ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175

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Articles - Year2000 - Volume15 - Issue 1

RESUMO

O Retalho Radial Antebraquial é extremamente versátil. Tem sido utilizado como ilha cutânea, retalho livre simples ou pré-moldado. O grande problema tem sido sua área doadora; isto, no entanto, é um problema maior para os cirurgiões do que para os pacientes. Este trabalho discute suas aplicações clínicas numa série de 48 pacientes que tiveram indicações para reconstrução de cabeça e pescoço, reconstrução de pênis ou na cirurgia reconstrutiva das extremidades, em que retalhos inervados foram necessários; como na reconstrução do polegar, da mão ou dos membros inferiores.

Palavras-chave: Reconstrução; microcirurgia; retalho antebraquial

ABSTRACT

The antebrachial flap is extremely versatile. It has been used as a premolded or single free flap cutaneous island. Although this is a bigger matter for surgeons than to the patients, the major problem is the donator area. This work addresses its clinical applications at a series of 48 patients who received indications for the head and neck reconstruction, penis reconstruction or in the reconstructive microsurgery of the extremities, in which the innervated flaps where necessary, such as the thumb, hands and inferior limbs reconstruction.

Keywords: Reconstruction; microsurgery; antebrachial flap


INTRODUÇÃO

Em 1978, os Doutores Yang Guo Fang, Chen Baoqui e Gao Yuzhi(8), do Shenyang Military General Hospital, descreveram o Retalho Antebraquial baseado na artéria radial(8); inicialmente empregado como Retalho Livre e, posteriormente, em Ilha Pediculado. Fouche, Biemer e Stock(5), na década passada, o empregaram amplamente nos traumatismos graves do membro superior.

O Retalho Radial Antebraquial, além de possuir um grande território cutâneo, é muito versátil, podendo ser programado conforme a necessidade(1) (pré-fabricado, pré-moldado, como retalho composto com tendões, músculos, ossos, e/ou nervos vascularizados).

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise retrospectiva do Retalho Radial Antebraquial utilizado pelo grupo de Microcirurgia Reconstrutiva de Ribeirão Preto, no período de abril de 1994 a junho de 1998.


CASUÍSTICA E MÉTODO

No período de abril de 1994 a junho de 1998, 48 retalhos foram realizados em 48 pacientes; sendo 40 do sexo masculino e 8 do feminino. As intervenções cirúrgicas foram realizadas pelo grupo de Microcirurgia Reconstrutiva nos hospitais que o solicitaram (HC - FMUSP; Hospital São Lucas; Santa Casa e Instituto Santa Lydia, em Ribeirão Preto).

O desenho do Retalho é variável, dependendo do tamanho e do local a ser reconstruído. O Teste de Allen foi realizado em todos os pacientes, sendo que em cinco associamos o Doppler e a Arteriografia Digital devido à magnitude do trauma. A dissecção é iniciada na extremidade proximal do Retalho, a artéria radial é localizada entre o músculo braquiorradial e o músculo flexor radial do carpo(3); a seguir é preparada a veia cefálica até a fossa cubital, onde também isolamos o nervo cutâneo lateral do antebraço responsável pela sensibilidade da ilha cutânea. Posteriormente é realizada uma incisão na borda ulnar do Retalho até a fáscia muscular; fáscia esta que é suturada à derme com náilon 5-0; a dissecção é realizada até atingir a borda lateral, o músculo flexor superficial dos dedos. A dissecção da borda radial é realizada até atingir a extremidade medial do tendão do braquiorradial, onde é realizada a liberação do pedículo vascular em profundidade; posteriormente é realizada a dissecção progressiva do Retalho, com hemostasia cuidadosa dos numerosos ramos musculares(7).

Na área doadora são realizadas suturas com náilon 4-0 nas bordas do defeito para diminuir a área. Proximalmente, o músculo braquiorradial e o músculo flexor radial do carpo são aproximados; no segmento distal do antebraço, o paratendão é cuidadosamente preservado para permitir uma boa integração do enxerto de pele, que é suturado com náilon 5-0 às bordas da ferida. Sobre a área enxertada realiza-se curativo de Brown, que é retirado no sétimo dia de pós-operatório.


RESULTADOS

O sacrifício da artéria radial não levou a nenhuma complicação isquêmica do membro superior(9). Dos 48 pacientes operados, obtivemos bons resultados em 42. A grande maioria das complicações estão relacionadas com traumatismos dos membros inferiores, o que atribuímos sempre à PTVD (Doença Vascular Pós-Traumática) que ocorre com muita freqüência nesses pacientes(4).

O seguimento operatório variou de 4 a 48 meses. Em 3 casos houve demora na cicatrização da área doadora por causa da perda parcial do enxerto de pele; os 3 pacientes foram tratados de forma conservadora, não tendo sido notadas exposição de tendão ou seqüela funcional importante. As figuras 1 a 6 ilustram alguns dos resultados obtidos.


Fig. 1a - Amputação completa do pênis.


Fig. 1b - Dissecção do pedículo neurovascular.


Fig. 1c - Após a introdução da prótese.


Fig. 1d - Pós-operatório imediato.


Fig. 1e - Funções fisiológicas após 6 meses.


Fig. 2a - Amputação parcial do pé.


Fig. 2b - Área doadora.


Fig. 2c - Pós-operatório de 3 anos.


Fig. 2d - Retalho livre reinervado - 36 meses.


Fig. 3a - Retalho antebraquial pré-moldado para reconstrução nasal (pré-operatório).


Fig. 3b - Reconstrução da cartilagem alar em bloco único (Técnica Dr. Max Pereira).


Fig. 3c - Detalhe do perfil.


Fig. 4a - Traumatismo complexo do membro inferior.


Fig. 4b - Planejamento do retalho.


Fig. 4c - Pós-operatório de 3 anos.


Fig. 5a - Fratura III b membro superior.


Fig. 5b - Retalho preparado para anastomoses vasculares.


Fig. 5c - Pós-operatório de 4 anos.


Fig. 6a - Tumor avançado de cabeça e pescoço.


Fig. 6b - CT: destruição da parede direita da órbita.


Fig. 6c - Ressecção do olho e da parede da órbita.


Fig. 6d - Retalho chinês pré-moldado.


Fig. 6e - Pós-operatório imediato.


Fig. 6f- Pós-operatório de 3 meses, aguardando sua prótese.



DISCUSSÃO

O Retalho Antebraquial tem sido utilizado há 20 anos(3,4), mostrando ser eficaz e seguro na microcirurgia reconstrutiva. Com o passar do tempo, novas técnicas desenvolveram-se, permitindo resultados funcionais e estéticos cada vez melhores.

A larga aceitação do Retalho Microcirúrgico Antebraquial deve-se ao fato de que ele permite ao cirurgião muitas variações técnicas, além de sua anatomia ser mais constante do que a de outros retalhos(3).

A grande preocupação dos cirurgiões em relação a este retalho tem sido a cicatriz da área doadora. Nesta revisão, deste grupo jovem de microcirurgiões, ficou claro que a cicatriz incomodou mais aos cirurgiões do que aos pacientes.

Com isso, é experiência dos autores que o Retalho Antebraquial se mostrou seguro e eficiente, tanto na reconstrução de cabeça e pescoço, como na reconstrução peniana e/ou cirurgia reconstrutiva das extremidades quando existe indicação de retalhos inervados(2).


CONCLUSÃO

O Retalho Antebraquial tem sido utilizado há 20 anos, mostrando ser eficaz e seguro na microcirurgia reconstrutiva. Sua larga aceitação deve-se ao fato de que ele permite ao cirurgião muitas variações técnicas, além de sua anatomia vascular ser constante(5,6,10). É experiência dos autores que a preocupação com a cicatriz da área doadora do Retalho Antebraquial incomodou mais aos cirurgiões do que aos pacientes e que ele continua sendo, junto com o retalho do músculo reto abdominal e a fíbula, um dos três grandes cavalos de batalha da Microcirurgia Reconstrutiva.


BIBLIOGRAFIA

1. BESTEIRO JM. Comunicação pessoal. In: XXXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE CIRURGIA PLÁSTICA. 1997, São Paulo.

2. BUNCKE HJ. Microsurgery transplantation replantation: an atlas text. Lea Feibenger, 1993. p. 687-97.

3. CHEM RC. Introdução à microcirurgia reconstrutiva. Rio de Janeiro : Medsi, 1993. p. 3-4.

4. FERREIRA MC. Transferência de retalhos livres com microcirurgia vascular. São Paulo : Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo, 1978 (Tese de Livre Docência).

5. FOUCHER F, GENETCHEN N, MERLE M, MICHON J. Single staged thumb reconstruction by a composite forearm island flap; Br. J. Plast. Surg. 1984,37:139-48.

6. LAZO DAA, COLICCHIO O, CHAIN RG. O retalho antebraquial inervado na reconstrução do membro superior. In: XXXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIRURGIA PLÁSTICA. 1995, Brasília.

7. O'BRIEN B, MORRISON WA. Reconstructive microsurgery. Edinburgh : Churchill Livingstone, 1987. p. 341-50.

8. SONG R, GAO Y, YU Y, SONG Y. The forearm flap. Clin. Plast. Surg. 1982;9:21-26.

9. TIMMONS MJ. The vascular basis of the radial forearm flap. Plast. Reconstr. Surg. 1986;77:80-91.

10. UPTON J, HAVLIK RJ, KHOURI RK. Refinements in hand coverage with microvascular free flaps. Clin. Plast. Surg. 1992;19:841-57.










I. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
II. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
III. Membro Associado da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

Endereço para correspondência:
Serviço de Microcirurgia e Cirurgia Plástica de Ribeirão Preto
Av. 9 de Julho, 1818
Ribeirão Preto - SP - 14020-170
Fone: (16) 636-8356 - Fax: (16) 620-0297

 

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