigantomastia ou ptoses graves, havia
manutenção da sensibilidade, contorno, pigmentação e ereção do mamilo.
Em relação às complicações, percebeu-se que a infecção da ferida cirúrgica esteve
presente em um número maior de estudos. Considerada uma cirurgia limpa, a cirurgia
da mama apresenta na literatura índices de infecção de sítio cirúrgico (ISC)
variando de 4 a 18%15, bem superiores aos
valores de referência (<3,4%) definidos pelo Center of Disease
Control (CDC)16. O estudo de
Carpelan et al.17 apresentou
57,5% das infecções entre todos os pacientes.
Em relação à cicatriz, são descritas inúmeras técnicas quanto à marcação prévia e
execução, sendo as mais utilizadas em “T invertido”, vertical, periareolar e em
“L”,
classificadas assim conforme a cicatriz resultante.
Essa revisão encontrou a cicatriz em T invertido presente em 63,2% das pacientes,
o
que vai de acordo com a literatura, que traz essa técnica como sendo mais utilizada
em mamas com maiores graus de hipertrofia.
CONCLUSÃO
A utilização do pedículo inferior mostrou-se a técnica utilizada em um número maior
de estudos, sendo escolhida pelos autores pelos seguintes motivos: número menor
de
complicações e indicação para mamas maiores. O formato da cicatriz que esteve
mais
descrita nos estudos foi a cicatriz em T invertido. Em relação às complicações,
foi
percebido que a infecção da ferida cirúrgica foi a complicação vista em um número
maior de pacientes.
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Salvador, BA, Brasil.
2. Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, São
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Endereço Autor: Humberto Campos
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