INTRODUÇÃO
O uso de aloenxertos, descrito em 1870 e amplamente estudado ao longo dos anos, atua
como um curativo biológico temporário que auxilia na regeneração da área lesada, e
apesar de temporário, é útil para melhorar a sobrevida de grandes queimados1. O Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem,
fundado em 2005, é responsável pela captação, preservação, armazenamento e
distribuição de pele humana alógena, sendo até 2012 o único banco de pele em ação
no
Brasil. Em 2008, realizou-se a primeira captação de pele de doador de múltiplos
órgãos, e desde então a captação vem sendo realizada em pacientes diagnosticados com
morte encefálica e parada cardiorrespiratória. A rotina de seleção de doadores de
múltiplos órgãos é feita de maneira criteriosa, seguindo manuais e protocolos
internos do serviço, guidelines internacionais, bem como as
normativas contidas na legislação vigente (RDC 55), de 20152. A coleta de pele é feita das porções anterior e posterior das
coxas e pernas em homens, apenas das coxas em mulheres e do dorso em ambos. O tecido
captado é colocado em solução de glicerol 50% após a captação e então armazenado em
refrigeração em solução de glicerol 85% por um período de até 2 anos3.
OBJETIVO
Relatar a epidemiologia dos doadores (sexo e idade) do Banco de Pele do Hospital
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre.
MÉTODO
Para análise da epidemiologia dos doadores do Banco de Pele, realizou-se consulta
aos
relatórios mensais, cujo preenchimento periódico faz parte da nossa rotina. Nesses
relatórios também constam informações como número de captações, número de envios de
pele e área de pele enviada para doação (cm2).
RESULTADOS
Durante os últimos três anos, 2016, 2017 e 2018, foram realizadas 122 captações de
pele. Em 2016 foram 44 captações, sendo 23 homens e 21 mulheres; o doador mais jovem
tinha 13 anos e o mais velho, 69 anos, com a média de idade de 47,6. Em 2017 foram
42 captações, dessas, 22 eram homens e 20 eram mulheres; a menor idade era de 12
anos e a maior de 69, e a média de 46,88. Em 2018 foram 36, dos quais, 17 eram
homens e 19 eram mulheres, com os extremos de idade em 22 e 77 anos, sendo a média
de 53,52.
DISCUSSÃO
A cobertura cutânea adequada é um fator crucial no manejo de pacientes de grandes
queimados, ocasionando uma menor perda volêmica e consequentemente distúrbios
hidroeletrolíticos, além de evitar infecções bacterianas oportunistas. Uma
metanálise de seis estudos randomizados demonstraram uma redução significativa na
mortalidade por meio da excisão e enxertia precoce em grandes queimados (RR 0.36)
comparado com tratamento conservador, além de menor tempo de hospitalização4. O desafio se encontra quando uma grande área
de pele foi acometida pela queimadura, impedindo o uso de enxerto autólogo. Nesses
casos, a utilização de aloenxerto é um tratamento fundamental, atuando como curativo
biológico temporário para cobertura de lesões cutâneas superficiais e profundas,
protegendo o leito da ferida contra perdas de líquido e de calor, infecções
bacterianas, além de reduzir a dor e estimular a cicatrização, podendo ser o
diferencial para a evolução adequada do paciente. O Banco de Pele
Dr. Roberto Corrêa Chem da Santa Casa de Porto Alegre atua em todo esse contexto,
captando, processando e disponibilizando lâminas de pele alógena para o uso clínico
em enxertias, em que condições clínicas impedem o uso do enxerto autólogo5. A distribuição do tecido é feita para as
Unidades de Tratamento de Queimados de todo o País, sendo regulada pela Central
Nacional de Transplantes (CNT) e pelas Centrais de Notificação, Capacitação e
Distribuição de Órgãos (CNCDO) de cada estado. O Brasil possui dois bancos: em São
Paulo (Hospital das Clínicas) e em Porto Alegre (Santa Casa de Porto Alegre).
Atualmente não se consegue atender a demanda nacional devido à escassez de pele.
Sendo assim, desde 2013 existe o projeto de utilizar membrana amniótica, sendo
utilizada com sucesso como curativo biológico, como no caso boate Kiss, promovendo
reepitelização, evitando infecções e reduzindo dor, perda de volume e alterações
cicatriciais6,7, portanto ainda não há uma lei que regulamente
seu uso.
CONCLUSÕES
A rotina realizada pelo Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem objetiva disponibilizar
aloenxertos de pele para tratamento de pacientes em diferentes centros do território
nacional. No nosso serviço não houve grandes discrepâncias entre os sexos,
alternando-se entre o mais frequente. Em relação à idade, a média gira em torno de
50 anos, com uma grande variabilidade, desde crianças até idosos.
REFERÊNCIAS
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allograft. Surg Clin N Am. 1997; 77(3):731-45. DOI: https://doi.org/10.1016/S0039-6109(05)70577-6
2. Anvisa. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretoria
Colegiada Resolução-Rdc N° 55, de 11 de Dezembro de 2015. Dispõe sobre as boas
práticas em tecidos humanos para uso terapêutico.
3. Rech S, Chem E, Milani A, Minuizzi F, Falcão T, Ely P. Rotina do
Banco de Pele Dr. Roberto Corrêa Chem no processamento de pele de doador
cadáver. Arq Catarin Med. 2012; 41(1).
4. Ong Ys, Samuel M, Song C. Meta-analysis of early excision of burns.
Singapore General Hospital, Department of Plastic Surgery. Burns. 2006;
32(2):145. PMID: 16414197
5. Kagan RJ, Robb EC, Plessinger RT. Human skin banking. Clin Lab Med.
2005; 25(3):587-605. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cll.2005.06.008
6. Fairbairn NG, Randolph MA, Redmond RW. The clinical applications of
human amnion in plastic surgery. J Plast Reconstr Aesthet Surg. 2014; 67(5):662.
DOI: https://doi.org/10.1016/j.bjps.2014.01.031
7. Pretto Neto AS, Rech DL, Martins ALM, Silveira DPM, Chem EM, Ely PB.
Membrana amniótica humana: curativo biológico promissor. Rev Bras Cir Plást.
2013; 28(3):9.
1. Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto
Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
2. Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
3. Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre,
Porto Alegre, RS, Brasil.
Endereço Autor: João Vitor Peixoto Leal Zanirati
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