INTRODUÇÃO
A correção da relação radix dorso nasal é realizada há vários anos utilizando as mais
variadas técnicas como enxerto de cartilagem auricular, septal ou costal, preenchimento
com ácido hialurônico, uso de fáscia e enxertos e uso de cartilagem picada em cubo,
silicone e ácido hialurônico1-4.
A utilização de cartilagem picada na região dorsal teve início logo após a Segunda
Guerra Mundial com os trabalhos de Gordon & Warren1 e Peer2. Logo depois deste período, a dificuldade em se estabelecer critérios seguros diminuindo
complicações locais resultou na pouca utilização deste recurso e somente na década
de 1990 a técnica foi retomada pelos trabalhos de Erol3-5, com o “Turkish delight”, e a reprodução por Guerrerosantos et al.6 e Daniel & Calvert7.
Com a possibilidade da reprodutibilidade da técnica descrita em vários estudos8-14, há a descrição da cartilagem picada com colocação em planos na superfície nasal,
através do uso ou não de fáscia muscular.
O enxerto de cartilagem é comumente utilizado no aumento de dorso nasal, seja como
cartilagem íntegra, seja com a cartilagem picada. A região do radix é uma das principais
beneficiadas com o uso de cartilagem nesta região, o que permite um dorso com maior
harmonia e beleza visual. Segundo McKinney & Sweis15, a altura ideal do radix é de três quartos do comprimento nasal ou da projeção nasal.
Segundo Taş13, a utilização de enxerto de cartilagem picada na região dorsal é uma maneira de estabelecer
um dorso belo e suave.
OBJETIVO
Neste estudo analisamos a utilização do enxerto de cartilagem picada no aumento da
altura do radix nasal. O uso de cartilagem fragmentada é descrito na literatura e
tem ganhado adeptos desta técnica nos últimos anos. O objetivo é descrever nossa experiência
com a utilização do enxerto de cartilagem fragmentado no aumento do dorso comparando
a percepção visual e tátil com a satisfação do paciente.
MÉTODO
O estudo foi realizado em pacientes submetidos a rinoplastia no período de janeiro
2018 a junho de 2022, no Hospital Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr.
Henrique Santillo, em Goiânia, GO, em cirurgias nas quais ocorreu o aumento de radix
com o uso de enxerto de cartilagem picada, sendo os pacientes avaliados com 6 meses
de pós-operatório.
Como critérios de exclusão foram estabelecidos pacientes menores de 18 anos, com comorbidades
reumatológicas, doenças que destroem a cartilagem como leishmaniose, hanseníase e
granulomatose de Wegener.
O estudo foi aprovado por comissão de ética interna do hospital e plataforma Brasil
CAEE 30798120.6.0000.5082 e os dados foram tabulados em Excel 23 (Microsoft®), sendo coletadas as seguintes informações: idade, sexo, classificação de Fitzpatrick,
espessura da pele, origem do enxerto, complicações, percepção tátil ao enxerto e percepção
visual do enxerto e satisfação com o resultado.
RESULTADOS
Foram estudados 47 pacientes submetidos a aumento de radix com cartilagem picada.
Destes, 35 (74,4%) eram do sexo feminino e 12 (25,6%) do sexo masculino, com média
de idade de 34,6 anos (18-44).
Quanto ao tipo de pele Fitzpatrick, tipo 2 (n=4, 8,5%), tipo 3 (n=28, 59,5%), tipo
4 (n=14, 29,8%) e tipo 5 (n=1, 2,2%), sendo pele fina (n=7, 14,9%), pele média (n=23,
48,9%) e pele grossa (n=17, 36,2%) (Figuras 1 e 2).
Figura 1 - Classificação de Fitzpatrick.
Figura 1 - Classificação de Fitzpatrick.
Figura 2 - Origem dos enxertos.
Figura 2 - Origem dos enxertos.
A origem da maioria dos enxertos foi de cartilagem septal (n=39, 83%), cartilagem
costal (n=6,12,8%) e auricular (n=2, 4,2%) (Figura 3).
Figura 3 - Espessura da pele.
Figura 3 - Espessura da pele.
Complicações presentes foram infecção (1 caso), migração de cartilagem picada (3 casos)
e reabsorção parcial (1 caso).
Na avaliação da percepção tátil 42 pacientes (89,3%) percebiam à palpação as proeminências
cartilaginosas, porém isto não os incomodava (Figura 4).
Figura 4 - Percepção visual.
Figura 4 - Percepção visual.
Na avaliação visual apenas 2 pacientes percebiam a irregularidade, em que foi realizada
raspagem local com resolução (Figura 5).
Figura 5 - Percepção tátil.
Figura 5 - Percepção tátil.
Dos pacientes estudados, 45 referiram satisfação com o resultado (muito satisfeito
e satisfeito) (Figura 6).
Figura 6 - Satisfação do paciente.
Figura 6 - Satisfação do paciente.
Nas Figuras de 7 a 13, demonstração dos procedimento no preparo da cartilagem, sua introdução no rádix
e a visualização do resultado.
Figura 8 - Aplicação da cartilagem fragmentada no radix.
Figura 8 - Aplicação da cartilagem fragmentada no radix.
Figura 9 - Aferições no pré-operatório imediato.
Figura 9 - Aferições no pré-operatório imediato.
Figura 10 - Pós-operatório imediato.
Figura 10 - Pós-operatório imediato.
Figura 11 - Pré-operatório com rinomanômetro.
Figura 11 - Pré-operatório com rinomanômetro.
Figura 12 - Pós-operatório imediato à introdução de cartilagem no radix.
Figura 12 - Pós-operatório imediato à introdução de cartilagem no radix.
Figura 13 - Pós-operatório tardio: 1 ano.
Figura 13 - Pós-operatório tardio: 1 ano.
DISCUSSÃO
As primeiras experiências descritas por Gordon & Warren1 serviram para validação da técnica, mostrando que a cartilagem sobrevivia ocupando
o espaço em que a mesma foi inserida. A partir disto vários usos foram iniciados em
hernioplastia16, reconstrução de parede costal17, nariz e face18,19 e quadril20. A dificuldade em reproduzir a técnica com domínio acabou deixando-a esquecida, sendo
somente resgatada por Erol décadas depois.
Os trabalhos iniciais descritos por Erol utilizavam Surgicel ou fáscia para alojar
os enxertos de cartilagem picada, no conhecido Turkish delight3. A versatilidade de tamanhos e espessura, bem como sua utilização em cirurgias primárias
e secundárias permitiram a difusão desta técnica21.
Os enxertos na região nasal fazem parte da rinoplastia moderna, sendo parte de reorganização
da estruturação e da melhora da forma. A facilidade de inclusão da cartilagem picada
sem a necessidade de uma fixação mais rígida como o fio de Kirschner ou parafuso facilita
sua utilização e a possibilidade de moldar o dorso pela maleabilidade do enxerto é
uma vantagem superior ao uso do enxerto tipo onlay.
Vidal et al.12 descrevem a importância do uso de enxerto de cartilagem picada na relação ponto,
dorso e radix, ressaltando a importância de uso de técnica adequada pelo descolamento
de área restrito apenas ao volume a ser enxertado, a introdução de enxerto através
de seringa 1ml com a ponta retirada e a microporagem imediata à introdução do enxerto
para moldagem adequada. Em nossa experiência concordamos com estas afirmações e que
podemos utilizar a seringa desenvolvida por Erol ao invés da seringa de 1ml sem prejuízo,
além da possibilidade de túnel acima do periósteo ou pericôndrio para inserção das
cartilagens picadas.
A percepção da irregularidade cartilagem ao tato é descrita em outros trabalhos21,22, porém este estudo verificou que a mesma não é perceptível visualmente e apresenta
resultados interessantes. Ma et al.23 descrevem que a fragmentação com pedaços de cartilagem inferiores a 0,5mm permite
diminuir a visibilidade de irregularidades, corroborando com os resultados deste estudo.
A utilização de cartilagem onlay sobre a região do radix pode apresentar encurvamentos que distorcem a simetria da
região ou mesmo na palpação serem percebidos em assimetria e mobilização. O uso de
cartilagem picada apresenta percepção tátil, mas em geral sem alteração visual. Atualmente,
o uso de cartilagem picada pode ser associado ao uso de plasma rico em plaquetas que
cria uma estrutura contínua e unificada o que pode ser solução tanto para percepção
tátil quanto para evitar a migração.
O estudo apresenta limitações como o seguimento ser apenas de 6 meses, o que pode
invariavelmente no longo prazo apresentar maior índice de reabsorção local. A região
estudada é limitada ao radix. Sendo estudo observacional, apresenta os vieses relacionados
a sua elaboração como de seleção ou informação, bem como possível presença de fatores
de confusão.
CONCLUSÃO
O estudo demonstrou que a cartilagem picada livre pode ser utilizada na região do
radix com resultados satisfatórios, apresentando baixo índice de percepção visual
quando comparado à percepção tátil, sem influenciar negativamente na satisfação do
resultado.
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1. CRER - Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação, Goiânia, GO, Brasil
2. Instituto Arruda Cirurgia Plástica, Goiânia, GO, Brasil
Autor correspondente: Fabiano Calixto Fortes Arruda Rua T50 n 723 Setor Bueno Goiânia, GO, Brasil, CEP: 74215-200, E-mail: arrudafabiano@hotmail.com
Artigo submetido: 04/04/2023.
Artigo aceito: 05/12/2023.
Conflitos de interesse: não há.