INTRODUÇÃO
A localização exposta do couro cabeludo e da fronte os torna suscetíveis a uma grande
variedade de lesões traumáticas e ambientais. A histologia complexa da região
possibilita a ocorrência de múltiplas condições neoplásicas e inflamatórias1.
Uma das funções mais importantes no desempenho da cirurgia plástica é a área
reparadora, na qual a reconstrução dos grandes defeitos do couro cabeludo depois
de
uma dissecção oncológica pode se tornar um grande desafio ao cirurgião plástico2,3. Fatores como grandes ressecções cirúrgicas em combinação com as
comorbidades do paciente, infecções, vazamento do fluido cerebral e a falta de
vascularização do osso depois da craniotomia levam à criação destes defeitos,
causando a necessidade da reconstrução do tecido afetado3,4.
Apesar da existência de muitas técnicas e o avanço da cirurgia microvascular3,5 para o reparo dos grandes defeitos do couro cabeludo6,7, a reconstrução ideal depende da avaliação criteriosa de cada caso
clínico e tem por finalidade alcançar o melhor resultado, tanto funcional como
estético8, com mínima morbidade na área
doadora2.
Os retalhos locais, enxertos de pele parcial, enxertos livres, podem ser usados na
cobertura das grandes lesões do couro cabeludo1, evitando a sequela de feridas crônicas, diminuindo tanto o tempo de
internação como a exposição a infeções e riscos para o paciente, sem deixar de
lado
a importância que tem para o paciente uma qualidade de vida a aparência estética
tão
relevante no mundo de hoje.
OBJETIVO
Trata-se de uma revisão dos processos patológicos peculiares à fronte e ao couro
cabeludo e relato de casos ocorridos no primeiro semestre do 2018; finalmente,
será
delineada uma grande variedade de opções de reconstrução disponíveis ao
cirurgião1 dentro das técnicas atuais.
MÉTODO
Em defeitos moderados (de 2 cm2 a 25 cm2, ou 10 cm2
a 50 cm2), normalmente é necessário um retalho local9. Em decorrência da pouca elasticidade do couro cabeludo, um
retalho grande deve ser confeccionado para cobrir um defeito pequeno.
Defeitos maiores devem ser reconstruídos com combinação de retalhos axiais, retalhos
livres ou enxertia de pele9. No caso 1,
paciente do gênero feminino, de 57 anos de idade, com exérese de meningioma que
afetou o osso do crânio na região frontotempoparietal direita, apresentando
complicação de infecção na área cirúrgica devido à falta de cobertura do defeito
(Figura 1). Foi feito retalho de
transposição (Figura 2) para a cobertura do
defeito, passando o retalho por baixo da região parietal direita para cobrir o
defeito10.
Figura 1 - Paciente com meningioma na região parietotemporal direita
comprometendo o periósteo da calota craniana.
Figura 1 - Paciente com meningioma na região parietotemporal direita
comprometendo o periósteo da calota craniana.
Figura 2 - Técnica de reconstrução com retalho de interpolação, para cobrir
defeito da exérese do tumor; nas áreas cruentas foi realizado enxerto de
pele parcial, tomando como área doadora a coxa esquerda.
Figura 2 - Técnica de reconstrução com retalho de interpolação, para cobrir
defeito da exérese do tumor; nas áreas cruentas foi realizado enxerto de
pele parcial, tomando como área doadora a coxa esquerda.
O segundo caso trata de uma paciente de 83 anos com tumor na região parietal,
angiosarcoma ficando um defeito de 6 cm ao realizar a exérese do tumor. Retalhos
romboides Limberg (Figura 3), além de ser muito
úteis em diferentes partes do corpo, podem ajudar na cobertura de defeitos no
couro
cabeludo, quando o diâmetro ultrapassar os 5-6 cm. Porém, o emprego de retalhos
romboides pode ser uma solução adequada (Figura 4), sem necessidade de enxerto, o qual apresenta a desvantagem de
alopecia pela falta de folículos pilosos.
Figura 3 - Esquematização da técnica do retalho triplo de Limberg usado para
cobrir o defeito na região parietal paciente com angiosarcoma. Imagem
original modificada.
https://goo.gl/images/Qkx61c.
Figura 3 - Esquematização da técnica do retalho triplo de Limberg usado para
cobrir o defeito na região parietal paciente com angiosarcoma. Imagem
original modificada.
https://goo.gl/images/Qkx61c.
Figura 4 - Resultado pós-operatório inicial. Retalho triplo Limberg, paciente
com tumor na região parietal.
Figura 4 - Resultado pós-operatório inicial. Retalho triplo Limberg, paciente
com tumor na região parietal.
O terceiro caso representado por paciente de 62 anos de idade, diagnosticado com
carcinoma de células escamosas (CEC) na região parietal, com defeito de 10 cm
de
diâmetro, sendo realizado retalho de gálea (Figuras. 5 e 6), ideal na difícil obtenção de
materiais caros como expansores11.
Figura 5 - Confecção do retalho de gálea - período intraoperatório após a
exérese do tumor na região parietal.
Figura 5 - Confecção do retalho de gálea - período intraoperatório após a
exérese do tumor na região parietal.
Figura 6 - Intraoperatório - técnica de retalho de gálea para cobertura de
grande defeito na região parietal, fase final.
Figura 6 - Intraoperatório - técnica de retalho de gálea para cobertura de
grande defeito na região parietal, fase final.
O retalho galeal baseia-se comumente num vaso designado do couro cabeludo ou em uma
combinação de vasos. O comprimento do retalho pode ultrapassar a linha média,
além
de ter a vantagem de um excelente suprimento sanguíneo, com um mínimo de mortalidade
ao local. A natureza fina e maleável dos retalhos possibilita que eles se ajustem
a
defeitos tridimensionais complexos1,11.
RESULTADOS
Em cada caso foram utilizadas diferentes técnicas para cobertura do defeito,
dependendo do tamanho da área a ser coberta. Não houve evidência de complicações
infecciosas no período pós-operatório inicial ou tardio, dando solução ao risco
de
osteomielite, grande risco que tinha nossa primeira paciente. No caso 2 houve
uma
pequena complicação de hematoma, semelhante ao do nosso paciente do tumor na região
frontal.
DISCUSSÃO
Defeitos de espessura completa no couro cabeludo com exposição do crânio podem
apresentar diversas etiologias, entre elas ressecção de tumor, queimaduras, traumas
elétricos ou mecânicos, e necrose por radioterapia9. Em cada caso foram utilizadas diferentes técnicas para cobertura do
defeito, dependendo do tamanho da área a ser coberta.
CONCLUSÃO
Em defeitos de tamanho pequeno a médio do couro cabeludo, o rearranjo tecidual local
proporciona o grosso do arsenal reconstrutivo.
Esses rearranjos incluem retalhos de transposição, de avanço e de rotação, além de
enxertos de pele parcial, os quais têm como desvantagem a alopecia na área do
defeito.
Os pacientes apresentados no trabalho foram submetidos à reconstrução imediata após
resseção oncológica no couro cabeludo, com um enfoque especial na estratégia para
cada caso. Um conjunto de recursos empregados para alcançar um resultado
significativo à ação planejada foi favorável para obtenção do sucesso ao longo
de
todo processo de intervenção, constituindo assim a tática pessoal, melhorando
a
qualidade de vida e diminuindo as chances de infecções e outras complicações
secundárias a uma ferida crônica.
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following tumor resection: personal strategy and experience - analysis of 25
cases. Rev Bras Cir Plást. 2012;27(2):227-37. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-51752012000200011
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2011;29(2):217-30. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.det.2011.02.008
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et al. Use of three rhomboid flaps for scalp defect coverage. Rev Bras Cir
Plást. 2013;28(3):490-2.
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2005;23(1):87-112. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.det.2004.08.010
11. Anbar RA, Almeida KG, Nukariya PY, Anbar RA, Coutinho BBA. Scalp
reconstruction procedures. Rev Bras Cir Plást. 2012;27(1):156-9. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-51752012000100026
1. Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ,
Brasil.
2. Hospital Universitário Antonio Pedro, Niterói,
RJ, Brasil.
Endereço Autor: Adriana Iveth Baron
Pinilla
Rua Marques de Parana, nº 349, Bloco 3, Apt. 410 - Centro
Niteroi, RJ, Brasil CEP 24030-215
E-mail: adrianabapini@gmail.com