INTRODUÇÃO
A recente preocupação sobre a segurança dos implantes de silicone tem levado muitas
mulheres a buscar a retirada de seus implantes, mesmo sem haver ruptura, contratura
ou qualquer outra complicação nas mamas1-3.
Desde a sua criação, os implantes de silicone já passaram por vários momentos de
discussão sobre sua segurança1,4,5. Atualmente, as redes sociais trouxeram maior facilidade de
compartilhamento de informações entre as pacientes2,4.
Quando pessoas públicas retiram seus implantes e compartilham suas angústias nas
redes sociais, essas angústias se disseminam rapidamente e suas seguidoras começam
a
se perguntar se seus implantes também estariam comprometendo sua qualidade de
vida2,3.
Publicações sobre o linfoma anaplásico de células gigantes (BIA-ALCL) e a crescente
crença em doenças de difícil diagnóstico, como a síndrome ASIA e a doença do
silicone, têm gerado receio nas pacientes com implantes de silicone3-5. Além disso, o uso de implantes de grandes volumes nos últimos
anos tem ocasionado ptose precoce e insatisfação estética mesmo em pós-operatórios
relativamente recentes.
Por todos esses motivos, muitas mulheres têm desejado retirar seus implantes, mesmo
que isso signifique que suas mamas possam deixar de agradá-las esteticamente.
Por outro lado, muitos cirurgiões não se sentem confortáveis em realizar o explante
em função da falta de comprovação científica sobre as possíveis inseguranças dos
implantes associado ao receio de que a paciente não gostará do resultado estético
após a retirada dos implantes3.
A ressonância nuclear magnética (RNM) é um recurso valioso para avaliação diagnóstica
das mamas. Apresenta alta sensibilidade para identificar alterações oncológicas
do
tecido mamário e é capaz de mostrar alterações dos implantes e da cápsula
peri-implante6,7.
Para realização do exame, a paciente é posicionada de bruços e as imagens são
captadas em cortes axial, sagital e coronal, preferencialmente com uso de contraste
(para avaliação da saúde do tecido mamário)6.
A análise cuidadosa dos cortes axial e sagital permite ao cirurgião constatar se
existem áreas de adelgaçamento do tecido mamário (com propensão à depressão após
a
retirada dos implantes), assimetria mamária, diferença de posicionamento dos
implantes, além de mostrar alterações do implante.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é demonstrar como a análise sistematizada das imagens da
ressonância magnética das mamas pode auxiliar no planejamento do explante de
silicone, facilitando a comunicação entre cirurgião e paciente, tornando a decisão
pelo explante mais consciente e favorecendo a chance de satisfação no
pósoperatório.
MÉTODO
A autora tem utilizado este recurso no planejamento pré-operatório de pacientes com
intenção de realizar o explante desde novembro de 2020, em São Paulo, SP.
As pacientes não mostraram resistência em realizar a ressonância, mesmo em se
tratando de um exame desconfortável e dispendioso. Uma análise dos cortes axial
e
sagital da RNM foi feita para avaliar a quantidade de tecido em cada mama. Essas
imagens foram apresentadas às pacientes durante a consulta pré-operatória para
que
elas pudessem perceber, com clareza, o quanto o implante influencia no tamanho
de
suas mamas.
No mesmo momento, foram apresentadas fotos de pós-operatório de pacientes com
características semelhantes (tamanho e plano de colocação dos implantes, biotipo,
peso, altura, técnica utilizada na reconstrução pós-explante) para que a paciente
pudesse analisar, de forma mais objetiva, se ficaria satisfeita ou não com a
estética das mamas após o explante.
RESULTADOS
As pacientes demonstraram alto grau de compreensão das imagens apresentadas, tanto
das RNM como das fotos de resultados de outras pacientes, escolhidas por semelhança
com o caso em análise.
Independentemente de ter decidido seguir ou não com o explante, todas as pacientes
se
mostraram mais seguras com sua escolha após esta previsão individualizada de
resultado pós-explante.
Todas aquelas que optaram por seguir com o explante consideraram o resultado coerente
à expectativa alinhada no pré-operatório (Figura 1A-F).
Figura 1 - A: Pré-operatório de I.O. Implantes: 215 ml
anteromuscular há 14 anos. Queixas: tempo do implante, mamas grandes;
B: RNM das mamas de I.O.; C:
Pós-operatório de explante com mastopexia (2 meses). D:
Pré-operatório de M.B.G.D., implantes: 230ml anteromuscular há 15 anos.
Queixa: ptose mamária e tempo dos implantes. E: RNM das mamas de
M.B.G.D.; F: Pós-operatório de explante com mastopexia (2
meses). Analisando as imagens de RNM, a expectativa pré-operatória da
paciente M.B.G.D. era de ter mamas menores do que a paciente I.O., o que
foi condizente com o resultado obtido.
Figura 1 - A: Pré-operatório de I.O. Implantes: 215 ml
anteromuscular há 14 anos. Queixas: tempo do implante, mamas grandes;
B: RNM das mamas de I.O.; C:
Pós-operatório de explante com mastopexia (2 meses). D:
Pré-operatório de M.B.G.D., implantes: 230ml anteromuscular há 15 anos.
Queixa: ptose mamária e tempo dos implantes. E: RNM das mamas de
M.B.G.D.; F: Pós-operatório de explante com mastopexia (2
meses). Analisando as imagens de RNM, a expectativa pré-operatória da
paciente M.B.G.D. era de ter mamas menores do que a paciente I.O., o que
foi condizente com o resultado obtido.
DISCUSSÃO
Quando a paciente começa a cogitar retirar definitivamente seus implantes, surge a
insegurança quanto ao possível aspecto estético das mamas após a cirurgia. O medo
de
um mau resultado é alimentado por médicos, amigos e familiares, mas, mesmo assim,
muitas pacientes seguem seu desejo de explantar buscando os benefícios de evitar
cirurgias futuras e possíveis complicações relacionadas à presença de um corpo
estranho no organismo.
Não raro, o resultado estético é insatisfatório, pois a paciente idealizava uma mama
semelhante à que tinha antes do implante, porém a distorção do tecido mamário
e a
distensão da pele são inevitáveis.
Como em qualquer cirurgia plástica, alinhar a expectativa de resultado é fundamental
para a satisfação da paciente e analisar a imagem da RNM das mamas em conjunto
com
fotos de pós-operatório de outras pacientes torna esse diálogo mais inteligível.
É importante deixar claro que não se trata de uma promessa de resultado, mas sim de
uma ferramenta para facilitar a comunicação entre cirurgião e paciente e para
documentar as características da relação mama/implante antes do explante.
Para não haver erros de interpretação da quantidade de tecido em cada mama, é
importante comparar imagens de RNM respeitando o plano de colocação do implante,
pois a expansão do tecido mamário é maior quando o implante está retroglandular
do
que quando está retropeitoral.
Vale ressaltar que, para que sejam coerentes, as comparações devem ser feitas entre
casos semelhantes. Por isso, é necessário organizar um banco de imagens com dados
dos implantes (tamanho, formato, plano de colocação) e das pacientes (peso, altura,
técnica utilizada na reconstrução pós-explante) para tornar as análises mais
confiáveis e reprodutíveis.
CONCLUSÃO
Inúmeros fatores podem levar a paciente a buscar o explante, mas, independentemente
da motivação, não podemos deixar de nos preocupar com a capacidade emocional da
paciente de viver bem com sua nova autoimagem após a retirada dos implantes.
A comparação das imagens da RNM das mamas e das imagens de resultados de
pós-operatório traz informações valiosas para o alinhamento de expectativa da
paciente que busca retirar seus implantes, pois confere maior objetividade ao
diálogo pré-operatório, favorecendo a compreensão do resultado esperado e trazendo
maior clareza à decisão pelo explante.
REFERÊNCIAS
1. Calobrace MB. Elective Implant Removal and Replacement in
Asymptomatic Aesthetic Patients with Textured Devices. Plast Reconstr Surg.
2021;147(5S):14S-23S.
2. Magnusson MR, Cooter RD, Rakhorst H, McGuire PA, Adams WP Jr, Deva
AK. Breast Implant Illness: A Way Forward. Plast Reconstr Surg.
2019;143(3S):74S-81S.
3. Tanna N, Calobrace MB, Clemens MW, Hammond DC, Nahabedian MY,
Rohrich RJ, et al. Not All Breast Explants Are Equal: Contemporary Strategies
in
Breast Explantation Surgery. Plast Reconstr Surg.
2021;147(4):808-18.
4. Rohrich RJ, Bellamy JL, Alleyne B. Assessing Long-Term Outcomes in
Breast Implant Illness: The Missing Link? A Systematic Review. Plast Reconstr
Surg. 2022;149(4):638e-45e.
5. Rohrich RJ, Kaplan J, Dayan E. Silicone Implant Illness: Science
versus Myth? Plast Reconstr Surg. 2019;144(1):98-109.
6. Rossi AJRE, Kluthcovsky ACGC, Mansani FP. Comparison between
magnetic resonance imaging and ultrasonography as the best examination to
measure malignant breast tumors in surgical planning. Mastology.
2018;28(3):176-81.
7. Schmitt W, Coelho JM, Lopes J, Marques JC. O Papel da Radiologia na
Monitorização das Complicações Relacionadas com as Próteses Mamárias. Acta
Radiol Port. 2018;30(1):23-34.
1. Instituto de Cirurgia Plástica Santa Cruz, São
Paulo, SP, Brasil
Autor correspondente: Patrícia Jackeline Maciel
Sales Rua Borges Lagoa, 1070, cj 62, Vila Clementino, São Paulo, SP,
Brasil, CEP: 04038-002, E-mail: patricia.cirurgia@gmail.com
Artigo submetido: 27/06/2023.
Artigo aceito: 05/12/2023.
Conflitos de interesse: não há.