INTRODUÇÃO
O envelhecimento facial é um processo gradual, complexo e multifatorial. É o
resultado de mudanças na qualidade, volume e posicionamento dos
tecidos1-3. Didaticamente, divide-se a face
em três terços ou partes: terço superior (região frontal), terço médio (região
malar e bochechas) e terço inferior (região mandibular)4. Os cirurgiões plásticos devem
ter amplo conhecimento técnico, anatômico e a sensibilidade estética para
oferecer opções de tratamento que visem a abordagem da face como um todo,
podendo atuar então nas três partes da face, atendendo às ansiedades,
expectativas e queixas dos pacientes.
O envelhecimento do terço superior da face se caracteriza basicamente pela ptose
da sobrancelha, rugas glabelares e rugas transversais profundas da região
frontal5. O tratamento
cirúrgico do envelhecimento desta área pode ser realizado através da clássica
técnica de frontoplastia coronal aberta (FCA), da frontoplastia temporal com
incisões limitadas (FT), da frontoplastia endoscópica (FE) e do Gliding
Brown Lifting (GBL)5-7.
Usualmente, em nossa prática diária, em clínica privada, utilizamos a FE para
tratamento da região frontal, conforme descrito em publicação prévia8, com a utilização de cinco
incisões no couro cabeludo, uma delas na linha mediana (sagital), duas para
sagitais (uma de cada lado) com extensão de 1cm, e duas incisões temporais de
3cm (sendo essas coronais e laterais à linha de fusão temporal - LT).
Porém, a técnica acima descrita tem a limitação de sua indicação em pacientes com
alopecia androgênica (AAG) frontotemporal e/ou com testas longas, pois
determinam cicatrizes aparentes que nem sempre são aceitas por parte dos
pacientes. Dessa forma, desenvolvemos o tratamento da região frontotemporal
através de videoendoscopia com três incisões: duas incisões temporais de 3cm
e
uma incisão na linha mediana (sagital) de 1cm.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é descrever a técnica de FE subperiostal através de três
incisões (duas incisões temporais e uma incisão na linha mediana) em pacientes
com alopecia frontotemporal, avaliando sua aplicabilidade e eficácia.
MÉTODO
Foram avaliados retrospectivamente 12 pacientes, sendo 10 do sexo masculino e
dois do sexo feminino, submetidos a FE através de três incisões (duas incisões
temporais e uma incisão na linha mediana) em pacientes com alopecia
frontotemporal, com idade variando entre 50 e 66 anos, num período de 5 anos.
Estudo realizado em clínica privada em Curitiba, PR, entre janeiro de 2019 e
janeiro de 2023; aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
Evangélica Mackenzie do Paraná, número 6.500.820. Foram excluídos do estudo
pacientes com cirurgia prévia de frontoplastia.
Técnica Operatória
Paciente em decúbito dorsal, administrado 1g de cefazolina endovenosa, sob
anestesia local (lidocaína 2% 20ml + ropivacaína 1% 20ml + 160ml de soro
fisiológico + adrenalina 1:1000 UI) e sedação. Foi infiltrada toda a região
frontal até supercílios, região glabelar e fossa temporal, estendendo-se até
arco zigomático e proeminência do osso malar.
Três incisões foram realizadas no couro cabeludo, uma delas na linha mediana
(sagital) e duas incisões temporais de 3cm (sendo essas coronais e laterais
a linha fusão temporal - LT) (Figura 1).
Figura 1 - Marcação da incisão mediana em paciente do sexo masculino com
alopecia em vértice.
Figura 1 - Marcação da incisão mediana em paciente do sexo masculino com
alopecia em vértice.
A dissecção é subperiostal com sentido inferior na região frontal até 2cm
acima do rebordo orbitário e lateralmente até a LT, aqui o periósteo é
aberto para se ter acesso às estruturas anatômicas suprajacentes.
Lateralmente, na região temporal, a dissecção é feita abaixo da lâmina
posterior da fáscia temporal superficial e acima da fáscia temporal
profunda. O sentido também é inferior até alcançar a veia sentinela, o
ligamento orbital, o nervo zigomático temporal (lateral e medial -
sensitivos) e o ligamento cantal lateral (aqui já no plano supraperiostal)
(Figura 2).
Figura 2 - No centro o ligamento orbital (LO), após ampla dissecção e
liberação da linha de fusão temporal (LT). À esquerda, o plano
subperiostal e à direita plano abaixo da fáscia
temporal.
Figura 2 - No centro o ligamento orbital (LO), após ampla dissecção e
liberação da linha de fusão temporal (LT). À esquerda, o plano
subperiostal e à direita plano abaixo da fáscia
temporal.
O ligamento orbital deve ser seccionado e liberado, com tesoura Metzembaum
longa, assim como toda a LT, de lateral para medial até comunicar os dois
planos de dissecção, o lateral (na região temporal e abaixo da fáscia
temporal superficial) e o central na região frontal (subperiostal). Uma vez
incisado o periósteo, disseca-se e preserva-se os nervos supraorbitários e
supratrocleares, aborda-se a musculatura da região glabelar e realiza-se
miectomia parcial dos músculos corrugador, depressor superciliar e procerus.
Utiliza-se aqui pinça Kelly curva longa.
A fixação do retalho é feita na região temporal fixando-se o retalho na
fáscia temporal profunda, conforme descrito por Knize5, utilizando-se fio de Vycril
plástica 3,0 com três pontos (Figura 3). O excedente de pele (pele redundante) do retalho que foi
tracionado superoposteriormente é “acomodado” após sua compensação; a
seguir, pontos de nylon 4,0 simples são utilizados para síntese do couro
cabeludo e curativo com micropore é feito em toda área de pele que foi
dissecada.
Figura 3 - Pontos de Vycril 3,0 na região temporal.
Figura 3 - Pontos de Vycril 3,0 na região temporal.
RESULTADOS
Foram operados 12 pacientes, sendo 10 do sexo masculino e dois do sexo feminino,
com idade variando entre 50 a 66 anos (Figuras 4 a 19). As complicações foram
três, sendo um caso de correção insuficiente da porção lateral da sobrancelha
e
dois casos de recidiva de rugas glabelares (remoção insuficiente de músculos
da
região glabelar). As complicações ocorreram isoladamente e não associadas em
um
só paciente.
Figura 4 - Vista frontal de pré-operatório em paciente de 62 anos.
Figura 4 - Vista frontal de pré-operatório em paciente de 62 anos.
Figura 5 - Vista frontal de pós-operatório de 6 meses em paciente de 62
anos.
Figura 5 - Vista frontal de pós-operatório de 6 meses em paciente de 62
anos.
Figura 6 - Vista em oblíquo à direita de pré-operatório de paciente de 62
anos.
Figura 6 - Vista em oblíquo à direita de pré-operatório de paciente de 62
anos.
Figura 7 - Vista em oblíquo à direita de pós-operatório de 6 meses paciente
de 62 anos.
Figura 7 - Vista em oblíquo à direita de pós-operatório de 6 meses paciente
de 62 anos.
Figura 8 - Vista frontal de pré-operatório de paciente de 64 anos.
Figura 8 - Vista frontal de pré-operatório de paciente de 64 anos.
Figura 9 - Vista frontal de pós-operatório de 6 meses de paciente com 64
anos.
Figura 9 - Vista frontal de pós-operatório de 6 meses de paciente com 64
anos.
Figura 10 - Vista em oblíquo à direita de pré-operatório de paciente de 64
anos.
Figura 10 - Vista em oblíquo à direita de pré-operatório de paciente de 64
anos.
Figura 11 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 64 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 11 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 64 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 12 - Vista frontal de pré-operatório de paciente de 52 anos.
Figura 12 - Vista frontal de pré-operatório de paciente de 52 anos.
Figura 13 - Vista frontal de paciente de 54 anos no pós-operatório de 6
meses.
Figura 13 - Vista frontal de paciente de 54 anos no pós-operatório de 6
meses.
Figura 14 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 54 anos no
pré-operatório.
Figura 14 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 54 anos no
pré-operatório.
Figura 15 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 54 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 15 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 54 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 16 - Vista frontal de paciente de 56 anos no pré-operatório.
Figura 16 - Vista frontal de paciente de 56 anos no pré-operatório.
Figura 17 - Vista frontal de paciente de 56 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 17 - Vista frontal de paciente de 56 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 18 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 56 anos no
pré-operatório.
Figura 18 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 56 anos no
pré-operatório.
Figura 19 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 56 anos com 6 meses de
pós-operatório.
Figura 19 - Vista em oblíquo à direita de paciente de 56 anos com 6 meses de
pós-operatório.
DISCUSSÃO
Historicamente, a maioria dos pacientes que procuram cirurgias e procedimentos
estéticos é de mulheres, porém publicações leigas e científicas têm salientado
o
maior interesse dos homens nesta área. As razões são as mais diversas, mas
dentre elas se incluem o maior número de pacientes ex-obesos - que passaram por
cirurgia bariátrica - e a procura por melhora da autoestima e qualidade de vida,
superando preconceitos e trazendo mais confiança9. Estudos norte-americanos mostram aumento de 55%
no número de cirurgias estéticas em homens entre 1997 a 20189.
No âmbito mais amplo de interessados em cirurgia plástica, os pacientes desejam
uma aparência melhorada, como relataram 79% dos cirurgiões plásticos faciais
em
2021, em comparação com 16% relatados em 202010. Tradicionalmente, as cirurgias mais
procuradas pelos homens são a ginecomastia, a rinoplastia e o transplante
capilar; atualmente, observa-se também interesse por lipoaspiração e cirurgia
facial e aqui se destaca, em especial, a procura pela blefaroplastia associada
à
frontoplastia9.
O envelhecimento do terço superior da face se caracteriza basicamente pela ptose
da sobrancelha, rugas glabelares e rugas transversais profundas da região
frontal5. Na nossa
prática diária, em clínica privada, utilizamos a FE para tratamento da região
frontal e adaptamos os conceitos de Knize6,7, que realizou
estudos anatômicos sobre as fáscias temporais e sobre o posicionamento dos ramos
do nervo supra orbitário.
A partir de então, Knize6,7 propôs a técnica de
frontoplastia temporal com incisões limitadas associada ao tratamento das rugas
glabelares através da incisão da blefaroplastia superior. Esta técnica tem a
seu
favor o fato de evitar e secção dos ramos do nervo supraorbitário. A FE, por
sua
vez, permite ampla dissecção do retalho, maximização da imagem com facilidade
de
identificação das estruturas anatômicas nobres, como nervos e músculos,
possibilita o bom reposicionamento da sobrancelha, evita hipoestesia do couro
cabeludo e tem menor chance de alopecia8.
Estima-se que 80% dos homens e 50% das mulheres podem apresentar AAG no curso das
suas vidas. A AAG se caracteriza por redução da espessura, do comprimento e da
pigmentação do cabelo; e nas mulheres é mais comum na fase pré-menopausa, porém
com manutenção da linha capilar anterior (padrão Ludwig). Já nos homens, a
alopecia tende a ser bicoronal com padrão em vértice, expondo a transição
frontotemporal11.
Levando-se em conta essas características é que pensamos em uma adaptação da FE
evitando cicatrizes para medianas (são usualmente duas) que deveriam ser
posicionadas na região de alopecia e que tendem a não ser bem aceitas por parte
dos pacientes. É deixado de lado o uso das cinco incisões clássicas no couro
cabeludo8, a fim de se
evitar cicatrizes aparentes. Optamos, portanto, por somente três vias de acesso:
uma delas na linha mediana (sagital - onde se coloca a câmera com a fonte de
luz) e duas incisões temporais de 3cm (sendo essas coronais e laterais à
LT).
É muito importante salientar que é através das cicatrizes para medianas que se
acessa a região glabelar e com o uso de pinças e material específico se trata
a
musculatura hipertrófica que forma as rugas desta região8. A partir do momento em que não
há estas vias de acesso, restam somente as duas incisões temporais que são
distantes da região frontal inferior e que, devido também ao formato convexo
do
osso frontal, tem-se grande dificuldade técnica para execução da miectomia
parcial dos músculos corrugador e procerus.
O plano de dissecção subperiostal, usado neste estudo, já proposto desde anos
1990 por Isse & Ramirez8,
apresenta menos sangramento e está abaixo do plano por onde passam os ramos
nervosos supratroclear e supraorbital. Ou seja, é mais seguro e com menor
morbidade8. A fixação
do retalho é feita com fios de sutura na região temporal, cuja função é
estabilizar o retalho até que haja sua cicatrização e aderência, e não o
tracionar superiormente em excesso, porque a fixação sob tensão causa recidiva.
Portanto, vale ressaltar a necessidade de ampla dissecção da LT, além de toda
liberação do periósteo junto às suas áreas de adesão (descritas por
Mendelson)12.
Em relação às complicações, foram em baixo número e sem casos graves como lesão
do ramo temporal do nervo facial, semelhantes a dados da literatura e também
corroborados em nosso estudo anterior8. Esta técnica, embora permita boa visualização das
estruturas anatômicas da glabela, não permite tratamento efetivo dos músculos
da
região glabelar, mas pode ser uma boa alternativa cirúrgica nos pacientes com
AAG, com queixa de envelhecimento do terço superior da face e que apresentem
ptose da cauda da sobrancelha e menor intensidade de rugas glabelares.
A limitação deste estudo é a não comparação dos resultados com outras técnicas de
frontotemporoplastia sob visão direta e sem uso de vídeo endoscópio, conforme
descrição de Knize5,6 e Jacono1,8. E também o pequeno número da amostra, porém
proporcional a outros estudos da área8.
CONCLUSÃO
A técnica de frontoplastia endoscópica subperiostal com somente três incisões
mostrou ser uma boa alternativa no tratamento do envelhecimento do terço
superior da face, em pacientes com alopecia, sendo efetiva, proporcionando bons
resultados estéticos e baixa morbidade.
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Lincoln Graça Neto Rua Angelo
Sampaio, 2029, Curitiba, PR, Brasil. CEP: 80420-160, E-mail:
lgracaneto@hotmail.com
Article received: November 22, 2023.
Article accepted: July 27, 2024.
Conflitos de interesse: não há.