INTRODUÇÃO
A rinoplastia é um procedimento comum na cirurgia plástica facial, mas pacientes com
pele grossa e sebácea apresentam um desafio adicional. Pacientes de certos grupos
étnicos, como mestiços/hispânicos, asiáticos, descendentes de africanos e indivíduos
originários do Oriente Médio, têm uma estrutura nasal caracterizada por uma estrutura
óssea e cartilaginosa subjacente fraca, coberta por um envelope de tecido mole de
pele espessa, o que os torna propensos à acne1.
Pacientes com pele grossa e oleosa são um desafio comum na rinoplastia, pois a pele
grossa pode tornar o nariz indefinido, resultando em deformidades na ponta nasal e
supraponta. A atividade aumentada das glândulas sebáceas ou hiperplasia das unidades
pilossebáceas é um fator contribuinte2.
O uso da isotretinoína no pós-operatório de rinoplastia em pacientes com pele espessa
tem sido objeto de intenso debate em relação à sua eficácia e segurança3. A isotretinoína reduz a produção de sebo, diminui a hiperqueratinização e a produção
de Propionibacterium acnes, tornando-se um medicamento de interesse na cirurgia plástica4.
OBJETIVO
Este artigo científico tem como objetivo realizar uma revisão de estudos relacionados
publicados nos últimos 7 anos sobre o uso da isotretinoína no pós-operatório de rinoplastia
em pacientes com pele espessa, a fim de resumir a evidência científica sobre a eficácia
desse tratamento.
MÉTODO
Foi realizada uma revisão bibliográfica nas bases de dados PubMed, SciELO e Google
Acadêmico, utilizando os descritores “Isotretinoína”, “Acne”, “Cicatrizes”, “Laser”
e “Cirurgia Plástica Facial”. Foram estabelecidos critérios de inclusão artigos publicados
no período de 2016 a 2022, enquanto os artigos publicados antes dessa data foram excluídos
do estudo.
RESULTADOS
Foram encontrados um total de 108.191 artigos nas bases de dados SciELO, PubMed e
Google Acadêmico. Desses, 69.099 eram relacionados ao descritor isotretinoína e 29.330
estavam relacionados aos descritores isotretinoína e acne, representando 27% do total.
Na base de dados SciELO, foi encontrado um total de 57 artigos, sendo selecionado
apenas 1 relacionado à rinoplastia. Na base de dados PubMed, foram encontrados 7.374
artigos, dos quais 3 estavam relacionados à rinoplastia. Na base de dados Google Acadêmico,
foram encontrados 100.760 artigos, dos quais 2 estavam relacionados à rinoplastia.
DISCUSSÃO
De acordo com os artigos selecionados para a revisão de literatura, a isotretinoína
habitualmente era recomendada para o tratamento de acne cística nodular2. Dessa maneira, a associação deste medicamento com a área da cirurgia plástica é
muito importante, principalmente quando consideradas as rinoplastias5. Com base nas literaturas revisadas, as principais aplicações da isotretinoína na
cirurgia plástica têm como indicação acne, cicatrizes, hiperplasia de glândulas sebáceas,
fina e pacientes de pele grossa submetidos a rinoplastia. Também impactam na terapia
com isotretinoína na espessura e elasticidade da derme, pele nasal, tecido mole, gabela,
násio e rina3.
Além disso, as literaturas revisadas avaliam recomendações baseadas em evidências
sobre a segurança das intervenções processuais realizadas simultaneamente ou imediatamente
após a cessação da terapia sistêmica com isotretinoína e o uso oral da mesma após
a rinoplastia, evidenciando os resultados cosméticos nos pacientes com nariz de pele
grossa1.
No estudo “Oral Isotretinoin in the Treatment of Postoperative Edema in Thick-Skinned
Rhinoplasty: A Randomized Placebo-Controlled Clinical Trial”1, a utilização da isotretinoína no pós-operatório para o tratamento de acne e pele
grossa foi comparada ao grupo que utilizou medicamento placebo. Concluiu-se que, após
3 e 6 meses da cirurgia, foi significativamente melhor no grupo que utilizava isotretinoína,
porém, após um período de 12 meses, não houve diferença estética entre os dois grupos.
No entanto, foram relatados alguns efeitos adversos pelo grupo que fazia uso de isotretinoína,
como secura nasal e secreção sanguinolenta, e foram tratados com lubrificante tópico.
Dessa maneira, concluiu-se que a utilização de isotretinoína tem resultados positivos
para o tratamento de pele espessa nos primeiros meses após cirurgia, porém, 12 meses
após o procedimento, não afetou significativamente o resultado, quando comparado ao
outro grupo1.
É importante destacar que o artigo “Analysis of the Effects of Isotretinoin on Rhinoplasty
Patients”4 reforça a ideia vista no item anterior. Neste, os pacientes avaliados foram separados
em dois grupos, um em uso da isotretinoína e o outro, um grupo placebo. Após a cirurgia,
foram submetidos a um teste de satisfação, no período de 1, 3, 6 e 12 meses após o
procedimento. Foi relatado que nos primeiros meses (1 e 3), o grupo que utilizava
a isotretinoína apresentou uma melhor avaliação do que o grupo placebo. Todavia, com
o passar do tempo, essa diferença manteve-se ligeiramente superior no grupo com o
medicamento.
Ao final do período, 12 meses após a cirurgia, o nível de satisfação de ambos os grupos
foi semelhante. Notou-se, ao longo do tratamento, a redução da oleosidade da pele
do rosto no grupo com medicamento maior do que no do grupo controle, além de que a
gravidade da acne foi considerada maior no primeiro mês após a cirurgia no grupo que
utilizava o medicamento do que no grupo sem medicamento4.
Porém, quando foi comparada a gravidade da acne nos meses 3 e 6, o grupo experimental
foi menor do que no grupo controle, mas essa diferença não foi estatisticamente alusiva.
No exame final, o resultado da gravidade da acne foi semelhante nos dois grupos e
foram avaliados como semelhantes aos níveis pré-operatórios. Após todos os exames
de acompanhamento, foi realizado um teste, no qual foram somados os escores médios
dos dois grupos, e notou-se que o grupo que utilizou isotretinoína teve uma satisfação
média maior do que o grupo que não utilizava, dentro de um ano, além de que a média
total da frequência da acne fácil no grupo experimental foi menor do que no grupo
controle. Foi realizada uma avaliação quantitativa do estado de cicatrização e possíveis
deformidades das cartilagens nasais, que indicaram que não ocorreu atraso no processo
de reparo4.
Nesse estudo, todos os pacientes do grupo controle tiveram uma melhora significativa
na aparência e textura da pele do nariz e do rosto, apresentando-se mais definidos
do que em suas imagens pré-operatórias.
Concluindo o estudo, a isotretinoína não parece induzir uma grande reparação do nariz
e problemas de recuperação após a rinoplastia. No entanto, os autores acreditam que
é possível aproveitar os efeitos positivos deste medicamento para reduzir a espessura
da pele, oleosidade da pele e acne em pacientes com pele oleosa e grossa com ou sem
acne antes da cirurgia4.
Os autores relatam no artigo “Isotretinoin Use in Thick-Skinned Rhinoplasty Patients”5 os principais problemas enfrentados por cirurgiões plásticos para a realização de
uma rinoplastia, sendo os problemas mais desafiadores pacientes com pele grossa, resultando
em uma ponta nasal indefinida e má projeção, rotação e deformidades na região da supra
ponta. Além disso, citam que pacientes são heterogêneos, ou seja, de diferentes etnias,
alguns deles possuem um tecido fibroadiposo que desempenha um papel importante, pois
esse tecido recobre a ponta nasal e área da supra ponta, cobrindo as cartilagens alares.
Outra questão recorrente é que as rinoplastias são frequentemente realizadas em pacientes
jovens ou adolescentes, nos quais a acne está em grande prevalência e, também, cita-se
que nos primeiros meses após a rinoplastia há um aumento de 27% da acne, quando comparada
com cirurgia nasal funcional. Com isso, o estudo argumenta sobre o uso da isotretinoína,
que se demonstra muito eficaz, principalmente quando comparado a outros tratamentos.
A isotretinoína apresenta bons resultados na definição das pontas nasais e nas exacerbações
pós-cirúrgicas da acne, sem exposição a procedimentos cirúrgicos imprevisíveis que
podem resultar em deformidades indesejadas ou cicatrizes5.
É valioso ressaltar que a isotretinoína foi inicialmente aprovada pela Food and Drug
Administration (FDA) para acne nodulocística grave em 1982. Por décadas, houve um
debate vigoroso sobre a combinação de isotretinoína com procedimentos intervencionistas
ou invasivos adicionais. O uso de isotretinoína pode não apenas influenciar a cicatrização
e epitelização de feridas, mas também afetar a cicatrização de outros tipos de tecidos,
como cartilagem, osso e músculo esquelético, ou interferir na coagulação sanguínea.
Como abordado no artigo “Indications and Use of Isotretinoin in Facial Plastic Surgery”2, a dosagem é determinada pelo peso corporal e geralmente varia de 0,5 a 1,0mg/kg
diariamente para atingir uma dose total acumulativa de 120 a 180mg/kg. Experiências
externas e clínicas desafiam cada vez mais a regra de descontinuar a isotretinoína
por pelo menos 6 meses antes de qualquer procedimento cosmético ou cirúrgico. A maioria
dos eventos adversos relatados nas primeiras séries de casos não pôde ser confirmada
em estudos prospectivos mais recentes. No entanto, ensaios randomizados e adequadamente
controlados ainda são escassos. Da mesma forma, faltam dados de farmacovigilância
sobre o uso da isotretinoína no cenário da cirurgia plástica facial2.
Os esquemas terapêuticos de baixa dose mostraram-se seguros na prática clínica e deram
bons resultados em pacientes com pele espessa e porosa, submetidos a rinoplastia e peelings superficiais. A dosagem e a vigilância devem ser orquestradas em um ambiente interdisciplinar
e supervisionadas por especialistas. Avaliações laboratoriais pré-operatórias e de
acompanhamento são recomendadas em protocolos de dose padrão e baixa para monitorar
potenciais efeitos colaterais sistêmicos, como toxicidade hepática ou rabdomiólise.
Ainda assim, é de extrema importância evidenciar a segurança das intervenções processuais
realizadas simultaneamente ou imediatamente após a cessação da terapia sistêmica com
isotretinoína. No artigo “Isotretinoin and Timing of Procedural Interventions: A Systematic
Review With Consensus Recommendations”6, foram encontradas 32 publicações relevantes, sendo relatados 1484 procedimentos.
Com isso, cita-se a dermoabrasão, que consiste na utilização de uma fresa de diamante
ou uma escova de arame/caixa de diamante presa a uma alça motorizada6.
Com base na literatura existente, cicatrizes anormais podem estar associadas à dermoabrasão
mecânica no cenário de uso recente de isotretinoína, contudo, não é recomendado. Em
contraste com a dermoabrasão mecânica, não há evidências suficientes para atrasar
a microdermoabrasão manual ou para pacientes que estão simultaneamente recebendo ou
concluíram recentemente a terapia com isotretinoína6.
Ensaios clínicos adicionais específicos e bem controlados são recomendados. Alega-se
que foram relatados resultados favoráveis para pacientes que utilizam isotretinoína
sistemática durante um peeling químico. Dois ensaios de coorte relataram resultados cosméticos favoráveis no ambiente
do uso de isotretinoína, sem efeitos adversos na cicatrização. Foram realizados 45 peelings em 20 pacientes tratados concomitantemente com baixa dose de isotretinoína, demonstrando
melhora cosmética estatisticamente significativa do envelhecimento em comparação com
pacientes que não tomam isotretinoína. Pacientes que foram submetidos a cirurgia cutânea,
enquanto recebiam isotretinoína sistêmica, relataram uma boa cicatrização sem sequelas6.
Entretanto, uma importante informação relatada no artigo foi em relação ao cenário
específico de grande cirurgia reconstrutiva que exige a mobilização de retalhos musculares.
Os pacientes que utilizaram isotretinoína apresentaram níveis de creatina fosfoquinase
(CPK) superiores a duas vezes o normal. Esse fato pode apresentar um fator de risco
incomum para insuficiência do retalho muscular, a rabdomiólise, sugerindo que a realização
da cirurgia deve ser aguardada até o momento em que o paciente reproduz níveis normais
de CPK ou, pelo menos, níveis de CPK abaixo do dobro do normal6.
Um importante adendo a este estudo se deve ao fato de que os receptores de transplante
imunossuprimidos são tipicamente uma coorte mais antiga em comparação com a população
adolescente com acne. Além disso, podem ser menos propensos a desenvolver cicatrizes
hipertróficas. Finalizando o estudo, o uso de laser também foi mencionado, apesar
de ser a categoria de procedimentos mais estudada quando se fala no uso de isotretinoína.
As recomendações de consenso afirmam que não há evidências suficientes para atrasar
a remoção a laser à base de luz para pacientes que estão atualmente utilizando ou
tenham completado recentemente a terapia de isotretinoína. Ensaios clínicos prospectivos
e bem controlados adicionais também são recomendados6.
Além disso, existem muitas séries de casos e um ensaio clínico randomizado que rejeitam
a cicatrização normal de feridas após o tratamento com lasers fracionados ablativos
e não ablativos em pacientes que receberam isotretinoína. Com as informações apresentadas
no artigo, os médicos puderam ter uma discussão baseada em evidências com os pacientes
sobre o risco conhecido de procedimentos cirúrgicos cutâneos no contexto do tratamento
com isotretinoína sistêmica. Para alguns pacientes e algumas condições, uma decisão
informada pode levar a intervenções mais precoces e potencialmente mais eficazes6.
CONCLUSÃO
Mediante ao panorama apresentado, é discutível o benefício da isotretinoína no pós-operatório
de algumas cirurgias plásticas. Assim como qualquer outra medicação, ela também possui
efeitos colaterais que podem interferir no processo de cicatrização e que, apesar
de possivelmente contornáveis, devem ser considerados na avaliação do risco-benefício
de seu uso. Dentre as indicações observadas de maior benefício da medicação, tem-se
a de rinoplastia em pacientes de pele grossa, que podem evoluir com deformidades cicatriciais,
e em jovens ou adolescentes, nos quais há um aumento da acne pós-operatória. Dessa
forma, recomenda-se a avaliação individual do uso da isotretinoína no pós-operatório,
com monitorização periódica dos resultados e dos efeitos adversos locais e sistêmicos
nos casos indicados.
REFERÊNCIAS
1. Sazgar AA, Majlesi A, Shooshtari S, Sadeghi M, Sazgar AK, Amali A. Oral Isotretinoin
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4. Yahyavi S, Jahandideh H, Izadi M, Paknejad H, Kordbache N, Taherzade S. Analysis of
the Effects of Isotretinoin on Rhinoplasty Patients. Aesthet Surg J. 202019;40(12):NP657-NP665.
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5. Cobo R, Vitery L. Isotretinoin Use in Thick-Skinned Rhinoplasty Patients. Facial Plast
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6. Spring LK, Krakowski AC, Alam M, Bhatia A, Brauer J, Cohen J, et al. Isotretinoin
and Timing of Procedural Interventions: A Systematic Review With Consensus Recommendations.
JAMA Dermatol. 2017;153(8):802-9. DOI: 10.1001/jamadermatol.2017.2077
1. Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
2. Faculdade de Minas FAMINAS-BH, Belo Horizonte, MG, Brasil
Autor correspondente: Luísa Moita Ferreira Alameda Ezequiel Dias, 275, Centro, Belo Horizonte, MG, Brasil. CEP: 30130-110. E-mail: luisafrre@gmail.com
Artigo submetido: 12/01/2023.
Artigo aceito: 27/07/2024.
Conflitos de interesse: não há.