INTRODUÇÃO
Há registros sobre a prática de cirurgia plástica desde muitos séculos antes de
Cristo. Era praticada para corrigir deformidades provocadas por traumas ou punições
físicas, conforme mostra a literatura1.
Entretanto, a consolidação dessa especialidade ocorreu a partir da Primeira Guerra
Mundial, cujos conflitos resultaram em soldados gravemente feridos e corpos
desfigurados, fazendo-se necessário que eles fossem submetidos a reparos
cirúrgicos1.
Desde a Segunda Guerra Mundial, a cirurgia plástica ampliou seu foco, com as técnicas
de reconstrução abrangendo a população em geral. Nos dias atuais, os procedimentos
estéticos são os mais procurados. Segundo Gracindo1, “o paciente busca com a correção atingir a perfeição ou um padrão de
beleza, que muitas vezes é imposto pela sociedade e influenciado pela mídia”.
Idealização do corpo ao longo do tempo
Os padrões de beleza mudaram ao longo do tempo. A idealização e percepção do
corpo ideal sofre influência de fatores culturais, sociais, econômicos e
históricos2.
Souza et al.3 mostram que a busca pela
beleza, embora seja grande na era contemporânea, não é uma preocupação recente,
pois o ser humano busca se representar pelas artes há milhares de anos.
Os autores traçam um panorama desde a Antiguidade, quando a procura pela beleza
começou a se tornar racional, passando pelo moralismo imposto pelo Cristianismo
na Idade Média, a Modernidade no século XV, sob o efeito de diversas descobertas
das técnicas artísticas, e a beleza entendida como uma imitação da natureza. O
padrão de beleza era o corpo obeso de Mona Lisa, ou A Gioconda, famosa pintura
de Leonardo da Vinci3.
Souza et al. prosseguem mostrando a mudança drástica no Sistema Capitalista, a
partir do século XVII, em que o corpo se mostrou tanto oprimido como
manipulável, uma vez que a evolução da sociedade industrial propiciou um elevado
desenvolvimento técnico-científico3 até
chegar à Contemporaneidade com a globalização, o consumismo. Estimulado pela
mídia (jornais, revistas, rádio e cinema), o corpo é visto como símbolo de vigor
e eficácia, simbolizado por ícones do esporte e do cinema3.
A cirurgia plástica na atualidade
Para Kataoka et al.4, a cirurgia plástica
melhora a autoestima e a aceitação em uma sociedade consumista que idealiza o
culto ao corpo. “A pressão do consumo e a facilidade de se submeter a um
procedimento de cirurgia plástica acaba se tornando uma obsessão na vida desses
pacientes”4.
Com o passar dos anos e o proporcional crescimento da mídia, focado
principalmente no culto ao corpo e a perfeição, a procura por cirurgias
plásticas vem aumentando de forma avassaladora. Em um cenário no qual blogueiras
e influenciadoras digitais são contratadas por profissionais para atraírem
pacientes que as acompanham, despertando um interminável desejo pela mudança
corporal, na maioria das vezes com promessas “irreais”.
Segundo a Associação Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS- Internacional
Society of Aesthetic Plastic Surgery), conforme representado na Figura 1 e na Figura 2, houve um aumento de 19,3% no total de procedimentos
realizados em comparação com 2020. Mais de 12,8 milhões de cirurgias e mais de
17,5 milhões de procedimentos estéticos foram realizados no mundo em 2021, sendo
a lipoaspiração e, em seguida, o aumento primário da mama (colocação de
implantes e retiradas de pele) os procedimentos mais realizados5.
Figura 1 - Cirurgias plásticas mais realizadas no mundo em 2021.
Figura 1 - Cirurgias plásticas mais realizadas no mundo em 2021.
Figura 2 - Cirurgias plásticas mais realizadas no Brasil em 2021.
Figura 2 - Cirurgias plásticas mais realizadas no Brasil em 2021.
No Brasil as 5 cirurgias mais realizadas foram: 1 - Lipoaspiração, 2 - Aumentos
primários da mama; 3 - Blefaroplastia, 4 - Abdominoplastia e 5 - Mastopexia. No
total foram mais de um milhão e seiscentos mil procedimentos de cirurgia
plástica realizados.
Silva et al.6 citam que “os padrões de
beleza impostos diariamente nas mídias pelas celebridades levam à incansável
busca em atingir a utópica ideia da imagem perfeita, fato que resulta em um
grande desafio ao médico para entender a percepção do paciente sobre si e quais
as repercussões psicológicas dessa projeção. A insatisfação corporal pode causar
angústia levando a condições mentais estressantes, desencadeando comportamentos
autodestrutivos para alcançar imagem adequada e ser aceito na sociedade, bem
como baixa autoestima e quadros de depressão e ansiedade. A comparação do corpo
com outras pessoas do mesmo ambiente ou com padrões estabelecidos pela sociedade
pode exacerbar esses transtornos”.
Grande parte das influencers digitais e blogueiras despertam na
sociedade a fantasia pela procura por procedimentos de cosmiatria, cirurgia
plástica estética ao mostrarem em suas plataformas digitais realidades que, na
maioria das vezes, contrariam processos naturais da vida, como se fossem uma
mudança no passe de mágica. As postagens de fotos que mostram curvaturas
corporais perfeitas, peles perfeitas, pósoperatório imediato de cirurgias “como
fosse uma capa de revista”, causando um imenso desejo nas pessoas de ficarem
parecidas com aquele corpo mostrado a todo momento.
O papel da mídia na cirurgia plástica: potencializando o pré e pós-operatório
como ferramentas comerciais
A cirurgia plástica contemporânea é um campo dinâmico e em constante evolução,
impulsionado por avanços tecnológicos, demandas estéticas da sociedade e,
notavelmente, pela influência crescente da mídia. A interseção entre a cirurgia
plástica e a mídia tem desempenhado um papel significativo na modelagem das
percepções e expectativas dos pacientes, bem como na comercialização dos
procedimentos cirúrgicos. Esta integração tem sido cada vez mais evidente na
ênfase dada à divulgação dos resultados pré e pós- operatórios, destacando a
promessa de transformação estética e melhorias na qualidade de vida.
No contexto contemporâneo, a presença onipresente dos meios de comunicação social
e a proliferação de plataformas digitais criaram um cenário em que a
visibilidade e a acessibilidade à informação sobre cirurgia plástica atingiram
níveis sem precedentes. Os pacientes em potencial são expostos a uma infinidade
de imagens e testemunhos que destacam os benefícios percebidos dos procedimentos
estéticos, muitas vezes retratando resultados dramáticos e transformações
impressionantes. Essa exposição constante alimenta uma expectativa crescente em
relação à capacidade da cirurgia plástica de alcançar resultados ideais,
moldando as percepções individuais de beleza e autoimagem.
A promoção desses procedimentos como uma solução rápida e eficaz para correção de
imperfeições físicas ou para aprimoramento estético tem impulsionado ainda mais
a demanda por serviços de cirurgia plástica.
Nesta era digital, a mídia desempenha um papel crucial na construção da imagem e
reputação de profissionais de cirurgia plástica, influenciando diretamente sua
base de pacientes e sucesso financeiro. Estratégias de marketing voltadas para a
divulgação de resultados impressionantes e experiências positivas dos pacientes
são frequentemente empregadas para atrair novos clientes e estabelecer uma
vantagem competitiva no mercado.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é investigar a influência dos conteúdos constantemente
expostos nas mídias sociais, especialmente aqueles relacionados à beleza e
procedimentos de cosmiatria, na decisão de indivíduos em submeter-se à cirurgia
plástica. Além disso, busca-se avaliar as variáveis que podem afetar a escolha do
profissional e compreender as expectativas das pacientes em relação à obtenção de
resultados, considerando sua percepção e objetivos em relação à imagem corporal.
MÉTODO
O presente estudo adotou uma abordagem quantitativa, utilizando uma amostra composta
por 62 pacientes de ambos os sexos, com idades variando entre 22 e 61 anos, todos
residentes no estado de São Paulo. Esses pacientes foram selecionados com base em
critérios específicos de inclusão e exclusão e já haviam passado por procedimentos
de cirurgia plástica e/ou estavam planejando submeter-se a procedimentos de cirurgia
plástica e cosmiatria.
É importante ressaltar que a coleta de dados e análises foram realizadas durante um
período de pandemia, caracterizado por mudanças significativas no comportamento da
sociedade e nas práticas médicas. A pandemia de COVID- 19, com suas restrições de
mobilidade, medidas de distanciamento social e impacto nos serviços de saúde, pode
ter influenciado as percepções e decisões dos pacientes em relação à cirurgia
plástica.
Nesse contexto, é necessário considerar que as circunstâncias excepcionais impostas
pela pandemia podem ter modificado as motivações, preocupações e expectativas dos
pacientes em relação aos procedimentos de cirurgia plástica. Portanto, os resultados
obtidos neste estudo devem ser interpretados levando-se em conta o contexto
pandêmico em que foram coletados, reconhecendo-se a possível influência desse
período extraordinário nas respostas e comportamentos dos participantes.
A seleção dos pacientes foi condicionada aos seguintes critérios de inclusão
pacientes que já se submeteram a um procedimento de cirurgia plástica ou ainda se
submeterão, com idade superior a 18 anos. Foram excluídos pacientes menores de 18
anos.
Os pacientes que operaram passaram por avaliação e acompanhamento psicológico em todo
o processo cirúrgico, e os pacientes que ainda não se submeteram a cirurgia, estão
passando pelo acompanhamento psicológico no pré-operatório.
Alguns pacientes do estudo já fizeram cirurgias com outros cirurgiões plásticos e
recorreram a equipe para submeterem a uma nova cirurgia por diversas queixas que
serão explicitadas durante o artigo.
Os pacientes foram convidados a participarem do estudo, tendo recebido em mãos o
questionário “A influência das mídias sociais na cirurgia plástica”, contendo 20
perguntas questionando:
Se o paciente já passou por procedimento cirúrgica estética, quais recursos
utilizados para procurar cirurgião (Instagram, grupos de WhatsApp com fotos
de antes e depois;
A avaliação de comentários positivos pelo Google, indicação de outra
paciente, qual conteúdo gera mais confiança na escolha do profissional;
Se as experiências de outros pacientes com a cirurgia plástica, ou conhecer
alguém ou ver fotos de resultados e fotos de antes e depois influencia na
sua escolha;
Os resultados de cirurgia plástica em influencers digitais
interferem na escolha do profissional, pessoas famosas, geradores de
conteúdo ou pessoas próximas;
Se a mídia influencia a procurar procedimentos estéticos, se as fotos
apresentadas causam expectativa para o resultado da cirurgia que será
realizada.
RESULTADOS
Nesse estudo foram incluídos 62 pacientes, sendo 60 mulheres (96,8%) e 2 homens
(3,2%), com idade variando entre 22 e 61 anos. Desses, 65,8% já haviam se submetido
aos procedimentos de cirurgia plástica e cosmiatria, e 34,2% ainda passariam pelos
procedimentos.
Considerando os recursos utilizados pelos pacientes na procura por um cirurgião
plástico, 29 pacientes (48,33%) responderam que foi por indicação de outros
pacientes, 12 pacientes (20,0%) consultaram o site da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Plástica, 9 pacientes (15,0%) afirmam ser por influência de grupos de
WhatsApp e grupos de fotos de resultados de antes e depois, enquanto 7 dos pacientes
(11,67%) buscam resultados pelo Instagram e somente 5 pacientes (8,33%) checam
avaliações e comentários positivos do Doctorlaria, como mostrado na Figura 3.
Figura 3 - Recursos utilizados na procura do cirurgião plástico.
Figura 3 - Recursos utilizados na procura do cirurgião plástico.
Sobre a influência das mídias em relação à procura por cirurgias plásticas,
relacionada às postagens de fotos com resultados de procedimentos e/ou fotos de
antes e depois nos pacientes que compuseram a amostra, 27 (43,5%) disseram que as
fotos influenciam de 61 a 100%. Na porcentagem de influência, 12 pacientes (19,35%)
se sentem de 31 a 60% influenciados, 7 pacientes (11,29%) de 11 a 30%, enquanto os
demais 16 pacientes (25,8%) se dividem em dois grupos igualitários nos quais a mídia
tem uma influência de 0% e 1 a 10%, respectivamente (Figura 4).
Figura 4 - Influência de fotos de resultado e fotos de antes e depois pela
procura por cirurgia plástica.
Figura 4 - Influência de fotos de resultado e fotos de antes e depois pela
procura por cirurgia plástica.
Questionados sobre a motivação para a realização de um procedimento de cirurgia
plástica, 43 pacientes (69,4%) responderam que se sentem mais motivados ao ver fotos
de resultados de antes e depois de procedimentos, enquanto 19 pacientes (30,6%)
responderam que se sentem indiferentes. Entretanto, quando indagada a hipótese de
as
fotos de resultados de cirurgia plástica serem modificadas por Photoshop ou outros
meios, 57 pacientes (91,9%) disseram que não operariam e 5 pacientes (8,1%) disseram
que mesmo assim operariam com o profissional (Quadro 1).
Quadro 1 - Fotos de resultados de cirurgia plástica e as modificações feitas por
Photoshop.
Fotos de resultados e
fotos de antes e depois na cirurgia plástica
|
Ao ver fotos de antes e depois nas
redes sociais
|
Se soubessem que as fotos de antes
e depois foram modificadas por Photoshop, luzes e outros meios de
modificação.
|
Mais motivados (as) em
realizarem o procedimento
|
Se sentem
indiferentes
|
Operariam mesmo
assim
|
Não operariam |
N |
% |
N |
% |
N |
% |
N |
% |
43 |
69,4% |
19 |
30,6% |
5 |
8,1% |
57 |
91,9% |
Quadro 1 - Fotos de resultados de cirurgia plástica e as modificações feitas por
Photoshop.
Sobre os grupos de cirurgia plástica e sua influência na escolha do profissional
especialista em cirurgia plástica, 14 pacientes (45,2%) responderam que os grupos
influenciam 61 a 100%, 14 pacientes (22,6%) responderam que a mídia influencia 31
a
60%, 9 pacientes (14,5%) responderam que os grupos influenciam 11 a 30%, 5 pacientes
(8,1%) responderam que os grupos de cirurgia plástica influenciam 1 a 10%, e 6
pacientes (9,7%) responderam que os grupos de cirurgia plástica não influenciam suas
decisões pela escolha do cirurgião plástico (Quadro 2).
Quadro 2 - Influência de grupos de cirurgia plástica pela escolha do cirurgião
plástico.
Influência de
pacientes (desconhecidos) e grupos de cirurgia plástica interfere na
escolha do cirurgião plástico
|
Influência de grupos de cirurgia plástica em porcentagem |
Quantidade de pacientes em números que responderam |
Quantidade de pacientes em porcentagem |
0% |
6 |
9,7% |
1 a
10%
|
5 |
8,1% |
11 a 30% |
9 |
14,5% |
31 to
60%
|
14 |
22,6% |
61 to 100% |
28 |
45,2% |
Quadro 2 - Influência de grupos de cirurgia plástica pela escolha do cirurgião
plástico.
Acerca das perguntas relacionadas sobre a ausência de fotos de antes e depois, bem
como a falta de indicação de determinado profissional por alguém próximo, 41
pacientes (66,1%) disseram que não operariam, 17 pacientes (27,4%) realizariam a
cirurgia, e 4 pacientes (6,5%) operariam, mas dependeria do valor que fosse cobrado
pelo cirurgião plástico (Figura 5).
Figura 5 - Ausência comentários e fotos de antes e depois de pacientes.
Figura 5 - Ausência comentários e fotos de antes e depois de pacientes.
Nas respostas relacionadas ao resultado final da cirurgia plástica, se seriam
atingidas 100% após a escolha do cirurgião plástico, 39 pacientes (62,9%) disseram
que não, e 23 pacientes (37,7%) disseram que o resultado da cirurgia será alcançado
100% (Figura 6).
Figura 6 - Resultado da cirurgia será alcançado em 100%.
Figura 6 - Resultado da cirurgia será alcançado em 100%.
DISCUSSÃO
O Conselho Federal de Medicina recentemente publicou a Resolução CFM 2336/23, que
trata dos assuntos da publicidade médica, proporcionando aos médicos maior liberdade
na apresentação de suas práticas profissionais7. No entanto, é essencial salientar que essa liberdade não se restringe
apenas à exposição dos resultados positivos; é fundamental que qualquer divulgação
de resultados seja acompanhada pela exposição das possíveis complicações e riscos
inerentes aos procedimentos realizados.
Quando se trata da divulgação de fotos, é imperativo que estas não apenas evidenciem
os resultados visuais, mas também forneçam informações sobre as consequências,
riscos e benefícios associados ao procedimento em questão, considerando diferentes
perfis de pacientes, faixas etárias e as possíveis alterações resultantes da
intervenção. A mudança na legislação reflete a crescente responsabilidade dos
profissionais de saúde em fornecer uma representação completa e transparente de seus
procedimentos, destacando não apenas os resultados estéticos, mas também os aspectos
relacionados à segurança e aos possíveis benefícios percebidos pelos pacientes.
Portanto, a flexibilidade concedida pela nova legislação requer uma abordagem
responsável por parte dos médicos, que devem garantir que suas divulgações sejam
éticas e informativas, fornecendo uma visão abrangente e equilibrada dos
procedimentos realizados, levando em consideração a diversidade étnica e as
particularidades de cada grupo demográfico atendido.
Os resultados do estudo mostram que a mídia exerce um importante papel na escolha
do
cirurgião plástico, principalmente quando o sucesso dos procedimentos de cirurgia
plástica e cosmiatria é demonstrado através de fotos de antes e depois. No entanto,
é paradoxal notar que, apesar dessa influência, os pacientes entrevistados
expressaram relutância em procedimentos cujas fotos pós-operatórias foram claramente
manipuladas pelo Photoshop. Esse fenômeno sugere que as imagens de antes e depois
não são apenas uma representação visual dos resultados esperados, mas também
desempenham um papel importante na construção das expectativas dos pacientes e na
formação de um ideal de beleza a ser alcançado.
Entretanto, é crucial observar que a decisão pela cirurgia plástica não é determinada
exclusivamente pela mídia. Opiniões de pessoas próximas, experiências compartilhadas
por aqueles que já passaram pelo procedimento e o apoio social desempenham um papel
significativo na formação da decisão dos pacientes.
O fenômeno observado, relacionado ao impacto das imagens de resultados e fotos de
antes e depois na cirurgia plástica, pode ser explicado pela criação de expectativas
elevadas nos pacientes. Essas expectativas, quando não alcançadas, podem levar a
sentimento de frustração e afetar negativamente a autoestima.
A padronização de ideais de beleza veiculados pela mídia pode contribuir para a
internalização desses padrões e, consequentemente, para a insatisfação corporal em
determinadas populações.
Algumas psicopatologias, como o dismorfismo corporal, podem aumentar a insatisfação
com o procedimento cirúrgico. Mesmo atingindo um ótimo resultado, pacientes que
vivem com essa psicopatologia são incapazes de enxergar o resultado satisfatório com
o procedimento proposto. Pode ser essa a explicação para o fato de 62,9% dos
pacientes que compuseram a mostra afirmarem que teriam dúvida de atingir os 100% do
resultado final.
CONCLUSÃO
Gonzaga & Araújo8 ressaltam que cada
indivíduo é único, com o corpo sendo composto por duas metades desiguais. Sendo
assim, “predeterminar certos resultados diante desta vedação natural do organismo
humano da assimetria corporal seria atentar contra a própria natureza humana”8.
A medicina não é uma ciência exata, cada organismo reage de maneira individualizada
e
personalíssima, não existe possibilidade em prever matematicamente um resultado para
toda e qualquer prática cirúrgica, pois não se pode dar garantias de resultados
devido às imprevisibilidades que podem ocorrer no pós-operatório.
O Código de Defesa do Consumidor (CDC)9,
instituído pela Lei nº 8.078/1990, é uma legislação que estabelece os direitos dos
consumidores e as responsabilidades dos fornecedores. O artigo 30 trata das
obrigações e responsabilidades de quem veicula informação ou publicidade e o artigo
37, nos itens 1 a 3, proíbe de forma clara a publicidade enganosa ou abusiva.
Muitos dos profissionais, hoje, exibem fotos de resultados de cirurgia plástica que
foram manipuladas pela mídia, além de não explicarem aos pacientes sobre as
possíveis complicações, como inchaços, equimoses, tempo de cicatrização e assimetria
corporal, bem como a relação que o resultado dos procedimentos têm com os hábitos
de
vida do paciente.
Segundo Kataoka et al., “o efeito ‘mídia’ gera expectativas às vezes ‘surreais’ ou
mesmo sublimação de resultados”.4. A cirurgia
plástica é uma especialidade médica que desempenha um papel fundamental na
transformação estética e psicológica de muitos indivíduos. Seja para corrigir
imperfeições físicas, restaurar a função de partes do corpo ou melhorar a
autoestima, a cirurgia plástica oferece uma solução confiável e segura. No entanto,
é importante ressaltar a necessidade de uma abordagem ética, com o objetivo de
garantir o bem-estar dos pacientes e a excelência na prática médica.
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estéticos de acordo com a bioética principialista. Rev Bioét. 2015;23(3):524-34.
DOI: https://doi.org/10.1590/1983-80422015233089
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adolescentes atribuem aos padrões de estética e idealização do corpo [Trabalho
de Conclusão de Curso]. Palhoça: UNISUL; 2018.
3. Souza JC, Lopes LHB, Souza VCRP. A Dimensão do Belo no Tempo. Rev
Psicol Saúde. 2018;10(3):87-94.
4. Kataoka A, Lage RR, Mendes CCS, Soares NG. O Transtorno Dismórfico
Corporal e a influência da mídia na procura por cirurgia plástica: a importância
da avaliação adequada. Rev Bras Cir Plást. 2023;38(1):e0645.
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Survey 2021. Mount Royal: ISAPS; 2022. Disponível em: https://www.isaps.org/discover/about-isaps/global-statistics/reports-and-press-releases/global-survey-2022-full-report-and-press-releases/
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7. Brasil. Conselho Federal de Medicina. Resolução CFM Nº 2.336/2023.
Brasília: Conselho Federal de Medicina; 2023 [citado 13 set 2023]. Disponível
em: http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2023/2336_2023.pdf
8. Gonzaga AA, Araújo LA. Igualdade: fundamentos filosóficos. In:
Campilongo CF, Gonzaga AA, Freire AL, coords. Enciclopédia jurídica da PUC-SP.
Balera W, Lima CAS, coords. Tomo: Direitos Humanos. 1ª ed. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo; 2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/536/edicao-1/igualdade:-fundamentos-filosoficos
9. PROCON. Código de Proteção e Defesa do Consumidor. São Paulo:
Instituto de Defesa do Consumidor - PROCON/SP; 2023.
1. Hospital Ruben Berta, São Paulo, SP,
Brasil
2. Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais,
Hospital João XXIII, Belo Horizonte, MG, Brasil
Autor correspondente: Alexandre
Kataoka Av. Antártico, 381, Cj. 108, Jardim do Mar, São Bernardo do
Campo, SIP Brasil, CEP: 09726-150, E-mail:
drkataoka@hotmail.com
Artigo submetido: 29/07/2023.
Artigo aceito: 30/04/2024.
Conflitos de interesse: não há.
Instituição: Hospital Ruben Berta, São Paulo, SP Brasil.