INTRODUÇÃO
O nariz é uma estrutura anatômica complexa, ímpar, tridimensional e com grande
importância funcional e estética, localizado no centro da face1-4. Sua proeminência na face favorece à exposição solar e,
consequentemente, apresenta alta incidência de câncer de pele, principalmente
carcinoma basocelular (CBC), seguido de carcinoma escamocelular (CEC), os cânceres
mais comuns na população mundial2,3,5,6.
As demandas por reconstrução nasal, devido às lesões malignas, estão em ascensão.
A
técnica cirúrgica é desafiadora, principalmente no terço distal do nariz, onde
a
pele é mais espessa e aderida à cartilagem subjacente, e há maiores riscos de
distorção das margens nasais7,8.
É importante observar que lesões mais profundas podem estar comprometendo o arcabouço
cartilaginoso e a mucosa nasal, necessitando de uma reconstrução ainda mais
complexa, visando manter a funcionalidade do nariz1. Outro aspecto importante é a análise das unidades
anatômicas, descritas pela primeira vez por Millard, e das subunidades estéticas
nasais, descritas posteriormente por Burget e Menick, com o intuito de ajustar
as
suturas cirúrgicas no encontro entre as subunidades, criando, assim, um contorno
natural e ocultando as suturas nos vincos naturais da pele5,7,9-11.
Existem várias técnicas de reconstrução do terço distal do nariz, não havendo uma
indicação universal3. A escolha por
cada técnica depende da característica da lesão, tamanho, posição anatômica,
qualidade de pele, comorbidades do paciente, e da experiência do cirurgião1,7. As opções cirúrgicas variam entre enxerto de pele, retalhos
locais, regionais e microcirúrgicos9.
OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é apresentar uma série de casos de reconstrução de terço
distal do nariz com diferentes técnicas cirúrgicas, discutindo as peculiaridades
e
os resultados obtidos.
MÉTODO
Trata-se de estudo retrospectivo realizado em um único centro, no período de março
de
2021 a março de 2022. Foram avaliados oito pacientes com diagnóstico de câncer
de
pele não melanoma localizados em terço distal de nariz e que tiveram reconstruções
realizadas pela equipe de Cirurgia Plástica do Hospital do Servidor Público Estadual
de São Paulo (HSPE), em São Paulo, SP. Após autorização do Comitê de Ética
Institucional, foram aplicados do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
coletados os seguintes dados dos prontuários dos pacientes: sexo, idade,
comorbidades, tipo histológico do tumor, técnica de reconstrução utilizada,
complicações no período pós-operatório, resultado estético e funcional, remissão
da
lesão.
O diagnóstico de câncer de pele não melanoma foi realizado por biópsia prévia, e o
termo de consentimento por escrito foi assinado antes do procedimento. A excisão
cirúrgica da lesão foi realizada com margens laterais de 4 a 6mm. Realizado exame
transoperatório de congelação até obtenção de margens livres de malignidade. Com
exceção da reconstrução com retalho frontal paramediano, que necessitou de anestesia
geral e internação hospitalar, todas as demais reconstruções foram realizadas
com
anestesia local e em regime ambulatorial.
As lesões pré-operatórias e resultados pósoperatórios recentes e tardios foram
documentados por imagem digital.
RESULTADOS
Foram tratados 5 mulheres (62,5%) e 3 homens (37,5%), com idade média de 82,2 anos.
Sete pacientes eram caucasianos, com classificação de Fitzpatrick entre 1 e 2.
Cinco
pacientes apresentavam comorbidades, como hipertensão arterial isolada ou associada
a diabetes mellitus tipo 2 e, uma paciente apresentou, além desses, asma e
dislipidemia. Os demais dados dos pacientes estão resumidos na Tabela 1 e a descrição de alguns casos será
realizada a seguir.
Tabela 1 - Dados coletados.
Caso |
Sexo |
Idade (anos) |
Tama-nho da lesão |
Localização da lesão |
Tipo histológico da
lesão pré-op/ pós-op
|
Reconstru-ção
reali-zada
|
Complica-ção |
Resultado estético/
funcional
|
Remis-são da lesão
|
1 (Figura 1)
|
Feminino |
88 |
0,4cm |
Ponta nasal
esquerda
|
CEC “in situ”/
queratose actínica
|
Retalho
bilobado
|
Nenhuma |
Satisfatório /
Satisfató-rio
|
Sim |
2 |
Masculino |
83 |
0,6cm |
Asa nasal esquerda |
CBC nodular e micronodular / CBC
nodular e superficial
|
Enxerto de cartilagem auricular e
retalho bilobado
|
Nenhuma |
Satisfatório / Satisfató-rio |
Sim |
3 (Figura 2)
|
Feminino |
74 |
1,0cm |
Transição entre dorso e ponta nasal |
CBC nodular / CBC
nodular e micronodular
|
Retalho de dorso
nasal
|
Nenhuma |
Desvio da ponta nasal / Satisfatório |
Sim |
4 |
Feminino |
84 |
1,0cm |
Asa nasal direita |
CBC nodular / CBC micronodu-lar e superficial |
Enxerto de cartilagem auricular conchal
e retalho nasogeniano pediculado superior-mente
|
Nenhuma |
Satisfatório/ Satisfatório |
Sim |
5 (Figura 3)
|
Masculino |
85 |
4,0cm |
Dorso
nasal e parede la-teral direita e esquerda
|
CBC
nodular e micronodular / CBC nodular, micronodular, superficial e
esclerodermiforme
|
Retalho frontal pa-ramediano pediculado |
Nenhuma |
Satisfatório / Satisfatório |
Sim |
|
6 (Figura 4)
|
Masculino |
91 |
1,5cm |
Ponta nasal esquerda |
CBC nodular/ CBC nodular e infiltrativo |
Enxerto de cartilagem auricular
tragal e retalho de transposição nasolabial
|
Nenhuma |
Bastante satisfatório/ Bastante satisfatório |
Sim |
7 |
Feminina |
69 |
3,5cm |
Dorso nasal |
CBC nodular,
micronodular e esclerodermiforme / CBC nodular e micronodular
|
Enxerto de pele
total
|
Nenhuma |
Regular /
Satisfatório
|
Sim |
8 |
Feminina |
84 |
1,5cm |
Asa nasal direita e ponta nasal |
CBC nodular, micronodular e
superficial / CBC nodular e superficial
|
Enxerto de pele total |
Nenhuma |
Regular / Regular |
Sim |
Tabela 1 - Dados coletados.
Figura 1 - Caso 1 - Carcinoma escamocelular in situ em ponta
nasal esquerda medindo 4mm. A) Demarcação cirúrgica do tumor com margem
lateral de 4mm e do retalho; B) Retalho bilobado confeccionado; C)
Pós-operatório tardio de 1 ano.
Figura 1 - Caso 1 - Carcinoma escamocelular in situ em ponta
nasal esquerda medindo 4mm. A) Demarcação cirúrgica do tumor com margem
lateral de 4mm e do retalho; B) Retalho bilobado confeccionado; C)
Pós-operatório tardio de 1 ano.
Figura 2 - Caso 3 - Carcinoma basocelular nodular localizado na transição entre
dorso e ponta nasal, medindo 1,0cm. A) Demarcação cirúrgica do tumor com
margem lateral de 4mm e do retalho frontonasal; B) Retalho frontonasal
de Marchac posicionado, levando a desvio da ponta nasal; C)
Pós-operatório tardio de um ano.
Figura 2 - Caso 3 - Carcinoma basocelular nodular localizado na transição entre
dorso e ponta nasal, medindo 1,0cm. A) Demarcação cirúrgica do tumor com
margem lateral de 4mm e do retalho frontonasal; B) Retalho frontonasal
de Marchac posicionado, levando a desvio da ponta nasal; C)
Pós-operatório tardio de um ano.
Figura 3 - Caso 5 - Carcinoma basocelular nodular e micronodular ulcerado
medindo 4cm em dorso nasal e paredes laterais do nariz. A) Margens
cirúrgicas delimitadas por dermatoscopia; B) Exérese da lesão com margem
lateral de 6mm e profunda com ressecção de parte de osso nasal e
cartilagens septal, triangular e alar; C) Posicionamento do retalho
frontal sobre defeito nasal; D) Retalho frontal paramediano pediculado e
fronte em cicatrização por segunda intenção; E) Liberação do pedículo do
retalho frontal paramediano e enxerto da área doadora; F) Resultado
pós-operatório tardio de um ano.
Figura 3 - Caso 5 - Carcinoma basocelular nodular e micronodular ulcerado
medindo 4cm em dorso nasal e paredes laterais do nariz. A) Margens
cirúrgicas delimitadas por dermatoscopia; B) Exérese da lesão com margem
lateral de 6mm e profunda com ressecção de parte de osso nasal e
cartilagens septal, triangular e alar; C) Posicionamento do retalho
frontal sobre defeito nasal; D) Retalho frontal paramediano pediculado e
fronte em cicatrização por segunda intenção; E) Liberação do pedículo do
retalho frontal paramediano e enxerto da área doadora; F) Resultado
pós-operatório tardio de um ano.
Figura 4 - Caso 6 - A) Carcinoma basocelular nodular ulcerado medindo 1,5cm em
ponta nasal esquerda demarcado com margem lateral de 6 a 8mm; B) Exérese
de lesão em espessura completa. Dissecção do retalho nasolabial axial
baseado na artéria angular nos dois terços proximais e aleatório no
terço distal. Dissecção do retalho residual dorsoalar de pedículo
inferior de padrão aleatório; C) Fixação do retalho dorsoalar residual
de pedículo inferior em parede nasal lateral e canto interno do olho; D)
Fechamento da região proximal da mucosa nasal interna. Estruturação da
ponta nasal com enxerto de cartilagem auricular; E) Transposição e
fixação do retalho nasolabial em região de dorso e ponta nasal,
emagrecimento da região distal e dobra sobre ele mesmo, para formar o
forro distal do vestíbulo nasal; F) Pós-operatório de 30 dias com
resultado bastante satisfatório.
Figura 4 - Caso 6 - A) Carcinoma basocelular nodular ulcerado medindo 1,5cm em
ponta nasal esquerda demarcado com margem lateral de 6 a 8mm; B) Exérese
de lesão em espessura completa. Dissecção do retalho nasolabial axial
baseado na artéria angular nos dois terços proximais e aleatório no
terço distal. Dissecção do retalho residual dorsoalar de pedículo
inferior de padrão aleatório; C) Fixação do retalho dorsoalar residual
de pedículo inferior em parede nasal lateral e canto interno do olho; D)
Fechamento da região proximal da mucosa nasal interna. Estruturação da
ponta nasal com enxerto de cartilagem auricular; E) Transposição e
fixação do retalho nasolabial em região de dorso e ponta nasal,
emagrecimento da região distal e dobra sobre ele mesmo, para formar o
forro distal do vestíbulo nasal; F) Pós-operatório de 30 dias com
resultado bastante satisfatório.
DISCUSSÃO
O conceito oncológico deve ser soberano. O principal objetivo é a ressecção completa
da lesão, com avaliação de todas as margens antes da reconstrução. A cirurgia
de
Mohs, se disponível, é o padrão-ouro para avaliação das margens no intraoperatório;
outra forma de avaliação é o exame de congelação, método utilizado nos pacientes
desse estudo. Caso não seja possível avaliação no intraoperatório, deve-se optar
por
cicatrização por segunda intenção, fechamento primário, enxerto de pele até a
avaliação pós-operatória ser realizada. A reconstrução somente deve ser programada
após exame patológico demonstrando margens livres de comprometimento12,13.
Para definir qual melhor abordagem de reconstrução, vários aspectos devem ser levados
em consideração. Em primeiro lugar considere o paciente como um todo. Caso apresente
muitas comorbidades, uma técnica mais simples em tempo único é mais segura e
apropriada. Outro fator para ser analisado é o tabagismo ativo, em que, quando
presente, devese dar preferência por técnica em etapa única14. É importante a participação ativa
do paciente na decisão, principalmente em cirurgias complexas e que necessitem
de
várias abordagens9.
O defeito nasal deverá ser avaliado em sua localização, relacionado com as
subunidades estéticas. O conceito de unidades estéticas nasais foi descrito por
Millard5, o que aprimorou
os resultados cirúrgicos. Posteriormente, Burget e Menick defenderam o conceito
de
subunidades estéticas nasais, e caso o defeito acometesse mais de 50% da subunidade,
deverse-ia retirar toda essa região para camuflar a cicatriz nos vincos cutâneos
naturais5,10. Entretanto, esse conceito vem sendo discutido na
literatura, pois o defeito pode tornar-se muito maior e dificultar a
reconstrução14.
A profundidade do defeito nasal deve ser avaliada para determinar os componentes
acometidos. Além do tecido mole superficial, a estrutura cartilaginosa abaixo
pode
necessitar de reconstrução, utilizando-se enxerto principalmente de região auricular
e do septo nasal14. A mucosa nasal
é outra estrutura que deve ser analisada e reconstruída3. Os principais objetivos são a estética e a função
respiratória do nariz, ou seja, manutenção da cor da pele semelhante, reconstrução
do revestimento interno e suporte estrutural nasal, evitando estenose das vias
aéreas5.
Os retalhos locais e regionais têm preferência aos enxertos de pele em termos de
textura e cor, mas todos os tipos de reconstrução têm suas utilizações15. Reconstruir o terço distal do
nariz é desafiador, pois a pele é espessa e aderida às estruturas cartilaginosas;
não há redundância de pele local, o que dificulta a mobilização de retalhos. A
reconstrução pode gerar tensão e retração da asa nasal, com alteração estética
e
funcional15. O
planejamento cirúrgico deve ser meticuloso para o melhor resultado
possível3.
Retalho bilobado
O retalho bilobado tem ótima aplicabilidade para defeitos em terço distal do
nariz9. É composto por
dois “lobos” respeitando o desenho em ângulo reto entre os eixos, o que permite
uma dupla transposição16. O
primeiro “lobo” cobre o defeito, o segundo “lobo” cobre a primeira área doadora,
e a segunda área doadora é fechada primariamente3. Pelo fato de a área doadora ser limitada,
geralmente este retalho é utilizado para pequenos defeitos de até 1,5cm, com
ótimos resultados3. Entretanto,
existem descrições do uso para defeitos maiores que 2,0cm com bons resultados
a
partir de amplo descolamento para avanço adequado dos tecidos17.
Caso haja risco de colapso da válvula nasal, pode ser associado enxerto de
cartilagem a esta técnica9.
Essa reconstrução tem a vantagem de ser em tempo único, boa viabilidade do
retalho, bom resultado cosmético com textura e cor de pele similares, cicatriz
discreta18. Entre as
desvantagens desse retalho, estão as linhas geométricas complexas de incisão,
com necessidade de experiência para não distorcer a simetria nasal, com isso,
limitando-se, normalmente, a defeitos menores7,9,14.
Retalho dorsal do nariz
O retalho dorsal do nariz é baseado em rotação de pele dos dois terços proximais
do nariz e da região glabelar para cobrir defeitos distais, e fechamento da área
doadora podendo ser em V-Y, posicionando a cicatriz na linha de expressão
glabelar. Essa técnica foi descrita inicialmente por Gillies, mas popularizou-se
com Rieger, que descreveu retalho de vascularização aleatória, e posteriormente
foi modificado por Marchac e Toth, com vascularização axial da artéria angular
próximo ao canto medial do olho. Essa técnica permite reconstruir defeitos na
região do supratip de 1 a 2cm3,14,19-21.
A vantagem do retalho é ser realizado em tempo único, com cicatriz bem
posicionada e bom resultado estético3. Entre as desvantagens, salienta-se a possível necessidade
de retalho desproporcionalmente grande para cobertura de defeitos pequenos e
possibilidade de tração da ponta do nariz para cima7,14.
Retalho nasogeniano
O retalho nasogeniano é opção muito utilizada na reconstrução alar. Pode ser
desenhado baseado em um pedículo superior ou inferior, ambos de vascularização
axial de ramos da artéria facial, ou V-Y3,15,22. Idealmente, algumas fibras do
músculo elevador comum do lábio e asa do nariz são elevadas juntas, constituindo
o menor retalho musculocutâneo de uso frequente23. A reconstrução pode ser realizada em um ou
dois tempos cirúrgicos; o retalho deve ser projetado 1 a 2mm maior, pois
apresentará retração no pós-operatório; e o retalho pode servir como
revestimento nasal interno, quando necessário7,9.
Apresenta vascularização confiável, cicatrização da área doadora discreta e
posicionada no sulco nasogeniano pré-existente, bom resultado cosmético da asa
nasal, e o procedimento pode ser realizado em tempo único3,9. As desvantagens são a possibilidade de obliteração da
concavidade da prega alar ou, mesmo, necessidade de realizar procedimento em
dois tempos7,9.
Retalho paramediano
O retalho frontal paramediano é um instrumento de reconstrução muito utilizado
para defeitos maiores localizados no terço distal do nariz9,24. É um retalho de interpolação com pele oblíqua da
fronte, com vascularização axial baseado na artéria supratroclear3. É geralmente confeccionado em
duas etapas, sendo que na primeira ele é elevado e posicionado no defeito nasal
e, na segunda, três semanas após, o pedículo é seccionado e o retalho pode ser
adelgaçado e ajustado25. Podem
ser necessárias etapas adicionais para refinamentos, assim como reconstrução
de
arcabouço ósseo-cartilaginoso9.
A porção distal do retalho pode ser adelgaçada e dobrada para formação de mucosa
nasal3. O defeito na
fronte pode ser fechado por primeira ou segunda intenção, ou enxertado3,9.
A vantagem do retalho é ter um suprimento vascular axial confiável, ter a
capacidade de reconstrução de grandes defeitos nasais em terço distal, com
possibilidade de reconstruir inclusive mucosa nasal; apresentar resultado
cosmético satisfatório, pois a pele da fronte é compatível em cor, textura e
flexibilidade à do nariz2,14,25.
As desvantagens são o uso limitado em tabagistas, devido risco de
necrose25, necessidade
de uso de anestesia geral, procedimento em várias etapas, cicatriz transversal
na fronte2,3. Outros pontos negativos são retalho espesso na
ponta nasal ao ser dobrado para confeccionar o forro e, caso seja adelgaçado,
há
possibilidade de diminuição de perfusão e sofrimento local1. Por fim, o aspecto psicológico
da reconstrução a longo prazo é um ponto que deve ser esclarecido para que os
pacientes tenham expectativas realistas25.
Retalho de transposição nasolabial
O retalho de transposição nasolabial é uma opção de reconstrução para defeitos
maiores localizados no terço distal do nariz e foi descrito por
Beustes-Stefanelli et al.26. É
desenhado utilizando a redundância de tecido nasolabial para cobrir o defeito
nasal e um pequeno retalho dorsoalar residual de base inferior para auxiliar
no
fechamento sem tensão do canto interno do olho ipsilateral associado ao avanço
da bochecha. O retalho nasolabial tem vascularização axial por ramos da artéria
facial em seus dois terços proximais e padrão aleatório em seu terço distal,
e o
retalho residual dorsoalar, vascularização aleatória. Pode ser associado enxerto
de cartilagem para estruturação, caso seja necessário. A região distal do
retalho nasolabial pode ser adelgaçada e dobrada para formar o revestimento da
mucosa nasal26.
As vantagens do procedimento são a possibilidade de reconstrução de grandes
defeitos nasais em tempo único, vascularização confiável, sem necessidade de
anestesia geral, com bom resultado estético nasal e cicatriz discreta em sulco
nasolabial pré-existente. As desvantagens incluem possibilidade de retalho
espesso na ponta nasal ao ser dobrado para confeccionar o forro e, caso seja
adelgaçado, existe a possibilidade de diminuição de perfusão e sofrimento
local26.
Esse retalho foi bem indicado e realizado no caso 6 (Figura 4) desse trabalho. Foi desenhado o retalho nasolabial
utilizando a redundância de tecido e um retalho dorsoalar residual lateral ao
defeito. O retalho nasolabial foi transposto para o dorso e ponta nasal, na
região distal foi emagrecido e dobrado para confecção do forro nasal. O retalho
dorsoalar residual foi transposto para o canto interno do olho para fechamento
sem tensão da área. A estruturação da nova ponta nasal foi realizada através
da
coleta de enxerto de cartilagem auricular em bloco da região da lâmina do trago,
istmo e cavidade conchal, conforme descrito por Pereira et al.24. Esta cartilagem única em
formato curvo é fixada na região alar esquerda previamente removida com o tumor
para estruturar a nova ponta nasal.
Enxertos
Os enxertos de pele são opções de reconstrução do terço distal do nariz em
situações específicas, normalmente quando o paciente tem alto risco cirúrgico
para procedimentos mais complexos, quando necessita vigilância rigorosa para
recorrência de malignidade, ou transitoriamente até o resultado definitivo do
exame anatomopatológico9,27. É utilizado enxerto de pele
total por ter maior espessura, menor retração primária e melhor resultado
estético quando comparado à pele parcial; mantido com curativo fixo por 5 a 7
dias para neutralizar as forças de cisalhamento e permitir melhor
integração15. São
utilizadas como áreas doadoras de enxerto a região pré e retroauricular, região
cervical e clavicular15. A
grande desvantagem é o aspecto estético desfavorável por incompatibilidade da
pele em cor, forma e contorno9.
CONCLUSÃO
A reconstrução de defeitos do terço distal do nariz é desafiadora, sendo possível
a
indicação de múltiplas técnicas.
Para decisão da técnica de reconstrução, devese realizar avaliação criteriosa do
paciente e das características do defeito, avaliar riscos e benefícios e
compartilhar as melhores opções com o paciente.
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1. Instituto de Assistência Médica ao Servidor
Público Estadual, São Paulo, SP, Brasil
Autor correspondente: Raissa Barakatt de Figueiredo
Diretoria da Cirurgia Plástica, Rua Pedro de Toledo, 1.800, 9º andar, Vila
Clementino, São Paulo-SP. CEP: 04039-000, E-mail:
raissa_barakatt@hotmail.com
Artigo submetido: 31/12/2022.
Artigo aceito: 05/12/2023.
Conflitos de interesse: não há.