INTRODUÇÃO
A fisioterapia dermatofuncional é uma especialidade da fisioterapia reconhecida pela
Resolução Nº. 362/2009, que estuda e atua sobre o sistema tegumentar e estruturas
relacionadas à funcionalidade humana em toda expressão clínico-cinesiológico-funcional
dos indivíduos com alterações nas funções da pele.
A atuação da fisioterapia dermatofuncional no pré e pós-operatório de cirurgias plásticas
tem como objetivo promover e restabelecer a saúde e a qualidade de vida do indivíduo.
Por meio da utilização de recursos que potencializam os mecanismos fisiológicos de
reparo tecidual e da microcirculação sanguínea e linfática, alcança-se o alívio da
dor e do desconforto, auxiliando então na melhora da funcionalidade do paciente e
também prevenindo possíveis complicações do ato cirúrgico e do período de imobilização
ao qual o mesmo é exposto1.
A dor é uma das queixas mais usuais neste momento, e a mesma acontecerá proporcionalmente
em resposta ao processo inflamatório das intervenções realizadas no ato cirúrgico.
Sendo assim, optar por intervenções que possam controlar essa resposta inicial garantirá
maior conforto do paciente, podendo contribuir em sua manutenção de funcionalidade
e tempo de recuperação2, 3.
Outra consequência de procedimentos cirúrgicos é a equimose, que é gerada devido ao
trauma mecânico da intervenção cirúrgica e causa ruptura de microvasos no subcutâneo.
Isso leva ao extravasamento intravascular para os tecidos moles adjacentes, como a
pele, ocasionando manchas avermelhadas e roxas. A intervenção precoce nesses casos
evita a formação de manchas e possível fibrose local. Em casos mais graves de ruptura
de estruturas vasculares maiores, os hematomas acontecem, sendo esses controlados
com intervenção dos cirurgiões responsáveis.
Ademais, o edema também acontece devido ao trauma causado no tecido, formando um processo
inflamatório que sucede o inchaço4. Esse acúmulo de edema interfere diretamente na qualidade de amplitude de movimento
do indivíduo, assim como em seu quadro álgico, sendo de suma importância também adotar
estratégias para a melhora deste sintoma5.
A entrada da Fisioterapia Dermatofuncional no ambiente cirúrgico tem ganhado destaque
nos tempos atuais. Suas intervenções no pré e pós-operatório têm sido consideradas
importantes neste cenário para a otimização dos sintomas acima citados.
Dentre as alternativas que podem ser utilizadas, com objetivo de acelerar a reabilitação
do paciente, uma que vem recebendo bastante destaque é a aplicação do taping logo após a finalização da intervenção cirúrgica6. Os possíveis efeitos fisiológicos do taping são decorrentes da natureza elástica e da forma como ela é aplicada. Pode ser indicada
para o controle da dor causada pelo impacto sensorial nos mecanorreceptores pela pressão,
tensão, elevação, de compressão e tração da pele7 ou pela estimulação de fibras de grande diâmetro, segundo a teoria8 de Melzac e Wall do “fechamento das comportas” na coluna posterior da medula espinhal,
resultando na liberação de opioides endógenos a nível encefálico e medular9.
Além disso, devido à diferença de gradiente de pressão gerado pelas aplicações em
forma de caudas e o estímulo ao nível da derme e da epiderme por meio de circunvoluções
que geram cavidades, portanto, atuam melhorando significativamente a circulação de
fluidos, sangue e linfa estagnados em processos inflamatórios locais7.
Os estudos que utilizam taping para o controle dos sintomas acima citados, provenientes do procedimento de cirurgias
plásticas, são no momento escassos. Isso gera certa preocupação, visto que a utilização
deste recurso está em alta, mesmo sem respaldo científico. O raciocínio clínico para
sua utilização vem sendo, portanto, baseado nos estudos realizados na utilização de
afecções ortopédicas.
Uma revisão sistemática sobre o efeito clínico do taping incluiu oito ensaios clínicos randomizados e controlados, sendo seis com pacientes
com afecções musculoesqueléticas, um paciente com linfedema pós-câncer de mama e outro
sobre pacientes pós-AVC. Seis destes estudos incluíram um grupo placebo de taping10. Concluiu-se que frente à alta utilização deste recurso clinicamente no cenário atual,
suas evidências são moderadamente limitadas, entretanto, analisando os resultados
das aplicações o taping é mais efetivo clinicamente do que o placebo. Assim, a conjunção do uso do taping com a abordagem fisioterapêutica convencional é eficaz para o controle da dor10.
Uma segunda revisão sistemática avaliou o efeito do taping sobre a dor lombar crônica e incluiu cinco estudos, envolvendo 306 sujeitos, concluindo
que o taping não deve ser utilizado como substituto da fisioterapia convencional ou do exercício
físico, sendo que o taping se mostra mais efetivo quando utilizado como coadjuvante da terapia, promovendo melhora
da amplitude de movimento e da dor11.
Outra revisão sistemática mais recente sobre o efeito do taping na dor decorrente da síndrome patelofemoral avaliou cinco ensaios clínicos randomizados
e controlados com 235 pacientes e concluiu que o taping para dor nesta síndrome deve ser utilizado apenas como recurso terapêutico complementar
à tradicional terapia por exercícios e não suporte para o uso do taping de forma isolada12. E, finalmente, uma revisão sistemática recente avaliou o efeito do taping na dor lombar em gestantes e analisou sete estudos com 444 pacientes, concluindo
que o taping tem um efeito positivo na melhora da dor lombar na gestação com reflexos positivos
na qualidade de vida dessas mulheres13.
OBJETIVO
Neste contexto, observa-se que o uso do taping tem sido cada vez mais utilizado na prática clínica, entretanto, sem evidência científica
na área dermatofuncional que comprove sua eficácia no processo de reabilitação pós-cirúrgica.
Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi revisar sistematicamente estudos
publicados sobre taping no pós-operatório de cirurgias plásticas.
MÉTODO
Critérios de inclusão dos estudos nesta revisão
Tipos de estudos
Esta revisão sistemática teve seu protocolo registrado no PROSPERO (Registro prospectivo
internacional de revisões sistemáticas) sob o número CRD42022339803. Foram incluídos
ensaios clínicos e estudos de caso publicado de 2013 até março de 2023, no pós-operatório
de cirurgias plásticas, que investigaram os efeitos do taping sobre a dor como desfecho primário e como desfecho secundário edema, equimose, fibrose
e efeitos adversos. Estudos observacionais, revisões sistemáticas e outros tipos de
tratamento com exercícios físicos foram excluídos.
Tipos de intervenções
Foram analisados ensaios clínicos que compararam o taping no período pós- cirúrgico imediato comparado com o grupo controle que realizou acompanhamento
médico convencional ou fisioterapia convencional e que avaliaram a dor não específica.
Estudos incluindo dores crônicas não foram incluídos.
Tipos de resultados
Foram considerados resultados primários: Redução do quadro álgico, avaliados por meio
de instrumento específico para avaliação do nível de dor ou outros instrumentos de
avaliação geral, desde que com capacidade de avaliação adequada do nível de dor não
especifica. E resultados secundários: edema, equimose, fibrose, efeitos adversos e
segurança do uso da técnica.
Métodos de busca para identificação de estudos/ Busca eletrônicas
Os estudos selecionados nesta revisão foram encontrados por meio de busca eletrônica
nas seguintes bases de dados: Literature Database and Retrieval System Online (MEDLINE),
Excerpta Medical Database (EMBASE), Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS),
Cummulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINHAL), Physiotherapy
Evidence Database (PEDro), SPORTDiscus e Cochrane Library para artigos relevantes
publicados de 2013 até março de 2023.
As buscas foram realizadas individualmente para cada base de dados. A estratégia de
busca adotada para MEDLINE via PubMed foi: “plastic surgery procedures” OR “surgery,
plastic” AND “Tape, Atletic” OR “Orthotic Tape” OR “Tape, Orthotic” OR “Kinesio Tape”
OR Kinesio Tapes” OR “Tape, Kinesio” OR “Tapes, Kinesio” OR “ Kinesiotape” OR “Bandages”.
Filtros para tipo de estudos, tempo de publicação ou idioma não foram aplicados. Essa
estratégia foi adaptada às demais bases de dados.
Coleta e análise de dados
Seleção de estudos, extração e gerenciamento de dados
A seleção dos estudos foi realizada por dois avaliadores independentes, utilizando
o software Endnote X8, analisando inicialmente o título e o resumo das referências encontradas
por meio da estratégia de busca nas bases de dados. Os estudos considerados potencialmente
elegíveis foram avaliados, as divergências foram discutidas entre os revisores em
busca de consenso antes da inclusão final dos estudos.
A extração de dados foi realizada por meio de um formulário elaborado e testado previamente
pelos autores. Estudos referenciados em mais de uma publicação, quando elegíveis,
tiveram seus dados computados apenas uma vez. As seguintes características do estudo
foram extraídas: métodos, participantes, intervenções, resultados e declarações de
interesse. O processo de seleção foi documentado com um fluxograma de Itens de Relatório
Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-Análise (PRISMA).
Desfechos e efeitos do tratamento
Para desfechos primários e secundários nos quais havia dados suficientes, conduzimos
uma meta-análise usando modelos de efeitos fixos ou randomizados de acordo com a especificidade
dos dados disponíveis.
A qualidade geral do corpo de evidências para o desfecho primário desta revisão (dor
musculoesquelética) foi avaliada usando os critérios GRADE (limitações do estudo,
consistência do efeito, imprecisão, indireto e viés de publicação).
RESULTADOS
Por meio de busca eletrônica, foram encontrados 605 registros nas bases de dados escolhidas,
dos quais 15 foram excluídos por duplicidade. Os 590 restantes foram selecionados
por meio de título e leitura do resumo e 549 artigos foram excluídos por não atenderem
aos critérios de inclusão.
Um total de 47 registros foi selecionado para análise por meio da leitura integral,
41 foram excluídos por não atenderem aos critérios e 6 foram considerados elegíveis
para esta revisão e incluídos na análise qualitativa e quantitativa conforme o fluxograma
PRISMA (Figura 1). Após leitura integral dos artigos, os mesmos foram organizados com as exposições
das seguintes informações (Tabela 1): tipo de estudo, característica da intervenção, objetivo, variáveis analisadas,
instrumento de avaliação e resultados alcançados.
Figura 1 - Fluxograma PRISMA.
Figura 1 - Fluxograma PRISMA.
Tabela 1 - Resumo com as características, objetivos, variáveis, instrumentos de avaliação e os
resultados dos ensaios clínicos, estudo de caso e tese selecionados para a revisão
sistemática que abordam o taping no pós-operatório de cirurgia plástica.
Publicação |
Tipo de Estudo |
Característica da Intervenção |
Objetivo |
Variáveis Analisadas |
Instrumento de Avaliação |
Resultados |
(Paula, 2017). |
Estudo de caso. |
N: 1, sexo F, 25 anos. Uso de técnicas manuais de liberação associadas à aplicação
de taping sobre as fibroses e aderências reaplicadas a cada 7 dias, durante 5 sessões |
Descrever os efeitos do taping no tratamento de fibroses e aderências cicatricials
no pós-operatório de lipoaspiração |
Fibrose. |
Palpação e fotodocumentação |
Observou-se a presença de fibrose somente através da palpação. A paciente também relatou
melhora da mobilidade tecidual e do aspecto visual ao final do tratamento |
(Chi et al., 2016) |
Ensaio clínico não randomizado. Grupos: Fase remodelagem; Fase proliferação. |
N: 10, sexo F, Idade: 44 a 51 anos Método: 10 sessões, 2x/sem. Com intervalos de 2
ou 3 dias. Fase remodelagem - DLM e taping, associado à terapia combinada (US + corrente
excitomotora) Fase proliferação - DLM e taping |
Identificar os efeitos de dois protocolos distintos no tratamento da fibrose secundária
ao pós-operatório de abdominoplastia e lipoaspiração de abdome |
Fibrose |
Palpação; Termografia de contato |
A análise comparativa da avaliação inicial e final, tanto da palpação quanto da termografia,
mostrou que houve redução significativa (p< 0,0001) do quadro fibrótico apresentado pelas pacientes. |
(Chi et al., 2021) |
Ensaio clínico controlado e não randomizado Grupo: GE - Tto Intra-op GC |
N: 20 Idade: 20 a 60 anos Método: GE (10) - Taping “Intraop. Tratamento intraop e reavaliado no 4º dia de pós-op. GC (10) - sem intervenção |
Avaliar a ocorrência de equimoses em pacientes submetidos à AP associada à LA tradicional
de ABD |
Dor e equimose |
Documentação fotográfica EVA |
O GE apresentou uma melhor resposta na resolução da equimose (p=0,01) comparado ao grupo controle |
(Chi et al., 2018) |
Estudo clínico controlado. (n=20) |
N: 20, sexo F. Idade: 18 e 56 anos.
Total de 15 sessões. GE: atendimento pré, trans e pós-op.
GC: atendimento no 4º dia. Os recursos usados foram DLM, microcorrentes, LED vermelho
e taping na área operada |
Propor uma abordagem inédita desde o pré, trans e pós-operatório para prevenir e minimizar
as fibroses, edema e equimoses |
Equimose, edema e fibrose |
Palpação, termografia de contato; fotodocumentação, perimetria |
A ocorrência de fibrose no GE foi estatisticamente (p = 0,003) menor que no GC; grau de fibrose menor no GE (p=0,0002); e a Termografia inicial foi predominante normal no GE (p = 0,0002); não ocorrência de edema intenso no GE (0,035); não ocorrência de equimose
foi maior no GE (p=0,0056) |
(Pelissaro, 2022) |
Tese experimental |
N: 28 Idade: 18 à 19 anos. Após bichectomia. Grupo I: Lado Controle: sem intervenção.
Lado Tratado: 2 tiras de taping na região jugal externa da face por 2 dias, intraoperatório. Grupo II: Hemiface-
laser de baixa potência 6J/cm2, intraoperatório e 2. dia. Lado Controle: sem intervenção. |
Avaliar o efeito da taping e do laser de baixa potência no pós-op de bichectomia |
Antropometria facial e Edema |
Fita métrica milimetrada, para edema, foram realizadas três vezes, sendo a primeira
imediatamente antes do procedimento cirúrgico e as demais após 2 e 7 dias. Ultrassom
para no pré, pós imediato e após 6 meses |
Os resultados mostraram redução significativa do edema após taping durante 2 dias no pós-cirúrgico (p<0,001), algo que não foi observado com a laserterapia (p=0,127) |
(Moraes, 2012). |
Estudo de caso |
N:l, sexo feminino, 60 anos. 10 sessões, 2x na semana. Aplicação de DLM e taping, em cada sessão |
Verificar os resultados perante à aplicação da DLM e taping, na dor, edema, hematoma e pigmentação do abdome e mamas na reabilitação após lipoaspiração
para reconstrução mamária |
Dor, edema, hematoma e pigmentação |
Classificação da intensidade da dor: EVN e tecidos moles: perimetria torácica e abdominal
e gravação fotográfica |
A intensidade da dor foi classificada como 4 na Iª avaliação, tendo ↓, para 2 na 2ª
avaliação e para 0 na EVN a partir da 3a sessão. A perimetria ↓, em todos os locais de medição desde a Iª avaliação até à
6ª sessão. As cicatrizes apresentaram alterações, uma vez que em ambas as mamas aumentaram
a sua mobilidade tecidual e diminuíram as aderências |
Tabela 1 - Resumo com as características, objetivos, variáveis, instrumentos de avaliação e os
resultados dos ensaios clínicos, estudo de caso e tese selecionados para a revisão
sistemática que abordam o taping no pós-operatório de cirurgia plástica.
Estudos incluídos e participantes
Seis (n=6) estudos foram incluídos na revisão literária, sendo todos os estudos conduzidos
no Brasil. Dois estudos são do tipo estudo de casos, e quatro são ensaios clínicos
controlados.
Na análise dos seis estudos, 41 participantes foram incluídos nesta revisão, todas
mulheres adultas (18 a 60 anos) no período pós-operatório de cirurgias plásticas.
Um estudo incluiu mulheres no período pós-operatório de bichectomia, quatro estudos
incluíram mulheres pós-lipoaspiração, e dois estudos incluíram mulheres pós-abdominoplastia.
A idade média da população estudada foi de 39 anos, sendo que 18 anos foi a menor
idade14 e 60 a maior15.
Intervenções
Os três ensaios clínicos incluídos compararam o taping com o tratamento fisioterapêutico convencional e multimodal incluindo crioterapia,
drenagem linfática e microcorrentes. No estudo de Chi et al.15 o grupo taping foi comparado com um grupo controle sem intervenção, apenas com acompanhamento médico.
No estudo de Pelissaro14 o grupo controle recebeu apenas crioterapia.
Tipo de aplicação, frequência, duração e tempo de tratamento
No estudo de Pelissaro14 o taping foi aplicado na face, em formato de “Y” com tensão mínima durante 2 dias. No estudo
de Chi et al.15 foram utilizados três tipos de corte “web” ou “basket” para fibroses, corte “fan”
ou “polvo” para edema e corte “hashtag” para equimoses, mantendo-se de 3 a 5 dias
com descanso da pele de 1 dia para a próxima aplicação.
No estudo Chi et al.16 o taping foi aplicado em formato Fan ou “polvo” por um período de 3 dias. Por fim,
no estudo Morais17 o taping foi aplicado nas regiões do abdômen e das mamas em forma de “polvo”, duas vezes na
semana.
Desfechos e efeito do tratamento
Desfechos primários
Dois estudos relataram sintomas de dor musculoesquelética como desfecho e foram incluídos.
Os mesmos instrumentos de avaliação foram utilizados para mensurar a intensidade da
dor por meio da escala analógica visual (EAV). O estudo de Morais17 também avaliou a dor. Um resumo das informações sobre os estudos incluídos nesta
revisão é apresentado na Tabela 1.
Desfechos secundários
Três artigos (Pelissaro14, Morais17 e Chi et al.4) avaliaram o desfecho do edema por meio de perimetria. Pelissaro14 avaliou o edema da face após a cirurgia de bichectomia. Morais17 e Chi et al.4 avaliaram o edema pós-cirurgia de abdominoplastia e lipoaspiração. Um único estudo,
de Chi et al.16, avaliou o desfecho da fibrose por meio de palpação e inspeção visual aplicada a
uma escala e também termografia. Nenhum dos estudos avaliou a segurança e os efeitos
adversos da técnica de taping em pós cirurgias plásticas.
Alocação
Dos ensaios clínicos incluídos no estudo, nenhum deles relata como foi realizada a
alocação e a ocultação das participantes, estando subentendido que tenha ocorrido
por conveniência, o que significa que houve um viés de alocação.
Cegando participantes e profissionais
Nenhum dos estudos incluídos descreveu os métodos de cegamento e todos foram categorizados
com alto risco de viés e, portanto, foi categorizado como risco claro de parcialidade.
Resultados incompletos
Nenhum dos estudos incluídos relatou as perdas significativas relacionadas ao tratamento,
sendo categorizados como moderado risco de viés.
Relatórios de resultados seletivos
Os ensaios clínicos não tiveram seus protocolos devidamente registrados e disponíveis
no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos, bem como seus resultados pré-especificados,
e portanto, foram categorizados como de alto risco de viés.
Efeito da intervenção
A aplicação de taping melhorou significativamente os sintomas de dor musculoesquelética em comparação com
a fisioterapia convencional.
DISCUSSÃO
O procedimento cirúrgico ocasionará um trauma inicial no tecido alvo, esse trauma
irá gerar um processo inflamatório que, por sua vez, promoverá um tecido cicatricial
para a recuperação desta área, ou seja, um tecido não idêntico ao tecido inicial.
Isto irá acontecer nos bordos da cicatriz e também na região subcutânea, onde todo
o tecido será descolado, conhecido como “espaço morto”18.
De acordo com a resolução Nº. 394/2011 do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional (COFFITO), o fisioterapeuta é o profissional com aptidão para conduzir
o pós-operatório e promover a reabilitação completa do paciente, conduzindo o processo
de cicatrização, minimizando as intercorrências, complicações e favorecendo o resultado
final da cirurgia. Esse profissional é recomendado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica a conduzir o pós-operatório, isso devido à formação desse profissional, que
vai muito além da realização de tratamento que visa apenas resultados estéticos1.
Logo após o término da cirurgia, inicia-se a fase inflamatória. O edema é bem característico
nesse período, e acontece devido ao desequilíbrio da reabsorção de líquido intersticial
devido à perda da integridade de fluxo sanguíneo e linfático locais19.
Essa fase de desequilíbrio desta função causa dor e desconforto, e possui elevada
incidência, sendo necessário ao paciente fazer o uso de medicações para o seu alívio.
Entretanto, todo medicamento tem efeitos colaterais, por isso, deve ser utilizado
de forma racional e conforme prescrita pelo médico. A fim de adicionar um atendimento
eficiente e resolutivo, a fisioterapia poderá ser uma boa aliada para a melhora da
dor por meio da utilização de recursos terapêuticos. Dentre a gama de recursos disponíveis,
o taping tem sido muito utilizado atualmente nesse cenário1.
Seu uso tem como objetivo diminuir o quadro álgico e reduzir os edemas e equimoses
no período pós-operatório de cirurgias plásticas, isso tudo conforme a tensão aplicada
e a forma de recorte da fita, que irão promover efeitos fisiológicos por meio do princípio
de resposta à tensegridade e mecanotransdução celular, que é a capacidade de traduzir
um estímulo mecânico em uma atividade celular. Isso acontece devido à conversão de
informações durante a interação da matriz extracelular com as células mecanorreceptoras
locais20.
Acredita-se por meio de evidências clínicas e científicas que a utilização do taping íntegro com tensões altas possui bons resultados para a contenção de inflamação e
edema inicial, por diminuir o espaço entre os tecidos abaixo1. Já quanto à utilização com tensões leves da fita, seu princípio se dá por conseguir
promover uma descompressão do tecido abaixo, promovendo maior fluidez da irrigação
linfática e sanguínea. Dentre essas aplicações, o recorte do tipo “web” ou “basket”
possui bons resultados para fibroses, o corte “fan” ou “polvo”, bons resultados para
edema e o corte “hashtag”, bons resultados para equimoses15, 16.
Os resultados alcançados têm sido um grande aliado aplicado na prática clínica atual,
e os resultados encontrados nesta revisão corroboraram com esta afirmativa. Porém,
ainda são escassos os estudos que avaliam a sua evidência científica no pós-operatório
de cirurgias plásticas em específico.
Esta é a primeira revisão sistemática a investigar a eficácia do taping neste cenário e descobrimos que ainda existem poucos estudos de alta qualidade metodológica
e amostras representativas sobre a eficácia do taping no tratamento da dor não específica, por essa razão, os resultados devem ser analisados
com cautela.
Em nossa revisão sistemática incluímos somente estudos publicados na forma de artigo
completo em periódicos indexados em bases de dados que passam por rigorosa revisão
por pares, o que realmente é realizado por um especialista na área. Estudos que não
foram submetidos à revisão por pares podem ter maior risco de viés ou resultados negativos,
não sendo recomendada a sua inclusão em revisões sistemáticas.
Os resultados obtidos nesta revisão são relacionados aos efeitos analisados após a
intervenção a curto prazo (imediatamente após a intervenção), pois ainda não existem
estudos suficientes para a metanálise nas comparações dos efeitos do taping ao longo do tempo. Para isso, mais estudos que avaliem a eficácia desse método para
essa população devem ser realizados.
Além disso, não existem estudos que fundamentam uma padronização da duração do tratamento,
da frequência semanal, da intensidade e tipos de cortes do taping apropriados para pacientes com dor não específica. Os estudos analisados foram similares
em relação ao grupo controle, em que as pacientes estavam sob cuidados médicos e de
enfermagem em um pré-cirúrgico convencional.
Outra questão a ser levantada é a falta de padronização da nomenclatura utilizada
para se referir à técnica. Dentre os artigos analisados, encontramos bandagem neuromuscular, lifotaping, taping, kinesioterapia e Punch Tape. Essa variedade de nomenclatura prejudica a busca de dados referentes à efetividade
da técnica.
CONCLUSÃO
O taping foi associado a um efeito benéfico sobre a dor em comparação com nenhum tratamento.
Entretanto, a baixa qualidade metodológica dos estudos e a limitação amostral são
fatores limitantes. Não há evidências que suportem o uso do taping em substituição a outras modalidades convencionais de fisioterapia, devendo este
recurso ser utilizado de forma complementar à fisioterapia dermatofuncional (exercício
e terapia manual) no período pós-operatório de cirurgias plásticas.
REFERÊNCIAS
1. Pegorare ABS, Oliveira Júnior SA, Tibola J. Manual de condutas e práticas em fisioterapia
dermatofuncional: atuação no pré e pós operatório de cirurgias plásticas. Campo Grande:
UFMS; 2021.
2. Oliveira CMB, Issy AM, Sakata RK. Fisiopatologia da dor pós-operatória. Rev Bras Med.
2010;67(11):415-8.
3. Schoenbrunner AR, Janis JE. Pain Management in Plastic Surgery. Clin Plast Surg. 2020;47(2):191-201.
4. Chi A, Lange A, Guimarães MVTN, Santos CB. Prevenção e tratamento de equimose, edema
e fibrose no pré, trans e pós-operatório de cirurgias plásticas. Rev Bras Cir Plást.
2018;33(3):343-54.
5. Petrova TV Koh GY. Biological functions of lymphatic vessels. Science. 2020;369(6500):eaax4063.
6. Correa LN, Sousa EB, Oliveira NPC. O uso do taping no pós-operatório de cirurgia plástica.
Res Soc Dev. 2021;10(15):e81101522868.
7. Wu WT, Hong CZ, Chou LW The Kinesio Taping Method for Myofascial Pain Control. Evid
Based Complement Alternat Med. 2015;2015:950519.
8. Rachlin H. Dor e comportamento. Temas Psicol. 2010;18(2):429-47.
9. Gosling AP. Mecanismos de ação e efeitos da fisioterapia no tratamento da dor. Rev
Dor. 2012;13(1):65-70.
10. Morris D, Jones D, Ryan H, Ryan CG. The clinical effects of Kinesio® Tex taping: A
systematic review. Physiother Theory Pract. 2013;29(4):259-70.
11. Nelson NL. Kinesio taping for chronic low back pain: A systematic review. J Bodyw
Mov Ther. 2016;20(3):672-81.
12. Logan CA, Bhashyam AR, Tisosky AJ, Haber DB, Jorgensen A, Roy A, et al. Systematic
Review of the Effect of Taping Techniques on Patellofemoral Pain Syndrome. Sports
Health. 2017;9(5):456-61.
13. Xue X, Chen Y, Mao X, Tu H, Yang X, Deng Z, et al. Effect of kinesio taping on low
back pain during pregnancy: a systematic review and meta-analysis. BMC Pregnancy Childbirth.
2021;21(1):712.
14. Pelissaro GS. Efeito da kinesioterapia e do laser de baixa potência no pós-operatório
de bichectomia, em pacientes com trauma mastigatório recorrente [Tese de doutorado].
Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; 2022.
15. Chi A, Marquetti MG, Dias M. Uso do taping linfático na prevenção da formação de equimoses
em abdominoplastia e lipoaspiração. Rev Bras Cir Plást. 2021;36(2):144-50.
16. Chi A, Oliveira AVM, Ruh AC, Schleder JC. O uso do linfotaping, terapia combinada
e drenagem linfática manual sobre a fibrose no pós-operatório de cirurgia plástica
de abdome. Fisioter Bras. 2016;17(3):197-203.
17. Morais SC. O efeito da drenagem linfática manual e das bandas neuromusculares na reabilitação
pós-lipoaspiração para reconstrução mamária: estudo de caso [Trabalho de conclusão
de curso]. Porto: Universidade Fernando Pessoa; 2012.
18. Li J, Jung W, Nam S, Chaudhuri O, Kim T. Roles of Interactions Between Cells and Extracellular
Matrices for Cell Migration and Matrix Remodeling. In: Zhang Y, ed. Multi-scale Extracellular
Matrix Mechanics and Mechanobiology. Cham: Springer; 2020. p. 247-82.
19. Rodrigues M, Kosaric N, Bonham CA, Gurtner GC. Wound healing: a cellular perspective.
Physiol Rev. 2019;99(1):665-706.
20. Fu S, Panayi A, Fan J, Mayer HF, Daya M, Khouri RK, et al. Mechanotransduction in
Wound Healing: From the Cellular and Molecular Level to the Clinic. Adv Skin Wound
Care. 2021;34(2):67-74.
1. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Instituto Integrado de Saúde, Campo
Grande, MS, Brasil
Autor correspondente: Ana Beatriz Gomes de Souza Pegorare Cidade Universitária, s/n Universitário-900, Campo Grande, MS, Brasil. CEP: 79070-900.
E-mail: ana.pegorare@ufms.br
Artigo submetido: 19/07/2023.
Artigo aceito: 26/07/2024.
Conflitos de interesse: não há.