INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo biológico que resulta em diversas modificações
anatomofuncionais no organismo humano. Neste contexto, a região dos olhos é
essencial para garantir uma harmonia facial, além de ser um importante meio de
comunicação social, constituindo-se como o componente estético-funcional mais
importante da face, sendo que quaisquer alterações nessa região podem acarretar
o
comprometimento de tais funções1.
Neste sentido, uma das manifestações clínicas mais frequentes derivadas do processo
natural do envelhecimento é a ptose palpebral2, que acomete majoritariamente a pálpebra superior e que pode
ter outras etiologias além do envelhecimento, como fatores neurogênicos, miogênicos,
traumáticos ou até mesmo congênitos3. Como consequência, a ptose palpebral traz ao paciente uma
redução da campimetria e qualidade visual, aumento da incidência de entrópio
(condição que facilita o contato dos cílios com a conjuntiva ocular, predispondo
infecções) e declínio da autoestima, contribuindo significativamente para a redução
da qualidade de vida1.
Neste contexto, surge a blefaroplastia, procedimento cirúrgico que tem como
finalidade a correção de qualquer anormalidade funcional ou estética existente
nas
pálpebras, realizada em sua maioria por médicos cirurgiões plásticos e
oftalmologistas1. Devido à
sua notória importância, o Sistema Único de Saúde (SUS) garante aos cidadãos o
direito de realizar cirurgias plásticas reparadoras, especialmente quando há
prejuízo funcional parcial ou total e não há outras alternativas de tratamento
a não
ser a cirúrgica. Deste modo, é garantido aos pacientes a cirurgia de blefaroplastia
pelo SUS quando comprovados os declínios funcionais descritos acima4.
Nesta perspectiva, foi realizada a presente revisão de escopo, com o intuito de
elucidar e fundamentar qual é realmente a cobertura do atendimento dos pacientes
com
necessidade de blefaroplastia no SUS, assim como a abrangência de seu impacto
na
qualidade de vida dos pacientes.
OBJETIVO
Portanto, o objetivo principal desta revisão de escopo foi mapear sistematicamente
as
pesquisas disponíveis sobre o tema proposto, além de delimitar as lacunas
remanescentes no estudo da área. Para tal fim, foram formuladas as seguintes
questões de pesquisa: O que se sabe sobre o impacto da blefaroplastia superior
na
qualidade de vida? Qual é sua abrangência no sistema único de saúde?
MÉTODO
Este estudo trata-se de uma revisão de escopo norteada pelas referências e princípios
propostos pelo Joanna Briggs Institute (JBI) e Preferred
Reporting Items for Systematic Review and MetaAnalyses extension for Scoping
Review (PRISMA- ScR)5,6, visando a busca de informações
disponíveis, assim como a identificação de lacunas remanescentes do assunto abordado
por meio do seguimento das etapas: formulação dos objetivos e da questões de
pesquisa (“O que se sabe na literatura sobre o impacto da blefaroplastia na
qualidade de vida e sua abrangência no SUS?”; estruturação da questão de pesquisa
por meio do acrônimo PCC - População: indivíduos submetidos a
blefaroplastia / Conceito: qualidade de vida / Contexto:
cirurgia de blefaroplastia, SUS); elaboração dos critérios de exclusão e inclusão;
desenvolvimento da estratégia de busca; busca e seleção de estudos; mapeamento
de
dados e síntese dos resultados.
Critérios de Elegibilidade
Para seleção dos estudos, foram utilizados os seguintes critérios: estudos
publicados de 2017 a 2022, que abordassem a qualidade de vida, funcionalidade,
satisfação do paciente após a blefaroplastia superior, realizada como primeira
intervenção, estando eles nos idiomas inglês, português e espanhol, com a
aplicação do filtro “nos últimos 5 anos”. Foram incluídos estudos quantitativos,
qualitativos e mistos, visando a ampla compreensão do tema.
Fontes de Informação
O levantamento bibliográfico ocorreu no período de março a junho de 2022, a
partir de buscas nas bases de dados eletrônicas Medline, BVS, Periódicos Capes,
SciELO e LILACS. Além da busca em periódicos, foram coletados dados de sites
oficiais do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Plástica.
Os resultados obtidos foram exportados para o EndNote para exclusão de artigos
repetidos. A estratégia de busca utilizada ocorreu por meio dos descritores
presentes no MeSH (Medical Subject Headings) e DeCS
(Descritores em Ciências da Saúde): “Blepharoplasty”, “Quality of Life”, “Visual
Field Tests”, “Patient Satisfaction” e “Sistema Único de Saúde”.
Esses descritores foram combinados por meio do uso dos operadores booleanos OR e
AND, que foram empregados nas bases de dados de maneira expressa no Quadro 1.
Quadro 1 - Estratégia de busca utilizada.
Bases de
Dados/ Bibliotecas/ Buscadores/ Literatura Cinzenta
|
Estratégias de
Busca
|
PubMed, BVS,
Periódicos Capes, LILACS, SciELO, Cochrane.
|
((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”)) AND ((Quality of
life)) ((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”)) AND
((Visual field test)) ((“Blepharoplasty” OR “Eyelid
surgery”)) AND ((Patient satisfaction OR
satisfaction)) ((“Blepharoplasty” OR “Eyelid surgery”))
AND ((Patient satisfaction)) AND ((Quality of life)) AND
((Visual field test))
|
Quadro 1 - Estratégia de busca utilizada.
Com o objetivo de aumentar a consistência da pesquisa, todos os artigos
encontrados nas bases de dados descritas foram selecionados em conjunto pelos
pesquisadores, seguindo a ordem título, resumos e, finalmente, texto completo,
para que, ao final, mediante discussão entre os avaliadores, fossem
classificados em consenso somente os estudos que contribuíssem para a resposta
das questões da pesquisa.
A primeira busca, selecionando artigos a partir do título, totalizou 323 artigos
escolhidos. Depois que as duplicatas foram removidas (130), 193 citações ficaram
remanescentes. Após essa etapa, foi lido o resumo dos artigos em questão,
restando então 113 estudos. Por fim, após a leitura do texto completo, levando
em consideração os critérios de elegibilidade, tivemos 19 artigos elegíveis para
esta revisão de escopo. Dos 94 estudos excluídos, 81 não discorriam ou
discorriam muito superficialmente sobre o impacto da blefaroplastia na qualidade
de vida dos pacientes e 13 tratavam apenas da blefaroplastia inferior. Dados
expressos na Figura 1.
Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos estudos.
Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos estudos.
RESULTADOS
O título, autor, ano, periódico, objetivos, desenho do estudo, métodos e resultados
dos estudos em relação às questões da pesquisa estão apresentados no Quadro 2.
Quadro 2 - Descrição dos estudos incluídos.
Título |
Autores, Ano e
Periódico
|
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade
|
Métodos |
Resultado |
The Effect of
Blepharoplasty on Our Patient’s Quality of Life, Emotional
Stability, and Self-Esteem7 |
Papadoulos et al., 2019
The Journal of Craniofacial Surgery
|
Determinar se a
blefaroplastia afeta qualidade de vida, satisfação, estabilidade
emocional e autoestima
|
Estudo
retrospectivo com pacientes submetidos à blefaroplastia transdérmica
entre 1995 e 2008
|
46 pacientes
(idade de 38-75 anos)
|
Aplicação de
questionário de desenvolvimento próprio para a bleafaroplastia, além
do Statistically significant increased values in quality of life
(FLZM), Freiburg Personality Inventory (FPI-R-L) e Rosenberg
Self-Esteem (RSES).
|
Melhora da
qualidade de vida nos aspectos: trabalho, mobilidade e
independência. Aumento da autoestima
|
Association on of Upper Eyelid Ptosis Repair and
Blepharoplasty With Headache-Related Quality of
Life8 |
Bahceci Simsek, 2017
JAMA Facial Plast Surgery
|
Avaliar as mudanças na qualidade de vida relacionada
à cefaleia em pacientes submetidos a blefaroplastia superior
|
Estudo coorte prospectivo |
108 pacientes submetidos a blefaroplastia e 44
pacientes submetidos a correção de ptose (idade de 45-49 anos)
|
Aplicação do questionário Headache Impact Teste-6
(HIT) no pré e pós-operatório para pacientes com cefaleia
tensional.
|
Aumento da pontuação Headache Impact Teste-6 (HIT)
nos dois grupos pesquisados (reparação de ptose e blefaroplastia
superior)
|
Upper eyelid
blepharoplasty using Plasma exeresis: Evaluation of outcomes,
satisfaction and symptoms after procedure9 |
Ferreira et al., 2021
Journal of Cosmetic Dermatology
|
Avaliar satisfação
do paciente e sintomas depois da blefaroplastia superior usando a
tecnologia plasma
|
Estudo
observacional com pacientes que realizaram blefaroplastia superior
usando plasma para tratar dermatocálas
|
16 pacientes
(idade média 50,5 anos)
|
Avaliação de
qualidade de vida, sintomas e satisfação usando dois questionários
no dia 7 e 30 após o procedimento
|
Alto nível de
satisfação, porém baixo impacto na qualidade de vida no dia
|
Functional benefits and patient satisfaction with upper
blepharoplasty - evaluated by objective and subjective outcome
measures10 |
Jacobsen et al., 2017
Acta Ophthalmology
|
Investigar resultados funcionais e satisfação do
paciente na blefaroplastia superior
|
Estudo coorte observacional |
45 pacientes (idade média 56,9 anos) |
Análise pré e pós-operatória da capacidade visual no
paciente, juntamente com questionário para avaliar o impacto
funcional e psicossocial da pálpebra
|
Aumento no campo visual superior em 31,3% do lado
direito e 28,3% do lado esquerdo. Todos os pacientes ficaram
satisfeitos com o resultado pós-operatório e se submeteriam
novamente a cirurgia
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
Measuring
satisfaction with appearance: Validation of the FACE-Q scales
(ferramenta de resultados relatados pelo paciente (PRO) composta por
várias escalas e listas de verificação com funcionamento
independente, projetadas para medir os resultados) for double-eyelid
blepharoplasty with minor incision in young Asiansretrospective
study of 200 cases11 |
Chen et al., 2017
Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic
Surgery
|
Usar um
questionário validado FACE-Q (ferramenta de resultados relatados
pelo paciente (PRO) composta por várias escalas e listas de
verificação com funcionamento independente, projetadas para medir os
resultados) para avaliar a satisfação relatada pelo paciente após
blefaroplastia dupla com pequena incisão
|
Estudo
retrospectivo com pacientes submetidos à blefaroplastia dupla entre
2012 e 2014
|
200 pacientes
(idade de 21-30 anos)
|
Aplicação do
questionário FACE-Q (ferramenta de resultados relatados pelo
paciente (PRO) composta por várias escalas e listas de verificação
com funcionamento independente, projetadas para medir os resultados)
anonimamente por e-mail
|
Alto nível de
satisfação com a aparência do olho no geral e aumento na qualidade
de vida, incluindo confiança e bem-estar
|
Functional outcomes of upper eyelid blepharoplasty: A
systematic review12 |
Hollander et al., 2019
Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic
Surgery
|
Revisar a literatura para avaliar o benefício
funcional objetivo e subjetivo da blefaroplastia superior
|
Revisão sistemática |
3525 estudos |
Busca sistemática em 4 bases de dados (Pubmed,
Embase, Cinahl e Cochrane)
|
28 estudos foram incluídos e mostraram aumento do
campo de visão, aumento da qualidade de vida por diminuição da
cefaleia e melhora da visão e diminuição da sensibilidade das
pálpebras. Resultados para altura da sobrancelha, astigmatismo,
sensibilidade ao contraste e cinemática da pálpebra não foram
consistentes.
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
Investigation of
Goldmann perimetry in evaluation of patients for upper eyelid
blepharoplasty13 |
Pemberton et al.,
2018
Orbit
|
Determinar se o
Goldman Visual Teste (GVT) pré-operatório testado em pacientes com
dermatocálase funcional descreve o resultado do campo visual
superior no pós-operatório
|
Estudo coorte
prospectivo
|
23 pacientes
(média de idade 67 anos)
|
Obtenção do
Goldman Visual Teste (GVT) pré-operatório com as pálpebras na
posição natural e no pós-operatório e posterior análise para
determinar se o teste pré-operatório prediz com precisão a melhora
do campo visual
|
O teste
pré-operatório subestimou o resultado pós-operatório em uma média de
35%, portanto, a melhora pós-operatória no campo visual é
normalmente maior após a blefaroplastia do que o Goldman Visual
Teste (GVT) prediz
|
Objective quantification of the impact of
blepharoplasty on the superior visual field14 |
Kim et al., 2022
Archives of Plastic Surgery
|
Analisar o campo visual antes e após a cirurgia e
investigar se as medidas do campo visual podem ser aplicadas como um
preditor adequado de resultados cirúrgicos
|
Estudo prospectivo |
9 pacientes (média de idade de 59,66 anos) |
Participaram 9 pacientes com pseudoptose submetidos a
blefaroplastia. Os campos visuais foram analisados no pré-operatório
e 3 meses de pós-operatório com o Goldmann teste de
perimetria cinética
|
A blefaroplastia teve um efeito benéfico médio de
4,99 vezes no campo de visão superior. Houve forte correlação entre
o campo visual superior pré-operatório e o resultado cirúrgico.
|
Assessment of
Patient Satisfaction With Appearance, Psychological Well-being, and
Aging Appraisal After Upper Blepharoplasty: A Multicenter
Prospective Cohort Study15 |
Domela Nieuwenhuis
et al., 2022
Aesthetic Surgery Journal
|
Avaliar a
satisfação relatada pelo paciente com a aparência facial, bem-estar
psicológico e avaliação do envelhecimento após blefaroplastia
superior com questionários validados
|
Estudo coorte
prospectivo
|
2134 pacientes
idosos
|
Foram incluídos
pacientes de blefaroplastia superior de 8 ambulatórios. A satisfação
relatada pelo paciente foi avaliada com o FACE-Q na admissão e 6 e
12 meses de pós-operatório
|
Grandes melhorias
nas pontuações do FACE-Q entre a admissão e 6 meses de
pós-operatório foram observadas para satisfação com a aparência,
bem-estar psicológico e avaliação do envelhecimento. A satisfação
com o resultado do tratamento foi fortemente correlacionada com a
satisfação com a aparência, mas não com a avaliação do
envelhecimento.
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
Patient-reported outcome measurement in upper
blepharoplasty: How to measure what the patient sees 16 |
Herruer et al., 2018
Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic
Surgery
|
Pesquisar sobre o resultado da blefaroplastia em
termos de satisfação e qualidade de vida, bem como determinar uma
recomendação sobre quais ferramentas de avaliação devem ser
usadas
|
Estudo prospectivo |
56 pacientes (36 completaram todos os questionários,
(média de idade de 55 anos)
|
Os pacientes submetidos à blefaroplastia preencheram
questionários BOE Blepharoplasty outcome evaluation (BOE) e
Derriford appearance scale 59 (DAS59) no pré-operatório e em 3-6
meses de pós-operatório. Escalas visuais analógicas (EVA) também
foram utilizadas no pré e pós-operatório e o Inventário de
Benefícios de Glasgow (GBI) foi utilizado no pós-operatório.
|
Tanto a satisfação com os olhos, quanto a autoestima
melhoraram significativamente. Os pacientes relataram benefícios
significativos depois do procedimento.
|
Effects of Upper
Eyelid Blepharoplasty on Contrast Sensitivity in Dermatochalasis
Patients1
7 |
Nalci et al., 2020
Turkish Journal of Ophthalmology
|
Avaliar o impacto
da blefaroplastia da pálpebra superior na sensibilidade ao contraste
em pacientes com dermatocálase
|
Estudo
prospectivo
|
34 pacientes
(média de idade de 59,66 anos)
|
Avaliou-se no
pré-operatório e no pós-operatório a melhor acuidade visual
corrigida, exame oftalmológico, exame de pálpebras, ptose dos
cílios, sensibilidade ao contraste, parâmetros ceratométricos e
aberrações corneanas de 34 olhos de pacientes submetidos à
blefaroplastia superior por dermatocálase entre os anos 2014 e 2018
|
A sensibilidade ao
contraste aumenta significativamente após a blefaroplastia superior,
especialmente em frequências espaciais mais altas. A blefaroplastia
pode ter indicações funcionais adicionais para pacientes idosos com
dermatocálase em termos de melhora das funções como realização de
tarefas diárias e leitura.
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
A practical technique combining orbicularis oculi
muscle resection-based epicanthoplasty and orbicularis-tarsus
fixation double-eyelid plasty for cosmetic blepharoplasty18 |
Sun et al., 2019
Journal of Plastic, Reconstructive & Aestethic
Surgery
|
Descrever uma técnica que combina a epicantoplastia
baseada na ressecção do músculo orbicular do olho e a plastia
palpebral dupla com fixação orbicular do tarso para blefaroplastia
cosmética e relatar os resultados cirúrgicos em um grande número de
pacientes chineses.
|
Estudo prospectivo |
475 pacientes com média de idade de 26 anos |
De janeiro de 2015 a fevereiro de 2019, 475 pacientes
foram submetidos à blefaroplastia de pálpebra dupla associada à
epicantoplastia com essa técnica. O período de seguimento variou de
2 a 38 meses, com média de 16 meses
|
97% dos pacientes ficaram satisfeitos com os
resultados cirúrgicos, apresentando pregas palpebrais bem definidas
e contorno do canto interno naturalmente melhorado, sem cicatriz
evidente. A análise fotográfica mostrou melhora significativa na
proporção da fissura palpebral no pós-operatório.
|
Surgical outcome and
patient satisfaction after Z-epicanthoplasty and
blepharoplasty19 |
Zhao et al., 2019
International Journal of Ophthalmology
|
Avaliar os
resultados cirúrgicos da Z-epicantoplastia modificada com
blefaroplastia que relatamos anteriormente da perspectiva do
paciente usando medidas de resultados relatados pelo paciente
(PROMs) e escores de satisfação do paciente.
|
Estudo
retrospectivo
|
180 pacientes
(média de idade de 24 anos)
|
180 pacientes
submetidos à cirurgia entre janeiro de 2013 e junho de 2016 foram
selecionados aleatoriamente. Formulários padronizados de satisfação
do paciente e questionários usando medidas de resultados relatados
pelo paciente (PROMs) validados foram enviados aos pacientes para
preenchimento.
|
A maioria dos
pacientes relatou bons ou excelentes resultados na análise de
medidas de resultados relatados pelo paciente (PROMs). Nas questões
relativas à função e aparência, 80,3% relataram satisfação com ambos
os domínios. A maioria dos pacientes relatou uma taxa de satisfação
alta ou muito alta para produzir uma pontuação média de 104 em 120
para a avaliação da satisfação do paciente
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
Factors Influencing Patient Satisfaction with Upper
Blepharoplasty in Elderly Patients20 |
Kim et al., 2021
Plastic and Reconstructive Surgery-Global Open
|
Pesquisar quais fatores influenciam a satisfação do
paciente idoso na blefaroplastia superior
|
Estudo prospectivo |
57 pacientes (mais de 65 anos de idade) |
Pacientes submetidos à blefaroplastia superior entre
abril de 2018 e março de 2019 que responderam um questionário
pré-operatório e após 6 meses, uma pesquisa de satisfação foi
realizada.
|
A verificação significativa dos coeficientes de
regressão mostrou que a melhora funcional e o grau cognitivo das
precauções pós-operatórias tiveram um efeito significativo na
satisfação do paciente, enquanto os resultados estéticos e as
expectativas de resultados cirúrgicos não foram correlacionados com
a satisfação do paciente.
|
Qualidade de vida e
autoestima em idosas submetidas e não submetidas à cirurgia
estética21 |
Spadoni-Pacheco e
Carvalho, 2018
Revista Brasileira de Cirurgia Plástica
|
Avaliar a
importância da cirurgia estética (CE) para o idoso, e se existe
diferença de qualidade de vida e autoestima entre idosas que se
submeteram e que não se submeteram à cirurgia estética.
|
Estudo
caso-controle
|
25 idosas que se
submeteram à cirurgia estética (CE) e 25 idosas que não fizeram CE
(média de idade de 67,26 anos).
|
Grupo-caso formado
por 25 idosas que se submeteram à cirurgia estética (CE) e o
grupo-controle por 25 idosas que não fizeram cirurgia estética (CE).
Os instrumentos aplicados foram: Minimental, questionário de
qualidade de vida (WHOQOL-BREF), escala de autoestima de Rosenberg e
um questionário elaborado para pesquisa de dados sociodemográficos,
motivação e satisfação com a cirurgia estética (CE).
|
Os motivos mais
escolhidos para a cirurgia foram o desconforto físico, o desejo de
melhoria da qualidade de vida (QV) e a insatisfação com a
autoimagem. Não foram encontradas idosas com baixa autoestima e o
nível de satisfação foi alto quando relacionado com a própria vida
ou a vida social. Não houve diferença de qualidade de vida (QV) e
autoestima entre os dois grupos analisados.
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
Assessment of self-esteem and psychological aspects in
patients undergoing upper blepharoplasty22 |
Gracitelli et al., 2017
Revista Brasileira de Oftalmologia
|
Avaliar os resultados de autoestima e qualidade de
vida em pacientes submetidos à blefaroplastia superior.
|
Estudo transversal |
49 indivíduos com diagnóstico de dermatocálase. |
A autoestima e a qualidade de vida de pacientes
submetidos à blefaroplastia superior foram comparadas com
voluntários da mesma idade. A avaliação pré-operatória incluiu
exames oftalmológicos e dois questionários: escala de autoestima de
Rosenberg (RSES) e avaliação de qualidade de vida da Organização
Mundial da Saúde (WHOQOL-BREF).
|
Indivíduos submetidos à blefaroplastia superior
apresentaram pior autoestima com base na escala de autoestima de
Rosenberg (RSES). Em relação à qualidade de vida, avaliada
pela avaliação de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde
(WHOQOL-BREF), foram evidentes diferenças significativas entre os
grupos na subescala aspectos psicológicos
|
The Bleph and the
Brain: The Effect of Upper Eyelid Surgery on Chronic
Headaches2
3 |
Mokhtarzadeh et
al., 2017
Ophthalmic Plastic & Reconstructive Surgery
|
Determinar o
efeito da cirurgia da pálpebra superior nos sintomas de
cefaleia
|
Estudo
caso-controle
|
47 pacientes
(idade de 58.7 a 60.7 anos)
|
Grupo caso e
controle preencheram um questionário de qualidade de vida pré e
pós-operatório Headache Impact Test-6. O estudo foi
realizado durante um período de 2 anos. Nem os pacientes nem
os investigadores do estudo foram mascarados.
|
As pontuações
pós-operatórias foram melhores no grupo caso em comparação com o
controle. Todas as perguntas do Headache Impact
Test-6 melhoraram significativamente no braço caso em
comparação com o controle. Subjetivamente, 25 dos 28 pacientes do
estudo e 4 dos 19 pacientes controle notaram alguma melhora nos
sintomas após a cirurgia.
|
Título |
Autores, Ano
e Periódico |
Objetivos |
Desenho |
Número de
participantes e idade |
Métodos |
Resultado |
Resultados funcionales de la blefaroplastia
superior2 |
Hernández Sánchez et al., 2021
Revista Cubana de Oftalmologia
|
Descrever os resultados funcionais da blefaroplastia
superior
|
Estudo longitudinal prospectivo |
99 pacientes (idade de 50-62 anos) |
Foi realizado um estudo descritivo longitudinal
prospectivo de pacientes diagnosticados com dermatocálase de
pálpebra superior, alguns associados à ptose palpebral e supercílio
no período de fevereiro do ano de 2019 até janeiro de 2020.
|
Em 98% dos casos intervencionados obteve-se a
correção total da dermatocálase da pálpebra superior, correção da
ptose em 86% e da sobrancelha em 88%. Não houve complicações
em 94% das pálpebras operadas. A complicação mais frequente foi
sangramento, com 2,5%.
|
Influence of upper
blepharoplasty on intraocular lens calculation2
4 |
Vola et al., 2021
Arquivo Brasileiro de Oftalmologia
|
Determinar o
efeito da blefaroplastia superior na topografia da córnea e no
cálculo do poder da lente intraocular usando Galilei e IOLMaster
(fórmula de Holladay).
|
Estudo de série de
casos
|
30 pacientes
(idade de 47,7 - 74,4 anos).
|
Pacientes
submetidos à blefaroplastia superior foram submetidos a sessões de
imagem com Galilei e IOLMaster (fórmula de Holladay) no
pré-operatório e em 1 e 6 meses de pós-operatório. A determinação do
comprimento axial e o cálculo da potência da lente foram realizados
usando apenas IOLMaster (fórmula de Holladay). Teste t pareado e
análise vetorial foram usados para análise estatística.
|
A análise vetorial
mostrou que 6 meses após a cirurgia, a blefaroplastia induziu em
média 0,39D e 0,31D de astigmatismo corneano, medido com Galilei e
IOLMaster (fórmula de Holladay). As medições do IOLMaster (fórmula
de Holladay) mostraram que a curvatura corneana média, curvatura
corneana mais acentuada e astigmatismo corneano foram maiores 6
meses após a cirurgia. Também mostraram que o poder da lente
intraocular foi significativamente menor 6 meses após a cirurgia.
|
Quadro 2 - Descrição dos estudos incluídos.
Dos estudos selecionados, apenas sete deles7-10,12,21,22 citaram ou avaliaram diretamente o
critério melhora na qualidade de vida; destes, cinco7,8,11,12,22 encontraram
aumento estatisticamente significativo da qualidade de vida após a blefaroplastia,
um não encontrou diferenças significativas21 e outro encontrou baixo impacto na qualidade de vida no
sétimo dia após a cirurgia9. A
idade dos indivíduos participantes desses estudos variou, tendo um artigo sem
especificação12, quatro
(57%) com pacientes de no mínimo 50 anos9,10,21,22, um
entre 45 e 49 anos8 e outro
abrangeu pacientes desde os 38 até os 75 anos de idade.
Seis estudos analisaram o resultado funcional da blefaroplastia superior2,10,13,14,17,24, critério este que foi considerado
pela presente revisão como possível fator contribuinte para a melhora na qualidade
de vida. Destes estudos, três encontraram aumento significativo no campo de visão
superior10,13,14, um
apontou aumento significativo da sensibilidade ao contraste17 após a cirurgia e, juntamente com
outro estudo24, demonstrou ótimos
níveis de correção da dermatocálase. Além disso, também foi encontrada indução
de
astigmatismo corneano e diminuição do poder da lente intraocular após a
blefaroplastia25. A
maioria das pesquisas foram feitas em pacientes com mais de 55 anos10,13,14,17,25 e apenas
um teve a idade variando entre 47,7 e 74,4 anos24. Em todos os estudos, a maioria dos pacientes eram do sexo
feminino.
Por fim, seis estudos11,15,16,18,20,23
avaliaram questões subjetivas que podem estar ligadas à melhora da qualidade de
vida, como a satisfação do paciente15,16,18,20, a
melhora da cefaleia23, o bem-estar
psicológico15 e
autoestima16. Todos eles
encontraram melhoras significativas nos respectivos critérios analisados, através
da
aplicação de questionários aos pacientes participantes.
A partir dos resultados aqui demonstrados, ficou claro que, salvo algumas
exceções9,21,24, a
blefaroplastia apresenta impacto positivo e significativo na vida dos pacientes
submetidos à cirurgia, seja por critérios funcionais ou de bem-estar. Os benefícios
incluem alta satisfação, melhora da autoestima, aumento do campo de visão, segurança
e bem-estar.
Considerando todos os benefícios, a cirurgia de blefaroplastia é assegurada pelo SUS
e consta na tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses e Próteses e Materiais
Especiais do Sistema Único de Saúde (SIGTAP)25. O valor despendido pelo SUS para a realização deste
procedimento foi alterado pela portaria nº 3.03726, de 14 de novembro de 2017, para 449,44 reais. A
blefaroplastia pode ser indicada pelo clínico geral ou oftalmologista, nas seguintes
condições: (1) dermatocálase (excesso de pele e flacidez na prega palpebral
superior) com obstrução do eixo visual, (2) lagoftalmo (má oclusão palpebral),
(3)
alteração da posição das pálpebras, (4) deformidades palpebrais pós-trauma ou
sequela de queimadura4.
Entretanto, o procedimento só é coberto pelo SUS em hospitais onde há residência
médica de Cirurgia Plástica27. De
acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), no Brasil
existem 88 serviços de residência médica credenciados, sendo que vários deles
estão
localizados na mesma cidade e 13 (50%) dos 26 estados brasileiros não são abrangidos
por nenhum serviço credenciado, demonstrando a escassez e a dificuldade de acesso
da
população a esse recurso.
Não foram encontrados dados sobre a lista de espera do SUS, bem como o número de
blefaroplastias realizadas por ano, não sendo possível concluir sobre a realidade
da
cobertura prevista. O único dado encontrado sobre a cobertura de cirurgias plásticas
pelo SUS foi fornecido pelo Censo da SBCP de 201628, que demonstrou que, do total de cirurgias
plásticas realizadas naquele ano, 16,30% foram realizadas pelo SUS, entretanto,
não
há especificação do quanto essa porcentagem representa a blefaroplastia em si.
Por outro lado, algumas ações, principalmente por parte da SBCP, buscaram suprir o
déficit no atendimento desses pacientes na fila de espera, na forma de mutirões
de
blefaroplastia realizados em algumas cidades brasileiras29. Essas ações, em sua maioria, ocorrem em parceria
com hospitais do SUS e reúnem equipes médicas que se mobilizam em um curto período
de tempo para atender o máximo de pacientes possível. Apesar da falta de dados
sobre
o número de cirurgias realizadas pelo SUS, a necessidade da organização de ações
como estas já denota a existência de uma lacuna de atendimentos necessários na
área.
Ademais, nas bases de dados pesquisadas, também não foi encontrado nenhum estudo
sobre a inserção da blefaroplastia no SUS, apenas sobre outras cirurgias plásticas
reparadoras, como tumor de pele e de mama.
Esta revisão de escopo apresenta algumas limitações. A principal delas foi a carência
de publicações tratando sobre o tema, além de dados extremamente escassos e
limitados no que diz respeito à cobertura da blefaroplastia pelo SUS, principalmente
na literatura científica, não tendo sido encontrado nenhum estudo científico sobre
tal. Portanto, não foi possível ter clareza do cenário brasileiro no que tange
à
demanda real da população, fila de espera e da efetivação propriamente dita da
cirurgia. Uma outra limitação desta revisão é que não foi encontrado nenhum ensaio
clínico randomizado a respeito dos efeitos da blefaroplastia, em nenhum dos
desfechos citados. Todos os estudos primários incluídos nesta revisão foram
observacionais, sendo coortes, caso-controle e série de casos. Assim, há grande
necessidade de se desenvolver ensaios clínicos randomizados bem conduzidos que
avaliem a efetividade da blefaroplastia superior em desfechos relevantes para
os
pacientes.
CONCLUSÃO
Nos estudos selecionados que buscaram entender qual a influência da blefaroplastia
na
qualidade de vida dos pacientes, foram encontradas diferentes formas de se
esclarecer essa relação. A primeira foi de forma direta, com foco específico em
analisar a melhora da qualidade de vida, por meio de critérios pré definidos.
Já a
segunda foi de forma indireta, pesquisando critérios que, por inferência, aumentam
a
qualidade de vida, como satisfação pessoal, autoestima, melhora na cefaleia e
outros
critérios funcionais.
Em ambos os focos de pesquisa, em sua grande maioria, foram demonstrados o aumento
efetivo do fator qualidade de vida em pacientes submetidos a cirurgia. Além da
melhora na qualidade de vida, houve relatos de melhoras funcionais e de critérios
subjetivos ligados à qualidade de vida, como autoestima e satisfação. Dessa forma,
73% dos estudos encontraram algum tipo de influência positiva da blefaroplastia.
Entretanto, a quantidade de estudos que analisou esta relação em profundidade
ainda
é escassa.
Sobre a inserção da blefaroplastia no SUS, os dados encontrados foram insuficientes
para se ter um bom panorama, não tendo sido encontrado nenhum estudo sobre o
assunto, demonstrando uma lacuna de conhecimento científico voltado a este fim.
Nesse sentido, parece haver um negligenciamento deste tópico na saúde pública, tendo
como consequência prática um efeito negativo na qualidade de vida de muitos
pacientes que possuem critérios e direito para realização da blefaroplastia, mas
que, infelizmente, não são atendidos. Além disso, a escassez de pesquisas dificulta
a compreensão real da importância e impacto desta cirurgia.
Encoraja-se, portanto, a realização de estudos, focados no aprofundamento da relação
blefaroplastia e qualidade de vida, mas principalmente que avaliem o impacto da
cobertura deste procedimento dentro do Sistema Único de Saúde.
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1. Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais, Poços de Caldas, MG, Brasil
Autor correspondente: Lucas Freire Guerra Boldrin
Rua Assis Figueiredo 515, apto 107, Centro, Poços de Caldas, MG, Brasil, CEP:
37701-000, E-mail: guerralucas1807@gmail.com
Artigo submetido: 13/08/2023.
Artigo aceito: 04/02/2024.
Conflitos de interesse: não há.