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Contorno Corporal - Year 2018 - Volume 33 - (Suppl.1)
Utilização da técnica do capeta em paciente com implante mamário
RESUMO
A redução mamária é um procedimento com elevado índice de satisfação, independemente da técnica utilizada. A técnica do "capeta" ("Devil's Incision Mammaplasty"), descrita em 1983, apresenta uma opção de mamoplastia redutora. A técnica empregada — mastopexia pela técnica do Capeta adaptada à colocação de implantes em duplo-plano — corrigiu a flacidez mamária enquanto permitia maior projeção do cone mamário. Não se observou alargamento da cicatriz ou presença de seroma ou infecção. Na comparação fotográfica, a paciente demonstrou satisfação com o resultado obtido, mesmo na presença de cicatriz vertical visível após os três meses. A principal vantagem deste tipo de abordagem consiste na ausência de cicatriz na região areolar superior, área de fácil visualização pela própria paciente, que pode gerar estigmas e desconforto psicológico. Entretanto, este tipo de procedimento não deve ser aplicado a mastopexias em pacientes com graus elevados de flacidez. Ao ressecar os prolongamentos ao redor da aréola, a técnica permite acomodar a cicatriz vertical, reduzindo sua extensão ou mesmo eliminando a cicatriz horizontal, além de dispensar cicatriz na parte superior da aréola.
Palavras-chave: Implante Mamário; Mamoplastia; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Implante de prótese.
A redução mamária é um procedimento com elevado índice de satisfação, independemente da técnica utilizada. Contudo, o tamanho das incisões em "T-invertido" tem levado os cirurgiões plásticos a procurarem procedimentos com cicatrizes reduzidas.
A mastopexia periareolar, descrita por Benelli em 19881, teve como objetivo limitar as cicatrizes de mamoplastia. Através do princípio do "round-block", foi possível estender as indicações do procedimento, sem os riscos de alargamento e distorção da aréola2. A indicação da mastopexia periareolar se dá em ptoses moderadas ou na hipertrofia em pacientes jovens, em que a retração de pele é adequada3.
A mastopexia vertical foi descrita pela primeira vez em 1925 por Dartigues, mas permaneceu por muito tempo desconhecida até ser revisada por Arie, em 1957, e Claude Lassus, em 19694. Na década de 1990, Lejour introduziu sua técnina de mamoplastia vertical, derivada da técnica de Lassus5. Os princípios da mamoplastia vertical são: ressecção de quilha vertical central para reduzir o tamanho da mama, transposição da aréola através de um pedículo de base superior, nenhum descolamento e cicatriz vertical para finalizar6.
Descrita por Chiari, em 19927, a mamoplastia de incisão em "L" proporciona resultados excelentes em pacientes selecionados. A técnicande Chiari é indicada para mamas de hipertrofia leve (até 300 g de ressecção) e moderada (de 300 a 600 g de ressecção)8.
Sobre a mastopexia vertical, o conceito de ressecção da pele da mama pode ser considerado tridimensional: unidimensional se referindo à remoção de pele periareolar; bidimensional incluindo os componentes periareolar e vertical; ou tridimensional ao incluir os componentes periareolar, vertical e horizontal. O componente horizontal poderá representar uma cicatriz pequena em "T", "J", "L" ou "T" longa9.
A variedade de incisões para remoção do excedente de pele na mastopexia com implantes não difere daquelas utilizadas na mastopexia isolada10.
A técnica do "capeta" ("Devil's Incision Mammaplasty"), descrita em 1983, apresenta uma opção de mamoplastia redutora sem necessidade de incisão periareolar total e que permite reduzir o tamanho da vertical, ao acomodar a pele ao longo das marges da aréola11.
OBJETIVO
Apresentar opção técnica de mastopexia associada a colocação de implante mamária em paciente com flacidez.
MÉTODOS
Relato de caso e comparação dos dados obtidos com a literatura pertinente, utilizando-se das bases de dados PubMed, LILACS e OVID, tendo os descritores (MeSh) "implantes", "mamoplastia", "cirurgia". Paciente do sexo feminino, 28 anos, hígida, sem história familiar de doença maligna da mama, com ptose mamária grau II-III12. Teste do pinçamento mamário de 3 cm no polo superior e medial das mamas, candidata à colocação de implante mamário, que apresentava flacidez mamária associada, com deslocamento do areola no sentido caudal cerca de 1,5 cm abaixo da posição ideal.
A opção dos implantes mamários Mentor® texturizados, perfil UHP 270 cc cada atingia às expectativas de volume desejado pela paciente. A marcação inicial foi realizada com o paciente em posição ortostática (Figura 1). Cirurgia então foi realizada sob anestesia geral com máscara laríngea. A abordagem foi realizada por incisão de 3,5 cm, posicionada 2 cm abaixo do sulco inframamário. A marcação do ponto A (projeção do complexo areolopapilar - CAP) foi revisada após a colocação dos implantes, com a paciente semissentada. Os pontos B e C (diâmetro de ressecção vertical) também foram revistos para que não houvesse excesso de tensão na sutura vertical.
Os implantes foram posicionados na forma de duplo plano13, sendo a seguir retirado o excesso de pele e tecido glandular subjacente por abordagem vertical (Figura 2). A incisão areolar inferior ("capeta") permitiu a acomodação da cicatriz vertical, reduzindo sensívelmente o diâmetro areolar (Figura 3). A sutura foi realizada em três planos: glandular (Mononylon® ETHICON, EUA), subdérmico (Monocryl® 3-0 ETHICON, EUA) e intradérmico (Monocryl® 4-0 ETHICON, EUA) (Figura 4). Os resultados foram avaliados pela paciente por meio de documentação fotográfica de antes, momento da operação e depois cerca de 90 dias após o procedimento, e foram comparados com os dados da literatura.
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Figura 2. Marcação na pele após colocação de implantes.
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Figura 3. Ressecção do excedente de pele com prolongamentos laterais que dá nome à técnica.
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Figura 4. Aspecto próximo ao final do transoperatório demonstrando projeção da mama e distribuição da cicatriz em trono da metade inferior do CAP.
RESULTADOS
A técnica empregada — mastopexia pela técnica do Capeta adaptada à colocação de implantes em duplo-plano — corrigiu a flacidez mamaria enquanto permitia maior projeção do cone mamário. Não se observou alargamento da cicatriz ou presença de serosa e infecção. Na comparação fotográfica, a paciente demonstrou satisfação com o resultado obtido, mesmo na presença de cicatriz vertical visível após os três meses. Provavelmente, esta aceitação deveu-se ao fato da técnica ter sido explicada à paciente no pre-operatório.
A ausência de cicatriz na metade superior da aréola foi motivo de grande satisfação para a paciente, jovem, que se incomodava com o aspecto esbranquiçado da cicatriz de procedimentos com abordagem em cicatriz circunareolar que fora demonstrado em fotografias de outras pacientes. Após os três meses, com o descenso do tecido mamário e dos implantes texturizados, a forma das mamas apresentou ainda melhor aspecto, principalmente em relação à projeção do CAP.
DISCUSSÃO
Técnicas periareolares estão indicadas somente em mamas pequenas, levemente ptóticas, em que o CAP necessita de 2 a 3 cm de ascensão. Apesar de tentadora, a técnica pode levar a resultados insatifstórios se aplicada aos pacientes errados. Para casos de ptose mais avançada, técnicas com cicatriz vertical ou em "T-invertido" são mais comuns. Na ptose moderada a servera, mastopexia com "T-invertido" ainda esta entre as mais utilizadas. A cicatriz vertical, contudo, tem se tornado cada vez mais popular entre os cirurgiões plásticos14.
A técnica do "capeta" foi descrita há mais de 30 anos por Jorge Fonseca Ely11 e compreende a combinação de uma elipse oblíqua com uma incisão em meia-lua na metade inferior da arélola. Em aréolas largas (maiores de 4 cm), a ressecção de um fuso lateral (orelhas do "capeta") permite a acomodação da cicatriz vertical, reduzindo sua extensão. A cicatriz, comparável a uma torre, permite a projeção da mama e a redução da cicatriz horizontal (no caso 3,5 cm). A vertical obtida foi de 6-7 cm e o ponto A marcado previamente na maior projeção da mama.
A principal vantagem deste tipo de abordagem consiste na ausência de cicatriz na região areolar superior, área de fácil visualização pela própria paciente, que pode gerar estiomas e desconforto psicológico. Entretanto, este tipo de procedimento não deveria ser aplicado a mastopexias em pacientes com grau mais elevado de flacidez.
Outras técnicas deveriam ser empregadas nestes pacientes, mesmo que com cicatriz residual maior. Importante mencionar que o tipo de abordagem e a cicatriz resultante deve ser adequadamente esclarecida a paciente antes do procedimento e, principalmente, as limitações da simples colocação de implantes mamários.
CONCLUSÃO
A técnica de mastopexia pela técnica do capeta demonstrou ser eficaz no tratamento da flacidez pequena em paciente candidata a mamoplastia de aumento. Ao ressecar os prolongamentos ao redor da aréola, permite acomodar a cicatriz vertical, reduzindo sua extensão ou mesmo eliminando a cicatriz horizontal e evita a necessidade de uma cicatriz na parte superior da aréola.
REFERÊNCIAS
1. Benelli L. Technique de plastie mammaire le "round block". Rev Fr Chir Esthet. 1988;3:7-11.
2. Benelli L. A new periareolar mammaplasty: the "round block" technique. Aesthetic Plast Surg. 1990;14(2):93-100. PMID: 2185619 DOI: http://dx.doi.org/10.1007/BF01578332
3. Benelli LC. Periareolar Benelli Mastopexy and Reduction: The "Round Block". In: Spear SL, ed. Surgery of the Breast: Principles and Art. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2011.
4. Lassus C. A technique for breast reduction. Int Surg. 1970;53(1):69-72. PMID: 4908351
5. Lejour M. Vertical mammaplasty: update and appraisal of late results. Plast Reconstr Surg. 1999;104(3):771-81. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-199909010-00024
6. Lassus C. Update on vertical mammaplasty. Plast Reconstr Surg. 1999;104(7):2289-98. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-199912000-00060
7. Chiari Júnior A. The L short-scar mammaplasty: a new approach. Plast Reconstr Surg. 1992;90(2):233-46. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-199290020-00011
8. Chiari A Jr. The L Short-scar Mammaplasty. In: Spear SL, ed. Surgery of the Breast: Principles and Art. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2011.
9. Nahai F. Clinical decision-making in breast surgery. In: Nahai F, ed. The Art of Aesthetic Surgery. St. Louis: Quality Medical Publishing; 2005. p. 1817-58.
10. Hammond DC. Augmentation Mastopexy: General Considerations. In: Spear SL, ed. Surgery of the Breast: Principles and Art. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2011.
11. Ely JF. The devil's incision mammaplasty. Aesthetic Plast Surg. 1983;7(3):159-62. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/BF01571339
12. Regnault P. Breast ptosis. Definition and treatment. Clin Plast Surg. 1976;3(2):193-203.
13. Tebbetts JB. Dual plane breast augmentation: optimizing implant-soft-tissue relationships in a wide range of breast types. Plast Reconstr Surg. 2001;107(5):1255-72. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/00006534-200104150-00027
14. Mejia JD, Nahai F. Vertical Mastopexy. In: Spear SL, ed. Surgery of the Breast: Principles and Art. Philadelphia: Wolters Kluwer; 2011.
1. Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil
2. Hospital São Lucas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil
Endereço Autor:
Geraldo Machado Filho
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